Este texto foi lambido por 42 almas esse mês
Os Exus com nomes animais, como o Exu Morcego, Exu Pantera ou Exu Lobo – assunto deste artigo – não são exatamente espírito de animais. São inteligências poderosas que usam formas animalescas para comunicar aspectos indizíveis da existência. Lobos não são só lobos; são a metáfora do exílio e da resistência. Morcegos não são apenas noturnos; são os ouvintes privilegiados do inconsciente. Trata-se, portanto, de uma zoologia metafísica, uma contra-biologia espiritual, onde a criatura revela o criador — ou sua falência.
Exu Lobo, em sua última encarnação aqui na Terra, chamava-se Makunaiana — um nome de origem indígena cujo significado é “o homem que trabalha à noite”. Sua trajetória de vida foi, até certo ponto, comum, até aproximadamente os 16 anos de idade, quando sua verdadeira história começa. Vale lembrar que os eventos aqui narrados se passam entre os anos de 1420 e 1480, em território que hoje conhecemos como Brasil, mas que, naquela época, ainda não havia sido oficialmente “descoberto” pelos europeus. A região era integralmente habitada por diversas etnias indígenas, com culturas, línguas e cosmologias ricas e profundamente conectadas à natureza.
Makunaiana foi criado por um casal de agricultores da sua tribo. Era um casal adotivo, já que seus pais biológicos haviam falecido devido a uma doença que, à época, era desconhecida pelos indígenas e, portanto, sem cura dentro dos conhecimentos tradicionais da tribo.
Desde a infância, Makunaiana demonstrava um profundo interesse pela medicina natural, sobretudo pelo uso de ervas e práticas de cura ancestral. Seu talento era tão evidente que, por mérito próprio, aos 16 anos foi coroado como curandeiro oficial da tribo, posição de enorme prestígio e responsabilidade. Foi nesse momento que sua verdadeira jornada espiritual começou.
Em uma de suas andanças pela mata em busca de ervas medicinais, Makunaiana teve um encontro incomum: deparou-se com um lobo. No entanto, esse não era um lobo comum — tratava-se de um espírito ancestral que assumia a forma astral de um animal. Esse espírito, que se revelaria mais tarde como um guia espiritual, passou a ser o mentor de Makunaiana em sua jornada como curandeiro e feiticeiro, conduzindo-o por caminhos ocultos da cura e da magia.
Com o tempo, a tribo começou a suspeitar das atividades de Makunaiana. Suas ausências constantes, bem como o êxito quase milagroso de suas curas, despertaram desconfiança. Alguns membros da tribo decidiram segui-lo, e acabaram por testemunhar uma cena incompreensível: Makunaiana conversava com um lobo no interior da floresta. A partir de então, passaram a chamá-lo de “O Curandeiro Lobo”.
O tempo passou, e, aos 20 anos de idade, o lobo espiritual realizou uma transformação diante de seus olhos, assumindo a forma de um homem alto, de aparência imponente e enigmática. Ele se apresentou como Seu Marabu, um espírito de elevada hierarquia. Marabu anunciou a Makunaiana que sua missão naquele plano físico havia se encerrado, e que agora ele deveria acompanhá-lo para continuar sua obra em outros planos da existência.
A partir desse momento, Makunaiana nunca mais foi visto. Muitos acreditam que seu corpo foi levado junto com o espírito para o mundo espiritual. No entanto, a verdadeira versão — passada oralmente por gerações — é que o espírito de Makunaiana foi desencarnado naquele instante, e seu corpo físico foi sepultado em uma caverna de difícil acesso, motivo pelo qual nunca foi encontrado. É dessa narrativa que surge a lenda que deu origem à entidade hoje conhecida como Exu Lobo, ou como veremos, popularmente chamado, Exu Lobisomem.
Muitos acreditam que Makunaiana se transformou em um ser híbrido — metade homem, metade lobo — e que, ao chegar ao plano espiritual, foi conduzido a uma esfera distinta, onde passou a atuar como mentor de espíritos desencarnados. Sua missão era — e continua sendo — guiar almas em sua trajetória, mostrar-lhes o caminho, ensinar práticas de cura e proteger os que transitam entre mundos.
Hoje em dia, é conhecido como Exu Lobo, e está associado à Alta Magia, especialmente nos campos da cura espiritual, desobsessão e combate aos males do espírito. Suas manifestações espirituais são imponentes e, por vezes, misteriosas. Costuma vestir-se de preto, com um capuz que cobre parcialmente o rosto, e muitas vezes utiliza um cajado como símbolo de poder e sabedoria.
As cores de vela associadas ao Exu Lobo são o preto, o verde e o azul, e suas oferendas são comumente entregues em matas fechadas ou pedreiras — locais considerados portais espirituais entre o mundo físico e o mundo dos espíritos. É comum que se utilize representações animais em suas oferendas, respeitando, claro, os princípios da ética espiritual e as orientações dos terreiros sérios.
Sua forma astral pode ser tanto de um lobo quanto de um homem-lobo, especialmente durante rituais de incorporação, que geralmente ocorrem por volta das 23h, seu horário de atuação mais intenso. Dai o nome Exu Lobisomem que recebeu popularmente, embora não se deva confundir e o Exu Lobo com as demais lendas urbanas das muitas histórias de lobisomem do folclore brasileiro.
Os médiuns que trabalham com Exu Lobo geralmente apresentam certas características marcantes: são ágeis, astutos, desconfiados e têm dificuldade em confiar plenamente nas pessoas. Têm, por isso, certa dificuldade em estabelecer relações duradouras na juventude, e tendem a postergar a formação de uma família. Demonstram forte aptidão para a cura, e muitas vezes se automedicam, o que pode ocasionar alguns desequilíbrios. Curiosamente, embora não gostem de médicos ou hospitais, cuidam bem da própria saúde por meios alternativos.
Esses médiuns, mesmo sem saber, são canais de cura. São astutos, raramente caem em armadilhas, mas também podem ser traiçoeiros quando ameaçados. Por isso, recomenda-se cautela e respeito ao lidar com médiuns dessa falange. Não se deve brincar ou zombar da energia com a qual trabalham, pois estão sob a tutela de uma força que atua diretamente entre os mundos visível e invisível.
Alimente sua alma com mais:

Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.