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Por Srila Prabhupada.
Nos dias atuais, em que os homens tentam ir à Lua, as pessoas não devem pensar que a consciência de Krishna está relacionada com algo fora de moda. Enquanto o mundo progride para alcançar a Lua, nós cantamos Hare Krishna. Mas as pessoas não devem compreender mal e supor que estamos ficando para trás do avanço científico moderno. Já passamos por todo o avanço científico. No Bhagavad-gita se diz que a tentativa feita pelo homem de alcançar planetas superiores não é algo novo. Nas manchetes dos jornais se lê “Primeiros Passos do Homem na Lua”, mas os repórteres não sabem que milhões e milhões de homens já foram ali e voltaram. Esta não é a primeira vez. Esta prática é antiga. No Bhagavad-gita se afirma claramente que abrahma-bhuvanal lokah punar avartino ‘rjuna: “Meu querido Arjuna, mesmo que você vá ao sistema planetário mais elevado, que se chama Brahmaloka, você terá que voltar”. Por conseguinte, a viagem interplanetária não é algo novo: é conhecida dos devotos conscientes de Krishna.
Há catorze categorias de sistemas planetários dentro deste Universo, sendo que o Sol é o planeta principal. O Sol é descrito no Brahma-samhita (5.52):
yac-caksur esa savita sakala-grahanam
raja samasta-sura-murtir asesa-tejah
yasyajaaya bhramati sambhrta-kala-cakro
govindam adi-purusam tam aham bhajami
“Eu adoro Govinda (Krishna), o Senhor primordial, por cuja ordem o Sol assume um poder e um calor imensos e atravessa sua órbita. O Sol, que é o principal entre todos os sistemas planetários, é o olho do Senhor Supremo.” Na realidade, não podemos ver sem o sol. Podemos ter muito orgulho de nossos olhos, mas não podemos nem sequer ver nosso vizinho pegado. As pessoas desafiam: “Você pode me mostrar Deus?” Mas o que é que elas podem ver? Que valor têm seus olhos? Deus não é uma coisa barata. Sem o brilho do Sol, não podemos ver nada, isto para não falar de Deus. Sem o brilho do Sol somos cegos. À noite não podemos ver nada e desse modo usamos a eletricidade porque o sol não está presente.
Não existe apenas um sol no Universo, senão que existem milhões de trilhões de sóis. Isto também está declarado no Brahma-samhita (5.40):
yasya prabha prabhavato jagandanda koti-
kotisv asesa-vasudhadi-vibhuti-bhinnam
tad brahma niskalam anantam asesa-bhutam
govindam adi-purusam tam aham bhajami
A refulgência corpórea espiritual da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, chama-se o brahmajyoti, e nesse brahmajyoti existem inumeráveis planetas. Da mesma forma que dentro do brilho do Sol existem inumeráveis planetas, na refulgência brilhante do corpo de Krishna existem inumeráveis planetas. Temos conhecimento de muitos universos, sendo que em cada universo há um sol. De forma que há milhões e bilhões de universos e milhões e bilhões de sóis e luas e planetas. Mas Krishna diz que se uma pessoa tentar ir a um desses planetas, ela simplesmente desperdiçará seu tempo.
Agora que alguém foi à Lua, que ganhará a sociedade humana com isto? Se, depois de gastar tanto dinheiro, tanta energia e dez anos de esforço, vai-se à Lua e apenas se toca nela, qual é o benefício que se obtém com isso? Uma pessoa pode ficar ali e convidar seus amigos, mas mesmo que ela vá e permaneça ali, qual será o benefício? Enquanto estivermos neste mundo material, quer neste planeta, quer em outros planetas, as mesmas misérias — nascimento, morte, velhice e doença — nos acompanharão. Não podemos nos libertar delas.
Se fôssemos viver na Lua — supondo que isto seja possível — mesmo que com uma máscara de oxigênio, quanto tempo poderíamos permanecer ali? Além disso, mesmo que tivéssemos a oportunidade de permanecer ali, que ganharíamos? Talvez conseguíssemos uma vida um pouco mais longa, mas não poderíamos viver ali para sempre. Isto é impossível. E o que ganharíamos se vivêssemos mais? Por acaso as árvores não vivem por muitos e muitos anos? Perto de São Francisco vi uma floresta onde há uma árvore que tem 7.000 anos de idade. Mas qual é o benefício? Se uma pessoa tem orgulho de permanecer em pé num lugar só durante 7.000 anos, isto não conta a favor dela.
Como uma pessoa vai até a Lua, como ela regressa, etc., é uma longa história, e tudo isto é descrito na literatura védica. Não é um processo muito recente. Mas o objetivo de nossa sociedade da consciência de Krishna é diferente. Nós não estamos a fim de desperdiçar nosso tempo precioso. Krishna diz: “Não desperdicem seu tempo, tentando ir a este planeta ou àquele planeta. Que ganharão vocês? Suas misérias materiais hão de
acompanhá-los aonde quer que vocês forem.” Por isso, no Caitanya-caritamrta o autor diz muito bem:
keha pape, keha punye kare visaya bhoga
bhakti-gandha nahi, yate yaya bhava-roga
“Neste mundo material há alguém desfrutando e alguém que não está desfrutando, mas na realidade todos estão sofrendo, embora algumas pessoas pensem que estão desfrutando, ao passo que outras compreendem que estão sofrendo”. Na realidade, todos estão sofrendo. Quem é que neste mundo material não sofre de doenças? Quem é que não sofre de velhice? Quem é que não morre? Ninguém quer envelhecer nem sofrer de doenças, mas todos têm que fazê-lo. Onde, então, está o prazer? Este prazer é completamente disparatado porque neste mundo material não existe prazer. Não passa de nossa imaginação. Não devemos pensar: “Isto é prazer e isto é sofrimento”. Tudo é sofrimento! Por isso, no Caitanya-caritamrta se declara: “Os princípios de comer, dormir, acasalar-se e defender-se sempre hão de existir, só que existirão em padrões diferentes”. Por exemplo: os americanos nasceram nos Estados Unidos como resultado de atividades piedosas que executaram em vidas anteriores. Na Índia, as pessoas são muito pobres e estão sofrendo, mas embora os americanos estejam comendo um ótimo pão com manteiga, ao passo que os indianos o comem sem manteiga, tanto estes como aqueles estão não obstante comendo. O fato de que a Índia está na miséria não fez com que toda a população morresse por falta de alimento. As quatro exigências corpóreas principais — comer, dormir, acasalar-se e defender-se — podem ser satisfeitas em quaisquer circunstâncias, quer tenhamos nascido numa condição ímpia, quer numa condição piedosa. O problema, entretanto, é como livrar-se destes quatro princípios: nascimento, morte, velhice e doença.
Este é que é o verdadeiro problema. Não é “o que vou comer?” As aves e as bestas não têm problemas dessa espécie. Pela manhã as aves cantam imediatamente: “pio! pio! pio!” Elas sabem que terão o que comer. Ninguém morre, e esta coisa chamada superpopulação não existe, porque o arranjo de Deus provê as necessidades de todos. Existem diferenças qualitativas, mas a finalidade da vida não é obter um gozo material de qualidade superior. O problema verdadeiro é como livrar-se do nascimento, da morte, da velhice e da doença. Não é simplesmente desperdiçando tempo a viajar dentro deste Universo que se pode resolver isto. Mesmo indo ao planeta mais elevado, este problema não poderá ser resolvido, pois a morte existe em toda a parte.
Segundo a informação védica, a duração de vida na Lua é de 10.000 anos, sendo que um dia ali equivale a seis meses daqui. Deste modo, 10.000 multiplicados por 150 anos vem a ser a duração de vida na Lua. Entretanto, é impossível que os homens da Terra vão à lua e vivam ali por muito tempo. De outro modo, toda a literatura védica seria falsa. Podemos tentar ir até lá, mas não é possível viver ali. Este conhecimento encontramos nos Vedas. Por isso, não estamos muito ansiosos por ir a este planeta ou àquele planeta. Estamos muito ansiosos por ir diretamente ao planeta onde Krishna vive. Krishna declara no Bhagavad-gita (9.25):
yanti deva-vrata devan / pitin yanti pitr-vratah
bhutani yanti bhutejya / yanti mad-yajino ‘pi mam
“Pode-se ir à Lua, ou pode-se mesmo ir ao Sol ou a milhões e trilhões de outros planetas; ou, se uma pessoa é demasiado apegada materialmente, ela pode permanecer aqui — mas aqueles que são Meus devotos virão a Mim”. Este é o nosso objetivo. A iniciação na consciência de Krishna garante ao discípulo que ele poderá ir por fim ao planeta supremo, Krishnaloka. Não estamos trabalhando futilmente; também estamos tentando ir a outros planetas, só que não estamos meramente desperdiçando tempo.
Uma pessoa sensata e inteligente não deseja ingressar em nenhum dos planetas materiais porque em todos eles existem as quatro condições de misérias materiais. Com o Bhagavad-gita podemos compreender que mesmo que ingressemos em Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado deste universo, os quatro princípios de miséria estarão presentes. Aprendemos com o Bhagavad-gita que a duração de um dia em Brahmaloka equivale a milhões de anos de nosso cálculo. Isto é um fato.
Pode ser que a duração de vida em determinados planetas materiais seja muito longa, mas todas as entidades vivas do Universo material estão eventualmente sujeitas à aniquilação e têm que desenvolver outros corpos novamente. Existem diferentes tipos de corpos. Um corpo humano existe durante 100 anos, ao passo que um corpo de inseto pode existir por 12 anos. De modo que a duração destes diferentes corpos é relativa. Entretanto, se uma pessoa entra no planeta chamado Vaikunthaloka, o planeta espiritual, então ela alcança a vida eterna, plena de bem-aventurança e conhecimento. Se um ser humano tentar, ele poderá alcançar esta perfeição. Isto o Senhor declara no Bhagavad-gita, quando diz: “Qualquer pessoa que tenha
conhecimento de fato a respeito da Suprema Personalidade de Deus pode atingir Minha natureza”.
Muitas pessoas afirmam: “Deus é grande”, mas esta expressão é uma expressão vulgar. É preciso que saibamos como Ele é grande, e podemos saber disso através de uma escritura autorizada. No Bhagavad-gita Deus Se descreve. Ele diz: “Quando Eu apareço, nascendo tal qual um ser humano comum, isso é na realidade transcendental”. Deus é tão bondoso que aparece diante de nós como um ser humano comum, mas Seu corpo não é exatamente como um corpo humano. Esses patifes que não sabem nada a respeito de Krishna julgam que Krishna é como um de nós. Isso também está declarado no Bhagavad-gita (9.11): “Os tolos Me ridicularizam quando Eu desço na forma humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental e Meu domínio supremo sobre tudo o que existe”. É possível que fiquemos sabendo sobre Krishna, contanto que leiamos a literatura correta sob a orientação correta. Se simplesmente soubermos qual é a natureza de Deus, então, por compreendermos este único fato, nos libertaremos. Em nossa condição humana, não é possível que compreendamos a Suprema Personalidade de Deus Absoluta completamente, mas com a ajuda do Bhagavad-gita e do mestre espiritual, poderemos conhecê-lO tanto quanto permitir nossa capacidade. Se pudermos conhecê-lO realmente, então, imediatamente após deixarmos este corpo, poderemos ingressar no planeta de Deus.
O objetivo de nosso movimento da consciência de Krishna é propagar esta avançada idéia científica às pessoas em geral, e o processo é muito simples. Pelo simples fato de cantar os santos nomes de Deus — Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare R€ma, Hare R€ma, R€ma R€ma, Hare Hare — a pessoa limpa a poeira de seu coração e consegue compreender que é parte integrante do Senhor Supremo e que é seu dever servi-lO. Este processo é muito agradável: cantamos o mantra Hare Krishna, dançamos ritmicamente e comemos prasada gostosa. Enquanto gozamos desta vida, preparamo-nos para entrar no reino de Deus em nossa próxima vida. Isto não é uma invenção — tudo isto é real. Embora pareça uma invenção aos olhos de um leigo, Krishna Se revela no íntimo de uma pessoa que leva o conhecimento sobre Deus a sério. Tanto Krishna quanto o mestre espiritual ajudam a alma sincera. O mestre espiritual é a manifestação externa de Deus, o qual está situado no coração de todos como a Superalma. Para aquele que leva muito a sério a compreensão da Suprema Personalidade de Deus, a Superalma presta auxílio, dirigindo-o a um mestre espiritual autêntico. Dessa maneira, o candidato espiritual recebe auxílio interna e externamente.
Este movimento da consciência de Krishna está destinado ao objetivo de se compreender Deus. O mestre espiritual é o representante vivo de Krishna que ajuda externamente, e Krishna como a Superalma ajuda internamente. A entidade viva pode tirar proveito de tal orientação e tornar sua vida bem sucedida. Pedimos que todos leiam nossos livros para que compreendam este movimento. Nossa missão é salvar a sociedade humana dos perigos imprevistos de ter que encarnar novamente no ciclo de nascimentos e mortes.
Todos devem tentar ir ter com Krishna. Publicamos um artigo em nossa revista De Volta ao Supremo intitulado “Além do Universo”. Este artigo descreve um lugar além deste Universo de acordo com o conhecimento que está no Bhagavad-gita. O Bhagavad-gita é um livro muito popular, do qual há muitas edições na América e também muitas na Índia. Contudo, infelizmente muito patifes têm vindo ao Ocidente para pregar o Bhagavad-gita. Nós os designamos como patifes porque eles são enganadores que não dão a verdadeira informação. Em nosso Bhagavad-gita Como Ele É, entretanto, a natureza espiritual é descrita autorizadamente.
Esta manifestação cósmica chama-se natureza, porém há uma outra natureza, a qual é superior. A manifestação cósmica é natureza inferior, mas além desta natureza, que é manifesta e imanifesta, há uma outra natureza que se chama sanatana, eterna. É fácil compreender que tudo que se manifesta aqui é temporário. O exemplo óbvio disto é o nosso corpo. Uma pessoa que tem trinta anos de idade não tinha seu corpo manifesto há trinta anos, e dentro de outros cinqüenta anos seu corpo será novamente imanifesto. Esta é uma lei concreta da natureza. Ela se manifesta e é aniquilada outra vez, assim como as ondas que surgem no mar freqüentemente e depois se afastam. No entanto, o materialista só se importa com esta vida mortal, que pode acabar a qualquer momento. Além disso, da mesma forma que este corpo há de morrer, assim também todo o Universo, este gigantesco corpo material, será aniquilado, e quer sejamos afortunados ou desafortunados, neste planeta ou em outro planeta, tudo acabará. Por que então desperdiçarmos nosso tempo, tentando ir a um planeta onde tudo acabará? Devemos tentar ir a Krishnaloka. Isto é ciência espiritual; devemos tentar compreendê-la, e, após compreendê-la nós mesmos, devemos pregar esta mensagem a todo o mundo. Todos estão na escuridão. Apesar de não terem conhecimento algum, as pessoas são muito orgulhosas. Mas ir à Lua após dez anos de esforços e pegar uma pedra e retornar, não é avanço de conhecimento. Os viajantes do espaço estão muito orgulhosos: “Oh! eu toquei nela!” Mas o que é que eles conseguiram? Mesmo que fôssemos capazes de viver ali, não seria por muito tempo. Tudo será destruído no fim.
O Senhor diz que além do mundo material há uma outra natureza, que é eterna; não se tem história de seu começo, e ela não tem fim. “Eterno” refere-se àquilo que não tem fim nem começo. É por isso que a religião védica é chamada eterna, porque ninguém é capaz de remontar à sua origem. A religião cristã tem uma história de dois mil anos, e a religião maometana tem uma história de cinco mil anos; mas se uma pessoa remontasse à origem da religião védica, ela não encontraria seu começo histórico. Por conseguinte, ela é chamada a religião eterna.
Podemos dizer corretamente que Deus criou este mundo material, o que indica que Deus existia antes da criação. Esta própria palavra “criou” sugere que o Senhor existia antes da criação da manifestação cósmica. Portanto, Deus não está sob o controle da criação. Se Deus estivesse sob o controle da criação, como poderia Ele criar? Ele seria então um dos objetos desta criação material. Deus não está sob o controle da criação; Ele é o criador, e por isso Ele é eterno.
Existe um céu espiritual onde há inumeráveis planetas espirituais e inumeráveis entidades vivas espirituais, mas aqueles que não estão aptos a viver nesse mundo espiritual são enviados a este mundo
material. A mesma idéia é expressa no
Paraíso Perdido
de Milton. Aceitamos este corpo material
voluntariamente, mas na realidade somos almas espirituais que não deviam tê-lo aceitado. Não podemos determinar quando e como o aceitamos. Ninguém pode determinar a história de quando a alma condicionada aceitou o corpo material pela primeira vez. Existem 8.400.000 formas de entidades vivas — 900.000 espécies de entidades vivas encontram-se dentro da água, e 2.000.000 de espécies de vida encontram-se entre as plantas e os vegetais. Infelizmente, nenhuma universidade instrui este conhecimento védico. Mas estes são os fatos. Que o botânico e o antropólogo busquem e realizem uma investigação sobre a conclusão védica. É claro que a teoria de Darwin da evolução da matéria orgânica é muito preeminente nas instituições eruditas. Mas o Bhagavata Purana e outras escrituras autorizadas de magnitude científica descrevem como as entidades vivas em diferentes formas de corpo evoluem, uma após a outra. Esta não é uma idéia recente. Mas os educadores só dão ênfase à teoria de Darwin, embora na literatura védica tenhamos muitíssimas informações a respeito das condições de vida neste mundo material.
Estamos ligados eternamente ao Senhor Supremo, mas de uma maneira ou de outra agora nos encontramos contaminados materialmente. Por isso, devemos adotar um processo para regressar novamente ao mundo espiritual. Este processo de união chama-se yoga. A verdadeira tradução da palavra yoga é “mais”, que é justamente o oposto de menos. No momento atual estamos menos Deus, ou menos o Supremo. Se nos fizermos mais — ligados — então nossa forma humana de vida se aperfeiçoará. Durante a nossa vida temos que praticar a nos aproximar desse ponto de perfeição, e à hora da morte, quando abandonarmos este corpo material, essa perfeição terá que ser realizada. No momento da morte, é preciso estar preparado. Os estudantes, por exemplo, preparam-se durante oito anos na escola, e o teste final de sua educação é o exame. Se passam no exame, eles conseguem um diploma. De igual modo, no tema da vida, se nos preparamos para o exame à hora da morte e passamos nesse exame, então somos transferidos ao mundo espiritual. À hora da morte tudo é examinado.
Há um provérbio bengali muito comum que diz que tudo que se faça visando à perfeição será posto à prova no momento da morte. O Bhagavad-gita descreve o que devemos fazer na altura de nossa morte, quando estivermos abandonando este corpo. Sri Krishna fala os seguintes versos para o dhyana-yogi (meditador):
yad aksaram veda-vido vadanti / viśanti yad yatayo vita-ragah
yad icchanto brahmacaryam caranti / tat te padam sangrahena pravaksye
sarva-dvarani samyamya / mano hrdi nirudhya ca
murdhny adhayatmanah pranam / asthito yoga-dharanam
“As pessoas eruditas nos Vedas, que pronunciam o omkara e que são grandes sábios na ordem renunciada, entram no Brahman. Uma pessoa que deseja alcançar tal perfeição pratica o celibato. Agora vou explicar-lhe este processo através do qual pode-se alcançar a salvação. Uma pessoa que está situada em yoga desapega-se de todas as ocupações sensuais. Fechando todas as portas dos sentidos e fixando a mente no coraçãoeo ar vital na parte superior da cabeça, a pessoa se estabelece em yoga” (Bhagavad-gita 8.11- 12). No sistema de yoga este processo chama-se pratyahara, que significa, em linguagem técnica, “o oposto”. Agora os olhos se ocupam em ver a beleza mundana, de modo que temos que afastá-los de desfrutar esta beleza e nos concentrar em ver a beleza interior. Isto se chama pratyahara. Similarmente, temos que ouvir o som omkara em nosso íntimo.
om ity ekaksaram brahma / vyaharan mam anusmaran
yah prayati tyajan deham / sa yati paramam gatim
“Após se situar praticando essa yoga e vibrando a sílaba sagrada om, a combinação suprema de letras, se a pessoa pensar na forma da Suprema Personalidade de Deus e abandonar seu corpo, ela alcançará com toda a certeza os planetas espirituais” (Bhagavad-gita 8.13). Dessa maneira, temos que parar com as atividades externas de todos os sentidos, e devemos concentrar a mente em visnu-murti, a forma do Senhor Vishnu. Esta é a perfeição da yoga. A mente é muito turbulenta, e por isso temos que fixá-la no coração. Quando a mente se fixa dentro do coração e o ar vital se transfere à parte superior da cabeça, pode-se alcançar a perfeição da yoga.
Então o yogi perfeito determina aonde deverá ir. Existem inumeráveis planetas materiais, e além destes planetas há um mundo espiritual. Os yogis recebem esta informação das escrituras védicas. Antes que eu chegasse aos Estados Unidos, por exemplo, li descrições deste país em livros. Da mesma maneira, podemos encontrar nas escrituras védicas uma descrição dos planetas superiores e do mundo espiritual. O yogi sabe de tudo; ele pode se transferir a qualquer planeta que queira, sem necessitar do auxílio de uma nave espacial.
Há muitos anos que os cientistas materiais vêm tentando, e hão de continuar tentando por cem ou mil anos mais, porém, jamais chegarão a nenhum planeta. Pode ser que um ou dois homens consigam alcançar algum planeta por intermédio de um processo científico, mas este nãoéo processo geral. O processo aceito geralmente para se transferir a outros planetas é a prática do sistema de yoga, ou o sistema jnana. O sistema bhakti, entretanto, não é feito para que nos transfiramos a algum planeta material. Aqueles que se dedicam ao serviço devocional de Krishna, ou o Senhor Supremo, não estão interessados em nenhum dos planetas deste mundo material, porque sabem que em qualquer que seja o planeta ao qual nos elevarmos, vamos ainda assim encontrar os quatro princípios da existência material. A duração de vida em alguns planetas é muito maior do que a duração de vida nesta Terra, mas existe a morte. Aqueles que são conscientes de Krishna, entretanto, transcendem esta vida material de nascimento, morte, doença e velhice.
Vida espiritual quer dizer aliviar-se deste incômodo e miséria. Portanto, as pessoas que são inteligentes não tentam elevar-se a algum planeta deste mundo material. Os homens estão tentando alcançar a Lua, e, apesar de ser muito difícil conseguir entrar nesse planeta, se conseguirmos entrar realmente, o período de nossas vidas aumentará. É claro que isto não se aplica à vida neste corpo. Se fôssemos entrar na Lua com este corpo, com certeza morreríamos instantaneamente.
Quando se entra num sistema planetário, deve-se ter um corpo adequado para este planeta. Cada planeta é habitado por entidades vivas com corpos adequados para o planeta. Por exemplo, podemos entrar na água com este corpo, mas não podemos viver ali. Pode ser que permaneçamos ali por quinze ou dezesseis horas, ou talvez por vinte e quatro horas, mas isto é tudo. No entanto, os animais aquáticos têm corpos particulares, adequados para viverem toda a sua vida na água. Do mesmo modo, se tirarmos um peixe da água e o colocarmos na terra, ele morrerá instantaneamente. Assim como compreendemos que até mesmo neste planeta há diferentes espécies de corpos para viver em lugares particulares, da mesma forma se quisermos ingressar em outro planeta, teremos que nos preparar para conseguir um corpo adequado.
Uma pessoa que se transfere e cuja alma transmigra para a Lua por intermédio deste processo ióguico, consegue uma longa duração de vida. Nos planetas superiores, seis dos nossos meses equivalem a um dia. De forma que os seres em tais planetas vivem por 10.000 anos. Esta é a descrição dada na literatura védica. Assim, não resta dúvida de que podemos conseguir uma duração de vida muito longa, não obstante existe a morte. Após 10.000 ou 20.000 anos, ou mesmo após milhões de anos (não importa), vem a morte.
Na realidade, não estamos sujeitos à morte. Isto é afirmado no começo do Bhagavad-gita (2.20): na hanyate hanyamane śarire. Somos almas espirituais, e portanto somos eternos. Por que, então, deveríamos nos sujeitar à morte e ao nascimento? É inteligente pensar assim. As pessoas que são conscientes de Krishna são muito inteligentes porque não estão interessadas em conseguir promoção a nenhum planeta onde haja morte, mesmo que em tal planeta a duração de vida seja longa. Elas querem, antes, obter um corpo igual ao corpo de Deus. Isvarah paramah krsnah sac-cid-ananda vigrahah. (Bs. 5.1) O corpo de Deus é sac-cid-ananda. Sat significa eterno e cit significa pleno de conhecimento, e ananda significa pleno de prazer.
Como declaramos em nosso panfleto “Krishna, o reservatório de prazer”, se nos transferimos ao mundo espiritual, ao planeta de Krishna ou a qualquer outro planeta espiritual, então obteremos um corpo similar ao corpo de Deus: sac-cid-ananda — eterno, pleno de conhecimento e pleno de bem-aventurança. Assim, as pessoas que tentam ser conscientes de Krishna têm um objetivo na vida diferente do objetivo das pessoas que tentam promover-se aos planetas melhores que existem neste mundo material. O Senhor Krishna diz no Gita
que murdhny adhayat-manah pranam asthito yoga-dharanam: “a perfeição da yoga é transferir-se ao mundo espiritual”.
A alma espiritual é uma partícula diminuta que se encontra dentro do corpo e que não podemos ver. Pratica-se o sistema de yoga para elevar a alma até a parte superior da cabeça. Esta prática acontece enquanto a pessoa vive, e a pessoa alcança a perfeição quando consegue se colocar na parte superior da cabeça e daí fazer a travessia. Então ela pode se transferir a qualquer um dos planetas superiores que quiser. Esta é a perfeição do yogi.
Se o yogi tiver a curiosidade de ver a Lua, ele poderá dizer: “Ah! Deixe-me ver como é a Lua. Depois vou me transferir a planetas superiores”, assim como os viajantes que vão à Europa, à Califórnia, ao Canadá ou a outros países sobre a Terra. Uma pessoa pode se transferir a muitos planetas por intermédio deste sistema de yoga, mas a qualquer parte que for encontrará sistemas de visto e sistemas alfandegários. É preciso se qualificar para se ir a outros planetas.
As pessoas conscientes de Krishna não estão interessadas em nenhum planeta temporário, mesmo que seja um planeta que ofereça uma longa duração de vida. Se à hora da morte o yogi puder pronunciar “om”, a forma concisa da vibração transcendental, e ao mesmo tempo mam anusmaran, lembrar-se de Krishna, Vishnu, ele alcançará a perfeição. O objetivo de todo o sistema de yoga é concentrar a mente em Vishnu. Os impersonalistas imaginam que vêem a forma de Vishnu, o Senhor, mas aqueles que são personalistas não imaginam — eles vêem realmente a forma do Senhor Supremo. De qualquer modo, quer a pessoa concentre sua mente através da imaginação, quer veja realmente, ela tem que concentrar sua mente na forma de Vishnu. Mam significa ao Supremo Senhor Vishnu. Qualquer pessoa que abandone este corpo e concentre sua mente em Vishnu ingressa no reino espiritual após abandonar seu corpo. Aqueles que são yog…s de verdade não desejam entrar em nenhum outro planeta, porque sabem que existe vida temporária nos planetas temporários, e por isso não estão interessados. Isto é inteligência.
A atmosfera material está roubando nossa eternidade. O Srimad-Bhagavatam diz: “O Sol diminui nossa duração de vida, desde o momento em que nasce até o momento em que se põe”. Dia a dia perdemos a duração de nossas vidas. Se o sol nascer às seis da manhã, às seis da tarde teremos perdido doze horas da duração de nossas vidas. Jamais conseguiremos este tempo de volta. Se dissermos a algum cientista: “Dou- lhe doze milhões de dólares. Por favor, devolva-me estas doze horas”, ele responderá: “Não, não é possível”. O cientista não poderá fazê-lo. Por isso, o Bhagavatam diz que a duração de nossas vidas diminui desde o nascer do sol até o pôr do sol.
O tempo é chamado kala — passado, presente e futuro. O que agora é presente, amanhã será passado; e o que agora é futuro, amanhã será presente. Porém, estes passado, presente e futuro são o passado, presente e futuro do corpo. Não pertencemos à categoria do passado, presente e futuro. Pertencemos à categoria da eternidade. Por conseguinte, devemos nos preocupar em como alcançar ou como nos elevar à plataforma da eternidade. Devemos utilizar a consciência desenvolvida do ser humano, não nas propensões animais (comer, dormir, acasalar-se e defender-se), mas sim na busca do caminho preciso que nos ajudará a obter esta vida de eternidade. Diz-se que o Sol está tirando a duração de nossa vida — a cada minuto, a cada hora, a cada dia — mas se nos dedicarmos aos tópicos de Uttama-sloka, os tópicos do Senhor, este tempo não poderá ser tomado. O tempo que uma pessoa dedica a um templo da consciência de Krishna não pode ser tomado. Passa a ser uma vantagem — um mais, não um menos. Quanto ao corpo, a duração da vida pode ser tomada; por mais que se tente mantê-la intacta ninguém pode fazê-lo. Mas a educação espiritual que recebemos na consciência de Krishna, esta o Sol não pode tirar: ela se torna uma vantagem sólida.
Cantar Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare é uma coisa muito fácil de fazer. O tempo que gastamos cantando não pode ser tirado como o tempo que pertence ao corpo. Há cinquenta anos eu era um jovem, mas este tempo foi tomado e não pode ser restituído. O conhecimento espiritual que recebi de meu mestre espiritual, entretanto, não poderá ser tomado, senão que irá comigo. Mesmo depois que eu abandonar este corpo, este conhecimento virá comigo; e se alcançar a perfeição nesta vida, então vai me levar para a morada eterna.
Tanto o mundo material quanto o mundo espiritual pertencem a Krishna. Nós não somos proprietários de nada. Tudo é propriedade do Senhor Supremo, assim como tudo que existe no Estado pertence ao governo, quer esteja na prisão, quer fora da prisão. A vida condicionada é assim como viver numa prisão neste mundo material. Um prisioneiro não pode mudar livremente de uma cela para outra. Na vida livre pode-se ir de um lar para outro, mas na vida de prisão não se pode fazer isto; tem-se, isso sim, que permanecer na própria cela. Todos esses planetas são como celas. Estamos tentando ir à Lua, mas não é algo prático de ser feito através de meios mecânicos. Quer sejamos americanos, indianos, chineses ou russos, recebemos este planeta para nele vivermos. Não podemos deixá-lo — embora haja milhões e bilhões de planetas e embora
tenhamos máquinas com as quais podemos deixá-lo — porque estamos condicionados pelas leis da natureza, as leis de Deus. Um homem que é colocado numa cela determinada não pode mudar à vontade sem a autoridade superior. Krishna diz no Bhagavad-gita que não devemos tentar mudar de uma cela para outra. Isto não vai fazer ninguém feliz. Se um prisioneiro pensa: “Estou nesta cela — mas vou pedir ao carcereiro para mudar de cela e aí serei feliz”, esta é uma idéia errada. Uma pessoa não pode ser feliz enquanto se encontra confinada por trás das paredes da prisão. Estamos tentando ser felizes mudando de celas — do capitalismo para o comunismo. Devíamos objetivar nos livrar deste “ismo” e daquele “ismo”. Temos que mudar completamente deste “ismo” de materialismo, e aí poderemos ser felizes. Este é o programa da consciência de Krishna.
Recebemos conselho da Pessoa Suprema. Ele diz: “Meu querido Arjuna, você pode se elevar ao sistema planetário mais elevado, que se chama Brahmaloka e que é desejável porque ali a vida é muito longa”. Não podemos nem sequer calcular a duração de meio dia ali. Está além de nossos cálculos matemáticos. Mas até em Brahmaloka existe a morte. Por isso, Krishna diz: “Não desperdice seu tempo, tentando elevar-se ou transferir-se deste planeta para aquele planeta”.
As pessoas que tenho visto nos Estados Unidos estão muito inquietas. Elas mudam de um apartamento para outro apartamento, ou de um país para outro país. Esta inquietude existe porque estamos buscando nosso lar verdadeiro. Se formos deste lugar para aquele lugar não vamos conseguir a vida eterna. A vida eterna é com Krishna. É por isso que Krishna diz: “Tudo Me pertence, e Eu possuo a morada superexcelente, que se chama Goloka Vrndavana”. Alguém que queira ir até essa morada tem simplesmente que se tornar consciente de Krishna e tentar compreender como Krishna aparece e desaparece, qual é Sua posição constitucional, qual é nossa posição constitucional, que relação temos com Ele, e como viver. Tentem simplesmente compreender estas idéias cientificamente. Tudo na consciência de Krishna é científico. Não é falso, caprichoso, sentimental, fanático ou imaginativo. É verdade, fato, realidade. Temos que compreender Krishna de verdade.
Temos que abandonar este corpo, voluntária ou involuntariamente. Chegará o dia em que teremos que nos submeter às leis da natureza e abandonar este corpo. Até mesmo o presidente Kennedy em seu cortejo teve que se submeter à lei da natureza e trocar seu corpo por um outro corpo. Ele não pôde dizer: “Oh! Eu sou o presidente; sou o Senhor Kennedy. Não posso fazer isto”. Ele foi obrigado a fazê-lo. É assim que a natureza funciona.
Nossa consciência humana desenvolvida tem como objetivo compreender como funciona a natureza. Além da consciência humana, há consciência nos cães, nos gatos, nas lagartas, nas árvores, nas aves, nas bestas e em todas as outras espécies. Mas não estamos destinados a viver com esta consciência. O Srimad-Bhagavatam diz que após muitos e muitos nascimentos alcançamos a forma humana. Agora não devemos utilizá-la mal. Por favor, utilizem esta vida humana para desenvolver a consciência de Krishna e sejam felizes.
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Fonte: Fácil Viagem a Outros Planetas, por Srila Prabhupada.
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Revisão final: Ícaro Aron Soares.
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