Este texto foi lambido por 42 almas esse mês
Por Robson Belli
Seja no trono de Pedro ou no trono de Hórus, a morte do soberano espiritual nunca é apenas biológica. É um ato litúrgico, um rito de passagem que move céus e terra. O papa e o faraó, cada qual em seu tempo e símbolo, são corpos-templo. Sua morte precisa ser coreografada, selada, protegida, e… prolongada além da vida.
I. O Corpo como Portal
“Vos estis templum Dei” (1 Coríntios 3:16)
“O rei é Osíris; ele não morre, ele passa” (Textos das Pirâmides)
No Vaticano, o corpo do papa é embalsamado e vestido como sacerdos perpetuus. No Egito, o faraó é revestido de linho e resina, preparado para continuar reinando no mundo invisível.
Ambos são tratados como corpos que ainda servirão a Deus — um na intercessão espiritual, outro como força ativa nos ciclos da natureza e do cosmos.
É o princípio da sacralidade persistente da carne, que deve ser honrada, preparada e selada.
II. Os Três Caixões: Três Mundos
Vaticano: Cipreste (humildade) → Chumbo (incorruptibilidade) → Carvalho (dignidade)
Egito: Sarcófago interno (individual) → mágico → protetor → monumental
Isso espelha a tríplice divisão do ser humano:
- Corpo (material)
- Alma (sensível)
- Espírito (divino)
Cada camada do caixão protege e transmuta um desses aspectos. Não se trata de segurança física. Trata-se de selar os véus que separam os mundos.
III. Registro da Vida: O Nome É Imortalidade
No caixão do papa: Rogito
Na tumba faraônica: murais com feitos e títulos
Ambos acreditavam que o nome é uma chave espiritual. Esquecer o nome é matar a alma.
Inscrever a história do morto é um ato de magia memorial: perpetuar a identidade no além.
Na tradição egípcia, o nome (ren) precisava ser preservado para garantir existência após a morte.
No Vaticano, o Rogito é como um selo de legitimidade celestial, uma certidão de eternidade.
IV. Túmulo como Portal: Geografia Sagrada
Vaticano: Cripta de São Pedro – centro do cristianismo
Egito: Vale dos Reis – alinhamento estelar, simbologia solar
A localização do túmulo não é geográfica: é cósmica.
O local da sepultura serve como nó espiritual entre planos:
- Acima: os fiéis
- Abaixo: os mistérios
- Ao redor: o tempo
Na magia grimorial, diríamos que são pontos de condensação do espírito ancestral.
V. Rito Final: Abrir o Caminho
Vaticano: Missa, bênçãos, canto do In Paradisum
Egito: Abertura da Boca, orações a Anúbis, hinos de ressurreição
Ambos os ritos têm o mesmo fim:
Destrancar a porta do mundo espiritual.
No Egito, sacerdotes tocavam os sentidos da múmia com instrumentos mágicos, para que ela “acordasse” no além.
No Vaticano, os cantos e liturgias pedem aos anjos que conduzam o papa “à luz perpétua”.
Do ponto de vista ocultista é uma ativação do corpo astral, uma ordenação do morto ao seu próximo estado de existência.
VI. A Função do Rei Morto
O faraó se torna Osíris, regente do além.
O papa, um intercessor eterno diante de Deus.
Nos dois casos, a morte não extingue o ofício.
O líder espiritual é transformado num arquétipo.
Ele deixa de ser um homem e torna-se um símbolo eterno –
um elo entre o Céu e a Terra.
A morte ritualizada de um papa ou de um faraó não é o fim. É a consagração final.
O corpo é selado como um relicário, a memória é eternizada como um feitiço, e a alma é enviada como uma chama acesa para o além.
Quem morre como rei sagrado, não desce à cova: sobe ao trono invisível.
Alimente sua alma com mais:

Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.