Categorias
Ásia Oculta

Dhammapada Atthaka (texto integral)

Este texto foi lambido por 9 almas esse mês

Capítulo Um

OS VERSOS GÊMEOS

  1. Tudo o que somos é resultado do que pensamos no passado. Tudo o que somos se baseia em nossos pensamentos e é formado por nossos pensamentos. Se alguém fala ou age com um mau pensamento, o sofrimento o acompanha, assim como a roda da carreta segue os passos do boi que a puxa. (1)

[Nota:]

No original, é usada a palavra Dhamma. Tudo e todas as pessoas expressam o seu Dhamma, a sua característica própria e peculiar. O Dhamma da água é a umidade, e assim sucessivamente. Na psicologia budista, Dhamma não é apenas Lei, Religião, e Dever, mas também Qualidade, Fenômeno, Característica, etc., e se torna o precursor ou anunciador da ação mental. Dhamma, como natureza mental, é o resultado de Vijnana, chamada de Manas. Assim, as criaturas têm seu caráter definido pela mente. Em tudo, o elemento primordial é a mente.

  1. Tudo o que somos é resultado do que nós pensamos no passado. Tudo o que somos se baseia em nossos pensamentos e é formado por nossos pensamentos. Se alguém fala ou age com pensamento puro, a felicidade o acompanha assim como sua própria sombra, que nunca se afasta dele. (2)
  1. “Ele me desrespeitou, ele me bateu e dominou, e depois me roubou” – quem expressa tais pensamentos amarra sua mente à intenção de vingar-se. Em tais pessoas o ódio não cessara=á. (3)
  1. “Ele me desrespeitou, ele me bateu e dominou, e depois me roubou” – em quem não expressa tais pensamentos, o ódio cessará. (4)
  2. Nesse mundo a inimizade nunca é eliminada pelo ódio. A inimizade é eliminada pelo amor. Essa é a Lei Eterna. (5)

[Nota:]

No original, “Lei Eterna” ou Dhammo Sanatano, a lei antiga ou eterna, a fonte e a base de todo Dharma. Os hindus se referem frequentemente à sua religião como “Sanatana Dharma”, ou Religião Eterna. Cada uma das religiões pretende ser a fonte da crença e da prática religiosa. Este versículo ensina o princípio básico da Vida Correta, e todo homem que começa a exercitar a vivência deste ensinamento é um verdadeiro Sanatanista, um seguidor da Religião da Sabedoria original, Bodhi Dharma ou Sanatana Dharma, a Religião Eterna.

  1. Os muitos que não sabem disso também esquecem que um dia, nesse mundo, Eles não se controlam. Mas aqueles que conhecem a Lei encerram seus conflitos em seguida. (6)
  2. Quem vive em busca de prazeres, com seus sentidos descontrolados, sem moderação ao comer, indolente, desvitalizado – a ele verdadeiramente Mara 2 derruba, assim como uma tempestade derruba uma árvore. (7)
  3. Quem vive disciplinando a si mesmo, sem dar atenção a prazeres, com seus sentidos controlados, moderado ao comer, cheio de fé e coragem (Virya) – a ele verdadeiramente Mara não derruba, assim como uma tempestade não derruba uma montanha rochosa. (8)

[Nota:]

A disciplina é mental e consiste em lembrar que os objetos do mundo causam infelicidade, e em estar atento e prevenido em relação a eles.

A energia − Virya− é dissipada quando flui para fora visando entrar em contato com os objetos dos sentidos. A conservação da energia é considerada uma virtude, Paramita. Virya é “a energia destemida que abre caminho até a Verdade divina, fora do lodo das mentiras terrestres”.

  1. Quem não está livre de vícios, quem não observa a moderação e a veracidade, pode vestir o manto amarelo, mas não o merece. (9)
  1. Quem libertou-se dos vícios e está bem estabelecido nas virtudes, quem observa a moderação e a veracidade, realmente merece o manto amarelo. (10)
  1. Aqueles que vivem no mundo de prazeres da fantasia enxergam verdade no que é irreal e inverdade no que é real. Eles nunca chegam à verdade. (11)
  1. Aqueles que se estabelecem no mundo do pensamento correto enxergam verdade no que é real e inverdade no que é irreal. Eles chegam à verdade. (12)
  2. A chuva flui para dentro de uma casa com telhado mal construído, assim como os desejos fluem para dentro de uma mente mal treinada. (13)

2 Mara: O princípio da sub-inteligência egoísta que surge da ignorância espiritual. O deus da tentação, que tentou desviar Buddha do seu caminho. (NT)

  1. A chuva não molha uma casa com telhado bem construído, assim como os desejos não entram na mente disciplinada. (14)
  1. Quem faz o mal sofre neste mundo e sofre no mundo seguinte; ele padece nos Aflito, ele se inquieta ao rever os seus atos pecaminosos. (15)
  1. Quem é virtuoso tem contentamento nesse mundo e tem alegria no mundo seguinte; ele se alegra nos dois. Ele tem satisfação e contentamento ao rever seus atos puros. (16)
  2. Quem faz o mal se lamenta aqui, e se lamenta depois “Fiz o mal”, ele diz a si mesmo. Seu tormento é maior quando está no lugar do mal. (17)
  1. O ser humano correto é feliz aqui, e é feliz depois “Fiz o bem”, ele diz a si mesmo. É grande o seu prazer no lugar abençoado. (18)
  1. Aquele que cita os textos sagrados mas é preguiçoso e não os aplica na vida é como um homem do campo que conta as vacas Ele não partilha as bênçãos da Vida Correta. (19)
  1. Aquele que abandona a luxúria, o ódio e a loucura, que adquire verdadeiro conhecimento e uma mente serena, que não tem cobiça nesse mundo nem em qualquer outro, e que aplica em si mesmo os ensinamentos dos textos sagrados que recita, ainda que sejam poucos textos – tal pessoa participa das bênçãos da Vida Correta. (20)

Capítulo Dois

A ATENÇÃO

[Nota:]

O termo original “Appamada” pode ser traduzido de várias formas: Cuidado, Diligência, Seriedade, Atenção, Reflexão, Concentração mental, a Condição de um ser Desperto, Vigilância, Zelo. A tradução do texto chinês por Samuel Beal o apresenta como “Ausência de Cuidado” (“Ausência de Pensamento”). O “Manual of Buddhist Terms and Doctrines” afirma que o termo implica não-relaxamento, não-cansaço, zelo, e que o conceito é visto como o alicerce de todo progresso. A obra cita Anguttara-Nikaya, X.15: “Assim como todas as pegadas dos seres vivos são superadas pelas pegadas de um elefante, e esta pegada é considerada a mais poderosa, assim também todas as qualidades meritórias têm como seu alicerce o zelo, e o zelo é considerado a mais poderosa destas qualidades.”

  1. A atenção é o caminho para a Vida A desatenção é o caminho para a morte. Quem é atento e reflexivo não morre. O desatento já está morto. (21)
  1. Os sábios entendem isso Como consequência, eles têm prazer na atenta vigilância. Eles percorrem o caminho dos Árias3, os Nobres. (22)
  1. Meditativos, perseverantes, sempre intensos em seus esforços, aqueles que são tranquilos alcançam o Nirvana, a mais alta libertação e felicidade. (23)
  1. Cresce continuamente a glória de quem é atento e concentrado, daquele cujas ações são puras, cujos atos são conscientes, daquele que é autocontrolado e que vive de acordo com a Lei. (24)
  2. Através do esforço, da atenção, da disciplina e do autocontrole, o sábio constrói para si mesmo uma ilha que nenhuma inundação pode dominar. (25)
  3. As pessoas tolas e desatentas dedicam-se à preguiça. Os sábios consideram a atenção como o seu tesouro mais precioso. (26)
  1. Não seja preguiçoso. Não brinque com a luxúria e o prazer dos Aquele que medita com seriedade alcança grande contentamento. (27)
  1. Quando um homem prudente vence a indolência através da atenção, ele chega ao terraço superior da Livre de sofrimento, ele observa a multidão que sofre. Esse ser humano sábio olha para os tolos como um alpinista situado no alto cume de uma montanha olha para aqueles que moram na planície. (28)
  2. Vigilante entre os desatentos, desperto entre os sonolentos, o sábio abre caminho assim como um cavalo de guerra se distancia de um cavalo fraco. (29)
  3. Foi pela sua atenção que o Deus Indra passou a ser o chefe dos A vigilância é sempre elogiada, e a desatenção é sempre desaprovada. (30)
  4. Um Bhikkhu [Discípulo] que tem prazer na atenção, e que vê o perigo da desatenção, avança sobre os obstáculos como o Ele destrói os grilhões, sejam grandes ou pequenos. (31)
  5. Um Bhikkhu [Discípulo] que tem prazer na atenção e que vê o perigo da desatenção não cairá. Ele está perto do Nirvana. (32)

Capítulo Três

A MENTE

[Nota:]

O termo original “Chitta” (Mente) é usado em quase todos os versículos deste capítulo. Foi traduzido de várias formas como Coração, Mente, Reflexão, Pensamento. O termo inclui os significados de Cuidado, Atenção Mental, Prudência Mental, e é um estado de

3 Árias: Referência aos sábios da Índia antiga. Os Árias foram um povo pioneiro da região, e diz a tradição que tinham um acesso primordial à sabedoria eterna. A palavra “nobre”, nesse contexto, não se refere a uma casta social, mas indica aqueles que têm um coração nobre e, por isso, possuem sabedoria. (NT)

autoconsciência. Chitta não é a mente que oscila conforme as atrações dos objetos dos sentidos e dos contatos com eles. Chitta é o poder superior que pode examinar, controlar e usar a mente. Ele é mencionado às vezes como “consciência abstrata”. É o poder pelo qual o Pensador controla, purifica e eleva a mente. A mente é um instrumento do Pensador, da Alma Humana, do Homem Real, Manushya. Chitta é aquele estado de consciência mental no qual a mente estabilizada se torna capaz de absorver as influências elevadas, espirituais e divinas do Homem Real.

  1. Do mesmo modo como o produtor de flechas torna sua flecha reta, o sábio torna reto o seu pensamento O pensamento é difícil de vigiar. É difícil de controlar. (33)
  1. Como um peixe arrancado do seu ambiente aquático e atirado ao solo, a mente treme e salta ao deixar o reino de Mara. (34)
  1. O pensamento é difícil de A mente é inconstante, e toma as cores daquilo em que ela pensa. Bom é dominá-la. A mente dominada produz felicidade. (35)
  2. O sábio deve observar seu A mente se move com extrema sutileza e não é notada. Ela se apega a tudo o que deseja. Observar a mente leva à felicidade. (36)
  1. Quem controla sua mente escapa da dominação de A mente é incorpórea, se movimenta sozinha, viaja rápido e descansa na caverna do coração. (37)
  1. A sabedoria não preenche a mente instável do ser humano cuja serenidade se Ele não conhece o verdadeiro ensinamento. (38)
  2. Não há medo para aquele cuja mente não está queimando com desejos e que, tendo-se erguido acima de apegos e rejeições, é sereno. Ele está desperto. (39)
  3. Considerando que seu corpo é frágil como um pote de barro, e valorizando sua mente como uma firme fortaleza, o ser humano deve combater Mara com a espada da Ele deve preservar o que já alcançou, mas deve prosseguir na luta. (40)
  4. Lamentavelmente, antes que passe muito tempo este corpo estará imóvel na terra, deixado de lado, sem consciência e inútil como madeira queimada. (41)
  5. Seja o que for que um inimigo faça contra outro inimigo, e seja o que for que alguém com ódio faça contra outra pessoa com ódio, uma mente mal dirigida causará um prejuízo muito maior. (42)
  6. Nem uma mãe, nem um pai, nem outro familiar qualquer podem fazer muita coisa; uma mente bem dirigida nos presta serviços muito maiores. (43)

Capítulo Quatro

AS FLORES

  1. Quem vencerá esta terra? E quem vencerá a esfera de Yama, o deus da morte? E quem vencerá o mundo dos deuses felizes? E quem escolherá os passos do Caminho da Lei, assim como um jardineiro seleciona as melhores flores? (44)
  1. O discípulo vencerá esta Também vencerá Yamaloka4 . E também a esfera dos deuses. O discípulo decide avançar pelo Caminho da Lei. Ele é o jardineiro hábil que seleciona as melhores flores. (45)

[Nota:]

O termo equivalente a “discípulo” é “Sekha”, alguém que está aprendendo, ou que está sob treinamento, e que recebe lições sobre a Sabedoria Sagrada. Ele decide que não permanecerá preso ao mundo, mas se tornará um Ouvinte, um Savaka ou Shravaka, cuja meta é aplicar à vida o que ele ouve e assim tornar-se um Samana ou Shramana. Estes dois termos correspondem aos conceitos gregos 5 de akoustikoi e asketai. O “Sekha”, o discípulo, floresce ao alcançar a perfeição em um Asekha”, aquele que não é mais um discípulo, porque já não tem o que aprender.

  1. Sabendo que esse corpo é como espuma, sabendo que ele tem a substância de uma miragem, e quebrando as flechas floridas de Mara, o discípulo passa intocado pela (46)
  1. A morte carrega o ser humano cuja mente se dedica a colher as flores dos sentidos, assim como uma forte inundação carrega consigo uma aldeia adormecida. (47)
  1. A morte domina o ser humano que está colhendo as flores dos sentidos, antes mesmo que ele possa estar saciado em seu prazer. (48)
  2. A abelha reúne mel sem alterar o aroma ou a cor da Assim deve um homem silencioso (Muni) viver sua vida. (49)
  3. Não é nas ações indignas dos outros, nem nos pecados que eles cometem por ação ou por omissão, que o ser humano deve prestar atenção; mas sim nos seus próprios atos, por ação ou por omissão. (50)
  4. Assim como uma flor cheia de cor mas sem fragrância, assim são as belas palavras que não produzem frutos na ação. (51)
  1. Mas, como uma bela flor cheia de cor e com fragrância, assim são as belas palavras cujos frutos são ações. (52)
  1. Muitos tipos de grinaldas podem ser feitos a partir de uma pilha de Muitas boas ações podem ser reunidas por um mortal nesta vida.(53)
  1. O perfume das flores não viaja contra o vento – seja ele de tagara ou mallika, ou mesmo da árvore sândalo. Mas a fragrância dos bons se irradia mesmo contra o A fragrância do ser humano bom permeia todos os seus caminhos. (54)
  1. A fragrância da virtude é insuperável mesmo entre os perfumes de sândalo, de lótus, de tagara, de vassiki. (55)

4 Yamaloka, o local ou a esfera da morte. (NT)

5 Da Escola de Pitágoras. (NT)

  1. É fraco o perfume de tagara ou sândalo. Mas a fragrância do virtuoso alcança até as alturas dos deuses. (56)
  1. Mara nunca encontra o caminho até aqueles que possuem real virtude, que são vigilantes, que foram libertados por um perfeito conhecimento. (57)

15-16. A partir de uma pilha de lixo na beira da estrada, um lírio floresce, perfumado e agradável. A partir de uma massa de seres mortais e cegos, surge um discípulo do Verdadeiramente Sábio, brilhando com a glória incomparável da sua própria Sabedoria. (58- 59)

Capítulo Cinco

O TOLO

  1. Longa é a noite para quem não consegue Longo é um yojana (distância de quinze quilômetros) para quem está cansado. Longo é o caminho do nascimento e da morte para o tolo que não conhece a verdadeira lei. (60)
  1. Se um caminhante não encontra alguém melhor que ele, ou igual a ele, que prossiga decididamente sozinho em sua jornada. Não há companhia com tolos. (61)
  2. O tolo se preocupa pensando: “Tenho filhos; tenho ” Nem ele próprio pertence a si mesmo. O que dizer dos filhos? O que dizer da riqueza? (62)
  1. O tolo que tem consciência da sua tolice é até certo ponto sábio. Mas um tolo que se considera sábio é realmente tolo. (63)
  1. Mesmo relacionando-se com um homem sábio durante toda a sua vida, um tolo não vê a verdade, assim como uma colher não aprecia o gosto da sopa. (64)
  1. Relacionando-se com um homem sábio, uma pessoa que está habituada a pensar percebe em pouco tempo a verdade, assim como a língua aprecia o sabor da sopa. (65)
  1. Os tolos de escassa compreensão são os seus próprios Eles fazem más ações que produzem frutos amargos. (66)
  1. Mal feita é aquela ação em relação à qual o arrependimento é necessário. É com dor e lágrimas que o homem recebe as suas consequências. (67)
  1. Bem feita é aquela ação em relação à qual nenhum arrependimento é necessário. É com satisfação e felicidade que o homem recebe as suas consequências. (68)
  1. Enquanto uma má ação não dá frutos, o tolo pensa que ela é doce como o Mas quando ela dá frutos, então o tolo enfrenta o sofrimento. (69)
  1. Ainda que o tolo faça jejum, comendo mês após mês com a ponta de uma folha da grama kusa, ele não terá a décima sexta parte do valor daqueles que compreenderam a (70)
  1. Como leite tirado há pouco, uma má ação não estraga Ela consome o tolo aos poucos, assim como o fogo que avança oculto sob as cinzas. (71)
  1. Seja qual for o conhecimento que o tolo adquire, ele não o usa de modo a tirar bom proveito. Isso mancha a parte luminosa do seu mérito passado e lança sua mente em confusão ao agir no presente. (72)

14-15. Deixe que o tolo busque obter uma falsa reputação, uma posição de destaque entre os mendicantes 6, uma posição de comando nos conventos e a adoração do povo. “Quero que tanto os leigos como os monges pensem que isto é feito por mim. Que eles sigam os meus caprichos em relação ao que deve ser feito e ao que não deve ser feito.” Esse é o desejo do tolo, e assim os seus desejos e seu orgulho aumentam. (73-74)

  1. Há um caminho que leva aos ganhos no mundo, e outro, muito diferente, que leva ao Nirvana. Tendo compreendido isso, o Bhikkhu, seguidor de Buddha, nunca deve buscar o elogio do mundo, mas deve esforçar-se por alcançar a sabedoria.7 (75)

Capítulo Seis

O SÁBIO

1-2. Se você vê um homem que detecta erros e condena o que merece ser condenado, siga esse sábio. Valorize-o como alguém que revela tesouros ocultos. Ele será amado pelos bons, e será odiado pelos maus. Deixe que tal pessoa faça alertas e repreensões, que dê instruções e proíba o que é impróprio. (76-77)

  1. Não seja amigo de quem pratica o mal, ou de pessoas Seja amigo dos bons. Busque a companhia do melhor. (78)
  1. Aquele que bebe do Dharma com uma mente serena vive com O sábio encontra prazer no Dharma ensinado pelos Seres Nobres. (79)
  1. Quem faz canais de irrigação conduz as águas. Os flecheiros dão forma às Os carpinteiros dão forma à madeira. Os sábios disciplinam a si mesmos. (80)
  1. A rocha sólida não se abala por causa de um vento O sábio não se abala por causa de elogios ou acusações. (81)

6 Mendicantes: monges. (NT)

7 Veja, no Novo Testamento, Mateus, 7: 13-14. (NT)

  1. Depois de ouvir o Dharma, o sábio fica tranquilo como um lago profundo que é claro e calmo. (82)
  1. As pessoas boas avançam aconteça o que acontecer. Elas não conversam à toa, nem buscam Os sábios não se exaltam na felicidade, nem ficam deprimidos quando enfrentam o sofrimento. (83)
  1. O sábio não ambiciona filhos, riquezas ou posição social, nem para si mesmo nem para os outros. (84)

10-11. Só uns poucos alcançam a margem do outro lado da corrente. A maior parte das pessoas completa os seus ciclos nesse lado. No entanto, quem presta atenção à Lei e vive à altura dos preceitos atravessa a corrente e chega à outra margem. Ir além do domínio de Mara é realmente difícil. (85-86)

12-13. O ser humano deve dar valor ao que é difícil de amar. Deve deixar de lado o estado de leigo e passar à situação de quem não tem lar. Que o sábio abandone a escuridão e siga a luz no caminho. Deixando para trás todos os prazeres dos sentidos, não tendo mais nada que chame de seu, o sábio se liberta de todas as impurezas em seu coração e então alcança o contentamento. (87-88)

  1. Aqueles cujos desejos foram vencidos, cujas mentes estão bem estabelecidas nos elementos da iluminação, e que não se apegam a nada, mas encontram prazer na liberdade do desapego, conquistam a bênção do Nirvana enquanto estão no mundo. (89)

[Nota:]

Os elementos da iluminação mencionados neste versículo são sete, e também são chamado de “elos”, porque levam ao Nirvana. São os seguintes: (1) Atenção, cuidado ou autocontrole; (2) Sabedoria ou investigação da Doutrina (Dhamma); (3) Energia; (4) Contentamento ou êxtase; (5) Serenidade; (6) Concentração ou Meditação, isto é, uma consciência firmemente estável (Samadhi); e (7) Equanimidade.

Capítulo Sete

O ARHAT

  1. Aquele que rompeu os grilhões e se libertou em todos os aspectos é livre de Para ele não há dor. Ele completou sua jornada. (90)
  1. Os que têm pensamentos elevados fazem esforços. Eles não se satisfazem com lugar Eles deixam sua casa e seu lar assim como os cisnes abandonam seu lago. (91)
  1. Aqueles que não têm propriedades pessoais, que se alimentam de modo sábio e alcançam a meta da liberdade ao perceber que a vida é vazia e transitória − têm uma trajetória tão difícil de identificar como o voo dos pássaros no céu. (92)
  1. Aquele cujos desejos foram eliminados e que é indiferente à comida, que percebeu a meta da liberdade ao compreender que a vida é vazia e transitória − tem uma trajetória tão difícil de identificar como o voo dos pássaros no céu. (93)
  1. Até os deuses invejam aquele cujos sentidos estão dominados como cavalos bem treinados pelo condutor, aquele que é livre de orgulho e livre de perversões. (94)
  1. Para aquele que é paciente como a terra, firme como o raio de Indra8 e semelhante a um lago livre de lama – para ele não existe a roda de nascimentos e mortes. (95)
  2. Calmo em seus pensamentos, calmo ao falar, calmo nas ações, assim é aquele que obteve liberdade através do verdadeiro conhecimento. Ele se tornou tranquilo. Ele está pleno de repouso. (96)
  1. O homem que não é crédulo, que cortou todos os laços, que matou todos os desejos, para quem mesmo as situações em que se age por atração ou repulsão já não surgem, que conhece o sempre-existente não-criado, ele, de fato, é elevado entre os homens. (97)
  1. Agradável é o lugar onde moram os Arhats, seja uma vila ou uma floresta, seja em águas profundas ou à margem do deserto. (98)
  1. Agradáveis são as florestas para o Arhat; elas não parecem encantadoras para os que são mundanos. Nas florestas, os que estão livres de paixões encontram contentamento, porque não estão iludidos pela vida dos sentidos. (99)

Capítulo Oito

OS MILHARES

  1. Melhor que um discurso de mil palavras vazias, é uma só frase carregada de significado e que, ao ser ouvida, provoca um sentimento de paz. (100)
  1. Melhor que um poema de mil versos com sons vazios, é uma só estrofe que, ao ser ouvida, provoca um sentimento de paz. (101)
  1. Melhor que recitar cem versos de palavras vazias, é repetir uma só estrofe que, ao ser ouvida, provoca um sentimento de paz. ( 102)
  1. Melhor que um homem que vence em batalhas mil vezes mil homens, é aquele que vence a si mesmo. Ele é, na realidade, o maior dos guerreiros. (103)

5-6. A vitória sobre si mesmo é de fato maior que a vitória sobre os outros. Nem Brahma, nem Mara, e tampouco um deva (um deus) ou um gandharva (músico celestial), nenhum deles

8 Indra – o Rei dos deuses hindus, o senhor dos céus, equivalente oriental (e mais antigo) do Zeus grego e do Júpiter romano. (NT)

pode transformar em derrota a vitória de alguém que sempre pratica o autocontrole. (104- 105)

  1. Melhor que um homem que faz mil oferendas e sacrifícios, mês após mês, durante cem anos, é aquele que presta homenagem a alguém estabelecido na Tal homenagem é superior a um século de oferendas e sacrifícios formais. (106)
  1. Melhor que um homem que alimenta o fogo sagrado na floresta durante cem anos, é o homem que presta homenagem a alguém estabelecido na sabedoria. Tal homenagem é superior a um século de oferendas e sacrifícios formais. (107)
  2. Melhor que um homem que oferece uma oblação e um sacrifício durante um ano inteiro para obter mérito, é o homem que presta homenagem a quem é Toda aquela prática de um ano não vale a quarta parte desta homenagem. (108)
  1. Quatro bênçãos ganha o ser humano que respeita os mais velhos e pratica reverência: vida longa, beleza, felicidade e força. (109)
  2. Melhor que uma vida descontrolada de cem anos de maldade, é a curta vida de um só dia do homem virtuoso que medita. (110)
  3. Melhor que uma vida descontrolada de cem anos de ignorância, é a curta vida de um só dia de um homem que medita. (111)
  4. Melhor que uma vida ociosa e fraca de cem anos, é a curta vida de um dia de um homem que se esforça intensamente. (112)
  1. Melhor que uma vida de cem anos de um homem que não percebe a origem e o final das coisas, é a curta vida de um dia de um homem que percebe a origem e o final das coisas. (113)
  2. Melhor que uma vida de cem anos de um homem que não percebe o estado imortal, é a curta vida de um só dia do homem que percebe o estado imortal. (114)
  3. Melhor que uma vida de cem anos de um homem que não percebe a lei mais elevada, é a curta vida de um só dia do homem que percebe a doutrina mais excelente. (115)

Capítulo Nove

A MÁ CONDUTA

  1. O homem deve ir depressa em direção ao que é bom. Ele deve restringir seus maus pensamentos. Se ele for indolente em relação a fazer o bem, sua mente terá a tendência de gostar do que é mau. (116)
  2. Se um homem cometer um pecado9, que não continue na má ação. Que não coloque o seu coração nela. Dolorosa é a acumulação de uma má conduta. (117)

9 “Pecado” é um erro que aumenta a distância entre o indivíduo e a sua própria natureza superior essencial. (NT)

  1. Se um homem fizer o que é bom, que ele o faça uma e outra Que ele coloque seu coração na boa ação. A felicidade é resultado da boa conduta. (118)
  2. Até mesmo um homem que age mal sente felicidade, enquanto sua má ação não amadureceu. Mas quando sua má ação amadurece, o homem que fez o mal percebe o (119)
  3. Até mesmo um homem bom talvez sofra com o mal, enquanto suas boas ações não amadurecerem. Mas quando suas boas ações amadurecem, ele vê o que é bom surgindo para ele. (120)
  4. Não pense superficialmente sobre o mal, dizendo: “ele não virá para mim”. Um pote de água fica cheio com a constante queda, nele, de pequenas gotas de água. Um tolo se torna cheio de maldade, se ele a reunir pouco a pouco. (121)
  5. Não pense superficialmente sobre o bem, dizendo: “ele não virá para mim”. Um pote de água fica cheio com a constante queda, nele, de pequenas gotas de água. Um homem sábio fica cheio de bondade, se ele a reunir pouco a pouco. (122)
  6. Um comerciante desacompanhado e tendo consigo muitas riquezas evita caminhos perigosos. Um homem que deseja viver evita ingerir Do mesmo modo, deve-se evitar fazer o mal. (123)
  7. Aquele cuja mão não está ferida pode tocar um O veneno não faz mal a aquele que não tem um ferimento. Nada causa mal a aquele que não faz mal. (124)
  8. Quando alguém, seja quem for, age injustamente em relação a uma pessoa inocente, ou em relação a alguém puro e sem pecado, o mal retorna para o tolo assim como um fino pó, lançado contra o vento, retorna para a pessoa que o lança. (125)
  9. Alguns homens retornam ao mundo, entrando no útero. Os que fazem maldades vivem o inferno10. Os bons vivem o céu. Aqueles que se libertaram dos desejos mundanos alcançam o Nirvana. (126)
  10. Nem no céu, nem nas profundezas do mar, nem nas fendas das montanhas – não há um lugar no planeta onde um homem possa escapar das consequências de sua má ação. (127)
  11. Nem no céu, nem nas profundezas do mar, nem nas fendas das montanhas – não há um lugar no planeta onde um homem possa estar, de modo que a morte não o alcance. (128)

Capítulo Dez

O AÇOITE DA PUNIÇÃO

  1. Todos os homens tremem diante da punição, todos os homens temem a Colocando- se no lugar dos outros, o homem não deve matar nem provocar a morte. (129)
  2. Todos os homens tremem diante da punição; a vida é desejável para todos os homens. Colocando-se no lugar dos outros, o homem não deve matar nem provocar a (130)

10 Céu e inferno, para o budismo e a teosofia, são imagens que simbolizam situações pós- morte felizes ou infelizes, nos quais os indivíduo colhe, de acordo com a lei do carma, o que plantou com suas ações durante a vida física. Não são “locais”, portanto, mas estados de espírito individuais. (NT)

  1. Quem busca sua própria felicidade usando o açoite da punição contra os outros porque eles buscam a felicidade para si próprios, não alcançará a felicidade após a morte. (131)
  1. Quem busca sua própria felicidade sem usar o açoite da punição contra os outros, embora eles busquem a felicidade para si próprios, alcançará a felicidade após a morte. (132)
  1. Não fale asperamente com ninguém. Aqueles a quem se fala deste modo reagem de modo recíproco. Como a fala rancorosa é algo doloroso, o açoite da retaliação pode alcançar você. (133)
  2. Se você for silencioso como um gongo quebrado, você terá alcançado o Nirvana, porque a raiva não estará em você. (134)
  1. Com o seu cajado, um vaqueiro leva as vacas para as Do mesmo modo, a velhice e a morte levam os homens para uma nova vida. (135)
  1. O tolo faz o mal sem perceber sua As próprias ações do tolo o consomem como um fogo.(136)
  2. Aquele que ataca os inofensivos e os inocentes alcançará em breve um dos dez estados descritos a seguir. (137)

10-11-12. Ele terá de enfrentar: (1) dor aguda, ou (2) doença, ou (3) decadência corporal, ou

(4) doloroso desastre, ou (5) prejuízo nas suas funções mentais; ou (6) o desagrado do rei, ou

(7) calúnia, ou (8) a perda de relacionamentos, ou (9) a perda de todas as suas riquezas, ou

(10) a destruição da sua casa por um raio ou por fogo. Ao morrer, o pobre tolo estará destinado a renascer em circunstâncias infelizes. (138-140)

  1. Nem a ausência de roupas, nem o cabelo descuidado como o dos ascetas, nem a sujeira, nem o jejum, nem o ato de passar pó ou cinzas pelo corpo, nem o ato de sentar-se sobre os calcanhares, podem purificar o mortal que está cheio de dúvidas. (141)
  2. Mas aquele que é sereno, tranquilo e calmo, que vive uma vida controlada e restrita, de santidade, e que cessou de ferir qualquer ser vivo, ele, ainda que esteja ricamente vestido, é um brâmane, um asceta (Samana), e um monge (Bhikkhu). (142)
  3. Haverá neste mundo algum homem suficientemente modesto, suficientemente humilde, para não dar importância ao fato de ser criticado, assim como um cavalo bem treinado não perde o controle quando atingido pelo açoite? (143)
  4. Um homem deve ser intenso e ativo, assim como um cavalo bem treinado quando atingido pelo açoite. Através da fé e da virtude, da energia e da mente, através do discernimento da Lei, tendo alcançado o conhecimento, a concentração e o comportamento correto, ele eliminará de um golpe o grande sofrimento da existência terrestre. (144)
  5. Os responsáveis pela irrigação das terras conduzem a água; os fabricantes de flechas produzem flechas retas; os carpinteiros trabalham a madeira; as pessoas boas disciplinam a si mesmas. (145)

000

Capítulo Onze

A VELHICE

  1. Por que esta risada, por que a euforia, se este mundo está queimando sem parar? Envolvido na escuridão, por que você não procura pela luz? (146)
  1. Olhe esta imagem adornada, este corpo com tantos sofrimentos reunidos, suscetível à doença, cheio de pensamentos impermanentes e sem estabilidade. (147)
  2. Este corpo está perdendo força; ele é um ninho de doenças; ele é frágil. Este aglomerado de decadências está-se despedaçando. A vida termina na morte. (148)
  3. Que prazer existe em olhar estes ossos esbranquiçados, que parecem cuias abandonadas no outono? (149)
  4. Destes ossos, cobertos com carne e sangue, se faz uma Neste conjunto se reúnem o orgulho, a falsidade, a decadência e a morte. (150)
  5. As esplêndidas carruagens dos reis se desfazem com o O corpo também envelhece. Mas a virtude dos bons nunca perde a força. Isso é ensinado, uns aos outros, pelos que têm santidade. (151)
  6. O homem que aprendeu pouco envelhece como um A sua carne aumenta, mas o seu conhecimento não cresce. (152)

8-9. Muitas casas de vida 11 me tiveram, e busquei sempre quem construiu estas prisões dos sentidos, cheias de aflições. E meu combate incessante foi penoso. Porém agora Tu – construtor deste tabernáculo – Ah! Eu te conheço! Já não construirás mais estes muros que encerram sofrimento, e não levantarás mais o teto dos teus artifícios, nem levantarás novas vigas, sobre a argila! Tua casa está destruída, e o seu principal sustentáculo, quebrado! Foi a ilusão que a construiu! Agora eu irei caminhar com segurança, até alcançar a libertação.12 (153-154)

  1. Os homens que não viveram a vida disciplinada de uma mente pura, que não reuniram riqueza em suas almas quando eram jovens, definham como velhas garças em um lago sem peixes. (155)
  2. Os homens que não viveram a vida disciplinada de uma mente pura, que não reuniram riqueza em suas almas quando eram jovens, ficam deitados como velhos arcos inúteis, suspirando pelo passado. (156)

000

11 O corpo é uma casa para a alma mortal e para a alma imortal ou eu superior. (NT)

12 O versículo 8-9 corresponde às linhas finais do Livro Sexto da obra “The Light of Asia”, de Edwin Arnold (Theosophy Company, Los Angeles, 1977, 238 pp.). Veja também a versão brasileira: “A Luz da Ásia”, Edwin Arnold, Ed. Pensamento, São Paulo. (NT)

Capítulo Doze

O EU

  1. Se um homem tem apreço por si mesmo, que vigie atentamente a si próprio. O homem deve estar vigilante durante um dos três períodos de seu tempo.13 (157)
  1. Que o homem se estabeleça primeiro no caminho pelo qual deseja avançar, e depois ensine aos outros. Assim, o homem sábio evitará o sofrimento. (158)
  1. Que cada homem construa primeiro a si mesmo, antes de ensinar aos Dominando bem a si mesmo, ele poderá dominar bem a outros. Dominar o eu é muito difícil. (159)
  1. O Eu é o Senhor do eu; poderia haver um Senhor mais elevado? Quando o homem domina bem o seu eu, ele encontra um Senhor que é muito difícil de encontrar. (160)
  1. O mal que é feito pelo próprio eu, nascido do próprio eu e produzido pelo próprio eu, esmaga o tolo do mesmo modo como o diamante quebra uma dura pedra (161)
  1. O parasita Maluva enlaça a árvore Sala, e o mesmo ocorre com aquele que tem uma natureza má. A sua impiedade o reduz ao estado que seus inimigos desejam para (162)
  1. É fácil fazer o mal; as ações que são prejudiciais para si mesmo vêm com Extremamente difícil é fazer aquilo que é bom e benéfico. (163)
  2. O tolo insulta os ensinamentos dos homens sagrados, dos nobres e virtuosos. Ele segue falsas doutrinas cujos frutos provocam a destruição dele próprio, assim como fazem os frutos do junco Katthaka. (164)
  1. O mal é feito apenas através do Só através do eu alguém é aviltado. A prática do mal é abandonada apenas através do eu; e só através do eu alguém é purificado. A pureza e a impureza pertencem ao eu. Nenhum homem pode purificar outro. (165)
  1. Que ninguém negligencie o seu próprio bom trabalho em função do trabalho de outro, por melhor que este seja. Uma vez que o homem tenha identificado o seu próprio trabalho, que se dedique a ele. (166)

[Nota:]

O aforismo acima pode soar como egoísta. Ele significa que não se pode fazer o bem sem trabalhar a si mesmo, isto é, sem promover a autocultura – Atmartha.

000

13 Para o buscador da verdade, um dia de 24 horas tem três etapas: 1) sono e sonho; 2) trabalho; e 3) estudo e contemplação. A vida de uma pessoa têm três etapas: 1) infância e juventude; 2) maturidade; e 3) velhice. (NT)

Capítulo Treze

O MUNDO

  1. Não siga a lei da Não viva descuidadamente. Não siga a falsa doutrina. Não ande pelos caminhos do mundo. (167)
  2. Permaneça Não seja descuidado. Siga a Lei da Virtude. O virtuoso vive com felicidade neste mundo agora, e também depois dele. (168)
  1. Siga a lei da Não siga a lei do pecado. O virtuoso vive com felicidade neste mundo agora, e também depois dele. (169)
  1. Veja o mundo como uma Veja-o como uma miragem. A morte não olha para quem vê o mundo deste modo. (170)
  1. Venha, olhe para este Ele é como uma carruagem real, pintada e ornamentada. Os tolos se afundam nele. Os que têm discernimento não são enganados por ele. (171)
  1. Aquele que foi desatento mas que agora é controlado e reflexivo é como a lua que se libertou de uma nuvem. Ele ilumina o mundo. (172)
  1. Aquele que por suas boas ações transforma seus maus atos é como a lua quando ela se liberta de uma nuvem. (173)
  2. Este mundo está envolvido em escuridão. Só uns poucos podem ver Poucos pássaros escapam da armadilha. Só uns poucos fogem para a luz do céu. (174)
  3. Os cisnes tomam o caminho do sol por causa dos seus poderes extraordinários. Os sábios fazem a mesma Tendo vencido Mara e suas hostes, eles abandonam o mundo. (175)
  1. Não há maldade que não seja feita por quem se afasta da boa lei, fala com falsidade, e despreza a existência de um outro mundo. (176)
  1. Realmente, quem é mesquinho não conhece a recompensa Os tolos não dão valor à generosidade. Mas os sábios, felizes ao exercer a caridade, participam do mundo celestial. (177)
  1. Entrar na corrente do Sotapatti é melhor que o domínio do mundo externo, é melhor que ir para o céu, é melhor que o domínio de muitos mundos. (178)

[Nota:]

“Sotapatti”(páli), ou “Srotapatti” (sânscrito): “Aquele que entrou na corrente”. A nascente [deste rio simbólico das iniciações] está no Monte do Nirvana. Ele desemboca no Oceano da Libertação. O livro dos Preceitos de Ouro da Tradição Mahayana afirma:

“No Caminho de Sowan 14, ó Srotapatti, você está seguro. Sim, naquele Marga [Caminho] em que só a escuridão encontra o peregrino cansado; naquele Marga em que das mãos, feridas pelos espinhos, pinga sangue; em que os pés estão cortados por pedras agudas e duras; e em que Mara tem o seu maior poder − lá, logo depois, há uma grande recompensa. Calmo e inalterável, o Peregrino avança pela corrente que leva ao Nirvana. Ele sabe que quanto mais os seus pés sangrarem, tanto mais ele próprio será purificado. Ele sabe bem que, depois de sete curtos e passageiros nascimentos, o Nirvana será seu (         ) Assim é o Caminho

de Dhyana, o refúgio do Iogue, a meta abençoada que os Srotapattis ambicionam.” Há Dois Caminhos, o da Libertação e o da Renúncia.15

Capítulo Catorze

OS ILUMINADOS

  1. De que modo alguém poderia iludir Aquele que é iluminado? Ele realmente não deixa pegadas. Nada pode desfazer sua vitória. Ninguém deste mundo pode tocar sua vitória. Sua visão tem alcance ilimitado. (179)
  2. De que modo alguém poderia iludir Aquele que é iluminado? Ele realmente não deixa pegadas. Nenhuma rede de desejos pode capturá-lo. Nenhum anseio pode envolvê-lo. Sua visão tem alcance ilimitado. (180)
  3. Mesmo os Devas, os Deuses Brilhantes, aspiram a seguir o caminho dos Sábios Iluminados que são grandes contempladores, que são Seres Pacíficos, firmes e tranquilos. (181)
  4. É difícil obter um nascimento como ser É difícil viver a vida de um homem. É difícil ter a oportunidade de ouvir a Verdadeira Lei. É difícil obter a Iluminação. (182)
  5. Abandone toda Cultive a si mesmo e estabeleça-se no bem. Purifique sua mente. Este é o ensinamento dos Buddhas. (183)
  6. Uma paciência duradoura é o mais elevado 16 Nirvana é o estado supremo. Este é o ensinamento dos Buddhas. Aquele que oprime alguém não é um contemplador; aquele que prejudica alguém não é um asceta. (184)
  7. Não diga insultos, não prejudique a ninguém, discipline a si mesmo de acordo com a Lei, seja moderado ao comer, viva em solidão, dedique sua vida a pensamentos elevados − este é o ensinamento dos Buddhas. (185)
  8. A cobiça nunca é satisfeita nem mesmo por uma chuva de ouro. Aquele que sabe que o prazer da paixão não só tem curta duração mas constitui a fonte da dor, é um homem sábio. (186)

14 “Sowan” (páli): O primeiro dos “quatro caminhos” sucessivos que conduzem ao Nirvana na prática da Ioga. (“Glossário Teosófico”, de H.P. Blavatsky, Ed. Ground.) (NT)

15 Sobre esta frase, veja o comentário ao versículo 218, no capítulo 16. (NT)

16 Tapas – a prática da austeridade. (NT)

  1. Mesmo nos prazeres celestiais, ele não encontra a felicidade. O discípulo do Supremamente Iluminado encontra sua felicidade na destruição da cobiça. (187)

10-11. Os homens arrastados pelo medo buscam refúgio em montanhas, florestas, sob árvores sagradas ou em templos. Tais refúgios não são seguros, tais refúgios não são os melhores.

Tais refúgios não libertam o homem do sofrimento. (188-189)

12-13-14. Aquele que busca refúgio no Ser Iluminado, na Lei e na Ordem17 percebe claramente as quatro Nobres Verdades: o sofrimento; a origem do sofrimento; a cessação do sofrimento; e o Nobre Óctuplo Caminho18, através do qual todo sofrimento é transcendido. Este é o refúgio realmente seguro, o melhor refúgio. Nele, o homem está livre de todo sofrimento. (190-192)

  1. Um homem elevado é difícil de Ele não nasce em um lugar qualquer. Onde quer que nasça um homem sábio e nobre, o ambiente em que ele nasceu prospera. (193)
  2. Abençoado é o nascimento do Buddha; abençoado é o ensinamento da Boa Lei; abençoada é a harmonia na Ordem; abençoada é a austeridade daqueles que vivem em harmonia. (194)

17-18. Aquele que faz homenagem aos que são dignos de homenagem, sejam eles os Seres Iluminados ou Seus Discípulos; aquele que venceu as hostes do mal 19 e atravessou o rio do sofrimento; aquele que faz homenagem aos Seres Destemidos e Pacíficos; − este indivíduo tem um mérito que não pode ser medido por pessoa alguma. (195-196)

Capítulo Quinze

A FELICIDADE

  1. Devemos viver, pois, livres do ódio e felizes entre os que Entre os homens que odeiam, que nós vivamos livres do ódio. (197)
  2. Devemos viver, pois, livres da doença da cobiça e felizes entre os que sofrem desta doença. Entre os homens que têm a doença da cobiça, que vivamos livres desta doença. (198)
  3. Devemos viver, pois, livres da ansiedade e felizes entre os que estão consumidos pela preocupação. Entre os ansiosos, que nós vivamos livres da ansiedade. (199)

17 Estes são os três refúgios budistas, Triratna: 1) o refúgio no Buddha, no Guru, no Mestre;

2) o refúgio na Lei, no Dharma, no ensinamento; e 3) o refúgio na Sangha, na ordem, na comunidade solidária dos aprendizes. (NT)

18 O Nobre Óctuplo Caminho constitui a Quarta das Quatro Nobres Verdades do Senhor Buddha, indicadas nesta frase. A primeira delas é que a vida implica dor ou insatisfação. A segunda é a de que o desejo é a causa do sofrimento. A terceira é que a cessação do desejo produz a libertação. A quarta é o nobre óctuplo caminho que leva à libertação: 1) Compreensão correta; 2) Pensamento correto; 3) Palavra correta; 4) Ação correta; 5) Meio de vida correto; 6) Esforço mental correto; 7) Plena atenção correta; 8) Concentração correta. (NT)

19 Hostes do mal − As hostes de desejos e apegos baseados na ignorância. (NT)

  1. Devemos viver com felicidade, pois, nós que nada possuímos. Vivamos como os Seres Iluminados, alimentados pelo contentamento. 20 (200)
  1. A vitória cria o ódio; os derrotados permanecem no sofrimento; mas o homem tranquilo vive com felicidade, sem dar atenção a vitória ou derrota. (201)
  1. Não há fogo comparável à luxúria; não há mal comparável ao ódio; não há sofrimento comparável à existência pessoal 21 ; não há paz superior à tranquilidade. (202)

[Nota:]

A existência pessoal é, no texto original, a combinação dos cinco skandhas. Eles são: (1) Corpo; (2) Sensação; (3) Percepção; (4) Tendências da Mente; e (5) Poderes Mentais (ampliação do anterior).

  1. A fome do desejo é a pior das doenças, a existência pessoal é o pior dos Para alguém que sabe realmente disso, o Nirvana é a mais alta bem-aventurança. (203)

[Nota:]

O termo “fome” neste versículo, assim como o termo “saúde” no versículo 204, não se referem apenas ao plano físico, mas também à fome e à saúde psíquicas e mentais. “Samkhara” é o quarto dos cinco skandhas, mas o termo é usado aqui como “existência pessoal”. As tendências mentais são a base inicial da personalidade.

  1. A saúde é o maior dos presentes; o contentamento é a maior das riquezas; a confiança é o melhor dos relacionamentos; o Nirvana é a mais alta felicidade. (204)
  1. Aquele que experimenta a doçura da solidão e o sabor da tranquilidade fica livre do pecado e do medo; e tem acesso ao néctar divino da Boa Lei. (205)
  1. É benéfico ver algo dos Seres Nobres; viver com eles é uma contínua O homem é feliz se tem a sorte de ser ignorado pelos tolos. (206)
  1. Quem se relaciona com tolos enfrenta grande prejuízo. A companhia de tolos é como a companhia de inimigos − produz A companhia de sábios é como encontrar um membro querido da família − produz felicidade. (207)

20 É interessante comparar os quatro versículos anteriores com a bem conhecida “Oração de São Francisco”. A oração diz: “Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união”, e assim sucessivamente. (“A Oração de São Francisco”, Leonardo Boff, Ed. Sextante, 1999, 144 pp.) (NT)

21 Segundo o budismo, a raja ioga e a teosofia, a crença na existência de um eu separado é uma ilusão que provoca grande sofrimento. (NT)

  1. Portanto, assim como a Lua segue o seu caminho entre as estrelas, nós devemos seguir os sábios, aqueles que têm discernimento, que têm conhecimento, que são constantes, que cumprem o seu dever, os nobres. Devemos seguir tais indivíduos. (208)

Capítulo Dezesseis

O AGRADÁVEL

  1. Aquele que se entrega a distrações inconvenientes, e não a uma reflexão adequada, renuncia a seu próprio bem-estar. Procurando prazeres, ele inveja o homem que se dedica à meditação. (209)
  1. Não se apegue ao agradável, nem ao desagradável. Ver o agradável implica ver o

desagradável − ambos são dolorosos. (210)

  1. Portanto não seja atraído para coisa A perda de um objeto amado é dolorosa, mas não há prisão para aquele que não gosta nem desgosta. (211)
  1. Do apego surge o Do apego surge o medo. Não há sofrimento para aquele que está livre do apego. De onde, então, poderia surgir o medo? (212)
  1. Do afeto surge o Do afeto surge o medo. Não há sofrimento para aquele que está livre do afeto. De onde, então, poderia surgir o medo? (213)
  1. Da indulgência surge o Da indulgência surge o medo. Não há sofrimento para aquele que está livre da indulgência. De onde, então, poderia surgir o medo? (214)
  1. Do desejo surge o Do desejo surge o medo. Não há sofrimento para aquele que está livre do desejo. De onde, então, poderia surgir o medo? (215)
  1. Da cobiça surge o Da cobiça surge o medo. Não há sofrimento para aquele que está livre da cobiça. De onde, então, poderia surgir o medo? (216)
  1. Todos gostam de alguém que possui virtude e uma visão clara das coisas, que vive com base na Lei, que é sincero e cumpre suas próprias obrigações. (217)
  1. Daquele em quem surgiu o desejo pelo inefável, cuja mente está permeada por este desejo, e cujos pensamentos não são distraídos por desejos inferiores − dele se diz que “vai contra a corrente”. (218)

[Nota:]

O indivíduo que “vai contra a corrente” é o mesmo que antes “entrou na corrente” e passou a ser um iniciado, um “Sotapatti” (veja o versículo 178). Aquele que era chamado de Sotapatti é agora chamado de Uddhamsotto. A falha do Sotapatti resulta de identificar-se com a corrente da vida que vai para baixo; ele esvazia a si mesmo no oceano da Libertação.

Mas o Sotapatti que é capaz de discernir sabe que a corrente flui para baixo; assim, ele busca a Fonte das alturas do Nirvana através de um esforço intenso e adequado. Lutando contra as forças da corrente, ele alcança o grau em que passa a ser chamado de “destinado à corrente acima”. Neste ponto, dois caminhos − o da Libertação e o da Renúncia − estão implícitos. (Veja o final da nota sobre o versículo 178.)

11-12. Assim como um homem que volta em segurança − depois de passar muito tempo longe

− recebe as boas vindas da família, de amigos e pessoas de boa vontade, assim também as suas próprias boas ações dão as boas vindas a aquele que deixa a vida mundana e alcança um plano superior. De fato, suas boas ações são sua família. (219-220)

Capítulo Dezessete

A RAIVA

  1. O homem deve abandonar a Ele deve eliminar o orgulho. Ele deve romper todas as amarras. Nenhum sofrimento cai sobre quem não se agarra a nome e forma, e não chama coisa alguma de propriedade sua. (221)
  1. A quem controla a sua raiva que surge como uma carruagem saindo da estrada, a este eu chamo de verdadeiro condutor de carruagens. Os outros apenas seguram as rédeas. (222)
  2. O homem deve superar a raiva pela Deve superar o mal pela bondade. Deve superar a mesquinharia pela generosidade. Deve superar o mentiroso pela verdade. (223)
  3. Fale a Não ceda à raiva. Se algo lhe for pedido, atenda o pedido ainda que apenas em parte. Estes três passos levam o homem à presença dos deuses. (224)
  1. Os sábios que não agridem pessoa alguma e que sempre controlam seu corpo alcançam o estado imutável em que não há sofrimento. (225)
  1. Toda impureza desaparece quando um homem é vigilante, quando estuda de noite e de dia e se esforça pelo Nirvana. (226)
  1. Há um velho ditado que afirma: “Ó, Atula, eles criticam aquele que permanece em silêncio, criticam aquele que fala em excesso, e criticam aquele que fala com moderação.” Não há ninguém no mundo que não seja criticado. (227)
  1. Nunca houve, nem haverá, nem existe agora alguém que seja totalmente elogiado ou inteiramente condenado. (228)

9-10. Mas quem ousaria condenar o homem que é sempre elogiado pelos que possuem discernimento, porque não tem uma só mancha, é sábio, possui conhecimento e virtude? Ele

é como um pedaço de ouro do rio Jambu 22. Até os deuses o elogiam. Ele é elogiado até por Brahma. (229-230)

  1. O homem deve estar atento em relação à presença de raiva em seu corpo. Ele deve controlar seu Abandonando os erros do corpo, ele deve praticar a virtude nas ações corporais. (231)
  1. O homem deve estar atento em relação à presença de raiva em seu modo de Ele deve controlar suas palavras. Abandonando os erros do modo de falar, ele deve praticar a virtude na fala. (232)
  2. O homem deve estar atento em relação à presença de raiva na Ele deve controlar sua mente. Abandonando os erros mentais, ele deve praticar a virtude na mente. (233)
  1. Bem controlados de fato são os sábios; eles têm o domínio do corpo, das palavras e da mente. (234)

Capítulo Dezoito

A IMPUREZA

  1. Olhe! Você está agora como uma folha seca. Os mensageiros de Yama (a morte) se aproximam Você está no portal da partida. E não está preparado para a viagem. (235)
  1. Seja sábio. Faça uma ilha para si mesmo. Faça um esforço, com rapidez. Livre de impurezas, livre de pecados 23, você estará pronto para o céu, o mundo dos (236)
  1. Sua vida chega agora ao Você está chegando perto do Rei da Morte, Yama. Não há um local de descanso no caminho. E você não está preparado para a viagem. (237)
  1. Seja sábio. Faça uma ilha para si mesmo. Faça um esforço, com rapidez. Livre de impurezas, livre de pecados, você não terá de voltar para o nascimento e a decadência. (238)
  1. Assim como o ourives remove as impurezas da prata, o homem sábio deve remover suas impurezas, uma por uma, pouco a pouco e dia após dia. (239)

22 Jambu: um rio sagrado na mitologia hindu (Puranas). (NT)

23 “Pecados” são erros. “O céu, o mundo dos eleitos” é o Devachan, o longo estado de bem- aventurança que faz culminar o período de existência sutil entre duas vidas físicas. (NT)

  1. Assim como a ferrugem do ferro corrói e destrói o metal, assim também ocorre com o homem que É por suas próprias ações que o transgressor é levado a um final infeliz. (240)
  1. A não-repetição torna impura a força das nossas orações. A falta de cuidados torna impura a casa. A indulgência torna impuro o corpo. A falta de atenção torna impuro o vigilante. (241)
  1. A falta de castidade torna impura uma A avareza torna impuro um benfeitor. As más ações nos tornam impuros neste mundo e no mundo seguinte. (242)
  2. Mas há uma impureza pior que todas as outras −; a ignorância é a pior impureza. Ó, Bhikkhus, removam esta impureza e com isso ficarão livres de quaisquer (243)
  1. Vive de modo fácil aquele que não tem vergonha, que é audaz como um corvo e que gosta de armar confusões; que fala mal dos outros, é arrogante e desonesto. (244)
  1. Difícil é a vida para quem é modesto, quem sempre procura o que é puro, quem é desinteressado, despretensioso, casto, e tem clara visão interior. (245)

12-13. Aquele que destrói a vida, que diz inverdades, que, neste mundo, toma como seu o que não foi dado a ele, que tem relações com a esposa de outro homem, que é dependente de bebidas alcoólicas, este, mesmo neste mundo, destrói a raiz da sua própria vida. (246-247)

  1. Esteja consciente disso: “as más ações não são fáceis de controlar”. Não deixe que a cobiça e o erro o levem a um longo sofrimento. (248)
  2. Os homens fazem doações de acordo com sua fé ou sua inclinação pessoal. Portanto, aquele que se lamenta pela comida ou bebida que foram dadas a outros não tem paz na mente, nem de dia, nem de noite. (249)
  1. Mas aquele em quem este sentimento é destruído e eliminado pela raiz tem paz na mente, de dia e de noite. (250)
  1. Não há fogo comparável à paixão. Não há prisão comparável ao ódio. Não há armadilha comparável à ilusão. Não há tempestade comparável à cobiça. (251)
  1. É fácil ver os erros dos Difícil é ver nossos próprios erros. Nós passamos os erros dos outros por uma peneira e os classificamos como resíduos; mas escondemos nossos próprios erros como um trapaceiro que faz truques no jogo.24 (252)
  1. Aquele que gosta de ver defeitos nos outros e está sempre censurando-os aumenta suas próprias fraquezas. Está muito longe de obter a eliminação delas. (253)

24 No Novo Testamento, Mateus, 7: 3, afirma: “E por que reparas no pequeno cisco que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?” (NT)

  1. Não há uma trilha no céu. Não há um monge verdadeiro que não faça parte da Ordem (sangha).25 A humanidade busca satisfação na vida mundana; os Buddhas estão livres do que é mundano. (254)
  1. Não há uma trilha no céu; não há um monge verdadeiro que não faça parte da Ordem. Nada sobrevive no mundo dos fenômenos externos, mas os Buddhas são sempre os (255)

Capítulo Dezenove

AQUELE QUE TEM COMO BASE A LEI

  1. Não é um homem correto aquele que busca sua meta através da força e da Sábio é quem distingue o certo e o errado. (256)
  1. Sábio e correto é aquele que guia os outros sem uso de força ou violência mas com justiça. Ele é um guardião da lei. (257)
  1. Um homem não é um erudito de grande conhecimento apenas por falar Um verdadeiro erudito é tranquilo, permanece livre do ódio e livre do medo. (258)
  2. Um homem não é um pilar da Lei apenas porque fala muito. Aquele que, mesmo tendo ouvido falar pouco da Lei, possui discernimento próprio e sempre leva em conta a Lei, este é um Pilar da Lei. Ele tem a Lei como sua base. (259)
  3. Um homem não é alguém mais velho ou mais experiente apenas porque tem cabelo Mesmo com idade madura, pode ser conhecido como “alguém que envelheceu em vão”. (260)
  1. Mais velho ou mais experiente é aquele em quem existem verdade, virtude, não-violência, moderação e controle; aquele que está livre de impurezas, e é sábio. (261)

7-8. Não é apenas por falar nem por uma bela aparência que um homem se torna santo, se ele for invejoso, ganancioso e maldoso. É aquele em quem estas três características são destruídas e eliminadas desde as suas raízes, aquele que está livre de culpas e é sábio, que deve ser chamado de santo. (262-263)

25 A palavra “Ordem” não se refere aqui a alguma corporação institucional do mundo visível. O hábito não faz o monge, como mostram, no capítulo dezenove, os versículos 264 a 272, e também os versículos 307 e 308, entre outras passagens da obra. Mas, esotericamente, todo verdadeiro aspirante à sabedoria já faz parte − pelo critério de afinidade − do amplo campo magnético da sangha universal, a comunidade interior de todos os que partilham a busca da verdade além da forma. Robert Crosbie escreveu: “O verdadeiro teosofista não pertence a nenhum culto ou seita, e no entanto pertence a todos eles”. Não existe um caminho linear e burocrático, conforme ensinam este versículo e o seguinte ao dizer que “não há uma trilha no céu”. O “céu” são os níveis superiores de consciência. (NT)

  1. O corte do cabelo à maneira de um monge não transformará em asceta alguém que é indisciplinado e tem o hábito de Como poderia ser um asceta alguém que está cheio de desejo e ganância? (264)
  1. Mas aquele que vence as tendências pecaminosas, sejam elas grandes ou pequenas, pode ser chamado de asceta. Ele abandonou todo mal. (265)

11-12. Ele não é um Bhikkhu [discípulo] porque carrega uma tigela de monge-mendigo. Nem porque adota toda a lei externamente. Mas aquele que está acima do agradável e do desagradável, que é casto, que se comporta no mundo de modo consciente, este, realmente, pode ser chamado de Bhikkhu. (266-267)

13-14. Ele não é um Muni [um sábio santo] apenas por ficar em silêncio; ele pode ser tolo e ignorante. Aquele que pesa tudo na balança da compreensão, aceitando o bom e rejeitando o mau, este é sábio; é por esta razão que ele é sábio. Aquele que em silêncio reflete no que é interior e exterior, deve ser chamado de Muni. (268-269)

  1. Um homem não é um Ária − alguém que optou por viver com nobreza − se agride criaturas Verdadeiro Ária, alguém que optou por viver com nobreza, é aquele que pratica ahimsa, não-violência. (270)

16-17. Não é só por uma disciplina de princípios morais, nem só por votos e resoluções, nem apenas por muito estudo, nem mesmo pelo êxito na prática da meditação, e no retiro ou na solidão, que eu me liberto da prisão para a bem-aventurança. Esta não é obtida por coisas do mundo. Ó, Bhikkhu, não se deixe levar pela autoconfiança, enquanto você não tiver alcançado a extinção do desejo. (271-272)

Capítulo Vinte

O CAMINHO

  1. O melhor dos caminhos é o Nobre Óctuplo Caminho. As melhores verdades são as Quatro Nobres O melhor dos estados de espírito é o de Desapego (Viraga). O melhor entre os homens é o Vidente 26 . (273)
  1. Este é o Só ele leva à visão pura. Você deve entrar neste Caminho. Assim derrotará Mara. (274)
  1. Trilhando este Caminho você vai terminar o seu Eu mostrei este Caminho quando percebi de que modo os espinhos devem ser removidos do corpo. (275)

26 Vidente: homem de visão clara. A expressão não se refere à clarividência ou aos siddhis (poderes psíquicos) inferiores, irresponsavelmente estimulados pelo pseudoesoterismo. (NT)

  1. Você mesmo deve fazer o esforço; os Buddhas são apenas marcos referenciais que sinalizam o Aqueles que entram no Caminho e disciplinam a si mesmos ficam livres da submissão a Mara. (276)
  1. “Todos os seres condicionados são ” Aquele que sabe disso se liberta da escravidão do sofrimento. Este é o Caminho da Pureza. (277)
  1. “Todos os seres condicionados são cheios de dor”. Aquele que sabe disso deixa de estar na escravidão do sofrimento. Este é o Caminho da Pureza. (278)
  2. “Todos os seres condicionados carecem de substância ” Aquele que sabe disso deixa de estar na escravidão do sofrimento. Este é o Caminho da Pureza. (279)
  1. Aquele que não se ergue quando é a hora de erguer-se, e embora seja jovem e forte está cheio de indulgência, aquele cuja vontade e cujo pensamento são fracos, um tal preguiçoso não encontrará o Caminho da Sabedoria. (280)
  1. Vigiando suas palavras, controlando a mente, evitando erros com seu corpo, o homem mantém livres as três avenidas que levam à ação, e assim encontra o caminho indicado pelos sábios. (281)
  1. Da disciplina da ioga surge a Sabedoria; da sua ausência, emerge uma perda de Conhecendo este caminho duplo de progresso e declínio, o homem deve dirigir-se para o Caminho do Progresso. (282)
  2. Derrubem toda a floresta do desejo, e não algumas árvores isoladas. Quando tiverem derrubado as árvores e arrancado a erva daninha do desejo, vocês estarão livres, ó (283)
  3. Enquanto o desejo de um homem por uma mulher, mesmo pequeno, não for destruído, sua mente estará presa, assim como um bezerro que mama depende da sua mãe. (284)
  1. Corte o amor pelas coisas do eu pessoal como você cortaria um lírio no Dirija-se então ao Caminho da Paz, ao Nirvana. O Bem-Aventurado ensinou sobre isso. (285)
  1. “Aqui passarei a época das monções; lá passarei o inverno e o verão.” Esta é uma reflexão tola. Quem pensa assim não considera os obstáculos da existência. (286)
  1. A inundação leva consigo uma vila cuja população A morte vem e carrega o homem preocupado com gado e crianças; ele estava com a mente distraída. (287)
  1. Quando a morte nos leva, os filhos não são proteção; nem o pai, nem a família. Quando a morte nos leva, os relacionamentos não ajudam. (288)
  1. Reconhecendo a importância disso, o homem bom e sábio deve começar de imediato a abrir caminho para o Nirvana. (289)

Capítulo Vinte e Um

MISCELÂNEA

  1. Se renunciando a um prazer de pequeno valor é possível obter um contentamento valioso, o homem sábio renunciará ao prazer de pequeno valor para garantir o contentamento profundo. (290)

[Nota:]

Embora isto não esteja claramente expressado, está implícita neste versículo a distinção entre os prazeres inferiores, que pertencem à personalidade, e o contentamento da alma, que surge de uma vida disciplinada.

  1. Aquele que deseja a sua própria felicidade, mas causa sofrimento aos outros para obtê-la, está preso pelos laços do ódio. Ele não está livre do ódio. (291)
  1. As más tendências de quem é descontrolado e descuidado irão aumentando, se ele deixar de fazer o que deveria ser feito e fizer o que não deveria ser feito. (292)
  1. Mas naqueles que prestam atenção às atividades corporais, que não fazem o que não deveria ser feito e fazem firmemente o que deveria ser feito, as más tendências vão diminuindo até desaparecer. (293)
  2. Um verdadeiro brâmane 27 sai ileso ainda que tenha matado o pai, a mãe e dois reis da casta dos guerreiros, além de destruir um reino com todos os seus súditos. (294)

[Nota:]

Os versículos 294 e 295 parecem difíceis de entender. Porém, tomados no sentido alegórico, são compreensíveis. Eles são esclarecidos por este trecho do volume “Texts From the Buddhist Canon” com tradução de Samuel Beal:

“Com relação a estes versículos, tanto o professor Max Müller como o professor Childers tendem a ver neles o significado de que um homem verdadeiramente santo, se cometer tais pecados, permanecerá livre de culpa. Mas no livro terceiro, p. 3, do Lankavatara Sutra, encontramos a seguinte exposição desta doutrina: − Nesta ocasião Mahamati Bodhisatwa dirigiu-se a Buddha e disse, ‘De acordo com a afirmação do Grande Instrutor, se um discípulo, homem ou mulher, cometer qualquer um destes pecados imperdoáveis, ele ou ela não serão lançados a um inferno.28 Como pode ocorrer, ó Ser honrado por todo o mundo,

27 Como se verá no capítulo 26, segundo o budismo, um verdadeiro brâmane não é o membro de alguma casta, mas um homem verdadeiramente sábio e ético. (NT)

28 Inferno – Não há céu (Devachan) ou inferno ( Niraya, Avitchi) coletivos, em budismo ou em teosofia. Céu ou inferno são metáforas que descrevem situações pós-morte felizes ou infelizes, nas quais o indivíduo apenas colhe o que ele mesmo escolheu plantar durante a vida física. O Avitchi, termo da filosofia esotérica, só ocorre quando houve uma vida inteira

que um tal discípulo possa escapar embora seja culpado de tais pecados?’ E a isso Buddha respondeu: ‘Mahamati, ouça e avalie bem minhas palavras. (………………….. ) Quais são os cinco

pecados imperdoáveis de que você fala? Eles são os seguintes; matar o pai e a mãe, ferir um Arhat, ofender os membros da sangha ( isto é, colocar obstáculos no caminho dos membros da comunidade de aprendizes), derramar sangue do corpo de um Buddha. Mahamati, diga, então, de que modo um homem que cometesse estes pecados poderia estar isento de culpa? Da seguinte maneira. Não é o amor pessoal (Tanha) que cobiça mais e mais prazer pessoal, e assim produz o renascimento? Não é isso a mãe (Mata) de tudo? E não é a ignorância (Avidya) o pai (pita) de tudo? Destruir estes dois, portanto, é matar pai e mãe. E ainda, cortar e destruir aqueles dez kleshas 29 que como os ratos, ou como o veneno secreto, trabalham invisivelmente, e libertar-se de todas as consequências destes erros (isto é, destruir todas as associações materiais), isto é ferir um Arhat. E assim, também, o que será ofender e derrubar uma comunidade ou assembleia, exceto separar-se completamente dos cinco skandhas? (Isto é, cinco agregados, o que vem a ser o mesmo conceito de comunidade usado acima). E ainda, derramar o sangue de um Buddha; o que é isso, exceto ferir e libertar-se do corpo setenário, através dos três métodos de libertação (……………………………………………………………………………………….. ) Assim, caro

Mahamati, o discípulo sagrado, seja homem ou mulher, deve matar pai e mãe, destruir a comunidade, derramar o sangue de um Buddha, e no entanto evitará o castigo do inferno mais inferior (Avichi)’.”

E, para explicar e expressar isso mais amplamente, o Ser Honrado por Todo o Mundo acrescentou os seguintes versos:

A luxúria, ou desejo carnal, é a Mãe; A ignorância é o Pai;

O ponto mais alto de conhecimento é o Buddha; Todos os Kleshas, são os Arhats;

Os cinco Skandhas, são os sacerdotes; Cometer os cinco pecados imperdoáveis É destruir estes cinco,

Sem sofrer os castigos do inferno.

  1. Um verdadeiro brâmane sai ileso ainda que tenha matado pai, mãe e dois reis da casta sacerdotal, e ainda um homem notável. 30 (295)

guiada por mentiras e falsidades graves. Niraya, o termo usado no original páli do “Dhammapada”, também pode ser traduzido por “purgatório”, e é um “estado de sofrimento” cuja intensidade corresponde à força dos erros cometidos. (NT)

29 Kleshas (sânscrito) – amor à vida, e também miséria, sofrimento. (NT)

30 A nota da edição norte-americana ao versículo anterior mostra que o significado desta passagem é simbólico. Cabe acrescentar que há trechos semelhantes nas escrituras judaicas e cristãs. No livro do Êxodo, 32:27-29, Moisés diz a seus seguidores, em nome de Jeová: “Cinja cada um a espada sobre o lado, e passe e torne a passar pelo acampamento de porta em porta, e mate, cada qual, a seu irmão, a seu amigo, a seu parente”. O absurdo, do ponto de vista de uma leitura literal, é evidente, até porque um dos mandamentos de Moisés é “Não matarás”. Em Mateus, 10: 34-39, Jesus alerta: “Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e

  1. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre o Buddha. (296)
  1. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre o Dhamma 31. (297)
  1. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre a Sangha. (298)
  2. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre a verdadeira natureza do corpo (Kayagata Sati). (299)

[Nota:]

O “Buddhist Dictionary” de Nyanatiloka afirma que a meditação a que se refere este versículo é sobre “as 32 partes do corpo”. O termo “kaya”, no entanto, pode ser visto como uma chave para a doutrina mística de Nirmanakaya, Dharmakaya e Sambhogakaya − as formas espirituais, ou vestes sublimes, daqueles que alcançam a perfeição.

  1. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre a felicidade de Ahimsa, a Não-Violência. (300)
  1. Os discípulos de Gautama que estão realmente despertos sempre pensam, de dia e de noite, sobre a felicidade de Bhavana, a Meditação Criativa. (301)

[Nota:]

Bhavana é um tipo específico de meditação. Ela é criativa e agradável à consciência. Há numerosas bhavanas, entre elas Kaya-bhavana, Metta-bhavana (sobre devoção), e Karuna- bhavana (sobre compaixão).

  1. A vida do recluso é difícil, e ainda mais difícil é apreciar a sua disciplina. A vida do homem de família é difícil, e ainda mais difícil é apreciá-la É doloroso viver com pessoas com quem não há afinidade. Também é doloroso viver como um viajante

sua mãe; e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.” Em Buddha, como em Moisés e Jesus, temos a dura lição da impessoalidade. É preciso olhar com desapego para nossos vínculos pessoais mais íntimos. É aí que se dá um combate em que a espada da verdade é indispensável. É um combate contra a falsa paz da rotina e da acomodação. Não se trata de entrar em conflito com as pessoas mais próximas a nós. Trata-se de combater e matar nosso próprio apego ou rejeição a elas. (NT)

31 Dhamma − palavra páli que corresponde a “Dharma” em sânscrito: dever, virtude, lei, doutrina. (NT)

solitário. Portanto, não se deve viver como viajantes solitários. Que ninguém caia no sofrimento. (302)

  1. Onde quer que vá um homem que possui os dons da fé, da virtude, da prosperidade, ele será reverenciado. (303)
  1. As pessoas boas brilham de longe, como os picos dos Os maldosos, como flechas disparadas na noite, desaparecem sem serem vistos. (304)
  2. O discípulo senta-se sozinho, dorme sozinho e, sem desânimo, controla o eu inferior a partir do eu Ele encontra a felicidade ao permanecer fora da floresta dos desejos. (305)

Capítulo Vinte e Dois

O CAMINHO PARA BAIXO

[Nota:]

Este capítulo se refere a Niraya, o Caminho para Baixo, geralmente chamado de “Inferno”.

O termo “inferno” é popularmente entendido como um lugar de sofrimento eterno. Mas a concepção budista de inferno corresponde a um estado de consciência produzido individualmente, e do qual um ser humano se aproxima por suas próprias tendências maldosas. Ele é corretamente descrito como um estado destituído de felicidade ou descanso em qualquer vida, em qualquer mundo, e, como todos os outros estados, ele também muda e passa. O “Buddhist Dictionary” de Nyanatiloka afirma: “Niraya”, literalmente, “O Caminho Para Baixo”, o mundo inferior ou infernal − traduzido na maior parte dos casos como “inferno” − é um dos quatro rumos inferiores da existência (apaya): (1) o mundo animal; (2) o mundo dos fantasmas; (3) o mundo dos demônios; (4) o inferno. Os budistas sabem que, devido ao poder universal da impermanência, mesmo a vida em um inferno, assim como em um céu, não pode durar eternamente, mas, depois da exaustão do carma saudável ou infeliz, será necessariamente seguido por uma nova morte, e um novo renascimento, de acordo com o Carma acumulado.

  1. Aquele que narra algo que não ocorreu pode ir para um inferno, e também aquele que, tendo feito algo, afirma que não o Os estados pós-morte de ambos são similares. Eles expressarão as más ações de tais pessoas. (306)
  2. Muitos que usam o manto amarelo têm má índole e não possuem Estes homens maldosos nascerão em um inferno devido às suas más ações. (307)
  3. Seria melhor engolir uma bola de ferro em alta temperatura, vermelha e quase no ponto de fusão, do que viver uma vida perversa e descontrolada, comendo os alimentos da (308)
  1. Quatro coisas atingem o homem irresponsável que trata de seduzir a esposa de Ele se rebaixa, ele dorme mal, é condenado pelos outros, e vai para um inferno. (309)
  2. Há um demérito e um rebaixamento até uma situação má, devido ao prazer passageiro de um ser temeroso nos braços de outro ser temeroso. (310)
  3. Assim como uma folha do capim kusa − se manejada erradamente − provoca um corte na mão, do mesmo modo também o ascetismo, mal praticado, leva para baixo e para um (311)
  4. Uma ação que é feita descuidadamente, um voto solene que é rompido, uma obediência

hesitante à disciplina − nada disso produz frutos agradáveis. (312)

  1. Se alguma coisa deve ser feita, que o homem a faça sem oscilações. Um asceta sem firmeza espalha cada vez mais longe o lixo das suas paixões. (313)
  2. É melhor não fazer uma má ação; ela causa É melhor fazer uma boa ação; ela não causa sofrimento. (314)
  1. Vigie a si mesmo como uma cidade de fronteira que está bem defendida por dentro e por fora. Não deixe um momento passar em vão, porque aqueles que deixam passar um momento oportuno sofrerão quando estiverem em um inferno. (315)
  1. Aqueles que sentem vergonha quando não há motivo para vergonha, e aqueles que não sentem vergonha quando deveriam sentir vergonha − todos eles entram no caminho para baixo, seguindo falsas doutrinas. (316)
  2. Aqueles que têm medo quando não há motivo para temer, e aqueles que não têm medo quando deveriam temer − todos eles entram no caminho para baixo, seguindo falsas (317)
  1. Aqueles que veem o mal onde não há o mal, e aqueles que não veem nada de mau no que

é mau − todos eles entram no caminho para baixo, seguindo falsas doutrinas. (318)

  1. Aqueles que veem o que é mau como mau e o que não é mau como não-mau entram no bom caminho, seguindo a verdadeira doutrina. (319)

Capítulo Vinte e Três

O ELEFANTE

  1. Devo suportar abusos assim como o elefante suporta, no campo de batalha, as flechas disparadas do arco. A maioria, neste mundo, tem má índole. (320)
  1. Um elefante manso é levado ao campo de O rei monta em um elefante manso. O melhor entre os homens é o homem manso − aquele cuja paciência suporta palavras duras. (321)
  1. Boas mulas são as mulas Bons cavalos são os cavalos Sindhu, quando mansos. Bons elefantes são os grandes elefantes, quando dóceis. Melhor que todos eles é quem amansou a si mesmo. (322)
  2. Não é montando tais animais que o homem pode alcançar a terra desconhecida do Um homem manso, cavalgando o seu próprio eu dócil, pode chegar lá. (323)
  3. Mesmo estando preso, o elefante Dhanapalaka é incontrolável quando, na época do cio, sua consciência vibra com angústia. Ele não aceita comida, mas anseia pela comunidade de elefantes na floresta. (324)
  4. Aquele que é preguiçoso e glutão, que dorme mais do que necessário, que come como um

porco castrado − um homem tão tolo cai, uma e outra vez, no renascimento. (325)

  1. Antes, esta minha mente andava sem rumo e por onde queria, do modo como Agora eu a controlo totalmente, da mesma maneira como um cavaleiro controla, com seu gancho, um elefante no cio. (326)
  2. Fique feliz por estar Vigie bem seus pensamentos. Afaste-se do mal como um elefante se afasta da lama. (327)
  1. Se você encontrar um companheiro prudente, correto e autocontrolado, caminhe com ele com atenção e contentamento, vencendo todos os perigos. (328)
  2. Se você não encontrar um companheiro prudente, correto e autocontrolado, então caminhe sozinho, como um rei que renunciou a seu reino e suas vitórias. Seja como um elefante livre na floresta. (329)
  3. É melhor viver Não há companhia com um tolo. O homem deve avançar sozinho, sem cometer pecados, como um elefante na floresta. (330)
  4. Ter companheiros é agradável em tempos de dificuldades. A satisfação é agradável quando é compartilhada com Ter méritos é agradável na hora da morte. É agradável renunciar a todo sofrimento. (331)
  5. Uma mãe no mundo é uma felicidade; um pai no mundo é uma Um monge no mundo é uma felicidade; um sábio no mundo é uma felicidade. (332)
  6. A virtude estável na idade avançada é A fé que possui base firme é felicidade. A obtenção da sabedoria é felicidade. Evitar erros é felicidade. (333)

Capítulo Vinte e Quatro

O DESEJO

[Nota:]

“Tanha”, cobiça, desejo, é visto como a origem do sofrimento, e a sua extinção deveria ser a meta do ser humano. Das Quatro Nobres Verdades, a segunda e a terceira se referem à existência, origem e continuidade do desejo. Os três principais desejos são: (1) A ânsia por objetos materiais (kama-tanha); (2) A ânsia por continuar a viver (bhava-tanha); e (3) A ânsia por experiências espirituais (Vibhava-tanha). Diz o texto Mahayana: “Mate o apego à vida; mas se você destrói Tanha, que não seja pelo desejo de vida eterna, mas para substituir

o que é perecível pelo que dura para sempre”.32 Tanha é “o desejo de viver, o medo da morte, e o apego à vida, aquela força ou energia que causa o renascimento”. O “Buddhist Dictionary” de Nyanatiloka descreve as variedades de Tanha como sendo: (1)Kama-tanha, existência sensorial; (2) Rupa-tanha, existência material fina; e (3) Arupa-tanha, existência imaterial. Tanha é um campo vasto, que se relaciona com o Carma, os Skandhas e os Nidanas. 33

  1. O desejo de um homem imprudente é como a planta trepadeira Maluva, que devora a árvore à qual se Vida após vida, ele parece um macaco procurando frutas na floresta. (334)
  2. Todo aquele que é vencido por um desejo feroz e venenoso vê o seu sofrimento crescer, assim como cresce o abundante capim Birana. (335)
  1. Mas aquele que vence neste mundo o desejo feroz, difícil de dominar, vê os seus sofrimentos caírem assim como caem as gotas de água desde uma flor de lótus. (336)
  1. Tenho algo a dizer a todos vocês que se reuniram aqui. Que Sejam Abençoados! Desenterrem a raiz do desejo, assim como alguém arranca o capim Birana para obter a sua raiz perfumada Deste modo Mara não destruirá vocês como se fossem juncos às margens de um rio, destruídos pela correnteza da água. (337)
  1. Assim como uma árvore derrubada nasce outra vez se a sua raiz estiver firme e inteira, assim também, se a raiz do desejo ansioso não for destruída, as dores da vida crescerão uma e outra vez. (338)
  2. O homem no qual há trinta e seis correntezas buscando prazeres, com seus pensamentos fixos em paixões, é carregado à deriva. Ele tem visões erradas. (339)
  3. As correntes de desejo ansioso fluem por toda A erva trepadeira da paixão germina e fica forte. Se você vê a erva trepadeira da paixão crescendo, corte as raízes dela, através da sabedoria. (340)
  1. Os prazeres e as alegrias vão até os seres e os Abraçando tais prazeres, os homens passam a ansiar por eles. Naturalmente, tais homens estão sujeitos à velhice e ao renascimento. (341)
  1. Levados pelos desejos, os homens correm em círculos como lebres que estão sendo perseguidas. Presos, acorrentados, eles sofrem durante longo tempo, uma e outra (342)

32 “A Voz do Silêncio”, Helena P. Blavatsky, Aforismo 64 (página 53 da edição da Editora Pensamento). Veja também o Fragmento I na edição desta obra que está disponível em nossos websites associados. (NT)

33 Nidanas: o encadeamento de 12 causas e efeitos da existência condicionada no plano físico. (NT)

  1. Levados pelo desejo, os homens correm em círculos como lebres que estão sendo perseguidas. O mendigo 34 que deseja liberdade em relação às paixões deve, portanto, libertar-se do desejo. (343)
  1. Olhe para aquele que, tendo saído da floresta dos desejos, volta a ela. Veja bem aquele que, depois de libertado da floresta dos desejos, corre de volta para Embora esteja livre, ele reingressa na escravidão. (344)

12-13. Os sábios não chamam de forte o grilhão feito de ferro, madeira ou fibra. As joias, as pedras preciosas, os filhos e as esposas são grilhões mais fortes. Estes grilhões arrastam para baixo, e embora possam ser vencidos, é difícil fazer com que deixem de existir. Tendo destruído tais grilhões, o homem deve renunciar ao mundo, deve estar livre do desejo; e tendo abandonado os prazeres dos sentidos, ele não deve olhar para trás. (345-346)

  1. Escravos dos seus desejos, os homens vão para baixo levados pela correnteza, assim como uma aranha que cai na teia tecida por ela mesma. As pessoas firmes se retiram do mundo quando cortaram o laço, e, deixando de lado todo sofrimento, não olham para trás. (347)
  1. Esteja livre do futuro; esteja livre do passado; atravesse para a outra Com uma mente inteiramente livre, você não cairá no nascimento e na morte. (348)
  1. O desejo ansioso cresce em uma mente perturbada, quando as paixões surgem e as ânsias por prazer aparecem. Assim, os grilhões se tornam fortes. (349)
  1. Aquele que se delicia ao aquietar sua mente perturbada e fica atento em relação à natureza agradável mas inadequada do desejo ansioso, este indivíduo certamente removerá e destruirá a dominação de Mara. (350)
  1. Aquele que alcançou a meta, que é destemido, que não tem pecado ou desejos ansiosos, este indivíduo removeu todos os espinhos da vida. Esta é sua última encarnação. (351)
  1. Aquele que está livre do desejo ansioso, que não tem apego, que compreende com sua clara visão interior as palavras e os textos, e conhece o significado do modo como as palavras se combinam; este é um Sábio, um Grande Ser. Esta é sua última vida. (352)
  1. “Venci Sei tudo. Estou livre de nódoas em todos os aspectos da vida. Renunciei a tudo. Estou livre porque todo desejo extinguiu-se. Alcancei a sabedoria suprema. Então, de quem aprendi?” (353)

[ Nota:]

Este verso, podemos deduzir, é a resposta dada por Buddha quando lhe perguntaram quem era seu Mestre. Uma autoridade nas escrituras sugere que estas palavras de Buddha foram ditas ao brâmane Upaka enquanto estava a caminho de Benares. A resposta de Buddha é um bom exemplo da observância do silêncio e do segredo, ao mesmo tempo que a veracidade é preservada.

34 Nos primeiros tempos, os monges budistas eram mendicantes. (NT)

  1. O presente da Lei (Dhamma Danan) é o melhor dos O prazer na Lei é o melhor dos prazeres. A extinção do desejo é o fim do sofrimento. (354)
  1. As riquezas destroem o tolo, e não aqueles que buscam o que está Além. Através do seu desejo de posses, o homem tolo destrói a si mesmo, enquanto pensa que está arruinando outra pessoa. (355)
  1. As ervas daninhas são a ruína dos A luxúria é a ruína da espécie humana. Portanto, um presente dado a aqueles que estão livres da luxúria produz uma grande recompensa. (356)
  2. As ervas daninhas são a ruína dos A má vontade é a ruína da espécie humana. Portanto, um presente dado a aqueles que estão livres da má vontade produz uma grande recompensa. (357)
  1. As ervas daninhas são a ruína dos A ilusão é a ruína da espécie humana. Portanto, um presente dado a aqueles que estão livres da ilusão produz uma grande recompensa. (358)
  1. As ervas daninhas são a ruína dos O desejo é a ruína da espécie humana. Portanto, um presente dado a aqueles que estão livres do desejo produz uma grande recompensa. (359)

Capítulo Vinte e Cinco

O BHIKKHU

1-2. A moderação nos olhos é boa; boa é a moderação no ouvido; a moderação no nariz é boa; boa é a moderação na língua; a moderação no corpo é boa; boa é a moderação na fala; a moderação na mente é boa; boa é a moderação em todas as coisas. Um bhikkhu que é moderado em todas as coisas está livre de todo sofrimento. (360-361)

  1. Chame de bhikkhu aquele que controla sua mão, e também seus pés; que controla sua fala; que é bem controlado; que é feliz em seu interior; que é concentrado e cheio de contentamento na vida solitária. (362)
  1. Agradáveis são as palavras daquele bhikkhu que preserva sua língua ao falar sobre sabedoria, e que esclarece tanto a letra quanto o espírito da Lei, sem exagerar seu próprio papel. (363)
  1. Aquele que permanece na Lei; que tem prazer na Lei, medita na Lei, e lembra bem da Lei

− este bhikkhu não se afasta de Lei sublime. (364)

  1. Ele não deve desprezar o que recebeu, e não deve invejar os Um bhikkhu que inveja os outros não alcança a paz na meditação. (365)
  1. Até os deuses elogiam aquele bhikkhu que não despreza o que lhe foi dado, mesmo que seja pouco, mas leva uma vida ativa e pura. (366)
  1. Bhikkhu de fato é aquele que não confunde sua alma com seu nome e sua forma, ou com sua mente e seu corpo, e que não se lamenta pelo que não possui. (367)
  1. Praticando Metta, compaixão, e permanecendo com felicidade na sabedoria do Buddha, o bhikkhu acalma a existência condicionada e alcança com segurança o estado abençoado de Suprema (368)
  1. Esvazie o seu barco, ó bhikkhu; quando estiver vazio, ele avançará sem Elimine a busca de prazer e a má vontade, e você alcançará o Nirvana. (369)
  2. Elimine os Liberte-se dos cinco. Cultive mais os cinco. O bhikkhu que está assim livre de cinco maneiras é chamado de “Oghatinna” − “alguém que atravessou a inundação”.(370)

[Nota:]

Os cinco a serem eliminados são: (1) A ilusão da personalidade; (2) A dúvida cética, ou “não querer entender”; (3) O falso ascetismo ou o “apego formalista a regras e rituais”; (4) O anseio pelo atendimento de desejos; e (5) A má vontade.

Os cinco de que o bhikkhu deve libertar-se são: (1)O desejo de viver em mundos com forma;

(2) O desejo de viver em mundos sem forma; (3) A teimosia ou obstinação; (4) A inquietação;

(5) A ignorância.

Os cinco a serem cultivados são: (1) A fé; (2) A atenção; (3) O ânimo destemido; (4) A meditação; e (5) A sabedoria.

A palavra “Ogha” significa “inundação”. Oghatinna é alguém que atravessou a inundação dos quatro “Asovas” ou preconceitos: (1) O preconceito em favor da vida sensorial; (2) O preconceito em favor do apego à vida; (3) O preconceito em favor dos seus próprios pontos de vista; (4) O preconceito que surge da ignorância.

  1. Medite, ó bhikkhu; não fique desatento. Não deixe que sua mente seja levada pelo redemoinho dos prazeres dos Não seja descuidado, para que não tenha que engolir a bola de ferro e então gritar, com a dor das queimaduras: “isto é sofrimento”. (371)
  1. Sem clara visão interior não há meditação, e sem meditação não há clara visão Com clara visão interior e meditação, nos aproximamos do Nirvana. (372)
  1. Super-humana é a bem-aventurança do bhikkhu que, quando vai para o seu local de retiro, tem uma mente calma e um discernimento correto da Lei. (373)
  1. E quando ele reconhece com perfeita memória o surgimento e a queda dos skandhas (registros cármicos, origem e destruição do eu pessoal) o contentamento e a felicidade pertencem a ele. Esta é a vida eterna. (374)
  1. Este é o começo de um bhikkhu sábio; vigilância sobre os sentidos; contentamento; disciplina de acordo com as regras do Patimokha 35; cultivo de amizade com quem é nobre, puro e cuidadoso. (375)
  2. Ele deve ser hospitaleiro, amável e cortês − e hábil no cumprimento dos seus Então sua felicidade, sendo profunda, faz com que seu sofrimento chegue ao final. (376)
  3. Assim como a planta vasika solta as suas flores secas, assim também vocês, bhikkhus, devem deixar de lado a paixão e a má vontade. (377)
  4. O bhikkhu que é calmo em seu corpo, calmo na fala, calmo na mente, que é firme, e que recusou as iscas e os anzóis do mundo, pode ser chamado de “O Tranquilo”. (378)
  5. Erga o seu pequeno eu pelo seu eu superior, examine o seu pequeno eu do ponto de vista do eu Assim, autovigilante e atento, você viverá com felicidade, ó bhikkhu. (379)
  6. O eu superior é o senhor do eu inferior; o eu superior é o refúgio do eu inferior; portanto, domine a si mesmo assim como um comerciante domina um ótimo cavalo. (380)
  7. Cheio de contentamento e com fé nos ensinamentos do Buddha, o bhikkhu alcança o

estado incondicionado − o Local da Paz. (381)

  1. Mesmo sendo jovem, um bhikkhu que aplica em sua vida os ensinamentos do Buddha ilumina o mundo, assim como faz a lua, quando a nuvem se afasta. (382)

Capítulo Vinte e Seis

O BRÂMANE

[Nota:]

Devemos registrar o fato de que Gautama, o Iluminado, não desceu à encarnação com o propósito de estabelecer outra religião. Como os seus ilustres predecessores, ele foi um protestante e um reformador. A poderosa Arte ensinada por Krishna 2500 anos antes dele havia sido perdida outra vez. O sistema de castas havia adquirido uma conotação errada e contrária aos ensinamentos do Bhagavad-Gita. O Buddha tentou restaurar os verdadeiros ensinamentos sobre as castas, e especialmente sobre a casta brâmane; os homens desta casta haviam assumido como sua uma posição que, por caráter e por comportamento, não mereciam. Neste capítulo, Buddha descreve a natureza e o caráter do verdadeiro brâmane. O verdadeiro brâmane sentia a força e o poder presentes na sua pobreza, e era rico em virtude e conhecimento. O Buddha expõe este antigo ideal no presente capítulo.

35 O “Patimokha” é considerado o mais antigo manual budista de regras disciplinares. Foi compilado para monges e monjas. Sobre o Patimokha, ver “2500 Years of Buddhism”, General Editor, P.V. Bapat, Prefácio de S. Radhakrishnan, The Publications Division, Ministry of Information and Broadcasting, Government of India, 400 pp., 1959, pp. 163-165. (NT)

  1. Ó brâmane, seja enérgico; interrompa a correnteza; corte os Quando você entender como as coisas se desintegram, você também compreenderá O Que Não Foi Criado, ó brâmane. (383)
  1. Quando um brâmane alcança a outra margem através da meditação e da clara visão interior, ele obtém conhecimento e se liberta de todos os grilhões. (384)
  1. Eu chamo de brâmane aquele para quem não há nem esta margem nem aquela Destemido e livre, ele está além de ambas. (385)
  2. Eu chamo de brâmane aquele que é meditativo, puro, decidido; cujo dever é cumprido e cujos vícios foram vencidos; aquele que alcançou a meta mais elevada. (386)
  1. O sol brilha de dia; a lua brilha de noite. O guerreiro (Kshatriya) resplandece em sua armadura; o brâmane brilha em sua meditação. Mas o Buddha brilha dia e noite, irradiando sua glória. (387)
  1. Ele é chamado de brâmane porque afastou o Ele é chamado Samana porque vive com serenidade. Ele é chamado de Pabbajita porque afastou o que é mundano. (388)

[Nota:]

“Pabbajita” deriva de “Pabbaja”, “aquele que vai adiante”, isto é, aquele que vai adiante deixando a vida de família em troca da vida sem lar. Assim ele se torna um noviço, escutando os ensinamentos de Buddha do ponto de vista da sua aplicação. No estágio de ouvinte, ele é conhecido como “shravaka”. Quando pratica e aplica em sua vida os ensinamentos ele é um “shramana”. Quando consegue vencer toda tendência para o mal, ele é chamado de brâmane. Ele ouve, ele pratica, e alcança a iluminação.

  1. Ninguém deve atacar um brâmane. Um brâmane não deve Ai de quem atacar um brâmane; e, pior ainda, ai do brâmane, se ele retaliar. (389)
  1. O benefício não é pequeno, quando um brâmane mantém sua mente afastada de todas as atrações da vida. Isso não é tudo: quando cessa a intenção de agredir, ocorre, na mesma medida, a cessação do sofrimento. (390)
  1. Eu chamo de brâmane aquele que não agride através do corpo, através da fala ou através da mente; que é controlado nestas três coisas. (391)
  1. Assim como um brâmane adora o fogo sacrificial, assim também um indivíduo deve reverenciar a quem compreende a Lei daquele Ser que é completamente (392)
  1. Não é pelo tipo de cabelo, pela linhagem nem pela casta que alguém se torna um brâmane. Um homem se torna um brâmane por sua veracidade e por ser Ele é abençoado. (393)
  1. Qual é a importância da forma do teu cabelo, ó tolo? Qual a importância da tua roupa elegante? Tu te limpas por fora, e dentro de ti há desejo, sofrimento e rancor.36 (394)

13-14. Eu chamo de brâmane aquele que está mergulhado em meditação, sozinho, em uma floresta; em cujo corpo emagrecido as veias aparecem, e que está vestido com velhos farrapos. Eu não o chamo de brâmane por causa da sua origem ou da sua mãe. Este pode ser um Bhovadi rico e arrogante. Aquele que tem desapego e não tem propriedades, é um brâmane. (395-396)

[ Nota:]

“Bhovadi” é aquele que diz “Bho”. Os membros arrogantes da casta bramânica no tempo de Buddha se consideravam iguais a ele em Sabedoria e Pureza e se dirigiam a Buddha chamando-o de “Bho Gautama”. Eles também chamavam de “Bho” aos seus criados. Deste modo, um membro da casta bramânica, mas que não é um brâmane na realidade, é chamado aqui de “Bhovadi”.

  1. Eu chamo de brâmane aquele que destruiu todos os grilhões e nada tem a temer, que está emancipado e sem impedimentos. (397)
  1. Chamo de brâmane aquele que cortou as amarras do ódio, a correia de couro do desejo e a corda das heresias, com seus agregados de tendências latentes; aquele que rompeu a grade de ferro da ignorância − e despertou. (398)
  2. Chamo de brâmane aquele que, embora seja inocente de qualquer ação errada, suporta pacientemente as críticas, os maus tratos e a prisão. A paciência é a sua arma. Sua própria força é o seu exército.(399)
  3. Chamo de brâmane aquele que está livre de raiva, que é devotado a seus deveres, que pratica as virtudes divinas, que não tem desejos e possui Este está usando pela última vez um corpo físico. (400)
  4. Chamo de brâmane aquele de quem os desejos caem como cai a gota d’água da folha de uma flor de lótus, ou assim como cai um grão de mostarda da ponta de uma agulha. (401)
  5. Chamo de brâmane aquele que conhece aqui mesmo o final do sofrimento; aquele que deixou de lado o seu fardo, e está desapegado. (402)
  6. Chamo de brâmane aquele cuja sabedoria é profunda, aquele que sabe distinguir o caminho certo do caminho errado, e alcançou a meta mais elevada. (403)
  7. Chamo de brâmane aquele que não faz intimidade com monges nem com leigos, aquele que não frequenta as casas das famílias e tem poucas necessidades. (404)
  1. Chamo de brâmane aquele que abandona sua arma e não mata − nem faz com que outros matem − qualquer criatura, fraca ou forte. (405)

36 Buddha viveu cerca de 500 anos antes da era cristã. No Novo Testamento (Mt 23:27-28) vemos as seguintes palavras atribuídas a Jesus: “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas, porque são semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundície!” (NT)

  1. Chamo de brâmane aquele que é amável entre os hostis, suave entre os violentos e livre de ambições entre os que cobiçam. (406)
  2. Eu chamo de brâmane aquele de quem caíram a luxúria e a má vontade, o orgulho e a ingratidão, assim como uma semente de mostarda cai da ponta de uma agulha. (407)
  3. Chamo de brâmane aquele cuja fala é verdadeira, gentil, instrutiva, e que não ofende a ninguém. (408)
  4. Chamo de brâmane aquele que não se agarra a coisa alguma que não lhe tenha sido dada, seja grande ou pequena, e boa ou não. (409)
  5. Chamo de brâmane aquele que não tem qualquer desejo em relação a este mundo ou ao outro mundo, que não tem inclinações, e é livre. (410)
  1. Chamo de brâmane aquele que não tem desejos, que destruiu suas dúvidas através do conhecimento, e que investigou a profundidade do Eterno. (411)
  1. Chamo de brâmane aquele que, aqui mesmo, está acima da escravidão do mérito e do demérito, que está livre de mágoas, livre de paixões, e é puro. (412)
  1. Chamo de brâmane aquele que, como a lua, é puro, sereno e claro, e que não tem satisfação pessoal na existência. (413)
  2. Chamo de brâmane aquele que foi além do caminho lamacento do renascimento e da ilusão, difícil de atravessar, e que alcançou a outra margem; que é meditativo, que não tem dúvidas, que é destituído de apego, que é calmo e contente. (414)

33-34. Chamo de brâmane aquele que, neste mundo, renunciando a todos os prazeres sensuais, perambula sem lar; aquele em quem extinguiu-se todo desejo pela existência. E novamente, chamo de brâmane aquele que, tendo renunciado a todos os desejos, caminha sem um lar; e em quem todo anseio por existir foi extinto. (415-416)

  1. Chamo de brâmane aquele que eliminou a dominação exercida pelo apego às coisas humanas; que ergueu-se acima do apego às coisas celestiais; que transcendeu todos os (417)
  2. Chamo de brâmane aquele que superou atração e rejeição; que é calmo; que não tem em si as sementes de uma futura existência. Este é o herói que conquistou os mundos. (418)
  3. Chamo de brâmane aquele que conhece o mistério da morte e do renascimento de todos os seres, que está livre de apegos, que tem a felicidade dentro de si e está iluminado. (419)
  4. Chamo de brâmane aquele que deuses, Gandharvas e homens sabem que ele nada Com seus vícios destruídos, ele é um Arhat. (420)

[Nota:]

“Gandharvas” são uma espécie de semideuses ou anjos. São coristas e músicos celestiais. São os que cuidam da planta Soma, e poderiam revelar os segredos do céu e da terra e a ciência esotérica para os seres humanos. Uma das suas funções era preparar o suco de Soma para os deuses ou devas. Este verso ensina que o Homem Iluminado é superior a Deuses e Gandharvas.

  1. Chamo de brâmane aquele que não tem nada de seu em relação ao passado, ao presente e ao futuro, que não possui coisa alguma, e tem desapego. (421)
  1. Chamo de brâmane aquele que é corajoso como um touro, que é nobre e de uma energia destemida; que tem a visão de um sábio; que venceu tudo, até mesmo a morte − aquele que está livre de pecados, o iluminado. (422)
  2. Chamo de brâmane aquele que conhece suas vidas anteriores, que conhece céu e inferno, que alcançou o final dos renascimentos, que é um sábio de perfeito conhecimento e fez tudo o que deve ser feito. (423)

(Final do “Dhammapada”)


Conheça as vantagens de assinar a Morte Súbita inc.

Deixe um comentário


Apoie. Faça parte do Problema.