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Clavicula Salomonis – As Clavículas de Salomão

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Rei Salomão (?), século XVII (?!)

É impossível se falar de Magia e se deixar de lado aqueles que habitam o mundo invisível. Isso é o mesmo que falar de “sociedade” sem citar policiais, bombeiros, construtores, gangsters, prefeitos, prostitutas e profissionais liberais.

Demônios, Deuses, Seres de outras dimensões, Formas Pensamento, Cascões Astrais, Elementais ou simplesmente Espíritos. Sejam o que forem, historicamente estes seres invisíveis tem sido convocados para ajudar os seres humanos em seus propósitos terrenos. O lendário rei Salomão teria realizado toda sorte de prodígios, incluindo a construção seu grande templo, com o apoio destes seres. Existem muitos textos antigos que se propõem a revelar os métodos de Salomão, a maioria deles severos ao ponto da impossibilidade ou pueris ao ponto da irrelevância. Durante a idade média, e nos séculos que a seguiram, muito foram os livros atribuídos a Salomão que afirmavam trazer em suas páginas seus segredos milenares, mas nenhum deles tão notável quanto as Chaves Menores de Salomão.

Deve-se ter em mente, entretanto, que não se pode dar muito crédito a qualquer suposta autoria de livros de magia deste período histórico, visto que, buscando despistar a Santa Inquisição, muitos autores se protegiam com o uso de pseudônimos. Desta forma muitos livros são atribuídos inclusive usando nomes bíblicos como os de Moisés, Abrahão e Salomão. Além disso o sistema goético encontrado neste livro só ganhou força dentro do ocultismo depois da publicação da tradução de Samuel  “MacGregor” Mathers, para o inglês.  Mathers foi um dos fundadores da famosa ‘Hermetic Order of the Golden Daw’, e seu trabalho de tradução foi tão criativo e insirado que algumas pessoas dizem que ele pode ser considerado sem medo uma espécie de co-autor da obra.

O livro é tão importante que foi citado por quase todos os ocultistas entrevistados nesta nossa pesquisa. Nele encontramos não apenas toda a cosmovisão que dominou o meio ocultista da antiguidade clássica até a renascença, mas um guia prático, passo a passo para se realizar todos os rituais descritos nele. A preparação pessoal, a construção de um templo, os instrumentos cerimoniais, os meios de invocação e as entidades apropriadas para cada trabalho. Embora coberta com uma pintura abrâhamica, comum a literatura da época, as The Lesser Key of Salomon trazem uma sabedoria muitíssimo mais antiga do que o judaísmo estabelecido. Trata-se uma chave que nas mãos hábeis poderá abrir ao iniciado todo o manancial de sabedoria caldeia e babilônica. As raízes mais antigas do ocultismos (e portanto as mais atuais) então lá esperando serem destrancadas por cada praticante sem nenhum intermediário.

Por muitos séculos a partir de início do século XIV, as Clavículas de Salomão existiram em uma infinidade de formatos, com organização e partes do textos diferentes de cópia para cópia. Apenas muito recentemente os ocultistas chegaram em um consenso podendo-se então de falar de uma edição definitiva deste grande grimório. Hoje os textos mais antigos ainda podem ser consultados na ‘British Library Manuscript collection’ de Londres e incluem muitas versões diferentes da mesma obra. Pelo estudo da estrutura do texto e do estilo literário podemos concluir que o Legedon completo é composto das seguintes partes:

Ars Goetia

O primeiro e mais famoso dentre os livros que compõem The Lesser Key of Salomon. Trata-se de um guia claro de como evocar entidades antiquíssimas. Estes 72 seres são deuses de povos que o mundo já esqueceu e que são hoje considerados demoníacos pelas religiões monoteístas. Há uma correspondência histórica e literária entre Goetia e um livro chamado Pseudomonarchia daemonum, de 1563 escrito por Johann Wierus. Neste entretanto não estão presentes os selos, e os demônios são invocados por simples conjurações. Goetia por outro lado apresenta uma ritualistica muito mais elaborada e eficiênte.

Theurgia Goetia

Este livro é uma obra irmã da Steganographia de Trithemius. Embora faltem muitos dos selos de Trithemius, todos os que constam lá batem exatamente com os da Theurgia Goetia. Contém os nomes, características e selos dos 31 espíritos aéreos, (chefes, imperadores, reis e príncipes) que podem ser invocados pelo magista para uma infinidade de fins. Embora seja historicamente irmão da Ars Goetia é um livro menor sendo usualmente ofuscado pelo interesse maior que o primeiro atrai.

Ars Paulina

O Ars Paulina (A Arte de Paulo) é considerada a terceira parte das chaves de Salomão, e legendariamente atribuída ao apóstolo Paulo de Tarso. Seguramente esta relativamente pequena obra contém tudo o que um magista precisa saber sobre a influência dos astros e a arte da magia cerimonial. Este tratado ensina como lidar com as influências celestes das horas do dia e da noite, fala sobre os selos angelicais e a relação destas entidades com os sete planetas astrológicos.

Ars Almadel

A quarta parte das clavículas de Salomão ensina como fabricar o Almadel, que é uma tábua de cera com símbolos protetores. Nela são colocadas quatro velas para propósitos mágicos específicos. Os detalhes de cor, material e rituais necessários para o uso do Almadel são encontrados nesta obra. Além disso aqui há uma parte destinada a invocação angelical e é destacada a importância de uma soberania moral dentro da prática mágica.

Ars Notoria

Talvez o livro mais misterioso dos que formam a Clavícula de Salomão. Trata-se de um grimório sobre o uso mágico das orações. Contém uma coleção de orações de propósito mágico, repletas de referências cabalísticas e diversas linguagens ( hebraico, grego, etc…), ensina como elas devem ser ditas e como se relacionam com os aspectos astrológicos. Nesta perspectiva uma oração nada mais é do que um ato de invocação aos anjos de Deus. De acordo com a tradição deste livro, pronunciar corretamente as orações pode despertar conhecimentos ocultos para o praticante, assim como garantir boa memória, saúde mental e eloqüência. O Mistério entretanto está no fato de que estudiosos afirmam que este livro era inteiro composto apenas de gravuras, que cada gravura era tão completa e perfeita que apenas os desenhos deixavam claro para o iniciado todo o significado do conteúdo, com o tempo se perderam as ilustrações que foram substituídas pelo texto explicativo correspondente.

Em todos os livros encontramos traços fortes de um monoteísmo servil,que transforma o servo humilde em uma fortaleza de poder. O conceito é se fazer pequeno perante o criador do universo e ao mesmo tempo engrandecê-lo ao máximo. Seguindo as regras herméticas da busca pelo equilíbrio isso cria uma instabilidade e o poder de Deus jorra violentamente em transferência ao operador, que passa a tornar-se todo poderoso. Essa é a postura tradicional das Chaves Menores de Salomão por meio da qual estes livros foram escritos.

Alguns magistas ficam incomodados com essa postura e experimentam métodos diferentes no sistema tentando sobrepor o temor a Deus por uma valentia pessoal ou mesmo uma abordagem menos agressiva com as entidades. Seja como for estas experimentações tem enriquecido em abundância o sistema das Clavículas de Salomão nos últimos séculos.


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