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Já tratei da memória exaltada, da qual mostrei uma evidência durante a hipnose. Sendo assim, não classifico precisamente na mesma categoria o hipnotismo e o sono natural. Durante a hipnose, a inteligência fica inteiramente anormal. No caso em que o paciente fique abandonado a si mesmo, sem ser desarranjado pelas vossas sugestões, ele passará sempre do estado da hipnose para um sono profundo. Por conseguinte, podemos dizer que, se a hipnose é tirada do sono, ela pode voltar a ele.
Cura durante o sono natural. -Assim como a hipnose é desenvolvida no sono artificial, assim também pode ser derivada do sono natural. Muitas curas são diariamente feitas na América por pais que estudaram os princípios da cura e, durante o sono dos filhos, falando-lhes e obtendo respostas, têm conseguido corrigir.lhes os maus hábitos, faze-los progredir nos seus estudos e melhorar-lhes a saúde. O ponto capital desse tratamento é que os pais ou o operador devem prender a atenção do dormente. O assunto foi, pela primeira vez, inteiramente revelado ao público num tratadinho que escrevi em Junho de 1897, intitulado: “A educação durante o sono”, e apresentei exemplos de curas que eu pudera obter deste modo, moléstias tais como a gagueira, a enuresia, a coréia, o estado nervoso, o medo e os maus hábitos, doenças que facilmente cederam ao gênero de tratamento. Lembrai-vos do que vos foi dito na lição precedente acêrca do poder que reside no espírito semiconsciente, e podeis desde logo inteirar-vos da filosofia deste sistema.
O método reproduzido na França. -Cerca de um ano depois que publiquei esta descoberta,
o doutor Paul Farez fez aparecer na “Revista de Hipnotismo”, de Paris, uma série de artigos perfilhando a minha teoria e os seus resultados. Quase todos os fisiologistas são acordes, agora, em dizer que a influência educadora e moral pode ser gravada desta maneira no espírito dos dormentes. O método a seguir é sempre o mesmo, e não é necessário pormenoriza-lo. Mostramo-vos, nas lições precedentes como devem ser ministradas as sugestões positivas. Suponhamos, pois, que é sempre fácil ensinar por imagens, que ten-des um filho que possui o sestro de gaguejar, sestro que é mais facilmente apanhado pelas crianças, ao imitarem seus companheiros. A fim de tratardes com bons resultados esse hábito, deveis dizer ao menino: -“Hei de vir ver-vos esta noite, quando estiverdes dormindo profundamente, e vos falarei. Não ficareis surpreendido de ouvir-me falar-vos e não carecereis de acordar-vos, mas tendes que me responder quando eu vos falar”. Método para dar sugestões durante o sono. -Depois de haverdes dado todo o tempo necessário para deitar-se, ireis procura-lo e, deitando-vos a seu lado, acariciar-lhe-eis a fronte, a fim de instruí-lo da vossa presença, sem, entretanto, desarranjá-lo do seu sono a ponto de acordá-lo. Naturalmente, o menor barulho o despertaria e, para desenvolver este tratamento, ser-vos-ia, então, necessário usar do mesmo processo que na hipnotização do paciente. Dir-lhe-eis, pois, que tudo vai bem, que deve fechar os olhos imediatamente e que se ponha de novo a dormir. Fazei estas sugestões com toda a ênfase, cujo efeito é entorpecê-lo, preparando-o para o sono; adormecerá logo profundamente e não se despertará, quando lhe falardes. Não há muita probabilidade de que ele se acorde, se souberrdes conduzir a experiência. Deveis dar provas de uma paciência muito grande, a fim de captar-lhe, lenta e gradualmente, toda a atenção. Não deveis apressar-vos em levantar a voz. Falai em tom muito lento e bem claro, mas sem precipitação.
Processo para ministrar sugestões calmantes. -Dizei tranqüilamente: “Estais dormindo profundamente e não podeis acordar-vos; estais-me ouvindo a voz; nada do que eu vos disse vos perturbará durante o sono. Quando eu vos falar, podeis responder-me. Senti-vos bem?” Não vos responderá, muito provavelmente, desde logo. Importa que o acostumeis a responder-vos sem acordar-se; continuareis, pois, a acariciar-lhes levemente a fronte, atraindo-vos toda a sua atenção. Ponde-lhe de leve um dedo sobre a boca e dizei: “Quando eu vos tocar a boca, podereis falar; podeis dizer sim”. A criança moverá, geralmente, os lábios e fará menção de articular um som, mas não ouvireis nenhum. Ao verdes esse movimento dos lábios podeis repetir a sugestão e afirmar-lhe, positivamente, que na noite seguinte poderá falar-vos com toda a facilidade.
Cura da gagueira. -Ocupai-vos, então, em dar-lhes as sugestões necessárias à cura da gagueira, como as seguintes: “Vereis amanhã que vos será facílimo falar sem nenhuma hesitação na vossa conversação. Falareis tão bem, tão corretamente, tão claramente como eu. Não gaguejareis nem hesitareis na vossa conversação”. Repeti-lhe estas sugestões uma vez maia, fazendo.as muito enfáticas e positivas; deixai.o, então. Provavelmente, na manhã do dia seguinte, não terá nenhuma lembrança do que lhe dissestes, mas percebereis uma sensível melhora na sua pronunciação e pode acontecer que, no correr do dia, as vossas sugestões lhe voltem ao espírito pela sua memória semiconsciente e ele seguirá, então, o que lhe dizeis e de que modo lhe dissestes. Pode acontecer, também, que não se lembre de nada do que se passou. Tudo depende, principalmente da profundeza do sono induzido. O processo torna-se mais fácil com a prática. -Na noite seguinte e nas subseqüentes, notareis que achais menos dificuldade em obter uma resposta dêle.
Uma experiência de sonambulismo passivo. -Se desejais tentar uma experiência para vos convencer da influência que um espírito pode exercer sobre outro durante o sono natural podeis dar a forma que vos aprouver ao sonho do dormente” Podereis sugerir ao menino que ele é soldado e se acha à frente das suas tropas e, no seu sonho, ele passará por todas as cenas empolgantes de um campo de batalha. Podeis sugerir-lhe que, ao despertar, se lembre de luta e de tudo o que é concernente ao inimigo e, em realidade, tudo o que lhe sugeristes que podia realizar-se, e de manhã ele vos contará a sua visão pormenorisadamente. Não se lembrará, porém, de que fostes vós que lhe sugeristes tudo isso, e acreditará que foi ele mesmo quem desenvolveu casa visão. Da mesma forma que apresentastes à sua imaginação o escuculo horrível de um campo de batalha, podeis sugerir-lhe e impressionar o seu espírito com visões de descanso ameno e salutar. A lei da receptividade do espírito semiconsciente é irrefutável. Ela segue dois caminhos. Ela pode também ser empregada para o mal como para o bem: não deveis, por conseguinte, visar senão a emprega-1a com as melhores intenções.
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