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15 – P
Samael – Auxiliator
Entramos na magia negra. Vamos afrontar, até no seu santuário, o deus negro do Sabbat , o bode formidável de Mendes. Aqui, os que têm medo devem fechar o livro, e as pessoas sujeitas às impressões nervosas farão bem em distrair- se ou abster- se; mas nós nos impusemos uma tarefa e havemos de acabá – la.
Penetremos franca e ousadamente na questão: – Existe um diabo? – Que é o diabo?
À primeira pergunta, a ciência cala – se; a filosofia nega ao acaso, e só a religião responde afirmativamente.
À segunda, a religião diz que o diabo é o anjo caído; a filosofia oculta aceita e explica esta definição.
Não voltaremos a tratar do que já dissemos sobre isto, mas acrescentaremos aqui uma revelação nova:
O diabo, em magia negra, é o grande agente mágico empregado para o mal por uma vontade perversa.
A antiga serpente da lenda nada mais é do que o agente universal, é o fogo eterno da vida terrestre, é a alma da terra, e o fogo vivo do inferno.
Dissemos que a luz astral é o receptáculo das formas. Evocadas pela razão, estas formas se produzem com harmonia; evocadas pela loucura, elas vêm desordenadas e monstruosas: tal é o berço dos pesadelos de Santo Antonio e dos fantasmas do Sabbat .
As evocações de goecia e demonomancia têm, pois, um resultado incontestável e mais terrível do que os que podem contar as lendas:
Quando uma pessoa chama o diabo com as cerimônias consagradas, o diabo vem e ela o vê.
Para não morrer fulminado a esta vista, para não ficar cataléptico ou idiota, é preciso já ser louco.
Grandier era libertino por indevoção e, talvez, já por ceticismo; Girard foi depravado e depravador por entusiasmo, como conseqüência dos desvios do ascetismo e da cegueira da fé.
Daremos, no décimo quinto capítulo do nosso Ritual, todas as evocações diabólicas e as práticas da magia negra, não para que os leitores se sirvam dela, mas para que a conheçam, a julguem e se preservem para sempre de semelhantes aberrações.
O senhor Eudes que Mirville, cujo livro sobre as mesas giratórias fez ultimamente muito sucesso, pode ficar, ao mesmo tempo, contente e descontente da solução que aqui damos aos problemas da magia negra. Com efeito, sustentamos, como ele, a realidade e a maravilha dos efeitos; nós, como ele, as damos por causa da antiga serpente, o príncipe oculto deste mundo; mas não estamos de acordo sobre a natureza deste agente cego, que é, ao mesmo tempo, mas sob direções diferentes, o instrumento de todo bem e de todo mal, o servidor dos profetas e o inspirador das pitonisas. Numa palavra, o diabo, para nós, é a força posta, por um tempo, ao serviço do erro, como o pecado mortal é, a nosso ver, a persistência da vontade no absurdo. Logo, o senhor De Mirville tem mil vezes razão, mas uma vez – e uma grande vez – não tem razão.
O que se deve excluir do reino dos seres é o arbitrário. Nada acontece nem pelo acaso nem pela autocracia de uma vontade boa ou má. Há duas câmaras no céu, e o tribunal de Satã é contido nos seus desvios pelo senado da sabedoria divina.
Eliphas Levi – Dogma e Ritual da Alta Magia
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