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Análise de Rubellus Petrinus das doze Chaves de Basílio Valentim

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(Primeira Chave)

Antes de começar gostaríamos de vos dizer que as figuras mais conhecidas das Doze Chaves foram publicadas no livro Les Douze Clefs de la Philosophie, Les Éditions de Minuit Paris, 1956, traduzido e comentado por Eugène Canseliet.

Estas gravuras seriam gravadas em cobre e são mais recentes porque existem outras muito mais antigas gravadas em madeira “woocuts” provavelmente da edição de 1602.

Basílio Valentim tal como Filaleto, é um dos alquimistas mais controversos e a sua obra descrita nas Doze Chaves é a mais difícil de interpretar. Tem-se especulado muito sobre a sua interpretação não só sob o ponto de vista alquímico operativo mas também sobre o seu significado simbólico. “Cada cabeça sua sentença”. Isto aplica-se perfeitamente à interpretação do simbolismo alquímico.

Estudamos anos a fio estas figuras baseando-nos inclusivamente no Dictionaire de A.J. Pernety, Arché Milano, 1980 e Théories et Symboles des Alchimistes de Albert Poisson, Éditions Traditionnelles, Paris, 1981, bem como os respectivos textos sem nunca conseguirmos sair do labirinto. Porquê? Porque depois de um estudo exaustivo, verificámos que o texto das figuras, na nossa opinião, não está em concordância com a representação pictórica. Passaram-se os anos e por mais que tentássemos apercebermo-nos do seu significado simbólico transpondo-o para a operativa íamos sempre a dar sempre a um beco sem saída .

Por isso, para vos poder transmitir a nossa opinião sobre a sua interpretação nada melhor que descrever a parte essencial do texto da Primeira Chave.

Na gravura da primeira chave vê-se um Rei e uma Rainha, de pé tendo o Rei na mão esquerda um ceptro e a Rainha segurando também, na sua mão esquerda um ramo com três flores.

Do lado do Rei, em baixo, está um Lobo saltando por cima de um cadinho colocado num forno com fogo vivo. Ao lado da Rainha, vê-se Saturno representado por um velho barbudo com perna de pau empunhando uma gadanha. Por baixo de Saturno vê-se um forno aceso, com uma Copela e um grande botão metálico.

O comentário à Primeira Figura feito por Eugène Canseliet é o seguinte:

«O Rei e a Rainha da Obra, isto é, o ouro e a prata filosóficos, espagiricamente designados pelo lobo e o grande botão metálico sobre a copela. Este e o cadinho no meio das chamas, indicam claramente a via seca, na qual representa um grande papel o fogo secreto…»

Não nos surpreendeu o comentário do Sr. Canseliet porque nós conhecemos bem qual foi a via que este grande Mestre e erudito da nossa Arte praticou e descreveu no seu livro L’Alchimie Expliquem Sur Ses Textes Classiques, A Paris Cheia Jean-Jacques Pauvert, Paris, 1972

Há uma tendência muito especial (isto é inerente ao ser humano) de um alquimista tentar sempre adaptar a descrição de qualquer obra àquela que conhece e praticou. Vimos a tendência do Sr. Simón H. de fazer uma comparação da sua obra com a de Filaleto embora elas, na nossa opinião, sejam completamente distintas. Também o Sr.Canseliet enveredou pelo mesmo caminho e não só.

Se nós tomássemos à letra a explicação do Sr. Canseliet seguiríamos o mesmo caminho. Mas, a realidade é bem diferente embora a representação pictórica nos mostre, em parte, que o nosso Sujeito mineral da via seca esteja bem presente na figura, saltando por cima dum cadinho no meio das chamas.

Aqueles que conhecem bem a via seca como nós conhecemos, poderão ver que falta na figura o Acólito metálico que permitiria a Separação. Nem Saturno ou a Rainha o permitiria a não ser na composição do amálgama na via de Filaleto. Foi precisamente por esse motivo que nós rejeitámos a interpretação pela via seca.

Albert Poisson no seu livro Teoria e Símbolos dos Alquimistas, página 87 diz:

«O ouro e a prata purificados constituem a matéria afastada da pedra. O Enxofre é extraído do ouro, o Mercúrio da prata, sendo a matéria próxima.»

Reportando-nos, agora, ao texto da Primeira Chave nas suas partes mais essenciais:

«Sabe meu amigo que todas as coisas imperfeitas são impróprias para a nossa obra, porque a sua lepra não pode produzir nada de bom, ora o bom é impedido pelo impuro.

Todas as mercadorias à venda, extraídas das minas valem cada uma o seu preço, mas logo que sejam falsificadas tornam-se impróprias. Elas são, com efeito, alteradas sob um falso brilho e não são mais, como anteriormente, convenientes ao nosso trabalho.

Tal como o médico, por meio dos seus medicamentos, purga e limpa o interior do corpo, donde tira a sujidade, da mesma maneira os nossos corpos devem ser lavados e purgados de toda a sua impureza a fim de que, da nossa geração, a purificação seja alcançada. Os nossos mestres procuraram um corpo puro, sem mácula, que não fosse alterado por nenhuma mancha ou mistura. Com efeito, a adição de coisas estranhas é a lepra dos nossos metais.

Que o diadema do Rei seja de ouro puro e que a casta noiva lhe seja unida no matrimónio.

Assim, pois, se vais trabalhar com os nossos corpos, toma o lobo cinzento muito ávido que, pelo exame do seu nome, está sujeito ao belicoso Marte, mas, pela sua raça de nascença, é filho do velho Saturno, e que, nos vales e nas montanhas do mundo, é presa da fome mais violenta. Deita-lhe o corpo do Rei, a fim de que dele receba o seu sustento e, logo que tenha devorado o Rei, faz um fogo forte e deita-lhe o lobo para o consumir inteiramente então, o Rei será libertado. Quando isso se fizer três vezes, o Leão triunfará do Lobo e não encontrará mais nada que comer nele. E, assim, o nosso corpo ficará pronto para o começo da nossa Obra.

Sabe, ainda, que só esta via é a directa e verdadeira para purgar os nossos corpos. Porque o Leão purifica-se pelo sangue do Lobo e a tintura do seu sangue junta-se admiravelmente à tintura do Leão, visto que o sangue dos dois são mutuamente unidos por uma certa afinidade de parentesco.

Mas, meu amigo, prevê diligentemente, de forma que a fonte da vida seja encontrada pura e clara. Nenhuma água estranha deve ser misturada…

O Rei percorre seis cidades do firmamento celeste e fixa a sua residência na sétima, porque o palácio do Rei, no seu lugar, é ornamentado de tapeçaria de ouro.

No entanto, se percebeste o que te disse, então, por meio desta chave franqueaste o obstáculo do ferrolho. Porque, se, verdadeiramente, não percebeste ainda a luz das minhas palavras, não há óculos de vidro que te adiantem, nem olhos naturais que te ajudem, para que encontres no fim o que te faltou no princípio…»

Tendo em conta o que diz Canseliet e Albert Poisson e ainda em face das imagens da figura, tudo nos levaria a concluir que o Rei representa o ouro que será purificado pelo Lobo e, a Rainha, a prata, purificada por Saturno na Copela, como se pode ver pelo botão metálico. Este processo de purificação dos dois metais nobres era muito usual naquela época.

Esta era uma possível interpretação que, à primeira vista, nos pareceu a mais adequada, e, durante muito tempo a aceitámos embora com reserva.

Mas se lerdes com atenção o texto da chave, vereis que o Mestre não faz nenhuma referência à purificação da Rainha. Ele refere-se, apenas, à purificação do Rei, e daí a nossa dúvida.

Nunca aceitámos de bom grado os comentários feitos pelo tradutor e comentador Sr. Canseliet, autor de vários livros sobre a nossa Arte, que muito respeitamos pela sua erudição, porque não se ajustam ao texto como já dissemos e achámos muito estranho que ele não fizesse esse reparo.

Mais tarde, adquirimos um dos últimos livros publicados de Basílio Valentim, Le Dernier Testament, Retz, Paris, 1977. Como o título indica, provavelmente, este terá sido um dos últimos, senão o último livro do Mestre e talvez por isso, um dos mais generosos e abertos.

No referido livro, confirmámos a nossa dúvida porque o Mestre descreve em linguagem clara algumas das chaves do seu livro As Doze Chaves da Filosofia que, no original, como vimos, estão descritas em linguagem simbólica.

Vejamos, então, o que nos diz o Mestre no Último Testamento sobre a Primeira Chave, na página 215:

«A Primeira Chave ensina-te a procurar, se quiseres, a tua semente num ser ou substância metálica que é o ouro…

A purificação do ouro faz-se de forma que seja batido, bem delgado e muito fino, depois, vazado e passado três vezes pelo antimónio, que em seguida, o Rei passado através do antimónio, assentado e pousado no fundo, seja refundido antes de ser soprado a fogo muito forte e, depois, purificado por Saturno.

Então, encontrarás o ouro mais esplêndido, mais belo e mais altamente brilhante que se possa desejar, semelhante ao claro resplendor do Sol e de muito agradável aspecto…»

O texto é bem claro e não deixa sequer lugar a dúvidas. Só o Rei, (ouro) e apenas o Rei, é purificado pelo antimónio ou Lobo cinzento (o lobo saltando por cima do cadinho) e, depois, passado pela Copela por meio de Saturno (o velho com uma perna de pau empunhando uma gadanha), tendo debaixo uma Copela com um botão metálico de ouro purificado como mostra a figura.

Como diz o texto da chave, Saturno é a sétima cidade no firmamento celeste (sétimo planeta alquímico). O Lobo, representa simbolicamente o antimónio e Saturno o chumbo.

Os antigos mestres, quando se referiam ao antimónio queriam indicar o respectivo mineral, ou seja, a estibina ou sulfureto natural de antimónio. Para distinguirem o mineral do metal designavam este último por régulo de antimónio.

Vejamos, agora, como era purgado o ouro pelos artistas do século XVII, tal como está descrito no Traité De La Chymie de Christophle Glaser, boticário ordinário do Rei de França, em 1667, página 84:

«A purificação do ouro pelo antimónio. A melhor purificação do ouro é aquela que se faz pelo antimónio; o chumbo só destrói os metais imperfeitos e deixa a prata com o ouro; o cimento deixa frequentemente o ouro impuro e ainda lhe come uma pequena porção; o inquarto nem sempre é prova da pureza do ouro…poder-se-á assegurar que o ouro que passa pelo antimónio é perfeitamente purgado e libertado de toda a impureza, porque não há ouro que possa resistir a este lobo devorador.

Tomai, pois, uma onça de ouro, tal como os ourives o empregam, colocai-o num cadinho entre carvões ardentes, num fogo a vento, e, logo que fique rubro, deitai, pouco a pouco quatro onças de bom antimónio em pó, o qual se fundirá imediatamente e devorará ao mesmo tempo o ouro, o que, de outra forma, é de difícil fusão, por causa da sua composição muito perfeita. Agora que está tudo fundido como água e que a matéria deita chispas, é um sinal de que a acção do antimónio destruiu as impurezas do ouro e, por isso, é necessário deixá-lo ainda um pouco no fogo e, depois, vazá-lo prontamente num corneto de aço que tenha sido previamente aquecido e untado com um pouco de óleo.

Logo que a matéria seja vazada dentro, é preciso ao mesmo tempo bater com uma tenaz no corneto, para fazer descer ao fundo o régulo.

Depois da matéria arrefecer, é preciso separar o régulo das escórias, pesá-lo em seguida e colocá-lo num cadinho para fundi-lo, deitando, pouco a pouco, o dobro do seu peso de salitre; tapar o cadinho com a tampa, de forma que o carvão não possa entrar e, dando um fogo forte, o salitre consumirá todo o antimónio que ainda restar.

O ouro fica fundido no fundo, muito belo e puro. Vazar-se-á num corneto ou deixar-se-á arrefecer no cadinho, o qual será necessário partir, depois, para separar o ouro dos sais.»

Parece-nos que não é preciso ser muito entendido em metalurgia para compreender esta operação da purificação do Rei ou ouro pelo antimónio, e, por isso, dispensa qualquer comentário.

Para finalizar o comentário à Primeira Chave, vamos, então, resumir: A purificação do ouro (Rei), faz-se num cadinho de barro refractário, num forno a gás, por meio do sulfureto de antimónio natural (estibina) em pó, que os antigos alquimistas denominavam Lobo cinzento esfaimado (porque devora todos os metais), fundindo-o com o ouro. Depois de fundido, vaza-se num corneto de aço previamente untado com óleo. Separa-se o régulo solar das escórias e deita-se, depois de triturado, num cadinho com o dobro do seu peso de salitre. Faz-se um fogo muito forte e funde-se o régulo com o salitre, para que este consuma o que resta do antimónio.

Por fim, purifica-se o ouro numa Copela, por meio de Saturno (chumbo). Resta na copela um botão de ouro muito puro.

Cabe então perguntar: qual é o papel da Rainha nesta Chave se o Mestre diz que apenas o Rei e só o Rei (ouro) é purificado pelo antimónio e depois passado pela Copela?

Por incrível que pareça nenhum. Então porquê a sua presença na figura?

A explicação que demos do texto, foi feita deliberadamente em linguagem clara. Em alquimia não é usual fazê-lo mas se o Mestre o fez caridosamente no Último Testamento, por que razão não o faríamos também?

Na figura a cores da Segunda Chave, além da representação simbólica, podereis ver a correspondência com as matérias reais. Na descrição da Terceira Chave vos diremos porque o simbolismo das imagens não correspondem ao texto.

(Segunda Chave)

Esta chave refere-se à preparação do banho do Rei, ou seja, à preparação de uma água dissolvente do astro solar. Na gravura da segunda chave, pode ver-se um mancebo nu, alado e coroado, de pé sobre um par de asas, empunhando dois caduceus, no meio de dois combatentes (esgrimistas) que se degladiam.

Na espada do combatente da direita está enroscada uma Serpente e do da esquerda está pousada uma Águia. Por cima da coroa do jovem alado está o símbolo espagírico do mercúrio. Vê-se, ainda, de cada lado, entre ele e os combatentes, do lado direito o Sol e do lado esquerdo a Lua.

O comentário de Eugène Canseliet à segunda chave é o seguinte:

«Imagem expressiva da Noiva da Grande Obra, substituindo-a um mancebo nu, alado e coroado, jovem mercúrio e pequeno rei, conforme o atestam os dois caduceus onde a vara deu lugar ao ceptro soberano. Ele nasceu do sol e da lua dos filósofos porque se debatem os dois esgrimistas e, graças a estes, ele ganha em beleza, em pureza, o que perde com as fezes heterogéneas em volatilidade.

É isso que exprimem as grandes asas abandonadas e estendidas sobre o solo.»

De acordo com a figura, o simbolismo não nos parece difícil de interpretar: o mercúrio filosófico (jovem alado) é obtido pela acção dissolvente sobre a matéria primeira, da água resultante da luta dos dois campeões (duas substâncias químicas opostas) uma fixa e penetrante (serpente) e a outra volátil (águia). Esta água também seria o banho do Sol e da Lua.

No entanto, o comentário de Canseliet tomado a letra deixa transparecer que o mercúrio filosófico obtido pela via seca seria a conjugação do Sol (Enxofre) e Lua (Régulo). Isto na nossa opinião, nesta via, não corresponde à realidade operativa quanto muito corresponderia às purificações mercuriais.

Vejamos, agora, o que diz o texto da Segunda Chave na sua parte mais essencial:

«Da mesma maneira, quando se realiza o casamento do nosso noivo Apolo com a noiva Diana, preparam-se antes diferentes vestes, lava-se a fundo a cabeça e o corpo com as águas que devem ser destiladas por diferentes processos que te falta aprender, visto que são extremamente desiguais, umas fortes, outras fracas, conforme o uso que são requeridas, assim como já se disse para os diversos géneros de bebidas…

Mas meu amigo, toma atenção antes de tudo para que o noivo seja junto da noiva, todos nus e, desta forma, todas as coisas preparadas para o ornamento das vestes e relativas à beleza do rosto devem, de novo, ser retiradas, de forma que eles entrem na tumba nus como nasceram e que a sua semente não seja corrompida pela mistura de alguma coisa estranha.

Em conclusão deste discurso, te digo, com toda a verdade, que a água muito preciosa que forma o banho do noivo deve ser sabiamente confeccionada, com muito cuidado, de dois atletas (de duas matérias opostas), a fim de que um adversário excite o outro e, sobretudo, que sejam activos no combate e ganhem o preço da vitória.

Seguramente, não é útil à águia construir o seu ninho nos Alpes, porque os seus filhos morreriam por causa do frio da neve do cimo das montanhas.

Na verdade, se tu juntares à Águia o frio Dragão que tem, por muito tempo, o seu domicílio nas rochas, rastejando das cavernas da terra e que tu os coloques ambos sobre o assento infernal, então, Plutão soprará o vento e, do frio Dragão, fará sair um espírito volátil e ígneo que, pelo seu grande calor queimará as asas da Águia e produzirá um banho sudorífico. Tal como a neve nas mais altas montanhas começa a fundir e a formar a água, para que o banho mineral seja preparado e dê ao Rei fortuna e saúde.»

Se lerdes atentamente o excerto do texto, verificareis que, no início, o Mestre se refere ao noivado de Apolo e Diana e às águas com que deverão ser lavados. Já no fim, diz que, com toda a verdade, a água muito preciosa que forma o banho do noivo deve ser sabiamente preparada dos dois atletas, etc.

É mais que evidente que ele mudou completamente de discurso passando a referir-se ao banho do noivo e não ao noivado de Apolo e Diana. Termina, aconselhando, que o banho mineral seja bem preparado, para que dê ao Rei a fortuna e saúde.

Isto está de acordo com a primeira chave, pois, como vimos, a purificação descrita refere-se, apenas o Rei, isto é ao ouro.

Por fim, Basílio Valentim diz-nos como deve ser preparada a água para o banho do Rei.

Junta a Águia ao frio Dragão que tem o seu domínio nas rochas e mete-os juntos num assento infernal (forno). Plutão (rei dos infernos) soprará um vento (muito quente) que fará sair do frio Dragão um espírito volátil e ígneo que queimará as asas da Águia e produzirá um banho sudorífico. Depois, tal como a neve das mais altas montanhas, começa a fundir-se (com o calor) e a formar água, assim será preparada a água do banho do Rei.

Transpondo isto para linguagem espagírica, a Serpente representa o nitro e a Águia o sal amoníaco. Portanto, a referida água deverá ser preparada pela reacção a quente numa retorta de vidro Pirex, com tubuladura., de duas substâncias químicas contrárias, uma fixa (nitro) e a outra volátil (sal amoníaco), ambas bem conhecidas desde a antiguidade pelos alquimistas.

Quando estas substâncias, misturadas em proporções ãã (iguais), deitadas por fracções sucessivas na retorta entram em contacto, por acção do calórico fornecido por um forno com temperatura controlada e em banho de areia, produzir-se-á uma violenta reacção química, que fará destilar pelo bico da retorta uma água sudorífica que tem a propriedade de dissolver o ouro ou Rei, por isso, conhecida por água régia.

Não queremos deixar de advertir, todos aqueles que, por curiosidade ou para confirmar o que dissemos, quiserem preparar esta água dissolvente pelo método indicado pelo Mestre nesta chave, que se abstenham de o fazer se não tiverem experiência de laboratório e conhecerem o toque de mão indispensável, caso contrário, expor-se-iam a um grande perigo, pois a retorta pode explodir, pelo excesso de pressão no seu interior, ocasionada pela rápida expansão dos gases. Depois de iniciada a reacção química entre os dois beligerantes (sais) é incontrolável e partiria de imediato a retorta, provocando-vos graves queimaduras.

A técnica a observar, como já dissemos, é deitar de cada vez pela tubuladura da retorta pequenas quantidades sucessivas de matéria e colocar de imediato a tampa.

Não queremos que, por negligência ou inexperiência, nada de mau vos possa acontecer. A alquimia tal como a química, tem os seus riscos que é necessário de antemão conhecer, para os evitar ou minimizar.

Além disso, não é preciso correr riscos desnecessários, porque existem outros métodos menos perigosos de preparar esta água, como mais adiante veremos.

Não há dúvida, e aqueles que ainda a tiverem que a percam, de que a alquimia é uma arte verdadeira, como já o demonstrámos com a explicação da primeira e, agora, da segunda chave.

Não obstante, continua a verificar-se uma divergência entre o texto desta chave e o seu simbolismo pictórico.

A figura da Segunda Chave mostra-nos simbolicamente quais as substâncias químicas necessárias à preparação desta água dissolvente, assim como o fim a que se desatina: a obtenção e purificação do mercúrio filosófico. Mas nós já o sabemos e no texto ficou bem claro, que a finalidade desta água é o banho do Rei (dissolução), com vista à extracção do seu mercúrio, do seu sal e, principalmente, do seu enxofre alquímico.

Vejamos, agora, o que Basílio Valentim diz no Último Testamento sobre a segunda chave, página. 216:

«Segunda Chave. Repara, meu amigo e toma esta coisa a peito como muito importante para a tua obra, para que disponhas o teu banho correctamente, de forma que nada seja acrescentado que não seja necessário, a fim de que a nobre semente do ouro não se deteriore por qualquer contrariedade ou heterogeneidade susceptível de destruir esta semente, a qual, sendo destruída, será impossível remetê-la a bom estado.

Portanto, toma cautela e cuidado ao ensinamento da Chave precedente e qual a matéria que deves tomar para o banho composto da água própria para o Rei que deve ser morto aí e a sua forma exterior destruída, a fim de que a sua alma pura possa sair imaculada.

Para este desígnio, é necessário que te sirvas do Dragão e da Águia que não são outra coisa que o salpetrio e o sal armoníaco dos quais, após a sua união, deve ser feita uma água régia, como te vou ensinar, no final, o toque de mão, quando descrever a particularidade do ouro e, bem assim, as dos outros metais.

Entretanto, precisas de saber que uma tal solução não é suficiente para que o Rei tenha ainda alguma intenção de deixar sair a sua alma para fora do seu corpo fixo, como tu podes experimentar…

Logo que o teu ouro seja dissolvido na referida água e seja reduzido a óleo amarelo e belo, deixa-o, então, num vaso bem fechado a digerir um dia e uma noite em banho-maria, muito brando; se houver fezes, separa-as, deita a solução pura e limpa numa cucúrbita ou noutro vaso e adapta-lhe um capitel e recipiente bem lutados. Digere e destila esta solução na areia, pouco quente, remexendo e agitando de vez em quando o vaso onde está o ouro e a água e repete isto três vezes. Agora, destila toda a humidade pelo banho-maria e encontrarás no fundo do alambique um pó de ouro que colocarás num vaso aberto sobre o fogo de areia, pelo espaço de uma hora, até que toda a humidade se evapore.»

E, para finalizar, continuamos a perguntar: porque é que o simbolismo representado na Segunda Chave também não está de acordo com o texto?

(Terceira Chave)

No centro da figura vê-se um dragão alado com a cauda retorcida. Uma raposa mais acima, come uma ave. Em cima dela, um galo pica-a no pescoço.

Comentário de Eugène Canseliet à terceira Chave:

«O dragão é a origem das duas naturezas, aquosa e ígnea e é a base do combate a que elas se entregam por isso, ele ocupa todo o primeiro plano desta composição. Dele nasce directamente a raposa escolhida por Basílio Valentim, numa analogia física que sublinha, segundo nós, este facto curioso que o nome do astuto quadrúpede é do género feminino em todas as línguas arianas.»

O texto da terceira chave é o seguinte, na sua parte mais essencial:

«Por outro lado, neste desígnio, nenhum triunfo pode ser alcançado se o Rei não tiver juntado à sua água a sua natureza enérgica e a sua força e lhe tenha abandonado a chave da sua própria cor, a tal ponto que seja destruído por ela e se torne invisível; por esta mudança, ele deve tornar a sua forma visível, não obstante, com diminuição da sua essência natural e aperfeiçoamento do seu corpo..

Esta é a Rosa dos nossos Mestres, de cor púrpura, o sangue vermelho do dragão descrito por numerosos artistas…»

Vejamos, agora o texto da Terceira Chave, tal como está descrito no Último Testamento, página 219:

«Terceira Chave. Toma, então do bom espírito de nitro, uma parte e do espírito do sal comum, três partes; verte estes dois espíritos juntos numa cucúrbita um pouco quente, sobre o pó do ouro acima descrito, depois, adapta um capitel e o recipiente bem lutados, como deve ser; depois, tendo mexido e agitado diversas vezes o teu ouro, como anteriormente foi feito na areia e reiterando a destilação quanto mais melhor, tu verás que o ouro se torne, de tempos a tempos, mais volátil e que, finalmente, destilará e virá ao de cima. Porque, por uma repetição e destilação de todo o teu ouro, a solidez e fixidez do seu corpo se desliga e divide em todos os seus membros, os quais são deste modo desfeitos um com o outro e restituídos, tão abertos que o ouro assim atenuando deixa em seguida, ir a sua alma a juiz particular…

Mas observa que, depois deste trabalho acabado, é preciso que separes, com cuidado assíduo o teu ouro que destilou todos os espíritos salinos, por destilação em banho-maria, o mais docemente que te seja possível, a fim de que não destile nada da cor do ouro e que não sofra quebra. Depois, com prudência e julgamento, toma o teu ouro ou os cristais de ouro donde separaste a água e coloca-os sobre uma pequena escudela de barro própria para reverberar, mete-a no forno e dá-lhe, primeiramente, um fogo lento e moderado durante uma hora até que tudo que há de corrosivo seja retirado inteiramente, então, terás um pó de ouro de uma bela cor escarlate, tão subtil e bela que é bom de ver.

Mete num matrás limpo este pó de ouro e deita-lhe em cima o espírito recente de sal comum, o qual, anteriormente, tenha sido reduzido a uma grande doçura, seguindo a ordem na qual te instruirei nos meus toques de mão. Cerra o matrás e coloca-o no calor moderado, porque, assim, o espírito adocicado de sal não pode mais dissolver e romper o pó de ouro como tinha feito antes, tanto mais que a sua corrosibilidade e acrimónia lhe foi reduzida pelo espírito de vinho que lhe causou esta grande doçura.

Deixa o matrás neste calor não violento, até que o espírito de sal seja tingido de uma cor de um soberano degrau, bela, transparente e vermelha como rubis.

Retira docemente, por inclinação, o espírito tingido e remete-o de novo sobre o teu ouro tantas vezes que o espírito se tinja mais.

Depois, coloca num alambique todo o espírito tingido e separa toda a humidade em banho-maria com calor moderado e no fundo do alambique se encontrará o enxofre do pó do ouro em pó, belo, delicado e subtil, de grande mérito e valor, uma matéria com a qual se pode, por meio de um rápido e curto procedimento, tingir a prata na sua mais alta perfeição…»

O que se pode depreender, então, do que o Mestre nos diz nestas três chaves?

Na primeira, ensina a purificar o ouro ou Sol por meio do antimónio; na segunda, a preparação de uma água régia para o banho do Rei, com vista à sua dissolução e, na terceira, a extracção do Enxofre alquímico do ouro.

Se bem reparastes no texto da terceira chave, o Mestre recomenda dissolver o ouro numa água régia composta de três partes de espírito de sal e uma parte de espírito de nitro. Curiosamente depois de algumas centenas de anos ainda hoje esta água é feita da mesma maneira!

Nesta chave, a representação pictórica condiz em parte com a descrição do texto porque o enxofre do ouro, antes da sua fixação, era volátil, por ter passado pelo bico do alambique com a respectiva água. Assim, o Dragão alado pode representar o volátil e o fixo mas na nossa opinião esta não seria a melhor forma para esta representação simbólica. A que nos parece mais adequada e tratando-se do Rei, seria a representada por dois leões um amarelo volátil e o outro púrpura representado o Enxofre fixo do ouro.

Para a preparação da Pedra Filosofal são necessários três princípios básicos, Enxofre, Mercúrio e Sal.

Nestas circunstâncias, estes três princípios teriam de ser extraídos do Vitríolo do ouro (tricloreto áureo) e o custo do metal nobre já naquela época era elevado.

Por isso, o Mestre diz no Último Testamento:

«E assim não se pode de todo encontrar nenhuma humidade no ouro que seja aquosa, se este não for reduzido em vitríolo, mas isto seria um trabalho inútil, de despesa inesgotável.»

«Mas exorto os meus discípulos, pois que a natureza lhe deixou um caminho mais curto de o guardar e seguir agora, receando que eles não se precipitem a extrair o mercúrio do ouro, quando tiver sido reduzido na destruição e ruína dele próprio, o que não foi praticado pelos antigos, porque isto é contra-natura.»

É evidente que este processo é contra-natura como o Mestre caridosamente afirma, por isso, termina aqui a explicação do texto das Doze Chaves da Filosofia, para a seguir, indicar o caminho para a extracção dos três princípios a partir do vitríolo romano.

«Mas observa, sobretudo, que este espírito universal (mercúrio) se encontra noutros metais, ainda que, todavia, se encontre paralelamente e incomparavelmente mais eficaz no espírito de um certo mineral, donde pode ser extraído e preparado com bem menos trabalho e despesa…»

«E, portanto, o astro de ouro não se encontra somente no ouro, de tal forma que somente pela adição do espírito de mercúrio e do enxofre áureo, a pedra filosofal possa ser feita…»

«A fim de que agora eu satisfaça o resto da minha promessa e refira mais que nas minhas doze chaves disseram e que contêm, sabe que nenhum filósofo não é inteiramente obrigado a trabalhar sobre o metal do ouro…»

«Ora, neste momento, é preciso que aprendas que tal alma ou enxofre áureo, tal sal e espírito se encontra mais forte e virtuoso em Marte e Vénus e, bem assim, no vitríolo, como também Marte e Vénus se podem reconduzir como por retrogradação em vitríolo muito virtuoso e eficaz, no qual vitríolo metálico se encontra agora sob um céu todos os três princípios, a saber, mercúrio, enxofre e sal e, cada um deles se pode particularmente tirar e obter com pouco trabalho e tempo, como entenderás, quando te fizer, presentemente, uma narração sucinta de um vitríolo mineral que se encontra na Hungria, belíssimo e de alto grau.»

Basílio Valentim remete-nos para um vitríolo canónico natural, de Marte e Vénus, existente na Hungria, o qual também se pode encontrar, com relativa facilidade, no nosso país (Portugal), nos pequenos lagos, junto das minas de pirite e de calcopirite. Neste vitríolo natural, encontram-se também estes três princípios.

«Todavia, uma tão grande dignidade não foi jamais concedida a nenhum outro metal ou mineral tão vantajosamente como ao Vitríolo que é a pedra dos filósofos do qual foram feitas tantas menções…É por isso que os antigos tiveram este mineral escondido até ao último ponto e o ocultaram aos seus próprios filhos, o que fizeram com muita precaução.»

«Porque o melhor que se mostrou como mais provável e aprovado pela minha experiência, é aquele que se extrai e recolhe na Hungria, o qual é de um alto grau de cor, em nada diferente do de uma bela cor safira azul e tem pouco de humidade em si e pouco de qualidade mineral nociva…»

«Um certo vitríolo assim altamente graduado em cor, encontra-se nos mesmos lugares e sítios onde o ouro, o cobre e o ferro crescem…»

Assim, Basílio Valentim no Último Testamento, deixa de descrever as restantes Chaves porque no seu entendimento era um trabalho contra-natura porque esta via pode ser feita vantajosamente por meio do Vitríolo onde ele descreve em linguagem clara o respectivo modus operandi.

Resta-nos ainda um problema por resolver. Porque razão as Figuras das Chaves não concordam simbologicamente com o texto? Isso foi o grande mistério que durante muitos anos nos deu volta à cabeça e que só há bem pouco tempo conseguimos confirmar esta nossa asserção que é a seguinte:

McLean URL: http://www.levity.com/alchemy_12keys.html

12 Keys of Basil Valentine

Este trabalho foi publicado primeiro em Ein kurtz summarischer Tractat, von dem grossen Stein der Uralten…,Eisleben, 1599 sem ilustrações e novamente em Leipzing em 1602 com algumas gravuras em madeira das 12 Chaves.

Resumindo: o primeiro tratado foi editado sem figuras e estas foram-lhe adicionadas posteriormente. Quem as desenhou ou mandou gravar não soube interpretar correctamente o textos das Doze Chaves, razão pela qual o simbolismo pictórico das figuras não condiz com a descrição do texto.

Por isso, para nós, não faz sentido comentar figuras que, como vos demonstrei, não representam o que está descrito no texto. Além disso, Basílio Valentim, pelas razões invocadas, deixa a via do ouro para seguir a via do Vitríolo.

Décima segunda Chave

«Quando um esgrimista não sabe servir-se da sua espada, esta não lhe é útil, porque ele não aprendeu exactamente a prática. Incapaz ele pode ser derrotado por outro que seja mais experiente que ele no manejo da espada o provoque ao combate. Mas aquele que domina convenientemente o Magistério da prática possui o prémio da vitória.

Assim, aquele que obteve uma certa tintura pela Graça de Deus Todo Poderoso e que não a sabe utilizar pela mesma razão, acontece-lhe como se disse do esgrimista que não soube de modo algum servir-se da sua espada. Mas eis que nesta décima segunda e última das minhas chaves eu não apresentarei nova alegoria ou discurso figurado para a explicação do meu livro mas sem o mínimo rodeio ensinarei esta chave do progresso verdadeiro e muito perfeito da tintura e, com esta finalidade estai atento a minha doutrina afim que tu a sigas.

Logo que a Medicina e a Pedra de todos os Sábios seja feita e perfeitamente preparada do verdadeiro leite da Virgem, toma disso uma parte, depois do excelente e muito puro ouro fundido, purgado pelo antimónio e reduzido em lâminas muito finas tanto quanto seja possível, três partes. Coloca-as juntas num cadinho comum que serve para fundir os metais.

Dai no início um fogo lento durante doze horas, depois tendo em fusão, continuamente, durante três dias e três noites. Neste momento o ouro purgado e a Pedra fizeram pura Medicina, de propriedade muito subtil, espiritual e penetrante. Porque, sem o fermento do ouro, a Pedra não pode operar ou demonstrar a sua força de tingir. Com efeito, ela é extremamente subtil e penetrante, mas se, com seu fermento semelhante, ela for fermentada e conjunta, agora a tintura preparada recebeu o poder de entrar e de operar em todos os outros corpos.

Toma em seguida uma parte do fermento preparado por mil partes do metal fundido que tu queres tingir, então sabe, por verdade e fé soberana, que só este metal será transmutado em bom ouro fixo. Porque um corpo toma um outro corpo; embora não lhe seja semelhante, a pesar disso, pela sua força e pela sua potência essenciais, ele é forçado a ser assimilado, porque o semelhante atrai o seu semelhante.

Todo aquele que emprega este meio obterá toda a certeza, e as entradas do palácio têm no fim a sua saída; além disso, esta subtileza não deve ser comparada a nenhuma criação. Porque ela possuirá todas as coisas em todas as coisas por que, pela maneira e origem naturais, elas podem nascer sob o sol neste mundo.

O princípio do primeiro princípio considera o fim.

O fim último examina o princípio.

E que o meio vos seja fielmente recomendado; então Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo vos conciliarão tudo aquilo que vós tendes desejado para o espírito a alma e o corpo.»

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Se lerdes atentamente o texto escrito propositadamente em linguagem clara pelo Mestre verificareis que esta chave descreve última operação ou seja, primeiro a fermentação da medicina com o ouro comum em lâminas muitos finas e depois a transmutação.

«Coloca-as juntas num cadinho comum que serve para fundir os metais. Dai no início um fogo lento durante doze horas, depois tendo em fusão, continuamente, durante três dias e três noites.»

«Toma em seguida uma parte do fermento preparado por mil partes do metal fundido que tu queres tingir, então sabe, por verdade e fé soberana, que só este metal será transmutado em bom ouro fixo.»

Agora comparai o texto com a alegoria da imagem que em princípio nós tomámos por uma gravura em madeira “woodcut” mas não é porque podereis ver na imagem a assinatura “J. Gobille.C.” que seria impossível, a nosso ver, ser feita deste tamanho em madeira.

Outra coisa muito interessante em relação às figuras do livro traduzido e comentado por Canseliet é que estas imagens foram gravas no sentido inverso.

Primeiro pensámos que poderia ter sido um erro de impressão mas não foi, porque a assinatura está bem legível e escrita normalmente da esquerda para a direita.

Então analisemos a imagem em relação ao texto. A principal figura no centro da imagem é um personagem (alquimista) empunhando numa das mão uma tenaz como aquela que se usa para retirar os cadinhos do forno.

Vemos numa prateleira diversos cadinhos e uma escudela. Pela janela aberta vê-se a Lua e o Sol e por cima da bancada vêm-se diversos utensílios entre os quais uma balança. O alquimista toca com a sua mão esquerda um cadinho que contém duas flores e tem por cima o símbolo espagírico do mercúrio.

Do lado esquerdo da imagem vê-se um leão comendo uma cobra.

A simbologia não nos parece muito adequada para o fim em vista, ou seja a fermentação da pedra com o ouro e a transmutação.

Dissemos já na explicação da Terceira Chave que o livro das Doze Chaves inicialmente foi publicado sem imagens as quais lhe foram posteriormente adicionadas por alguém que as mandou executar, neste caso a um tal J.Gobille.C. de acordo a sua interpretação do texto e, por essa razão, a sua simbologia não coincide com o texto.

Por cima de um estrado vê-se um forno feito de uma só peça e reforçado com cintas de ferro como antigamente se fazia, tendo uma abertura para ventilação em baixo. Esta figura por vezes foi confundida com um barril, até por Fulcanelli, razão porque no livro o Mistério das Catedrais, Edições 70, Lisboa, 1964, na página 126 diz o seguinte:

«…Ora, como o tonel é feito de madeira de carvalho, também o vaso deve ser de madeira de carvalho velho, arredondado por dentro, como um hemisfério, cujos bordos serão espessos e quadrados; na sua falta um barril para cobri-lo. Quase todos os Filósofos falaram desse vaso absolutamente necessário para essa operação…»

«Existe uma figura no livro das Doze Chaves que representa essa mesma operação e o vaso onde ela se efectua, de onde sai uma grande fumarada que assinala a fermentação e ebulição dessa água; e esse fumo termina numa janela, onde se vê o céu, no qual estão pintados o sol e a lua, que marcam a origem dessa água e as virtudes que ela contém. É o nosso vinagre mercurial que desce do céu à terra e sobre da terra ao céu.»

Este pretenso barril, como vimos, só pode ser um forno onde se executa a via seca. O desenho pode confundir-se com um barril mas, num barril, não se pode fundir num cadinho um metal como o ouro e manter a fusão por três dias e três noites como o texto descreve.

Parece-nos que até Fulcanelli teve as suas falhas!


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