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A Forma-Deus – A Árvore da Vida (13 de 19)

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Um dos mais potentes auxiliares da invocação e um elemento essencial ao sucesso de toda operação mágica é o assumir astral da forma ou máscara pela qual um deus passou a ser conhecido convencionalmente e é retratado pictoricamente. O sr. François J. Chabas no seu livro, agora esgotado, Le Papyrus Magique Harris, apresenta uma informação muito significativa que dificilmente pode ser encontrada alhures sob forma definida, a saber, que a mais poderosa fórmula mágica conhecida dos sacerdotes das castas do antigo Egito era a identificação do executante do ritual em imaginação com a divindade que ele estava invocando .

Jâmblico afirma que “o sacerdote que invoca é um homem, mas quando ele comanda o poder é porque através de símbolos arcanos ele, num certo aspecto, é investido das formas sagradas dos deuses”. Se a frase “num certo aspecto” indica a fórmula na iminência de ser considerada é um problema que pode ser deixado em aberto, embora possa bem ser o assumir da forma divina ao que ele esteja se referindo. Esparso aqui e ali ao longo do Livro dos Mortos em alguns dos rituais e hinos aos deuses apura-se que o escriba do livro se identifica com eles. Há numerosos exemplos de versículos em separado que confirmam essa crença. “Eu me uni aos macacos divinos que cantam na aurora e eu sou um ser divino entre eles.” No capítulo 100 o versículo “Fiz de mim um contraparte da deusa Ísis e o poder dela (khu) tornou-se forte” pareceria definitivamente apoiar essa tese, que ganha confirmação adicional a partir de outras fontes, segundo as quais o assumir da forma divina constitui um dos mais importantes fatores a serem observados na magia egípcia .

Recordando tudo que foi postulado relativamente à natureza plástica e magnética da luz astral, tanto em seu aspecto inferior quanto superior, e a potencialidade criativa da imaginação treinada, bem como a observação feita por Lévi referindo-se ao corpo astral de que “ele pode assumir todas as formas evocadas pelo pensamento”, o aprendiz deverá dedicar-se ao estudo das formas convencionais como os deuses são retratados. Eu me estendi um pouco num capítulo anterior na descrição sumária das formas e algumas características filosóficas dos deuses mais importantes ligados à Árvore da Vida a fim de simplificar as exigências do leitor em geral. A experiência tem demonstrado aos teurgos ocidentais que as representações pictóricas dos deuses egípcios são perfeitas para o objetivo dessa prática em particular – mais do que as da Índia – e encerram em si mesmas um sistema de simbolismo sumamente maravilhoso e recôndito. As formas desses poderes universais e essências inteligentes cósmicas, que as castas sacerdotais do Egito chamavam de deuses, permaneciam cada uma completa por trás de uma máscara humana ou animal, todo atributo sendo simbolizado por algum emblema ou ornamento artístico. A divindade de um deus era simbolizada pelo tipo e os emblemas, a cobertura de cabeça como a serpente Uraeus ou o disco do sol nascente, ou as plumas duplas da Verdade, divina e mundana. Havia a representação de poderes pelo bastão da íbis, o cetro ou a Ankh segura na mão do deus. E ainda outros símbolos portados pelo deus eram sugestivos de sua capacidade de proporcionar ressurreição ou renascimento, autoridade e poder, êxtase ou estabilidade, ou representativos de algum modo de função particular na economia cósmica. A forma convencional do deus resume assim de uma maneira espantosa um vasto agregado de idéias, lendas e mitos, sintetizando ao mesmo tempo forças especiais da natureza ou, talvez, poderes inconscientes na constituição espiritual do homem .

À guisa de exemplo do procedimento a ser seguido para a aplicação dessa hipótese, suponhamos de momento que a tarefa que temos é a invocação e a identificação da consciência humana com a divindade, ou aspecto da vida cósmica, conhecida como Ra – a divindade que habita o sol. Inicialmente, o mago se ocupará da incumbência de descobrir tudo o que for possível sobre a natureza do deus. As lendas que se desenvolveram em torno do caráter do deus devem ser minuciosamente analisadas porquanto é notório que nas lendas e mitos fantásticos de outrora muito conhecimento espiritual e sabedoria estão encerrados. Além disso, a lenda vinculada a um deus específico indicará aspectos da natureza e o temperamento ideal da divindade, sugerindo também vários poderes na personalidade divina sobre os quais o aprendiz jamais suspeitara antes .

O perigo da magia, ao menos um dos mais sérios, é uma ocupação imprudente de uma certa parte da técnica teúrgica, uma compreensão real dos processos executados e dos princípios filosóficos da prática. Que o aprendiz, portanto, atinja uma compreensão mais ou menos completa, na medida do possível, do que ele está desejoso de se tornar, de qual força ou poder espiritual ele deseja invocar; e então, estando certo e mentalmente bem informado, que prossiga. Um tal trabalho informativo como The Gods of the Egyptians, de Sir E. A .

Wallis Budge, antigo zelador das Antigüidades egípcias do Museu Britânico, será marcantemente útil. A partir das lâminas em autotipia aí existentes e das lâminas coloridas no livro mencionado ele deverá familiarizar-se com a configuração e a forma do deus, as posturas nas quais o deus é comumente retratado, os gestos costumeiramente empregados e as cores utilizadas na tradução artística. Esta leitura pode também ser suplementada por uma visita às galerias egípcias do Museu Britânico ou qualquer outro. O leitor será, posso garantir, bem recompensado .

Com todos esses fatos na memória, o aprendizprocederá à fase mais difícil do trabalho, a qual consiste da aplicação da imaginação e da vontade, treinadas por suas prévias práticas .

Em seu trabalho – não necessariamente cerimonial – ele deverá se empenhar em construir diante do olho de sua mente uma perfeita imagem ou máscara do deus. A forma tem que se projetar ousada e claramente na visão da imaginação, gigantesca, resplendente e irradiando a luz do sol espiritual, do qual Ra é o símbolo esotérico convencional. Ele perceberá que o deus porta um bastão com cabeça de íbis na mão esquerda, sendo a íbis o símbolo da sabedoria e da vontade divina; na sua mão direita é sustentado o Ankh, símbolo de luz e vida as quais o sol, por dias e anos, através de séculos incontáveis, concede livremente a toda a espécie humana e a todas as suas criaturas na Terra. Sobre sua cabeça, fazendo as vezes de uma coroa, está um halo, uma auréola dourada de inimitável esplendor, confrontada por uma serpente Uraeus insuspensa, o símbolo do fogo espiritual interior. Retratada como um falcão cuja cabeça é cor de laranja, a nêmise do deus desce do azul escuro da coroa, quase preto, no matiz a cor do símbolo Tattva do espírito; e a pele do deus é flamejante como o fogo do sol do meio-dia .

Esses detalhes devem então ser aplicados ao simulacro retido firmemente na mente até que sejam vistos diante da alma viva como uma imagem dinâmica de Ra, uma imagem na qual não resida qualquer traço de imperfeição. É uma tremenda tarefa de imaginação criadora, e árdua .

Mas dia após dia tem que ser continuada com ardor e devoção até a tarefa sagrada ser consumada e, completo e fulgurante o deus se mostra, um deus em verdade para seu devoto .

Com essa imagem mantida firmemente na luz astral, o teurgo deve se empenhar para envolver sua própria forma com o abrigo do deus e em seguida unir-se à forma que o encobre. Segundo afirmação de Lévi já citada anteriormente, o corpo astral assumirá a forma de qualquer pensamento poderoso que a mente evocar. Essa efígie astral do deus, anteriormente apenas uma imagem externa ao corpo do teurgo, deve agora ser organizada como uma figura divina em torno de sua própria forma astral até que coincidam seu próprio corpo de luz sendo alterado e transmutado no corpo do deus. Somente quando o teurgo realmente sentir o formidável influxo de poder espiritual, a aquisição da força e energia solares e iluminação espiritual, somente quando ele souber na intuição do transe deífico que a identificação foi concretizada, estará a tarefa de criação completa. “As imagens dos deuses”, escreve Jâmblico, o divino teurgo, “são repletas de luz fúlgida…” e “o fogo dos deuses, realmente, fulgura com uma luz indivisível e inefável, preenchendo todas as profundezas do mundo” de uma maneira celestial empireana .

Relativamente ao teurgo ou rei-sacerdote do Egito que executara essa excelente combinação das essências com a glória do deus do sol, há uma descrição sob a forma de uma alocução citada por G. Maspero, o egiptólogo, mostrando o poder do espírito que se consagrou pelo voto como resultado da identificação. A alocução é a seguinte: “Tu te assemelhas a Ra em tudo o que fazes. Portanto os desejos de teu coração são sempre satisfeitos. Se desejares uma coisa durante a noite, na aurora ela já estará disponível. Se disseres ‘Subam às montanhas’ as águas celestiais fluirão pela tua palavra. Pois tu és Ra encarnado, e Kephra criado na carne. Tu és a imagem viva de teu pai Temu, Senhor da cidade do sol. O deus que comanda está em tua boca e um deus senta-se sobre teus lábios. Tuas palavras são cumpridas todas os dias e o desejo de teu coração realiza a si mesmo como o de Ptah quando ele cria suas obras” .

Simultaneamente ao processo de unificação com o corpo do deus se revelará como de grande ajuda a recitação de uma invocação, um peã lírico ou ditirambo entoando louvores ao deus, delineando a natureza e as qualidades espirituais do deus no discurso. Se o aprendiz tiver habilidade no escrever não enfrentará grande dificuldade. Por outro lado, uma tal litania poderia muito facilmente ser construída a partir dos hinos órficos, ou da coletânea de textos líricos incluídos no Livro dos Mortos, o qual está repleto de alguns dos melhores exemplos de rituais existentes. Em suma, a invocação do deus deve ser expressa numa linguagem que tenda a produzir júbilo mental e êxtase. A seguir transcrevemos um exemplo, adaptado do Livro dos Mortos, de um tal ritual, embora não seja aqui dado como exemplo para ser rígida e servilmente imitado, mas apenas como sugestão e talvez ajuda ao aprendiz sincero .

“Homenagem a ti, ó Ra, no teu formoso nascer. Tu nasces, tu brilhas na aurora. A companhia dos imortais te louva ao nascer e ao pôr-do-sol, quando à medida que teu barco matutino se encontra com teu barco do anoitecer sob ventos propícios, tu velejas sobre as alturas do céu com um coração jubiloso. Ó tu uno, ó tu perfeito, ó tu que és eterno, que jamais és fraco, que nenhum poder é capaz de rebaixar, ó tu esplendor do sol do meio-dia, sobre as coisas que pertencem à tua esfera nenhum possui em absoluto qualquer domínio. E assim a ti presto homenagem. Todos salvem Hórus! Todos salvem Tum! Todos salvem Kephra! Tu grande falcão, que por teu rosto formoso produzes o regozijo para todos os homens, tu renovas tua juventude e com efeito pões a ti mesmo no lugar de ontem. Ó, jovem divino, autocriado, auto-ungido, tu és o Senhor do Céu e da terra, e criaste seres celestiais e seres terrestres. Ó tu, herdeiro da eternidade, regente perpétuo, auto-sustentado, quando tu nasces teus raios benevolentes estão sobre todos os rostos e moram em todos os corações. Vive tu em mim, e eu em ti, ó tu, falcão dourado do sol!” Com a recitação de cada ponto da invocação, proferido com entonação e intento mágicos, obtém-se em pensamento uma intensa compreensão da significação das palavras. À medida que o teurgo brada “Tu brilhas na aurora”, a forma astral do deus deve ser vista e realmente sentida com os sentidos emitindo uma refulgência diante da qual o mais claro brilho do sol do meio-dia pareceria trevas, uma luz tão nítida e aguda, e rica de brilho e glória dourada que sua essência inundaria com grande sutileza o coração, a mente e a alma. E quando o mago profere “Vive tu em mim, e eu em ti, ó, falcão dourado do sol”, o processo da identificação com a forma astral deve ser realizado e compreendido o mais vividamente possível. Enquanto o mago não for capaz de efetuar perfeitamente o trabalho criativo da imaginação, todos os esforços só poderão ser classificados simplesmente como prática. O teurgo saberá que seus esforços foram coroados pelo êxito mediante sinais infalíveis dentro de sua própria consciência e a aceleração de uma vida nova. Nele e em sua alma o deus buscará sua eterna morada. No interior do coração haverá um santuário e uma habitação serena de uma força espiritual tremenda, uma consciência divina que nele viverá duradouramente, transformando o filho da terra em um verdadeiro filho do sol eterno. “Pois como as trevas não estão adaptadas para a sustentação do esplendor da resplandecente luz do sol, tornando-se de súbito totalmente invisíveis, retrocedendo por completo e imediatamente desaparecendo, assim também quando o poder dos deuses, que acumula todas as coisas de bem, brilha copiosamente, nenhum lugar é abandonado ao tumulto dos espíritos malignos*.” * Os Mistérios, Jâmblico .

Assim ensinaram os magos da Antigüidade. Os esforços modernos confirmam reiteradamente seus ensinamentos e experimentos. Dessa maneira, expandindo a si mesmo a uma grandeza incomensurável unindo-se à grandeza dos deuses, o teurgo salta como o bode montês além de todas as formas para idéias e essências que residem no cume da manifestação, e transcendendo o tempo se torna eternidade e infinidade. Assim, “a partir da súplica somos em breve conduzidos ao objeto da súplica, adquirimos sua semelhança a partir da conversação íntima e gradualmente obtemos perfeição divina, em lugar de nossa própria imbecilidade e imperfeição**. O teurgo se tornará mais elevado que a altura nessa perfeição, mais profundo na força de seu fundamento do que as profundidades mais baixas, uma parte integral da criação universal de imediato não gerada, jovem, velha, auto-existente e imortal. Aquilo que outrora era grosseiro se torna despido de toda sua trivialidade sensual para assumir uma beleza fascinante, apaixonadamente seleta, como se furtada do espírito. Dentro de si faculdades espirituais latentes e que desabrocham serão sentidas e a débil memória da experiência ganha ao longo do tempo desde muito pretérita e morta, gradativamente surgirá para iluminar a mente e pulsar novamente no coração, expandindo o horizonte da consciência. E assim hoje seus pés pisam aquele lugar que ontem, quando contemplava a augusta natureza do trabalho, seu olho mal podia ver. Além dele, no invisível, estará seu sítio de repouso do dia seguinte. E ele será como diante do próprio Ra, um sol de luz, brilho e alimento celestial para todos aqueles com os quais ele entra em contato cotidiano. Sobre o pequeno bem como sobre o grande, sobre o elevado bem como sobre o baixo, não menos sobre o pobre do que sobre o rico seu auxílio descerá, mesmo além dos limites extremos do espaço .

** Os Mistérios, Jâmblico .


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