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No dia 12 de setembro de 1989, Wilfred Doricent de 17 anos reunia-se com sua família em sua casa no sul do Haiti. È normal os adolescentes irem embora de casa e voltarem tarde, mas com Wilfred foi diferente, esteve morto por 18 meses. Sua família assistiu ao seu enterro e possuía um certificado de óbito.
Wilfred era um bom estudante e sua família o adorava. Porém em março de 1998 ficou gravemente doente e subitamente morreu. Seu corpo tinha inchado e exalava um odor tão insuportavel que seu pai teve que apressar os procedimentos para o funeral.
O menino, no entanto, não estava morto. Sem que seu pai soubesse, ele havia transformado-se em um zumbi ou “morto-vivo” obedecendo ao pedido dos inimigos do pai de Wilfred, que se encontrava no meio de uma disputa territorial, um bokor (feiticeiro vodu) ministrou um poderoso coup poudre, um pó envenenado, que fez Wilfred entrar em coma profundo. Pouco depois foi declarado morto.
O Coupe Poudre tem como seu ingrediente principal a tetrodoxina, encontrada no veneno de peixes teleósteos. A tetrodoxina é 500 vezes mais potente do que o cianureto e em pequenas quantidades produz paralisia total do corpo. Uma pessoa que tenha ingerido esse veneno pode ser facilmente considerada morta, ainda que mantenha parcialmente seus sentidos.
Na noite seguinte de seu funeral, o túmulo de Wilfred foi violado e seu corpo retirado. O bokor deu a Wilfred uma droga feita com uma planta que os haitinos conhecem como “concombre zumbi” (pepino zumbi) que o fez voltar a si. O pepino zumbi contêm estramômio de datura, um componente alucinógeno que também contem atropina, o antídoto da tetrodoxina. Depois de padecer dos efeitos do veneno, do medo, da confusão e as vezes da falta de ar no caixão, a pessoa transforma-se em um rascunho do que foi um dia. E assim, por 18 meses Wilfred viveu junto ao seu novo “dono” em carcere privado.
Depois de meses, ninguém sabe como, Wilfred voltou para sua assustada porém feliz família. Mas já não era o garoto de antes. Sombrio e taciturno, não mostrava agora sequer metade da inteligência ou animo que costumava ter. Não lembrava de coisas importantes e apresentava sintomas de autismo e muitas vezes ausentava-se sem motivo de seus parentes. Wilfred contou a um antigo amigo que havia estado completamente consciente de tudo o que lhe ocorrera, como os preparativos para o enterro, mas não podia falar ou mover-se. Lembrava-se como fechavam a tampa do caixão e ouvia sua família chorar enquanto o sepultavam em um túmulo no estilo haitiano: um túmulo de cimento sob a terra.
Na crença vodu ao há tormento maior que a possibilidade de perder a alma, que é o que ocorre, segundo da tradição, quando alguém é transformado em um zumbi. Depois da “ressureição” feita pelo bokor, que deve ser realizada pouco depois do enterro para evitar a morte por asfixia no caixão, os sentidos da pessoa vítima do coup poudre estão intumescidos e a memória é gravemente afetada. A pessoa torna-se fácil de manipular e é utilizada como mão de obra em plantações, construções ou escrava sexual.
Contudo, alguns zumbis conseguem escapar do cativeiro. A tradição diz que o encantamento pode ser desfeito se o bokor que o possui morrer ou se o zumb toma sal. Também em certas ocasiões a falta de oxigênio no caixão provoca muitos danos no cérebro e faz com que a pessoa se torne inútil como escrava. Neste caso é abandonada nos bosques a própria sorte.
Não é fácil uma pessoa dessas retornar a sua vida anterior. Diferentee da afetuosarecepção dada a Wilfred Doricent quando voltou à sua casa, as famílias e os aldeões costumam rejeitar os zumbis que retornam aos seus lares. Temem que possuam poderes e que estejam sob o controle de seus feiticeiros. Estas pessoas acabam levando uma vida de completo abandono entre os reinos da vida e da morte.
Wilfred teva acolhida de sua família, mas sofreu tanto com sua experiência que teve que dormir e passar boa parte do dia preso para impedir que machucasse a si mesmo. Os bokor são contudo tão influêntes e temidos na sociedade haitiana, que sua família sequer ousou fazer qualquer denúncia a polícia local. Os estrangeiros que ouvem a história a igualam ao roteiro de filme de terror, mas Wilfred é somente mais uma testemunha muda dos vários haitianos que foram transformados em escravos zumbis.
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