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Sitra Achra

Altruísmo – Pequeno Tratado Satânico do Pecado

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O altruísmo é a arte requintada de promover o sacrifício alheio, de tempo e dinheiro, em proveito da falsa extinção da miserabilidade humana. Assenta-se num dogma religioso ou numa imposição moral, para aliciar o incauto que, caso obedeça a tais idéias, será envolvido num vampirismo psíquico; caso não obedeça, fatalmente terá sentimento de culpa e, com isso, sentir-se-á miserável emocional e psiquicamente. É importante entender todo o processo.

O senso comum diz que o altruísta é aquele que, para ser feliz, promove a felicidade do próximo. Contudo, o altruísta é, em primeiro lugar, um egoísta, uma vez que, ao beneficiar terceiros, ele sente prazer com isto. É a busca deste prazer, que o leva compulsivamente a ajudar desconhecidos, que não fazem parte do seu clã particular. Em linhas resumidas: há algo em troca. É de se observar que a maioria destes altruístas pouco ajudam a própria família, uma vez que já estão demasiadamente envolvidos com desconhecidos. Cito, como exemplo, o caso de missionários que abandonam o cônjuge e os filhos para irem a lugares distantes, na crença inabalável de que estão agindo corretamente. Portanto, o altruísta não é apenas um egoísta, mas um imbecil também.

A pessoa que busca se enquadrar num modelo de altruísmo, por questões morais ou religiosas, começa a desenvolver um jogo sutil, que é, inclusive, apontado pela Psicologia. Segundo Jacques Lacan, o altruísmo fere os direitos da pessoa, pois, por detrás da sua aparência filantrópica, há algo mais:  “O sentimento altruísta não é válido para nós, que desvendamos a agressividade que subtende a ação do filantropo, do idealista, do pedagogo, e até mesmo do reformador.” É que o altruísta, de modo geral, propõe a obrigatoriedade de terceiros fazerem o mesmo. Lança uma espécie de “corrente da alegria” que vai envolvendo os outros pouco a pouco, numa chantagem emocional, pois usa a coação psicológica para atingir o seu objetivo. Além disso, pleiteiam sempre poder para si, ou para os líderes do grupo. É natural que ameaças religiosas ou o risco de reprovação geral pelos outros membros façam parte deste jogo, caso determinado participante pouco contribua nas obras de caridade. A lógica desta argumentação assenta-se no fato de os maiores filantropos serem apontados como “exemplos” para o resto da comunidade, enquanto torcem o nariz para os que menos contribuem. Aquele que não participa é visto como “agente do mal” e pode mesmo ser prejudicado covardemente pelos demais.

Vou citar um exemplo. L. participava de um almoço de caridade numa ordem iniciática. Trabalhou duro, arrumando todos os preparativos. Quando não precisaram dele, ele foi jogar um pouco de sinuca com alguns amigos. Não passou muito tempo, perceberam que ele não estava participando e logo arrumaram uma tarefa para ele fazer, que podia ser perfeitamente suprida por alguns irmãos de ordem que nada fizeram até o presente momento, pelo simples fato de serem de grau superior. Resignadamente, L. foi ajudar na cozinha, vendendo os tíquetes para a refeição. Por volta das 15h, já com bastante fome, pois chegara ao local às 7, resolveram deixar L. almoçar, então ele pegou o prato e foi saindo para almoçar com a mulher. Um irmão de grau superior virou-se e disse “Não, você vai almoçar comigo.” L. respondeu “Agradeço o seu convite, mas ainda não tive tempo de passar alguns minutos com a minha mulher, portanto vou almoçar com ela”. Virou as costas e saiu deixando o outro aborrecido. Depois, nas outras sessões da ordem, L. passou a ser tratado com indiferença. Então L. passou a não mais freqüentar a ordem, afastando-se definitivamente dela. Os irmãos ainda o incomodaram bastante para que retornasse. Assim é o processo do altruísmo, só funciona quando há um “esparro” na jogada.

Além disso, é curial haver interesses mais concretos, como o auto-enriquecimento, uma vez que inúmeros líderes passam a ter carros importados, casas luxuosas, conta bancária gorda e outras mordomias, inclusive em nível social, pelo status adquirido perante a comunidade. Os membros simplesmente ignoram esta mudança sócio-econômica do líder, pois este costuma ser uma pessoa carismática, com grande poder de influência sobre seus correligionários.

Para se ter mais uma idéia da falácia do altruísmo, vou citar dois casos notórios :
·    O Presidente Regan afirmou que a organização governamental HEW (Health, Education & Welfare – Saúde, Educação e Bem-Estar Social) gastava três dólares em despesas burocráticas para fazer chegar um dólar a uma pessoa necessitada.
·    Havia no Egito um organismo oficial encarregado de promover o bem-estar do felah, camponês pobre, com um orçamento anual de 800 milhões de libras esterlinas. Ano após ano, a verba era automaticamente renovada até que, um dia, um dos ministros do Presidente Nasser quis saber como eram gastos aqueles milhões. A resposta: 650 milhões iam para os funcionários encarregados de distribuir os restantes 150 milhões. (A revista egípcia Akher Saá)

Podemos resumir o altruísmo nos seguintes fatores:
1.    Trata-se de um vampirismo psíquico travestido com o manto da religiosidade ou da moralidade, que usa coação psíquica para atingir os seus fins.
2.    Trata-se de um exercício de egolatria bem sutil, uma vez que favorece a ilusão de poder a quem a pratica, forçando os outros a lhe serem servis.
3.    Trata-se de uma co-dependência enfermiça, pois só sobrevive à custa de aliciamento de terceiros.
4.    Trata-se de uma fórmula para prejudicar e isolar as pessoas que não comungam com os seus pretensos ideais.
5.    Trata-se de um método eficaz de enriquecimento rápido à custa dos parvos e manutenção de cargos privilegiados, inclusive na política.
6.    Trata-se de um grande engodo, pois apenas pequena parte do que é arrecado chega ao interessado final.

De todo modo, o altruísta é o adepto da cortesia com o chapéu alheio. Se as pessoas observarem os líderes, verão que são os que menos praticam caridade, a não ser quando é interesse de os mesmos se promoverem. Neste caso, é possível observar que a dita “caridade” não saiu diretamente do seu bolso, mas do que foi arrecadado pelos que contribuíram anteriormente. Não se espante, caro leitor, pois esta é a regra geral.

Os altruístas baseiam a sua campanha na luta contra o egoísmo. Para eles, o egoísta não é honesto. Contudo, o egoísta é sempre honesto. Ele pensa primeiro em si, sabe que não adianta despender o seu dinheiro, a sua participação, em função de um engodo. Quando o egoísta sente necessidade de ajudar alguém, ele simplesmente o faz; dificilmente, sairá depois alardeando o feito aos quatro ventos, pois tal atitude é típica do altruísta, como filantropo profissional. Ora, não há nada de errado em querer o próprio bem-estar em primeiro lugar.

Um egoísta também é apontado como criminoso. Não querer colaborar não faz do egoísta um criminoso. Faz do egoísta uma pessoa honesta para consigo mesmo, que não se deixa manipular pela falácia do altruísmo. Não há motivação alguma em ajudar os outros sem recompensa. Quem o faz costuma ter interesses escusos por detrás da capa da honradez. O fato é que o egoísta possui opinião própria, não faz o que não quer, não se deixa levar como carneiro no rebanho. Um criminoso é sempre um egoísta, mas há um fator acrescido a mais: a usurpação do alheio. O egoísta apenas gosta do que possui e o quer preservar. Na verdade, o altruísta está mais próximo de ser um criminoso, já que “força” terceiros a entregarem os seus bens para manter as suas obras de caridade. Esta é a diferença. Nisto se resume a “elegante virtude do altruísmo”. É de Francis Bacon: “Que motivo tenho para irritar-me se um homem se ama a si mesmo mais do que a mim?”

Finalmente, a mendicância é um vício, uma doença e mesmo uma opção de vida. Tanto o Estado quanto organizações não-governamentais tentam retirar os mendigos da rua, mas eles normalmente sempre voltam, pois se habituaram na própria falidez. O mesmo ocorre com quem mora em barracos, quando uma favela é removida: Chega o Município, fornece um apartamento ou casa para a pessoa, e o que acontece? Essa pessoa aluga a casa ou apartamento recebido de graça e passa a morar noutra favela, não só por causa do hábito anterior, mas porque agora possui uma renda a mais. Além disso, na favela, não pagará contas de luz, água, cotas condominiais e outras.

Então, se você não é nenhum salvador do mundo, seja pelo menos o salvador de si próprio, poupando o seu dinheiro, o seu trabalho e o seu tempo para si mesmo e para a sua família e os seus amigos, aqueles que realmente formam o seu clã.


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