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As Águias na Alquimia

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Rubellus Petrinus

Em alquimia simbólica, Águia ou Águias é sinónimo de sublimação. Ireneu Filaleto na Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei empregou este termo não para significar uma sublimação mas sim uma destilação.

Procurai um texto original porque, de contrário, podereis ser induzidos em erro se não conhecerdes o modus operandi.

Daí que por vezes surja confrontação de opiniões por não se terem lido os mesmos livros.

Experiências de Ireneu Filaleto.

V – «Cada preparação do Mercúrio com o seu arsénico é uma águia; assim que as plumas da águia forem purgadas da negrura do corvo, fazei de modo que a águia voe até sete vezes, quer dizer, que a sublimação se faça tantas vezes; então a águia, ou a sublimação, está bem preparada e disposta para se erguer até à décima vez naturalmente.»

V – «Cada preparación de Mercurio con su Arsénico, es un águila; purgadas las plumas del águila de la negrura del cuervo, haz que vuele; habiendo volado la séptima, está preparado para que vuele hasta la décima.»

V – «Chaque préparation du Mercure avec son Arsénic est une aigle, pour purger les plumes de l’aigle de la noiceur du corbeau, fais que le volatil s’envole sep à dix fois, et

tout sera préparé.

V – «The secret of the just preparation of the Sophic Mercuty: every single preparation of the Mercury with its arsenic is one Eagle; the feathers of the Eagle purged of its Crow like blackess, make it to fly the seven fligth, and it is prepared even until the ten flight.»

Como podereis ver, apenas o texto em português, faz referência à sublimação e o espanhol e inglês a “voo” (vuele) e (fly) que é sinónimo de sublimação ou destilação. Para nós, o mais fiável será o texto inglês.

VI – «Tomei o Mercúrio requerido e misturei-o com o seu verdadeiro arsénico. A quantidade do Mercúrio foi de quatro onças, mais ou menos, e aligeirei a consistência da mistura; purguei-o de maneira conveniente depois, destilei-o, o que meu deu o corpo da Lua; o que me fez conhecer que havia feito a minha preparação segundo a Arte, e muito bem.»

O mesmo texto francês não cita a destilação mas o inglês e o espanhol referem-na.

Nós sabemos perfeitamente pela leitura do Testamento de Flamel que o amálgama do régulo Lunar ou Solar com o mercúrio é destilada numa retorta de aço desmontável.

Qual é a finalidade desta destilação? Flamel no Brevièrie , Oeuvres, Paris, 1989, página 198, diz-nos qual é a finalidade desta destilação:

«Podes crer que aquele mercúrio comeu um pouco do corpo do Rei e que este terá muito mais força de dissolver o outro, que será, mais adiante, muito mais aberto pelo corpo da Saturnia.

Terás, assim, subido um degrau na escada da Arte. Toma já as fezes da retorta, funde-as num cadinho com fogo forte, faz sair delas todo o fumo saturnino e quando o Sol em fusão estiver purificado, infunde dentro, como da primeira vez, duas partes de Saturnia.»

Quem não estiver familiarizado com esta terminologia simbólica certamente que não entenderá nada do que aqui foi descrito, por isso vamos dar umas luzes para que os

menos entendidos possam compreender.

Filaleto refere-se ao Arsénico. Isto é para despistar porque o que ele quer significar é o régulo lunar ou solar. Também Flamel nos despista com o termo Saturnia que, aqui, significa régulo marcial.

Porquê esta destilação? Para preparar o mercúrio filosófico ou animado que reiterando as destilações do amálgama transporta em cada destilação um pouco da alma do Sol que nesta obra representa o Enxofre alquímico.

Alguns autores modernos transpuseram para a sua obra esta terminologia no sentido de sublimação tomando à letra o que diz a edição portuguesa.

Convenhamos que o termo Águias se adapta melhor a uma sublimação do que a uma destilação. Mas Filaleto usa-o como sinónimo de destilação.

Assim fazer voar a Águia significa uma destilação do amálgama do mercúrio filosófico.

Quer queiram alguns artistas, quer não, esta é a interpretação que melhor se coaduna com esta operação.

Isto não tem comparação possível com a primeira operação ou sublimação de uma obra referida por alquimista moderno. Enquanto que na obra de Filaleto se destila um amálgama do régulo lugar ou solar com o azougue, na outra faz-se uma sublimação do Dragão vermelho com vista à aquisição de um tal Azoth ou mercúrio Filosófico.

E por falarmos nesta dita sublimação queríamos aqui sublinhar alguns pequenos pormenores operativos que alguns dos artistas que fizeram ou estão a fazer esta obra provavelmente desconhecem.

Como sabem, os dois sais antagonistas que são empregados como fogo secreto nesta operação (o autor apenas designa fogo secreto um dos sais, mas na nossa opinião, como é óbvio, o conjunto dos dois sais é o fogo secreto porque é ele o agente que vai provocar

a sublimação; um deles é eflorescido e o outro decrepitado.

O agente eflorescido que também pode ser calcinado, é apenas parcialmente desidratado. Daí que na sublimação feita num vaso que, na nossa opinião, não é ou era o mais adequado, destile antes da sublimação um líquido chamado “espírito” que é ligeiramente ácido, não chegando sequer a 1º Baumé.

Evidentemente que o autor pode chamar-lhe o que quiser e bem entender só que esta designação não se enquadra dentro da terminologia espagírica que designa um espírito.

Se o composto não tivesse no seu seio o Dragão vermelho, então sim, destilaria um espírito de sal de maior graduação que poderia ser rectificado, conforme a quantidade destilada, até 30º Baumé.

Mas este espírito destilado é diferente na sua essência e, por incrível que pareça, não tem acção sobre o sujeito mineral. O espírito dissolvente deste Dragão é a água régia que dá, como produto dessa dissolução, o mesmo “Azoth” mas sob um aspecto diferente.

Isto servir-vos-á como prova para verificardes a quantidade de sílica que o vosso sujeito mineral contém.

Infelizmente num mineral de razoável qualidade, verificámos que tinha quase 50% de sílica.

Isto é apenas uma curiosidade porque a maneira filosófica de preparar o tal Azoth é pela via da referida sublimação.

Mas como a essência do “fogo secreto” (conjunto dos dois sais) actua no Dragão vermelho para o sublimar no tal “Azoth”, a água remanescente deixou de ser, sob o ponto de vista espagírico um espírito para ser uma mistura de água ligeiramente acidulada com algum Azoth à mistura. Podereis facilmente confirmar o que dissemos.


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