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por Lilith Ashtart
Os Yezidi (Yazidi, Yasdâni, Izadi) atualmente habitam regiões no norte do Iraque, nos arredores da cidade de Mosul, e pequenas comunidades localizadas na Síria, no sudeste da Turquia e no Irã.
A origem da palavra “Yezidi” ainda é muito discutida. Algumas hipóteses seriam que a palavra Yezidi se originou da palavra persa “îzed” que significa “anjo”, ou que é derivada de “yezad”, um termo da antiga linguagem iraniana que possui o mesmo significado,demonstrando a grande importância que a figura dos anjos ocupa na religião Yezidi, em especial Malak Ta’us.
Os Yezidi possuem duas escrituras sagradas, o Mes’haf i Resh (Livro Negro) e o Kitab el-Jelwa (Livro das Revelações). Em ambas Malak Ta’us (também chamado Shaitan, Melek Tawus, Azazil, Iblis e Ta’usi-Melek) se revela como um ser divino que rege sobre todos os outros seres divinos e sobre todas as criaturas do mundo, inclusive os seres humanos, o que pode ser constatado nos seguintes trechos: “No início Deus criou a Pérola Branca de sua mais preciosa essência; e Ele criou um pássaro chamado A’ anphar. E Ele colocou a pérola em suas costas, e lá habitou quatrocentos mil anos. No primeiro dia (da Criação), Domingo, Ele criou um anjo chamado Azâzil, que é Malak Tâwus (anjo pavão), o chefe de tudo…”; “Eu (Malak Tâwus) era, e sou agora, e continuarei a ser pela eternidade, governando sobre todas as criaturas…”.
Na crença Yezidi, Malak Ta’us foi o primeiro dos sete anjos emanados de Yazdan (o Deus Supremo), sendo os nomes dos outros seis: Dardâ´îl, Ishrâfâ´îl, Mikail, ‘Izrâ´îl, Samnâ´îl e Nûrâ´îl. Os Sete Grandes Deuses adorados possuem como chefe Lasiferos. Segundo Grant, Lasiferos identifica Lúcifer como o chefe dos anjos caídos.
Os Yezidi adoram Malak Ta’us ao invés do Ser Supremo por acreditarem que este não é mais uma força ativa: ele é o Senhor do Céu, o criador, que após criar a Terra não se importou mais com ela, deixando-a para Malak Ta’us governar. Sendo assim, Malak Ta’us é a representação da força ativa que age na Terra, é o Senhor do Mundo, e é a ele que devem se dirigir orações.
Na árvore da vida os Yezidi estão associados à Yesod, cujo número correspondente é nove. É interessante se notar que esta é a Sephirah do Fundamento, na qual o universo se encontra sintetizado antes de chegar ao resultado final de sua descida à matéria, Malkuth. A Enêada, por retornar sempre a si mesma quando multiplicada por qualquer número, simboliza o que não pode ser destruído. Por isso os Yezidi afirmam que deve haver uma restauração assim como uma queda. A iniciação também se encontra no simbolismo do nove, pois uma verdadeira iniciação nunca pode ser destruída, independente dos fatores que com ela interagem. No tarot esta idéia se associa ao Eremita, o arcano da consciência, do Iniciado, o buscador incansável do autoconhecimento, da sabedoria e da iluminação, em sua própria meditação, recolhimento e silêncio.
Grant ainda afirma ter o Culto Yezidi uma origem estelar. A simbologia do anjo pavão conteria em si uma representação da Dupla Corrente, Terrestre e Extraterrestre, pela união do pássaro e do anjo. Por esta adoração ao anjo pavão, que também é chamado de Shaitan, os Yezidi são considerados por muitos como “Adoradores do Demônio”. Esta associação foi ajudada pelo fato de Malak Ta’us ter sido um anjo que caiu da graça de Deus por se recusar a se rebaixar perante Adão, como Deus havia pedido, mas ao contrário da mitologia cristã de Lúcifer e da mitologia islâmica de Iblis, ele foi perdoado através de seu arrependimento e recobrou sua posição original.
O Yezidismo não acredita em inferno. Em sua visão Malak Ta’us encheu sete jarros de lágrimas durante sua queda, que durou sete mil anos, e estas lágrimas extinguiram o fogo do inferno, ou serão usadas para extinguí-lo no final dos tempos. Malak Ta’us é um representante de Deus e não um Deus perverso. Malak Ta’us possui características duais dentro de si. Ele pode ser tanto o fogo que aquece como o que incendeia. Simultaneamente, todos nós humanos temos uma mistura destas duas forças: o bem e o mal. Todos possuímos Malak Ta’us dentro de nós.
Malak Ta’us é adorado na forma de uma escultura de bronze de pavão, denominado Anzal, “O Antigo”. Esta escultura é trazida para os adoradores na celebração anual mais importante da religião, que tem duração de sete dias, celebrada de 6 a 13 de outubro em Lâlish, ao norte de Mosul. Ela coincide com a antiga festa de Mithrâkân, que comemorava a criação do mundo por Mithra, o deus sol.
A segunda festa mais importante é a comemoração do nascimento de Yezid, o suposto fundador do Yezidismo, podendo ser até mesmo o segundo maior Avatar do Deus Supremo, logo após Malak Ta’us. É uma festa de três dias, comemorada perto do solstício de verão (hemisfério sul)/inverno (hemisfério norte). Curiosamente esta data também pode ser comparada com o nascimento mítico de Mithra, celebrada no dia 25 de dezembro.
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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