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Neste ponto, devo registrar minha enfática discordância com os escritores de ciência e da Magia que, impressionados indevidamente ou de maneira errônea pela psicologia moderna, explicam o efeito de um talismã como sendo inteiramente devido a sugestão. Isso é puro disparate. E eu só posso presumir que quem expõe tal espécie de argumento não tem a menor experiência desse tipo de trabalho mágico. É essa espécie de experiência que abrange ou que deve abranger a primeira parte do trabalho prático inicial de uma pessoa no lado técnico da Magia. E falta de experiência, mesmo nesse aspecto elementar de virtuosismo técnico, vicia a opinião de todas opinião sobre outras formas.
Enfrentamos aqui o mesmo problema que surgiu há mais de um século em outra esfera. Os primeiros grandes magnetizadores depois de Mesmer – grandes nomes como Puysegur, Deleuze, Du Potet e La Fontaine – sustentaram que, por meio da vontade e da imaginação, eram capazes de abrir-se a um influxo de fora e depois transmitir de seu próprio organismo uma espécie de poder vital ou magnetismo animal. Afirmavam que essa força, que impregna todo espaço, podia ser usada terapeuticamente. Posteriormente, quando tentavam apropriar-se dos fenômenos de transe e métodos de curas iniciados pelos mesmeristas, médicos da escola ortodoxo eliminaram a teoria da força transmissível efetiva e em seu lugar empregaram a teoria de sugestão. Começando com Braid e continuando em uma linhagem de investigadores muito bons, uma duplicação dos fenômenos magnéticos foi conseguida por meios puramente psicológicos sem recurso a qualquer hipótese de magnetismo animal.
Mas, o fato de fênomenos poderem ser reproduzidos por um método não implica necessariamente que sua duplicação por outro seja falsa. É bem possível que feitos semelhantes possam ser realizados por técnicas absolutamente separadas, baseadas em hipóteses diferentes – cada uma delas válida em sua própria esfera e cada uma delas capaz de explicar um conjunto de fatos. Em qualquer caso, a realidade do magnetismo animal ou a transmissão do que no Oriente foi chamado prana, vitalidade, nunca foi desmentida. Pelo contrário, é simples prová-la de maneira perfeitamente adequada. Digamos que uma pessoa normal suspenda seus dedos sobre o braço de uma segunda pessoa, imaginando e querendo que seu prana escorra de seus dedos em longas e tênues correntes de energia. Se a segunda pessoa ficar sentada, absolutamente imóvel e cultivar a objetividade de sentir e esperar, logo sentirá uma fria corrente de ar sobre o braço ou um formigamento na ponta de seus próprios dedos, que provém do influxo de prana. Esta é uma experiência muito afastada de sugestão, pois pode ser efetuada com aqueles que não tem a menor idéia dos princípios fundamentais envolvidos e que, portanto, não são diretamente suscetíveis à sugestão nesse caso.
Espontaneamente e sem estimulação, observarão que foi efetuada uma transmissão tangível de vitalidade. Deve ser possível testar isso com algum instrumento muito delicado. Ademais, em um aposento escuro, essas correntes que saem dos dedos podem ser facilmente vistas, se a mão for mantida diante de um pano preto.
Além disso, a capacidade de uma pessoa de gerar esse poder é passível de cultivo. Desenvolvi este tema do ponto de vista da autoterapia em A Arte da Verdadeira Cura. Sugiro também que o leitor interessado consulte a obra Hipnotism and Self-Hipnotism, do Dr. Bernard Hollander, onde os problemas de sugestão e hipnotismo animal são discutidos com certa minuciosidade, a propósito de trabalho experimental – e discutidos muito inteligentemente.
Em suma, permitam-me dizer que a sugestão não invalida o fato do magnetismo animal, nem o efeito de um talismã carregado. Pois, como já disse, estamos diante do mesmo problema surgido anos antes, quanto ao transe e aos fenômenos terapêuticos do mesmerismo serem devidos realmente a sugestão ou a uma sobrecarga de vitalidade. Se energia pode ser transmitida a um indivíduo, como eu sustento, porque não pode sê-lo a uma substância específica que tenha natureza particularmente apropriada para receber uma carga? A tradição sempre afirmou que metais e pedras preciosas, velino e pergaminhos constituem boa base material para talismãs. Se a vitalidade do operador é aumentada por simples exercícios de meditação, como foram descritos em A Arte da Verdadeira Cura, ou pelos métodos mágicos diretos de invocação e visualização de formas divinas, uma carga muito poderosa é dada à base material do talismã.
Por si só, porém, o talismã nada é. Só se torna eficaz quando apropriadamente consagrado e vitalizado. Assim, a substância Eucarística nada vale, até ter sido devidamente consagrada por uma cerimônia mágica apropriada e transformada no veículo de um tipo de força.
Consagração
O modo de consagração, naturalmente, não será aqui integralmente descrito, por ser coisa demorada e técnica. Uma das partes importantes da cerimônia de consagração de um talismã ou de uma substância Eucarística é a adoção astral da forma divina. Após ter determinado a natureza da força divina que deseja invocar e tendo selecionado a substância material de natureza compatível com aquela força, o operador precisa esforçar-se durante sua cerimônia de consagração para exaltar o espírito dentro de si, a fim de identificar-se realmente, de uma ou outra maneira, com a consciência daquela determinada força ou divindade. Quanto mais perfeita e completa for essa união dinâmica, mais automática e simples se tornará a carga subseqüente do talismã. No caso da Eucaristia, a idéia não é, porém, apenas a identificação espiritual com a divindade, como preliminar da ascensão ao Deus universal desconhecido, mas a transmutação alquímica do veículo inferior em corpo glorificado.
Embora a consciência superior do mago possa ser dissolvida em êxtase, torna-se imperativo criar um elo mágico entre aquela consciência divina e seu corpo e emoções físicas. Por isso, a magnetização cerimonial de uma substância material, seja hóstia, vinho ou erva, impregna-a com aquela mesma força divina. Sua ingestão introduz aquela força transmutadora no próprio ser e fibra do mago, para efetuar o trabalho de transformação. Como escreveu certa vez o autor que usava o pseudônimo Therion: “O mágico torna-se repleto de Deus, alimentado de Deus, intoxicado de Deus. Pouco a pouco, seu corpo será purificado pela lustração interna de Deus; dia a dia, sua forma mortal, desprendendo-se de seus elementos terrenos, se tornará com muita verdade o Templo do Espírito Santo. Dia a dia, a matéria é substituída pelo Espírito, o humano, pelo divina; finalmente, a mudança será completa: Deus manifesto na carne será seu nome.”
Para apreciar isto, é necessária alguma pequena experiência mágica, mas penso que esta explicação simplificada lançará, sobre a efetiva natureza da cerimônia, mais luz do que a descrição de Waddel.
Não desejo senão com poucas palavras a validade de uma cerimônia eucarística celebrada por outro que não o próprio operador. Tendo em mente que uma cerimônia eucarística convenientemente realizada resulta na produção de um talismã, torna-se claro que essa espécie de operação beneficia principalmente aquele que a efetua. Em meu modo de pensar, parece inútil distribuir a Eucaristia em bloco. Segundo consta, Buda observou que nenhuma cerimônia tem a menor utilidade para a obtenção de salvação ou redenção. Não me parece que com essas palavras ele tenha atacado a tradição mágica, mas, sim, cerimônias em massa, nas quais a audiência não desempenha o menor papel ativo.. Não há estimulação voluntária dos princípios espirituais da audiência – é uma participação vicária passiva nos trabalhos de uma outra pessoa. A Magia, como o Budismo, concorda com o dito de Madame Blavatsky de que “a doutrina central da doutrina esotérica não admite privilégios ou dotes especiais no homem, salvo aqueles conquistados por seu próprio ego através de esforço e méritos pessoais …”
Israel Regardie
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