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Alquimia

TRADUTTORE – TRADITORE (Tradutor – Traidor)

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Rubellus Petrinus

Uma das grandes dificuldades como que nos deparamos nos textos alquímicos é a sua tradução. Normalmente procuramos sempre os originais em fac-símile mas estes são muito difíceis de encontrar e, por vezes, foram escritos em latim que não está ao alcance da maioria, incluindo-nos também.

Quem não dominar outros idiomas terá de contentar-se com o que se traduz no seu país, só que, estas traduções normalmente são feitas por firmas especializadas e não são revistas por quem tenha conhecimentos de alquimia.

Por isso, muitas vezes deparamo-nos com textos iguais que foram traduzidos cada um da sua maneira segundo o entendimento do tradutor.

Para não nos alongarmos mais vamos apenas referir-nos a um pequeno excerto da Primeira Chave das Doze Chaves da Filosofia de Basílio Valentim. A tradução das Doze Chaves no meu livro A Grande Obra Alquímica foi feita da edição francesa “Les Douze Clefs de la Philoshophie” publicada por Les Editions de Minuit, tradução e comentários de Eugène Canseliet:

«Assim, pois, se vais trabalhar com os nossos corpos, toma o lobo cinzento muito ávido que, pelo exame do seu nome, está sujeito ao belicoso Marte, mas pela sua raça de nascença, é filho do velho Saturno, e que, nos vales e nas montanhas do mundo, é presa da fome mais violenta. Deita-lhe o corpo do Rei, faz um fogo forte e deita-lhe o lobo para o consumir inteiramente então, o Rei será libertado. Quando isso se fizer três vezes, o Leão triunfará do Lobo e não encontrará mais nada que comer nele. E. assim, o nosso corpo ficará pronto para o começo da Obra.»

«No entanto, se percebeste o que te disse, então, por meio desta chave franqueaste o obstáculo do ferrolho. Porque, se, verdadeiramente, não percebeste ainda a luz das minhas palavras, não há óculos de vidro que te adiantem nem olhos naturais que te ajudem, para que encontres no fim o que te faltou no princípio.»

Outra tradução portuguesa no livro Alquimia e Ocultismo, Edições 70,Lisboa, do livro Alquimia y Ocultismo, Barral Editores, S.A. Barcelona:

«Assim pois se queres operar nas nossas matérias pega um lobo esfomeado e resplandecente ligado por causa da etimologia do seu nome ao guerreiro Marte, mas de raça tendente à de Saturno por ser seu filho.

Encontra-se nos vales e nas montanhas, sempre agonizante. Deita-lhe o corpo do Rei para que se sacie, e depois de o ter comido, deita-os num grande fogo para que sejam completamente consumidos e o Rei será libertado. Depois de teres feito isto três vezes, o Leão terá ultrapassado completamente o Lobo e o Lobo já não poderá exterminar o Rei, e a nossa matéria estará preparada e pronta para começar a obra.»

«Se entendeste o que acabo de dizer, abriste a primeira a primeira porta com a primeira chave e passaste a primeira barreira, mas se não viste nem experimentaste e não vês claridade por mais que manejes e observes o vaso, não te servirá de nada nem te ajudará a vista corporal para encontrar no final o que te faltou no princípio.»

Tradução espanhola de La Roca Alquímica, Akbar Universal:

«Si deseas operar por medio de nuestros cuerpos, coge un fiero lobo gris, que, aunque a causa de su nombre esté sujeto al dominio del guerrero Marte, es por nacimiento la progenie del anciano Saturno y se encuentra en los valles y montañas del mundo, donde vaga hambriento.

Arrója-le el cuerpo del Rey y cuando lo haya devorado, quéma-lo completamente en un gran fuego hasta que sea sólo cenizas. Este proceso liberará al Rey y cuando se haya realizado el León habrá vencido al lobo e no encontrará él nada más que devorar. Así nuestro Cuerpo será el apropiado para la primera etapa de nuestra obra.»

«Si entiendes lo que quiero decir, esta Clave abrirá la primera cerradura y hará retroceder el primer cerrojo. Pero si no es así, no habrá  anteojos o vista natural que te permita comprender lo que sigue.»

Esta operação descreve alegoricamente a purificação do ouro pelo antimónio no texto e designado por Lobo cinzento e é feita num cadinho (crisol) num forno com fogo muito forte. O antimónio em fusão dissolve completamente o ouro incorporando-o e retirando-lhe as suas impurezas. Como o antimónio é volátil, com um fogo mais forte sublima-se deixando o ouro puro no fundo do cadinho.

A tradução que fizemos do francês e que consta do nosso livro está correcta sob o ponto de vista operativo. A segunda tradução que deverá ser uma provável terceira tradução, é o que se vê, praticamente incompreensível sob o ponto de vista operativo.

A tradução espanhola está de acordo com a tradução inglesa que extraímos da Web de McLean mas não é tão elucidativa como o texto francês.

Canseliet não indica no início do livro de onde foi feita a tradução mas foi provável que tenha sido do Musaeum Hermeticum.

As figuras inseridas no livro das Doze Chaves da edição francesa parecem-nos terem sido gravadas em cobre enquanto que outras de uma edição mais antiga que estão no nosso livro foram gravadas em madeira (woodcut) sendo, por isso, mais imperfeitas e até estão no sentido inverso.

Poderíamos citar-vos mais exemplos como já o fizemos com os textos de Filaleto, onde havia grandes discrepâncias ente eles. É isto que por vezes dá origem a desentendimentos na interpretação dos textos.

Por isso, procurai sempre conseguir as primeiras traduções e, se possível, feitas por ou corrigidas as por alquimistas.


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