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Regina AZEVEDO
Baseando-se na obra “Ido Hyakushu” (“Cem Poemas Sobre a Arte de Cura Japonesa”) e utilizando-se de teorias médicas de diversas partes do mundo, o engenheiro Katsuzo Nishi criou uma ciência de cura e preservação da saúde. Segundo ele, para manter o equilíbrio, o homem deve trabalhar pele, nutrição, membros e mente conjuntamente, como um todo. Os fundamentos do método foram descritos pelo próprio engenheiro no livro A Medicina Nishi — Princípios de Saúde Prática, lançado no Brasil pela Editora Ibrasa.
Dormir sobre um pedaço de madeira reta, apoiando a cabeça na metade de um tronco, pode parecer um treinamento para faquir. Mas essa prática, desconfortável à primeira vista, é recomendada pela arte de cura japonesa conhecida como medicina Nishi, garantindo o bom funcionamento do organismo por meio desta e de outras técnicas que, a princípio, podem parecer bizarras ao ceticismo ocidental.
A medicina Nishi baseia-se na obra “Ido Hyakushu” (“Cem Poemas Sobre a Arte de Cura Japonesa”), resgatada por Naosuke Gonda, sacerdote-chefe da Igreja de Afuri, na província de Sagami, que viveu na primeira metade do século 19. Insatisfeito com o abuso de medicamentos prescritos pelas medicinas chinesa e ocidental, que começavam a ganhar espaço no Japão, Gonda direcionou seus estudos à essência da medicina tradicional japonesa, compilando-os pacientemente em versos de 31 sílabas cada (totalizando 150, e não propriamente cem, como o título sugere). Embora se valha de metáforas e empregue personagens da mitologia japonesa, a obra serviu de base para o método hoje conhecido como medicina Nishi. Adicionando conhecimentos da medicina europeia, americana, chinesa, indiana, entre outras, seu fundador, o engenheiro Katsuzo Nishi, criou um método não apenas de cura, mas de preservação da saúde através de cuidados diários bem simples. Esta ciência considera quatro aspectos do homem como fundamentais para uma vida saudável — pele, nutrição, membros e mente —, que devem ser trabalhados como um todo, buscando-se um princípio de unidade ou “um”, como eles insistem em afirmar.
“Primeiramente, você deve reconhecer que somente poderá gozar de boa saúde quando houver harmonia entre a pele saudável — incluindo as várias membranas das mucosas —, a nutrição bem preservada e preparada racionalmente, pernas saudáveis e bem simétricas, e desde que a mente seja lúcida o suficiente para pensar e julgar corretamente, sem negligenciar qualquer detalhe e sem cometer erros fundamentais. (…) Aqueles que pretendem discutir a matéria de saúde devem ter a visão correta desses quatro elementos, além de saber como unificá-los no saudável ‘UM’, como evitar e curar doenças de modo que possamos ser saudáveis e ter uma vida feliz”, afirma Nishi em seu livro A Medicina Nishi — Princípios de Saúde Prática.
Devido à estranheza que nos causaram algumas das técnicas e exercícios apresentados, buscamos a consultoria da Dra. Elisa Emi Okamura, que supervisionou a tradução da obra referida para o português, além de ter estagiado durante dois anos no Japão, especializando-se em medicina Nishi e acupuntura. Dados complementares foram acrescentados, assim como boas dicas para a prática dos exercícios. Por exemplo, quanto à função essencial da pele na constituição dessa unidade a que se refere o idealizador do método, devemos considerá-la como o maior órgão de eliminação do corpo humano, contribuindo enormemente no seu processo de desintoxicação. As impurezas que não eliminamos passam por um processo de fermentação e seguem para a corrente sanguínea, afetando todos os órgãos do corpo.
Peixe Dourado: movimentos sinuosos
Membros Inferiores e Superiores
Quanto aos membros, eles são fundamentais para nossa locomoção — apoiamo-nos nas pernas e pés — e também nos proporcionam equilíbrio físico e são responsáveis por grande parte de nossas atividades (braços e mãos). Além disso, comprovadamente, nos dedos dos pés e das mãos encontram-se terminações de todos os órgãos do corpo, organizadas segundo os meridianos. Em sua obra, Katsuzo Nishi também nos passa uma noção sobre o assunto, não tanto dentro dos moldes da acupuntura, mas seguindo princípios da medicina chinesa. Essas terminações apresentam glômios (no livro denominados glómus) que, segundo a medicina Nishi, seriam preponderantes no que se refere à circulação sanguínea — e não ao coração, conforme afirma a medicina ocidental. Entre as artérias e as veias, localizam-se pequenos vasos capilares dotados de poros que permitem a penetração de vírus e bactérias. Os glômios não são porosos, impedindo que qualquer elemento estranho entre em contato com o sangue. Ao ativar os capilares através do exercício que indicaremos mais adiante, os poros arteriais e venais são temporariamente vedados e o sangue circula livremente, sem o perigo de infecção. Além disso, o exercício prolonga a vida dos glômios que, a exemplo dos neurônios, uma vez extintos pela ação do tempo não mais são repostos.
A nutrição tem íntima relação com os dois primeiros itens. O consumo excessivo de açúcar refinado, produtos ácidos e industrializados acaba por criar resíduos que passam à corrente sanguínea. Com o passar dos anos, as paredes das artérias tornam-se mais finas, as válvulas das veias ficam mais fracas e os resíduos se acumulam nesses condutores da circulação, acarretando males como varizes, enfartes e arteriosclerose. A ativação dos capilares também fortifica esses vasos. Além disso, uma dieta rica em fibras e o consumo adequado de água promovem a limpeza do organismo através da pele e dos intestinos, que passam a funcionar regularmente, evitando que a “sujeira” circule livremente pelo corpo através do sangue. Quanto à mente, julgamos desnecessário reafirmar o quanto ela é um fator primordial para a saúde equilibrada.
Exercício Capilar: para problemas da circulação
Execício do Sapo: especialmente recomendado para grávidas
O primeiro mandamento da medicina Nishi recomenda que deixemos de lado a tentação de fazer “corpo mole” e optemos pela cama dura. O descanso do guerreiro deve ocorrer sobre uma tábua reta (serve compensado) recoberta por um simples lençol. No período de adaptação, vale colocar alguns cobertores ou toalhas para deixá-la um pouco mais macia. Os colchões ortopédicos duríssimos também podem ser utilizados. Só assim nossa coluna restabelecerá sua linha reta original durante o período de repouso. Como complemento, o travesseiro sólido (metade de um tronco, cuja altura deve corresponder ao tamanho do dedo anular) deve ser adotado e posicionado na altura da quarta vértebra cervical. Assim, a coluna ficará completa e confortavelmente estirada, evitando as subluxações que frequentemente apresenta. O travesseiro macio, se for baixo demais, força as vértebras na região do sacro-ilíaco; se for alto demais, as cervicais são forçadas e, em ambos os casos, deformações na coluna são adquiridas ao longo dos anos. O travesseiro sólido é perfeito para males como enxaqueca, dores de cabeça, dores de coluna e insônia. Seu uso requer um período de adaptação, começando com cinco minutos diários e aumentando gradativamente até que se torne confortável para dormir. No início, pode provocar formigamento no couro cabeludo e incômodos; durante esse período de adaptação, podemos utilizar uma toalha como amortecedor. Quem não conseguir se adaptar deverá utilizá-lo, no mínimo, durante 20 minutos diários.
Exercícios Matinais
Depois de um sono repousante com cama e travesseiro duríssimos, antes de se levantar deve-se praticar o exercício do peixe dourado: sem o travesseiro, colocamos as mãos cruzadas sobre a quarta ou quinta vértebra cervical, flexionamos os pés na direção dos joelhos, formando um ângulo agudo, mantendo as pernas retas e fazendo movimentos sinuosos que simulam a oscilação de um peixe ao nadar, durante dois minutos. Em seguida, recolocamos o travesseiro sólido em sua posição, erguemos as pernas em ângulo reto, estiramos os braços no mesmo sentido e vibramos com vigor as mãos e os pés por cerca de dois minutos. Esse é o chamado exercício capilar, ao qual nos referimos anteriormente, e que promove a ativação dos capilares e glômios. Se praticado diariamente, elimina as microvarizes e ameniza problemas de circulação. O exercício capilar também é útil na cicatrização de cortes e na recuperação de cirurgias: se a área ou órgão atingido estiver localizado da cintura para cima, vibramos as mãos; se estiver da cintura para baixo, elevamos as pernas e vibramos os pés. O método também impede a formação de cicatrizes.
O terceiro exercício, ainda na cama e sem travesseiro, é o do sapo: juntam-se as polpas dos dedos das mãos e exerce-se pressão com as palmas por dez vezes; em seguida, mantendo a mesma posição inicial, faz-se um movimento giratório com o pulso, para frente e para trás, também por dez vezes. Depois, unem-se as solas dos pés e realizam-se os seguintes movimentos simultaneamente: com os braços esticados à frente do rosto ou sobre a cabeça e as pernas
igualmente estiradas, trazemos as mãos unidas até a altura do peito enquanto flexionamos os joelhos, com as plantas dos pés unidas, numa distância que corresponda a uma vez e meia o comprimento de nossa canela. Esse exercício é especialmente benéfico para as mulheres (devendo ser feito também pelos homens) na solução de problemas do aparelho genital e cólicas menstruais, sendo bastante útil às grávidas como facilitador do parto. Deve ser praticado por 90 segundos, atingindo-se a média de 70 movimentos conjugados.
Ainda deitados, podemos praticar o hadaka — um tipo de cura promovida através da nudez.
O método hadaka consiste na aceleração da respiração da pele, ativando a excreção de ureia e outros resíduos e facilitando a absorção de oxigênio através da superfície do corpo. Recomenda-se sua aplicação em um local arejado, com janelas abertas; a pessoa deve ficar apenas com as roupas íntimas ou completamente nua, como sugere Nishi. O tempo de exposição varia de 20 segundos a 2 minutos (veja tabela abaixo), alternando-se com períodos em que o corpo deve ser coberto por um lençol ou manta, dependendo da estação do ano, para seu aquecimento. Como os intervalos entre exposição e aquecimento do corpo são muito breves, a Dra. Emi sugere que se grave uma fita alternando música e silêncio para controlar o tempo, ou vice-versa. Assim, por exemplo, seguindo a tabela, começaríamos com 20 segundos de música, intervalo de 1 minuto; mais 30 segundos de música, 1 minuto de intervalo; e assim por diante. O exercício completo tem a duração de 30 minutos; pessoas doentes que não estejam habituadas à prática do hadaka não devem passar da quinta etapa; indivíduos saudáveis, que queiram apenas manter a saúde, podem chegar até o último nível.
Etapas | Tempo de nudez (portas e janelas abertas) |
Tempo para cobrir e aquecer (portas e janelas fechadas)
|
1 | 20 segundos | 1 minuto |
2 | 30 segundos | 1 minuto |
3 | 40 segundos | 1 minuto |
4 | 50 segundos | 1 minuto |
5 | 60 segundos | 1 minuto e meio |
6 | 70 segundos | 1 minuto e meio |
7 | 80 segundos | 1 minuto e meio |
8 | 90 segundos | 2 minutos |
9 | 100 segundos | 2 minutos |
10 | 110 segundos | 2 minutos |
11 | 120 segundos |
Descansar um pouco em cama reta
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Ao levantarmos, sentados na beira da cama ou numa cadeira, com o tronco o mais ereto possível, oscilamos para a direita e para a esquerda, como um pêndulo. Ao oscilar para um dos lados — o direito, por exemplo — forçamos o abdômen para fora; movimentando-nos na outra direção (lado esquerdo), comprimimos o abdômen. O exercício, denominado dorso-ventral, deve ser praticado por 10 minutos; o padrão de velocidade varia de 50 a 55 oscilações por minuto, o que equivale a 250 movimentos para cada lado. Isso permite o equilíbrio ácido-básico do corpo e do sistema nervoso, incluindo o equilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático.
Outra prática recomendada é o banho alternando água fria e quente, na proporção de um minuto para cada uma, começando sempre com água quente e terminando com fria. O ideal é acostumar-se a essa prática no verão, para que, no inverno, o contato com a água fria seja encarado com naturalidade. Essa alternância ativa a circulação de tal maneira que, mesmo no inverno, apesar do jato de água fria no encerramento do banho, a pessoa não sente frio, tampouco se resfria. O escalda-pé também pode ser aplicado em banhos alternados: o paciente fica deitado e, aos pés da cama, são colocadas duas bacias, uma com água quente e outra contendo água fria; os pés são mergulhados até a altura do tornozelo, com as pernas flexionadas, por um minuto, começando com a água quente e terminando com a fria, repetindo-se o processo até três banhos frios.
O escalda-pé tradicional aplica-se nos casos de febre alta ou baixa. Deve-se mergulhar até a altura da barriga da perna, com a água a 40ºC nos cinco minutos iniciais, aumentando-se de grau em grau, em intervalos de cinco minutos, até atingir 43ºC. Para elevar gradativamente a temperatura da água, basta manter uma chaleira com água fervente próxima, que possa ser adicionada ao banho a cada cinco minutos.
Desintoxicação do Organismo
A dieta é um fator importante na medicina Nishi. O método recomenda o jejum matinal para permitir a desintoxicação diária do organismo, permitindo-se a ingestão de água. Aqueles que estão habituados a um lauto café da manhã devem ir diminuindo suas porções gradativamente. Quem se dispuser a um jejum mais prolongado deve procurar orientação médica; o ideal é começar com um dia e chegar ao máximo de três. Em relação à alimentação, é indicado o consumo, meia hora antes do almoço e do jantar, de um copo de suco de vegetais crus, na proporção de quatro a cinco folhas diversas para duas ou três raízes, trituradas no liquidificador com um suco de frutas (como o de laranja, por exemplo), sem peneirar. O importante aqui é a variedade de espécies, e não a quantidade. Além disso, devemos ingerir de 1,5 a 2 litros de água pura (chá também conta) diariamente, o que corresponderia a 30 gramas (um copinho de café) a cada meia hora, conforme a indicação de Nishi.
Muitas outras práticas são recomendadas pela medicina Nishi, que pode ser aplicada a pessoas de qualquer idade e paralelamente a outros tipos de tratamento. Os exercícios básicos devem ser feitos pela manhã e à noite; o banho pode seguir o horário de sua preferência; em casos normais, o hadaka pode ser praticado apenas uma vez por dia, podendo ser repetido em casos graves. Procuramos detalhar e justificar ao máximo cada uma das práticas principais e endossamos o desafio: satisfação garantida e sua saúde de volta. Para aqueles que gostarem e quiserem mais, o livro de Nishi é rico em sugestões. Mexa-se!
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