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Por H.P. Blavatsky
Para não deixar qualquer equívoco temos de relembrar aos membros da S.T. a origem da Sociedade em 1875. Enviada aos EUA em 1873 com o propósito de organizar um grupo de trabalhadores em um plano psíquico, dois anos após esta escritora recebeu ordens de seu Mestre e Instrutor para formar o núcleo de uma Sociedade regular, cujos objetivos foram estabelecidos, de modo geral, como se segue:
Fraternidade Universal;
Os membros não deverão fazer nenhuma discriminação entre raças, credos ou posições sociais, mas todo membro terá de ser julgado e tratado segundo seus méritos pessoais;
Estudar as filosofias do Oriente, principalmente as da Índia, e apresentá-las gradualmente ao público em várias obras que interpretarão as religiões exotéricas à luz dos ensinamentos esotéricos;
Se opor ao materialismo e ao dogmatismo teológico de todas as maneiras possíveis, demonstrando a existência de forças ocultas na natureza, desconhecidas da ciência, e a presença de poderes psíquicos e espirituais no homem; tentando, ao mesmo tempo, ampliar as idéias dos Espíritas mostrando-lhes que existem muitas outras forças em ação na produção de fenômenos, além dos “Espíritos” dos mortos. A superstição tem de ser desmascarada e evitada; e as forças ocultas, benéficas e maléficas – que sempre estão ao nosso redor se manifestando de várias maneiras – demonstradas da melhor maneira que pudermos.
Tal era o programa em seus aspectos gerais. Não foi dito aos dois Fundadores principais o que tinham de fazer, como realizariam e estimulariam o crescimento da Sociedade e os resultados desejados; também não lhes foi dada nenhuma idéia definida a respeito da organização externa – tudo isso foi deixado inteiramente com eles mesmos. Assim, como a abaixo-assinada não tem capacidade para estruturar e administrar a Sociedade, esta foi deixada nas mãos do Cel. H.S. Olcott, eleito naquele momento Presidente vitalício pelos primitivos membros e fundadores. Contudo, apesar de que nada foi dito aos dois Fundadores com relação ao que tinham de fazer, eles foram claramente instruídos quanto ao que nunca deveriam fazer, o que tinham de evitar e o que a Sociedade nunca deveria se tornar. Igrejas organizadas, seitas cristãs e espíritas foram mostradas como futuros contrastes à nossa Sociedade.(1) Para deixar mais claro:
(1) Os Fundadores tinham de exercer toda sua influência para se oporem ao egoísmo de qualquer espécie, insistindo em sentimentos sinceros e fraternais entre os Membros – pelo menos exteriormente; trabalhando para criar um espírito de unidade e harmonia, apesar da grande diversidade de credos; esperando e exigindo dos Membros grande tolerância e caridade mútua pelos defeitos dos outros; auxílio mútuo na pesquisa das verdades em todos os domínios – moral ou físico – e até mesmo na vida diária.
(2) Eles tinham de se opor da forma mais enérgica possível contra tudo que se aproximasse da fé dogmática e do fanatismo, a começar pela crença na infalibilidade dos Mestres ou mesmo na própria existência de nossos Instrutores invisíveis. Por outro lado, como se exigia grande respeito pelas crenças e pontos de vista pessoais, qualquer Membro que criticasse a fé ou credo de outro Membro, ferindo seus sentimentos ou demonstrando uma repreensível opinião, sem ser perguntado (conselhos amigáveis eram um dever a menos que fossem declinados) – seria expulso. O mais amplo espírito de liberdade de pesquisa, sem oposição de qualquer tipo, tinha de ser encorajado.
Assim, no primeiro ano os Membros da Organização Teosófica, que representavam todas as classes na Sociedade bem como todo credo e crença – sacerdotes Cristãos, Espíritas, Livres Pensadores, Místicos, Maçons e Materialistas – viveram e se reuniram sob esses regulamentos em paz e amizade. Houve duas ou três expulsões por calúnia e maledicência. Os regulamentos, apesar de imperfeitos devido ao seu caráter experimental, eram estritamente respeitados e cumpridos pelos membros. A taxa de iniciação original, de 5 dólares, logo foi abolida por ser incompatível com o espírito da Associação; e os membros entusiasticamente prometeram sustentar a Sociedade Mãe e custear as despesas de equipamentos para experiências, livros, o salário do Secretário Registrador(2), etc., etc.. Essa foi a Reforma N° I. Três meses após, o Sr. H. J. Newton, Tesoureiro, um rico cavalheiro de Nova York, mostrou que ninguém tinha pago qualquer coisa ou sequer ajudado a custear as despesas gerais do salão de reuniões, artigos de papelaria, impressão, etc., e que ele teve de arcar com todas estas despesas sozinho. Ele continuou por algum tempo mais e então renunciou ao cargo de Tesoureiro. Daí em diante era o Presidente Fundador, Cel. H.S. Olcott, que tinha de pagar por tudo. E ele assim fez por mais de 18 meses. A “taxa” foi restabelecida antes dos Fundadores partirem para a Índia com os dois delegados ingleses – agora seus inimigos mortais; contudo o dinheiro arrecadado era para a Arya Samaj de Aryavarta, com a qual a Sociedade Teosófica se tornou afiliada. Foi o Presidente-Fundador que pagou as enormes despesas de viagem da América à Índia, a instalação em Bombaim e que sustentou os dois delegados de seu próprio bolso por quase 18 meses. Quando ele não teve mais dinheiro, e nem a Secretária Correspondente tampouco, circulou-se uma resolução dizendo que o dinheiro da “taxa de iniciação” iria para a manutenção do Quartel-General.
Devido ao rápido crescimento da Sociedade na Índia, os Regulamentos e Estatutos atuais cresceram. Eles não são resultado do pensamento deliberado ou dos caprichos do Presidente Fundador, mas sim das reuniões anuais do Conselho Geral nos Aniversários da Sociedade. Se os membros daquele Conselho Geral os redigiram de forma a dar maior autoridade ao Presidente Fundador, foi devido à absoluta confiança que tinham nele, em sua devoção e amor pela Sociedade, e de modo algum – como insinua “Algumas Palavras” – é uma prova de seu amor pelo poder e autoridade. Contudo, trataremos disso mais tarde.
Nunca se negou que a Organização da S.T. era muito imperfeita. Errare humanum est. Porém, se pudermos demonstrar que o Presidente fez o que pode sob as circunstâncias, e da melhor maneira que ele sabia fazer, ninguém, e muito menos um teosofista, pode culpá-lo pelos pecados de toda a comunidade, como agora foi feito. Desde os fundadores até o membro mais humilde, a Sociedade é composta de imperfeitos mortais – não deuses. Isso foi sempre afirmado por seus líderes. “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra”. É dever de todo Membro do Conselho se manifestar e levar à consideração de todos quaisquer procedimentos incorretos. Um dos queixosos é um Conselheiro. Nunca tendo usado seus privilégios de Conselheiro com relação às queixas proferidas e não tendo portanto desculpas por seus justos protestos não terem sido ouvidos, ele, por tornar público o que teria de ter declarado privativamente, peca contra o Artigo XII. Todo o documento agora parece uma calúnia difamatória, cheio de insinuações não-teosóficas e anti-fraternais em que os autores nunca poderiam ter pensado.
O Artigo XII era um dos primeiros e mais sábios. Por ter negligenciado sua aplicação, quando mais foi necessário, o Presidente Fundador atraiu sobre si a atual penalidade.(3) Foi sua grande indulgência e descuido imprudente que levaram a todas estas acusações de abuso de poder, amor pela autoridade, exibição, vaidade, etc. etc.. Vejamos o quanto tudo isso foi merecido.
Como mostrado, por 12 anos, o Fundador trabalhou praticamente sozinho pelos interesses da Sociedade e bem comum – portanto, não pelo seu próprio bem e sua única queixa era que não tinha tempo para o estudo e auto-desenvolvimento. Os resultados desta justa queixa são as censuras daqueles por quem ele trabalhava, os primeiros a acusá-lo de ignorar certos termos hindus, de usar uma palavra por outra: por exemplo ter aplicado a palavra “Jivanmukta” à um chela hindu. Esse é realmente um crime terrível… Conhecemos “chelas” que, por serem hindus, estão seguros de nunca confundir estas palavras bem conhecidas em sua religião; mas que, por outro lado, perseguem a condição de Jivanmukta e a mais alta Ética Teosófica através da estrada da ambição egoísta, mentiras, calúnia, ingratidão e maledicência. Toda estrada leva a Roma, isso é evidente; e existe na Natureza algo como “Mahatma”-Dugpas… Seria desejável para a causa da teosofia e da verdade, todavia, que todos os críticos de nosso Presidente fossem menos eruditos, que alcançassem mais o nível de sua boa natureza que tudo perdoa, sua total sinceridade e inegoísmo; e que o restante dos membros fossem menos dispostos a dar atenção àqueles que, como os “Vigários de Bray”, criaram ódio pelos Fundadores por razões desconhecidas.
O conselho acima é oferecido aos dois Teosofistas que redigiram “Algumas Palavras sobre a Organização Teosófica”. Admitimos com franqueza que eles não estão sozinhos em suas queixas (que traduzidas de sua linguagem diplomática para a comum, parecem bastante com uma simples “querelle d’allemand”) e que os citados queixosos são, em grande parte, justos. Por isso, nesta resposta, a escritora deve ter permissão para falar de teosofia e teosofistas em geral, em vez de limitar a Resposta estritamente às queixas proferidas. Não há o menor desejo de se ser pessoal; contudo já se acumulou tal massa de material incandescente na Sociedade, devido ao eterno atrito justamente de tais “personalidades egoístas” que é mais sábio tentar abrandar as fagulhas a tempo, mostrando sua verdadeira natureza.
As reclamações e o percebimento da necessidade de reformas não se originaram com os dois queixosos. Elas já datam de vários anos e nunca foi uma questão de evitar reformas, mas sim um fracasso na busca de métodos que satisfizessem a todos os teosofistas. Até presentemente, ainda temos de encontrar aquele “sábio” do oriente ou do ocidente que pudesse não só diagnosticar a doença da Sociedade Teosófica, como também dar conselhos e igualmente medicamentos para curá-la. É fácil escrever: “Não cabe aqui sugerir quaisquer medidas específicas [pois tais reformas parecem ser mais difíceis de sugerir do que insinuar vagamente]. Pois ninguém que tenha fé na Fraternidade e no poder da Verdade deixará de perceber o que é necessário”, conclui o crítico. Alguém pode ter essa fé e ainda assim talvez não perceber o que é mais necessário. Duas cabeças são melhores que uma; e se algumas reformas práticas tiverem se sugerido aos nossos severos juízes, sua recusa em nos conceder o benefício desta descoberta seria a atitude mais anti-fraternal. Contudo, até agora só temos recebido sugestões impraticáveis para reformas, quando quer que tenham sido especificadas. Por exemplo: os Fundadores, e toda a Sociedade Central no Quartel-General, são convidados a demonstrar suas naturezas teosóficas vivendo como “as aves do ar e os lírios do campo”, que não plantam nem colhem, nem trabalham nem fiam e “não pensam no amanhã”. Sendo isso dificilmente praticável mesmo na Índia, onde pode-se andar em trajes de Anjo e ainda assim ter de pagar aluguel e impostos, foi apresentada outra proposição, e depois uma terceira e uma quarta – cada uma menos praticável que a precedente – … cuja inevitável rejeição levou por fim à crítica que agora examinamos.
Após uma cuidadosa leitura de “Algumas Palavras… etc.” não é preciso ter um intelecto muito perspicaz para se perceber que apesar de nenhuma “medida específica” ter sido apresentada, a direção de todo o raciocínio tende apenas para uma conclusão, uma dedução mais hindu do que metafísica. Resumidas, as observações contidas no documento dizem claramente que: “Os maus resultados apontados são destruídos eliminando-se as causas que os geraram”. Tal é o sentido apocalíptico do artigo, posto que tanto as causas quanto as conseqüências são tornadas dolorosa e flagrantemente objetivas e que podem ser traduzidas da seguinte forma: Sendo demonstrado que a Sociedade é resultado e fruto da deliberação de um mau Presidente; e que este último é conseqüência de uma Sociedade organizada anti-teosoficamente – e seu mais que inútil Conselho Geral – “desfaça todas estas Causas que os resultados desaparecerão”; isto é, a Sociedade terá deixado de existir. Esse é o desejo de coração destes dois verdadeiros e sinceros Teosofistas?
As queixas – “submetidas àqueles interessados no progresso da verdadeira Teosofia” (que parece significar “teosofia separada da Sociedade”) – podem agora ser consideradas em ordem e respondidas. Eles mencionam as seguintes objeções:
(I) Contra a redação dos Regulamentos no que diz respeito aos poderes investidos no Presidente-Fundador pelo Conselho-Geral. Essa objeção parece ser muito justa. A sentença… Os deveres do Conselho “consistirão em aconselhar o Presidente Fundador a respeito de todos os assuntos que ele submeter a este conselho” pode ser facilmente interpretada de maneira a insinuar que em todos os outros assuntos não submetidos ao Conselho pelo Pres. Fundador … os membros do Conselho deverão conter suas línguas. Os Regulamentos foram mudados, e de qualquer modo eles são corrigidos e alterados anualmente. Esta sentença pode ser descartada. Até aqui o dano não é tão terrível.
(II) É mostrado que muitos membros ex-officio, cujos nomes constam na lista do Conselho Geral, não são conhecidos pela Convenção; que eles provavelmente não estão nem mesmo interessados na Sociedade “que está sob seus cuidados especiais”; uma corporação a que um dia se filiaram, depois provavelmente se esqueceram de sua existência, e não se afastaram da Associação. O argumento insinuado é válido. Por que não mostrar oficialmente aos membros que residem ou visitam o Quartel-General a inconveniência de tal desfile de nomes? Mas como esse grave erro ou descuido administrativo pode interferir ou impedir “o progresso da verdadeira teosofia”?(4)
(III) Reclama-se que “Os membros são nomeados pelo Presidente Fundador”, que “O Conselho Geral só se manifesta sobre o que lhe é submetido”… e “entretanto, o Pres. Fundador é autorizado a emitir ordens especiais e regulamentos provisórios” em nome daquele Conselho (“fantoche”). (Artigo IV, pág.20). Além disso se destaca que dos 150 membros do Conselho Geral, um quorum de 5 ou até mesmo 3 membros presentes podem, se o Presidente achar necessário, decidir qualquer assunto de importância vital, etc., etc., etc..
Os Srs. M. M. Chatterji e A. Gebhard protestam contra essa manifestação “não-teosófica” de autoridade, afirmando que ela leva a Sociedade ao Cesarismo, à “tirania” e infalibilidade papal, etc., etc.. Por mais corretos que os dois queixosos estejam em princípio, é impossível deixar de notar os absurdos exageros dos epítetos usados; pois, tendo acabado de ser acusado de “autoridade tirânica”, de “centralização de poder” e “instituição papal” (pág. 9), na pág. 11 vemos o Presidente Fundador “emitindo ordens especiais” deste “centro de Cesarismo” que ninguém é obrigado a obedecer, a menos que queira! “Sabe-se”, diz o escritor principal, “que não só os membros mas também as Lojas tem se recusado a pagar essa subscrição (anual) … de … dois Shillings” (pág. 11); sem qualquer conseqüência desagradável, ao que parece. Assim, parece que as objeções não deveriam ser feitas contra uma autoridade não existente, mas sim contra uma manifestação vã e inútil de poder que ninguém se preocupa. A emissão de “ordens especiais” com esses resultados deploráveis é realmente questionável; mas não com base numa tendência ao Cesarismo, e sim porque se torna altamente ridícula. O subscrevente muitas vezes levantou objeções a isto, apesar de estar movido muito mais pelo orgulho mundano e pelo sentimento não-teosófico de auto-respeito do que por qualquer coisa que se pareça a humildade Yogi. Admite-se com pesar que os não- teosofistas e aqueles que gostam de fazer pilhérias, se disto soubessem, poderiam ver aqui um bom motivo para zombarias. Mas o que causa verdadeiro espanto é ver como certos teosofistas europeus – que bravamente desafiaram o mundo a fazê-los tremer sob qualquer quantidade de zombaria, uma vez que, agiam em acordo com suas consciências e dever – transformam em crime aquilo que na pior das hipóteses não passa de um pouco de vaidade inofensiva e até ridícula; um desejo de dar importância, não ao Fundador, mas à Sociedade, pela qual ele está pronto a morrer a qualquer dia. Um tipo de ridículo merece outro. O teosofista ocidental, que por certas razões magnéticas usa o cabelo longo e se veste, excentricamente, não será poupado mais do que seu Presidente com suas “ordens especiais”. Só que este último, permanecendo amável e fraternal para com o “teosofista individual e mesmo uma Loja”, que o humilham e à sua “ordem” recusando-se a pagar o que outros pagam, mostra-se dez vezes mais teosófico e fiel ao princípio da Fraternidade do que o primeiro, que o calunia e denuncia com termos tão pouco caridosos em vez de avisá-lo gentilmente das más conseqüências produzidas. Infelizmente aqueles que falam mais alto da virtude e da teosofia não são o melhor exemplo de ambas. Poucos deles, se é que houve algum, tentaram tirar a trave do próprio olho antes de erguer suas vozes contra a farpa no olho de um irmão. Além do mais, parece que o furor teosófico destes dias é mais voltado para fazer denúncias veementes do que para oferecer ajuda na retirada de qualquer destas farpas.
A Sociedade é duramente criticada por pedir a todo teosofista abastado (os pobres são dispensados do pagamento desde o início) que pague dois shillings por ano para ajudar a custear as despesas do Quartel-General. É denunciado como “anti-teosófico”, “anti-fraterno”; e é afirmado que a “taxa de admissão” de 1 libra não é melhor que “venda da Fraternidade”. Quanto a isso podemos mostrar que nossa “Fraternidade” está num nível mais elevado do que esteve qualquer outra associação do passado ou presente. A Sociedade Teosófica nunca demonstrou a pretensão ambiciosa de eclipsar, em teosofia e fraternidade, a primitiva Fraternidade de Jesus e seus Apóstolos,(5) e esta “Organização”, apesar de ter pedido, e ter tido pedidos ocasionalmente negados, sustentou a si mesma sem nada pedir, e verdadeiramente dentro de uma real comunidade de Irmãos. No entanto esta atitude, que pareceria altamente não-teosófica e prejudicial nos cultos dias atuais, quando nações se reservam o direito de embolsar as propriedades de outras e ainda esperam ser honradas por isto – não parece ter servido de obstáculo no caminho da deificação e santificação da citada “Fraternidade” primitiva. Nossa Sociedade nunca teve a pretensão de se elevar acima da fraternidade e ética pregadas pelo Cristo, mas somente acima daquelas do Cristianismo impostor das Igrejas – conforme foi originalmente ordenado por nossos MESTRES. E se não fazemos pior do que a Fraternidade do Evangelho fez e muito melhor do que qualquer Igreja, que expulsaria qualquer membro que se recusasse a pagar as taxas da Igreja, é realmente difícil perceber por que nossa “Organização” deveria ser rejeitada por seus próprios membros. De qualquer forma, as canetas destes últimos deveriam se mostrar menos acerbadas nestes dias de discórdia quando todos parecem dispostos a encontrar defeitos na Sociedade, e poucos a ajudá-la, e em que o Presidente Fundador trabalha sozinho com poucos teosofistas devotados em Adyar para auxiliá-lo.
(IV) “Não existe tal instituição como a Sociedade-Mãe” – nos dizem (págs. 2 e 3). “Ela desapareceu dos Regulamentos e… não tem existência legal”… Não possuindo Carta Constitutiva, a Sociedade não existe – legalmente; mas qualquer teosofista não tem mais existência legal do que ela, nesse aspecto. Existe um único membro em todo o globo que possa ser reconhecido pela lei, ou perante um Juiz – como um teosofista? Por que então os cavalheiros “queixosos” chamam a si mesmos “teosofistas” se essa qualificação não tem legalidade melhor do que a citada “Sociedade-Mãe” ou a própria Sede? Contudo a Sociedade-Mãe existe, e existirá enquanto o último homem ou mulher do primitivo grupo de Fundadores estiver vivo. E isto se aplica a Sociedade como corporação – pois no que diz respeito a suas características morais, a Sociedade-Mãe significa aquele pequeno núcleo de teosofistas que se mantém fiel através de ventos e tempestades ao programa original da S.T. como foi estabelecido sob a direção e ordens daqueles que eles reconhecem – e sempre reconhecerão até o seu último suspiro – como os verdadeiros originadores do Movimento, seus Sagrados MESTRES E INSTRUTORES viventes.(6)
(V) As queixas, então, de que a S.T. “tem leis sem sanção, um corpo legislativo sem legalidade uma Sociedade-Mãe inexistente” e, pior de tudo – “um Presidente Fundador acima de todos os regulamentos” – são, como se vê, apenas parcialmente corretas. Mas mesmo se fossem todas absolutamente corretas, seria fácil abolir tais regulamentos com uma canetada, ou modificá-las. Agora vem a parte curiosa desta severa filípica contra a S.T., feita por nosso eloqüente Demóstenes. Depois de ter preenchido seis páginas (do total de doze) com as acusações citadas, o escritor admite, na sétima, que os regulamentos foram modificados. “As palavras acima” somos informados (um pouco tarde) “foram escritas sob o engano de que os “Regulamentos” de 1885 tivessem sido os últimos. Desde então descobrimos que existe uma versão posterior dos Regulamentos datada de 1886 que modificou os antigos regulamentos em muitos pontos.” Tanto melhor. Por que relembrar, neste caso, erros do passado, se não existem mais? Mas os acusadores não vêm deste modo. Eles estão dispostos a agir como uma Nêmesis teosófica; e sem se deixarem intimidar pela descoberta, eles acrescentam que, contudo, “é necessário examinar os primitivos regulamentos para verificar o princípio subjacente que impregna também os atuais Regulamentos”. Isto nos lembra a fábula “O Lobo e o Cordeiro”. Mas, vejam vocês, “o ponto principal é que a Convenção não tem poder para fazer qualquer regulamento, pois tal poder está em contradição com o espírito da teosofia”, etc., etc.
Ora, este é o argumento mais extraordinário que poderia ser feito. Desta forma, nenhuma Fraternidade, Associação ou Sociedade é viável. Mais do que isso: nenhum teosofista, não importa o quão sagrada sua vida atual possa ser, teria o direito de se chamar teosofista, pois se fosse necessário examinar sua vida anterior, “para verificar o princípio subjacente” que governa a natureza do homem atual, é quase certo que ele seria considerado inadequado para ser chamado de teosofista! O experimento dificilmente seria considerado agradável pela maioria daqueles que tiveram suas vidas reformadas pela associação com a S.T.; e existem muitos destes casos.
Depois destas denúncias severas e virulentas, poderíamos esperar pelo menos algum conselho prático, bom, amigável e teosófico. De forma alguma, nenhum nos foi dado, já que nos disseram (pág. 9) que seria “inoportuno sugerir quaisquer medidas específicas, pois ninguém que tenha fé na Fraternidade e no poder da Verdade falhará em perceber o que é necessário.” O Presidente Fundador aparentemente não tem fé, seja na “Fraternidade” ou no “poder da Verdade”. Isto faz-se evidente por ele ter falhado em perceber (a) que o Quartel-General – aberto a todos os Teosofistas de qualquer raça ou posição social, acomodação completa grátis o ano todo – era uma Organização anti-fraternal; (b) que “o escritório central de Adyar, que guarda registros e concentra informações” com seus residentes europeus e hindus trabalhando de graça e até mesmo contribuindo com o próprio dinheiro sempre que o tivessem – deveria ser conduzido segundo o método de George Miller, de Bristol, isto é, os numerosos residentes e funcionários em Adyar, encabeçados pelo Presidente Fundador deveriam se ajoelhar todas as manhãs em oração pelo pão e leite, e implorar ao “milagre” por suas refeições; e que finalmente, (c) todo o bem que a Sociedade está fazendo não é bem nenhum, mas um “erro espiritual” porque presume chamar de “Sabedoria Divina (teosofia) uma linha limitada de bom trabalho”.
A abaixo-assinada é uma teosofista sempre paciente, que tem trabalhado até aqui com a impressão de que nenhuma quantidade de sutil escolástica e casuística torturada poderia deixar de encontrar algum dia, assim como a Pedra de Roseta, o seu Champollion. Os mais perspicazes dentre os teosofistas são agora convidados a decifrar em “Algumas Palavras” o que os escritores ou escritor está pretendendo -mesmo que não em linguagem franca e desenvernizada, ou seja – “Abaixo a Sociedade Teosófica, o Presidente Fundador e seu Quartel-General.” Essa é a única explicação possível para as doze páginas de denúncias, para as quais se tenta agora dar uma resposta. O que se pode entender da seguinte confusão de afirmações contraditórias:
(a) Tendo-se mostrado o Presidente Fundador como um “tirano”, um “pretenso César”, “aspirando por poder papal” e um “Conselho Veneziano dos Três”, e outras palavras similares em praticamente todas as sentenças desse artigo, se reconhece ao mesmo tempo que a “Loja de Londres da Sociedade Teosófica ignorou completamente os Regulamentos [do Papa César] publicados em Adyar” (pág. 4). E ainda mais, a citada Loja ainda está de pé e respira, e ninguém ficou sabendo de nenhuma excomunhão pronunciada contra ela até agora… (b) O Artigo XIV, que estabelece que a Sociedade tem de “tratar apenas de assuntos científicos e filosóficos” e, portanto, “é bastante evidente [?] que o poder e posição reivindicados nos Regulamentos para o Presidente Fundador, o Conselho Geral e Convenção estão em oposição com o espírito dos Objetivos declarados.”
Talvez fosse melhor citar todo o parágrafo em que aparecem estas palavras,(7) uma vez que se discute ninharias sobre a reação possivelmente imperfeita dos Regulamentos. Não é por si mesmo evidente que as palavras “apenas de assuntos científicos e filosóficos” estão inseridas como um aviso necessário aos verdadeiros teosofistas que, ao tratar de política dentro de qualquer Loja da Sociedade, podem trazer a desgraça e a ruína para toda a organização, – na Índia para começar? A Sociedade tem ou não mais de 140 Seções espalhadas pelos quatro cantos do mundo para cuidar? Como no caso dos “Mahatmas” e “Mahatado”, o trabalho ativo da Sociedade Teosófica é confundido – e não cabe a escritora decidir se voluntariamente ou não – com a Teosofia. Não há necessidade de entrarmos aqui em considerações sobre a diferença entre a jarra que contém um líquido e o próprio líquido, ou a natureza dele. “Teosofia ensina autocultura… e não controle”, nos dizem. A Teosofia ensina a cultura mútua antes da auto-cultura, para começar. União é força. É através da união de vários teosofistas que pensam na mesma maneira em um ou mais grupos, tornando-os intimamente unidos pelo mesmo elo magnético da unidade fraternal e da simpatia, que os objetivos do desenvolvimento mútuo e progresso no pensamento Teosófico podem ser melhor atingidos. “Autocultura” é para Hatha Yogues isolados, independentes de qualquer Sociedade e tendo que evitar a associação com seres humanos; isso é EGOÍSMO três vezes destilado. Para o progresso moral real, “onde dois ou três se reúnem” em nome do ESPÍRITO DA VERDADE – o Espírito da Teosofia estará entre eles. Dizer que a Teosofia não precisa de uma Sociedade – seu veículo e centro – é o mesmo que afirmar que a Sabedoria das Idades acumulada em milhares de volumes no Museu Britânico, não precisa do edifício que a abriga e nem das obras em que é encontrada. Por que não aconselhar o Governo Britânico, com toda a sua falta de discernimento e toda sua mundanalidade, para destruir o Museu e todos os seus veículos da Sabedoria? Por que gastar tanto dinheiro e pagar tantos funcionários para cuidar de seus tesouros, ainda mais que muitos de seus guardiães podem estar totalmente desinteressados e em oposição ao Espírito daquela Sabedoria? Os Diretores de tais Museus podem ou não ser homens muito perfeitos, e alguns de seus assistentes podem nunca ter aberto uma obra filosófica: ainda assim são eles que cuidam da biblioteca e, ao preservá-la para as gerações futuras, tem indiretamente direito aos seus agradecimentos. Muito mais gratidão se deve àqueles que, como nossos teosofistas que se auto-sacrificam em Adyar, devotam suas vidas e prestam serviços gratuitamente pelo bem da Humanidade!
Protesta-se contra os Diplomas, Cartas Constitutivas e principalmente a taxa de admissão. Esta última é um “imposto” e, portanto, “inconsistente com o princípio da Fraternidade”… Um “presente forçado é anti-fraternal”, etc. etc. Seria curioso ver onde iria parar a S.T. se o Presidente Fundador seguisse religiosamente os conselhos dados. A “Iniciação” na admissão de novos membros já foi abandonada na Europa, e levou ao que logo se tornará conhecido: de nada adiantará mencioná-lo no momento. Agora, quanto às “Cartas Constitutivas” e diplomas: teriam o mesmo destino. Daí não haveria qualquer documento para mostrar a qualquer grupo, e nenhum diploma para provar que alguém é filiado a Sociedade. Daí também liberdade perfeita para qualquer um se denominar teosofista ou negar que o seja. A “taxa de admissão”? Realmente ela tem que ser considerada uma “extorsão” terrível e anti-fraternal, um “presente forçado”, em face das milhares de Lojas Maçônicas, Clubes, Associações, Sociedades, Ligas e até mesmo o “Exército da Salvação”. A primeira, todo ano exige fortunas de seus membros; o último – sufoca as massas em nome de Jesus e, ao apelarem para contribuições voluntárias, fazem os convertidos pagarem, e pagar por sua vez cada um de seus “oficiais”, nenhum dos quais serviria o “Exército” sem recompensa. Ainda assim seria bom se nossos membros seguissem o exemplo dos Maçons em sua solidariedade de pensamento e ação, e pelo menos em sua união aparente, apesar de que recebendo mil vezes mais de seus membros, eles lhes dão em retorno ainda menos do que fazemos, seja espiritualmente ou moralmente. Esse único “guinéu” (21 xelins, N.T.) esperado de cada membro é gasto em menos de uma semana, como foi calculado, com selos e correspondência com teosofistas. Ou então devemos entender que toda a correspondência com os membros – agora deixados à “autocultura” – também deve terminar, seguindo-se aos diplomas, cartas, e o resto? Então é melhor que o Quartel-General e o Escritório sejam fechados. Uma única pergunta, porém: Foram abolidas a contribuição anual de 1 libra da Loja de Londres da S.T. e a quantia de 2/6d. para o Grupo Oriental como “atos de extorsão anti-fraternal”; há quanto tempo elas começaram a ser vistas como uma “venda de fraternidade”, se assim foi?
Continuando: as acusações mesclam-se com as seguintes afirmações, tão profundas, que requerem uma cabeça mais sagaz do que a nossa para penetrar tudo o que está por trás das palavras contidas nelas. “É a S.T. uma Fraternidade ou não?” pergunta o queixoso. – “Se é, é possível ter qualquer centro de poder arbitrário?(8) Dizer que há necessidade de tal centro é só uma maneira esquiva de dizer que nenhuma Fraternidade é possível,(9) mas na verdade esta necessidade de modo algum está provada [!?]. Sem dúvida, tem existido Fraternidades sob a direção de Mestres singulares [“tem existido”, e ainda existem. H.P.B.], mas em tais casos os Mestres nunca foram eleitos por considerações geográficas ou outras [?]. O líder nato sempre foi reconhecido por incorporar o espírito de Humanidade. Fazer comparações seria quase o mesmo que blasfemar. O maior dentre os homens é sempre o mais pronto a servir, e mesmo assim é inconsciente do serviço.
“Vamos fazer uma pausa antes de por fim atirar o peso da mundanalidade sobre os ombros da Teosofia. Não esqueçamos que a Teosofia não floresce em nosso meio pela força e pelo controle, mas sim pelo raio de sol da fraternidade e pelo orvalho do auto-esquecimento. Se não acreditamos na Fraternidade e na Verdade, coloquemos cinzas sobre nossas cabeças e choremos em panos rústicos, e não nos deleitemos na púrpura da autoridade e nas vestes festivas do orgulho e da mundanalidade. É muito melhor que o nome de Teosofia nunca seja ouvido do que ser usado como lema de uma instituição papal”.
Quem, após ler isto, e sem saber que o fragmento acima de flores retóricas de discurso está dirigido contra o desafortunado Presidente Fundador, não teria ante seu “olho mental” um Alexandre Borgia, um Calígula ou pelo menos o General Booth em sua última metamorfose! Quando, como, ou devido a que nosso altruísta, bom caráter e sempre meigo Presidente mereceu tal invectiva ciceroniana? A situação denunciada já existe há quase doze anos, e nosso acusador sabia dela e chegou mesmo a tomar parte ativa em sua organização, Convenções, Conselhos, Regulamentos, etc., etc., em Bombaim e Adyar. Essa virulenta investida é sem dúvida devida a “AUTOCULTURA”? O critico cresceu mais que o movimento e deu as costas ao programa original; dai sua severidade. Mas onde está a verdadeira caridade teosófica, a tolerância, e o “raio de sol da fraternidade” sobre a qual se acabou de falar e insistir? Certamente é fácil pregar o “orvalho do auto-esquecimento” quando não se tem nada para fazer a não ser evocar estas frases elegantemente bem acabadas; se todo teosofista em Adyar tivesse suas necessidades diárias e mesmo o conforto, sua comida, alojamento e tudo o mais providenciados por um teosofista mais rico; e se o mesmo “raio de sol da fraternidade” fosse derramado sobre ele, como o é sobre o crítico que encontrou para si mesmo um cuidado fraternal infindável, uma devoção fraternal e auto-sacrificada em dois outros membros de índole nobre, então – haveria pouca necessidade de o Presidente Fundador recorrer e se humilhar ante nossos teosofistas. Pois, se ele tem de mendigar 2 shillings por ano é para que aqueles, Europeus e Hindus que trabalham dia e noite em Adyar, prestando serviços gratuitamente e recebendo poucos agradecimentos e honras por isto tenham no mínimo uma refeição por dia. Não se pode permitir que o suave “orvalho da auto-renúncia” esfrie os nossos corações e se transforme no letal mofo do esquecimento e negligência para com aqueles que colaboram conosco. O severo crítico parece ter perdido de vista que durante meses, na última crise, todos os nossos devotados funcionários de Adyar, desde o Presidente até o mais jovem irmão no escritório tem vivido com 5d. por dia cada um, tendo reduzido suas refeições ao mínimo. E é esta migalha, fruto da “contribuição de 2 shillings”, que alguns pagam conscienciosamente, que é agora chamada de extorsão, um desejo de viver “na púrpura da autoridade e nas alegres vestimentas do orgulho e da mundanalidade”!
Nosso “Irmão” está certo. Vamos “chorar em panos rústicos e colocar cinzas sobre nossas cabeças” se a S.T. tiver mais críticas anti-fraternais como esta para suportar. Verdadeiramente “seria muito melhor que o nome da Teosofia nunca mais fosse ouvido do que ser usado como lema” – não de autoridade papal, que não existe em lugar algum de Adyar exceto na imaginação do crítico – mas como lema de um “fanatismo auto-desenvolvido”. Todos os grandes serviços prestados à Sociedade, todo o nobre trabalho feito pelo queixoso empalidecerá e desvanecerá ante essa aparência de frieza de coração. Certamente ele não pode desejar a aniquilação da Sociedade? E se o desejasse seria inútil: a S.T. não pode ser destruída como uma organização. Não está em poder seja dos Fundadores ou de seus críticos destruí-la; e nenhum amigo ou inimigo pode arruinar o que está fadado a existir, apesar de todos os erros cometidos por seus líderes. O que foi gerado e fundado pelos “Elevados Mestres” e sob sua autoridade, se não sob sua instrução – TEM QUE VIVER E VIVERÁ. Cada um de nós e todos receberá seu Karma nisto, mas o veículo da Teosofia permanecerá indestrutível e ileso, quer seja pela mão de homem ou do Inimigo. Não; “a verdade não depende de mostrar as intenções”; mas no caso do bastante injuriado Presidente Fundador, deve depender do mostrar de fatos. O íngreme caminho que ele tinha de subir só e sem ajuda nos primeiros anos era espinhoso e cheio de armadilhas. Era terrível a oposição fora da Sociedade que ele tinha de construir, era desalentadora e doentia a traição que freqüentemente encontrava dentro do Quartel-General. Inimigos rangiam os dentes a sua volta; aqueles que ele considerava seus amigos mais leais e companheiros de trabalho traíam-no e a Causa à menor provocação. Ainda assim, quando centenas em seu lugar teriam fracassado e abandonado tudo em desespero, ele, impassível e inabalável, foi em frente trabalhando exaustivamente como antes, inflexível e sem desânimo, amparado por aquele pensamento único e convicção de que estava cumprindo o seu dever. Que outro estímulo tinha o Fundador a não ser sua promessa teosófica e o senso de dever para com AQUELES a quem ele tinha prometido servir até o fim da vida? Só havia um guia para ele – a mão que primeiro tinha apontado seu caminho para cima: a mão do MESTRE que ele tanto amava e reverenciava, a quem servia tão devotadamente apesar de ocasionalmente, talvez, insensatamente. Presidente eleito vitaliciamente, ele, contudo, ofereceu-se para renunciar mais de uma vez em favor de qualquer um que fosse considerado mais capacitado, mas a maioria nunca permitiu que o fizesse – não de “mostrar as intenções” mas mostrar os corações, literalmente – pois poucos são mais amados que ele, até mesmo pela maioria daqueles que ocasionalmente criticam suas ações. E isto é apenas natural: deve haver muitas pessoas mais ágeis para cuidar dos assuntos administrativos, mais eruditas em filosofia, mais sutis na casuística, em metafísica ou na política da vida diária; mas podemos procurar no mundo inteiro e não encontraremos alguém mais fiel a seus amigos, mais verdadeiro em sua palavra ou mais devotado a Teosofia prática e real – do que o Presidente Fundador; e estes são os requisitos principais para o líder de um movimento como este – que pretende se tornar uma Fraternidade de homens. A Sociedade não precisa de Loiolas; ela tem de evitar tudo que se aproxime do casuísmo, e nem devemos tolerar casuístas mesmo que sutis. Nela, onde cada indivíduo tem que trabalhar seu próprio Karma, o juízo de um casuísta que assume o dever de se pronunciar sobre o estado da alma de um irmão, ou guiar sua consciência, não tem utilidade, e pode se tornar positivamente nociva. O Fundador não reivindica mais direitos do que qualquer membro da Sociedade: o direito de opinião própria, que, toda vez que entra em choque com Lojas ou indivíduos, é totalmente posto de lado e ignorado – como o demonstram os próprios queixosos. Este, então, é o único crime do suposto réu, e nada pior do que isto pode ser-lhe atribuído. E ainda assim, qual é a recompensa deste homem amável? Ele, que nunca recusou um serviço, além daquilo que ele considera seus deveres oficiais, a qualquer ser vivo; ele que redimiu dúzias de homens, jovens e velhos, de vidas dissipadas e freqüentemente imorais, e salvou outros de terríveis dificuldades dando-lhes refúgio seguro na Sociedade; ele que recolocou outros no pináculo da Santidade através de seus status nesta Sociedade, quando de outro modo estariam agora nas malhas da “mundanalidade” e talvez pior; – ele, esse amigo verdadeiro de todo teosofista, e de fato “o mais pronto a servir e inconsciente do Serviço” – ele é agora repreendido por que? – por erros insignificantes, por inúteis “ordens especiais”, uma infantilidade, mais do que um amor não-teosófico por exibição, devido a devoção pura à sua Sociedade. Deve então a natureza humana ser vista de maneira tão pouco caridosa por nós, a ponto de chamar não-teosófico, mundano e pecaminoso o impulso natural de uma mãe de enfeitar sua criança e alardear suas melhores qualidades? A comparação pode ser motivo de riso, mas apenas riria aquele que, como os fanáticos cristãos de antigamente, ou os yogues nús e desgrenhados da Índia, não mais tiver caridade para a menor das fraquezas humanas. Ainda assim o símile é correto, já que a Sociedade é a criança, a amada criação do Fundador; ele bem pode ser perdoado por esse amor tão exagerado, pelo qual ele tem sofrido e trabalhado mais do que todos os outros teosofistas juntos. Ele é chamado “mundano”, “ambicioso de poder” e anti-teosófico por isto. Muito bem; deixemos que qualquer juiz imparcial compare a vida do Fundador com a da maioria de seus críticos, e veja quem foi o mais teosófico desde que a Sociedade veio à existência. Se não se conseguiu resultados melhores, não é o Presidente que deve ser repreendido por isto, mas os próprios Membros, pois ele vem sempre tentando promover o crescimento da Sociedade, enquanto que a maioria dos “Irmãos” ou nada fizeram ou criaram obstáculos ao seu progresso tanto por omissão como comissão. É melhor uma atividade imprudente do que uma overdose de sábia inatividade, apatia ou indiferença, que sempre são a morte de um empreendimento.
Apesar disto, esses são os membros que agora procuram sentar-se no trono de Salomão; e nos dizem que a Sociedade é inútil, que seu Presidente é positivamente prejudicial e que o Quartel-General deveria ser abolido, pois “a organização chamada Teosófica mostra muitos aspectos que obstruem seriamente o progresso da Teosofia”. Todavia, as árvores devem ser julgadas por seus frutos. Acabou-se de mostrar que nenhuma “ordem especial” oriunda do “Centro de Poder” chamado Adyar afetaria de qualquer modo Lojas ou indivíduos; e portanto qualquer teosofista que tenha tendência para a autocultura, “auto-involução” ou qualquer tipo de “auto-ismo”, tem toda liberdade para faze-lo; e se, em vez de utilizar seus direitos, ele utilizar sua capacidade mental para criticar as ações dos outros, então ele é quem se torna um empecilho, e não a “Organização chamada Teosófica”. Pois se a Teosofia é praticada em algum lugar deste mundo, esse lugar é Adyar, no Quartel-General. Deixemos “aqueles interessados no progresso da verdadeira Teosofia”, invocados pelos escritores, olhar em volta e julgar. Vejam as Lojas e comparem-nas com o grupo que trabalha naquele “Centro de Poder”. Admirem o “progresso da teosofia” em Paris, Londres, e até mesmo na América. Observem, na grande “Fraternidade”, por toda parte, um verdadeiro Pandemônio do qual o próprio Espírito do Conflito e do ódio se orgulharia! Em toda parte disputas, lutas por supremacia; maledicência, difamação e mexericos nos últimos dois anos; um verdadeiro campo de batalha onde muitos membros tanto se desonraram e a sua Sociedade tentando aviltar outros, que se tornaram mais parecidos a hienas do que seres humanos, por escavarem as sepulturas do Passado com a esperança de trazer à luz velhas e esquecidas difamações e escândalos!
Somente em Adyar, no Quartel-General da Sociedade Teosófica, os Teosofistas são o que deveriam ser em qualquer lugar: verdadeiros teosofistas, e não meramente filósofos e sofistas. Somente neste centro estão reunidos os poucos e solitários Membros trabalhadores práticos, que labutam silenciosa e ininterruptamente, enquanto aqueles Irmãos pelos quais eles estão trabalhando, sentam-se no dolce far niente do ocidente e os criticam. É esse o “trabalho verdadeiramente teosófico e fraternal”, aconselhar suprimir e desestabilizar o único “centro” onde o trabalho realmente fraterno, humanitário, está sendo feito?
“Teosofia primeiro e organização depois.” Palavras de ouro, estas. Mas onde se ouviria falar de Teosofia hoje em dia se sua Sociedade não tivesse sido organizada antes que seu Espírito e o desejo por ele tivessem permeado o mundo todo? E será que a Vedanta e outras filosofias hindus seriam ensinadas e estudadas na Inglaterra fora dos muros de Oxford e Cambridge, se aquela Organização não as tivesse pescado como pérolas do Oceano do Esquecimento e Ignorância e as apresentasse ante o mundo profano? Mais ainda, amáveis Irmãos e críticos, teriam sido conhecidos os expositores hindus daquela sublime filosofia fora dos muros de Calcutá, se os Fundadores obedecendo a ORDENS recebidas, não tivessem forçado o reconhecimento da notável erudição e filosofia daqueles expositores pelos dois centros mais civilizados e cultos da Europa, Londres e Paris? Realmente, é mais fácil destruir do que construir. As palavras “anti-teosófico” e “anti-fraternal” estão sempre soando em nossos ouvidos; ainda assim, palavras e atos verdadeiramente teosóficos não são encontrados em superabundância tão exorbitante entre aqueles que mais freqüentemente costumam repreender. Por mais insignificantes e limitados que sejam os bons propósitos, estes terão sempre mais peso do que o falatório vazio e vanglorioso, e será teosofia, enquanto que as teorias sem qualquer realização prática são no máximo filosofia. A Teosofia é uma Ciência oni-abarcante; muitos são os caminhos que levam até ela, tão numerosos quanto suas definições, que começaram pelo sublime, durante a época de Amonio Saccas, e terminam pelo ridículo – no dicionário Webster. Não há razão para nossos críticos pretenderem ser os únicos que sabem o que é teosofia e como defini-la. Tem havido teosofistas e Escolas Teosóficas nos últimos 2000 anos, desde Platão até os Alquimistas medievais, que podemos supor conheciam o valor do termo. Portanto, quando nos dizem que “a questão a ser considerada não é se a Sociedade Teosófica está fazendo o bem, mas se está fazendo aquele tipo de bem que lhe dá o direito ao nome de Teosofia” – nós nos voltamos e perguntamos: “E quem será o juiz nesta questão abstrata?” Ouvimos de um dos maiores Teosofistas que já viveu, que assegurou a seus ouvintes que quem tenha dado um copo de água fria a um pequenino em seu nome (da Teosofia), teria uma maior recompensa do que todos os Escribas e Fariseus eruditos: “Ai do mundo por causa das ofensas!”.
Nunca se fez da crença nos Mestres artigo de fé na S.T. Mas para os seus Fundadores as ordens recebidas Deles quando ela foi estabelecida sempre foram sagradas. E isso é o que um deles escreveu em uma carta preservada até hoje:
“A Teosofia não deve representar meramente uma coleção de verdades morais, um feixe de Ética metafísica resumidas em dissertações teóricas. A Teosofia tem de ser tornada prática, e tem, portanto, de ser libertada da discussão inútil. Tem de encontrar expressão objetiva num código de vida oni-abrangente totalmente impregnado de seu espírito – o espírito de tolerância mútua, caridade e amor. Seus seguidores tem de dar o exemplo de uma moralidade tanto firmemente delineada quanto firmemente aplicada, antes que tenham o direito de apontar, mesmo num espírito de auxílio, a ausência de tal Unidade ética e singularidade de propósito em outras associações e indivíduos. Como já foi dito antes, nenhum Teosofista deveria censurar um irmão seja dentro ou fora da associação, macular suas ações ou denunciá-lo (10), para que ele mesmo não perca o direito de ser considerado um teosofista. Sempre desvie o olhar das imperfeições de seu vizinho, e centralize sua atenção em suas próprias faltas para corrigi-las e se tornar mais sábio… Não aponte a disparidade entre a pretensão e a ação em outro homem, mas – seja ele irmão ou vizinho – ajude-o em sua árdua caminhada pela vida… O problema da verdadeira teosofia e sua grande missão é colocar em prática conceitos claros e inequívocos de idéias éticas e deveres que satisfaçam mais e melhor o sentimento altruísta e correto em nós; e a modelagem destes conceitos para a sua adaptação em tais formas de vida diária, onde podem ser aplicadas com justiça… Esse é o trabalho comum em vista para todos que desejam agir segundo estes princípios. É uma árdua tarefa e exigirá esforço enérgico e perseverante, mas deve levá-lo insensivelmente ao progresso e não deixar espaço para quaisquer aspirações egoístas fora dos limites traçados… Não seja indulgente com comparações anti-fraternais entre o trabalho realizado por você mesmo e o trabalho que o seu vizinho ou irmão deixou de fazer, no campo da Teosofia, pois a ninguém se pede que prepare um terreno maior do que a sua própria força e capacidade o permitam… Não seja tão severo quanto aos méritos e deméritos de alguém que procura admissão em suas fileiras, pois a verdade sobre o estado real do homem interno só pode ser conhecido e tratado com justiça pelo KARMA. Até mesmo a simples presença entre vós de um indivíduo bem intencionado e simpatizante pode ajudá-los magneticamente… Vocês são Trabalhadores Livres no Domínio da Verdade, e como tal, não podem deixar obstruções nos caminhos que levam a ela.”… [A carta se encerra com as seguintes linhas, que agora se tornam completamente claras, pois dão a chave para toda a situação]… “Os graus de sucesso ou fracasso são os marcos que temos de seguir, pois constituirão as barreiras colocadas por suas próprias mãos entre vocês mesmos e aqueles a quem pediram para ser seus instrutores. Quanto mais perto vocês se aproximam do objetivo contemplado – menor a distância entre o estudante e o Mestre….”
Assim, uma resposta completa pode ser encontrada nas linhas acima ao papel escrito pelos dois Teosofistas. Aqueles que estão agora inclinados a repudiar a Mão que a traçou e se sentem prontos a virar as costas a todo o passado e ao programa original da S.T. estão em liberdade para fazê-lo. A corporação Teosófica não é uma Igreja nem uma Seita, e toda a opinião individual merece ser ouvida. Um teosofista pode progredir e se desenvolver, e seus pontos de vista podem suplantar os dos Fundadores, crescer e se ampliar em todas as direções, sem por isto se afastar do solo fundamental onde nasceram e foram alimentados. Portanto, é naquele que muda diametralmente as suas opiniões de um dia para outro e altera suas visões devocionais do branco para o preto – que dificilmente se pode confiar em suas afirmações e ações. Mas certamente este não é o caso dos dois Teosofistas que respondemos agora…
Enquanto isto, paz e boa vontade fraternal a todos.
Ostende, 3 de outubro de 1886
H.P. Blavatsky
Secret. Corresp. S.T.
(*) Através desse artigo, e também nas notas de rodapé, os vários pontos finais que surgem… não indicam elisão de palavras, mas somente o início de uma nova sentença ou pensamento que está particularmente enfatizado. – C.Jinarajadasa
NOTAS:
(1) UM MEMBRO CRISTÃO LIBERAL DA S.T. LEVANTOU OBJEÇÕES AO ESTUDO DE RELIGIÕES ORIENTAIS E PÔS EM DÚVIDA A EXISTÊNCIA DE ESPAÇO PARA QUALQUER NOVA SOCIEDADE. FOI RECEBIDA UMA CARTA QUE RESPONDE A ESTAS OBJEÇÕES E TAMBÉM À PREFERÊNCIA DELE PELO CRISTIANISMO, E SEU CONTEÚDO FOI COPIADO PARA ELE; APÓS O QUE ELE NÃO MAIS NEGOU A CONVENIÊNCIA DE UMA SOCIEDADE TAL COMO A ASSOCIAÇÃO TEOSÓFICA PROPOSTA. ALGUNS TRECHOS DESTA CARTA ORIGINAL MOSTRARÃO CLARAMENTE A NATUREZA DA SOCIEDADE QUE ENTÃO SE PROJETAVA, E QUE TENTAMOS APENAS SEGUIR E CUMPRIR DA MELHOR MANEIRA QUE PODÍAMOS AS INTENÇÕES DOS VERDADEIROS CRIADORES DA SOCIEDADE NAQUELES DIAS. AO PIEDOSO CAVALHEIRO TENDO ELE REIVINDICADO QUE ERA UM TEOSOFISTA E QUE TINHA O DIREITO DE JULGAR OUTRAS PESSOAS, FOI DITO… “VOCÊ NÃO TEM DIREITO A ESSE TÍTULO. VOCÊ É SOMENTE UM FILO-TEOSOFISTA, POIS QUEM QUER QUE TENHA ALCANÇADO A COMPREENSÃO TOTAL DO NOME E NATUREZA DE UM TEOSOFISTA NÃO JULGARÁ QUALQUER HOMEM OU AÇÃO… VOCÊ AFIRMA QUE SUA RELIGIÃO É A MAIS ELEVADA E O PASSO FINAL EM DIREÇÃO À SABEDORIA DIVINA NESSA TERRA, E QUE ELA INTRODUZIU NAS ARTÉRIAS DO VELHO E DECADENTE MUNDO, VIDA NOVA, SANGUE NOVO E VERDADES DESCONHECIDAS DOS PAGÃOS? SE REALMENTE ASSIM FOSSE SUA RELIGIÃO TERIA INTRODUZIDO AS MAIORES VERDADES EM TODAS AS RELAÇÕES SOCIAIS, CIVIS E INTERNACIONAIS DA CRISTANDADE. EM VEZ DISSO, COMO QUALQUER UM PODE PERCEBER, A VIDA SOCIAL TANTO QUANTO PRIVADA NÃO ESTÁ BASEADA NUMA SOLIDARIEDADE MORAL COMUM, MAS SOMENTE NUMA OPOSIÇÃO MÚTUA CONSTANTE E NUM EQUILÍBRIO PURAMENTE MECÂNICO DE PODERES E INTERESSES INDIVIDUAIS … SE VOCÊ QUISER SER UM TEOSOFISTA NÃO DEVERÁ FAZER COMO AQUELES À SUA VOLTA, QUE EVOCAM UM DEUS DE VERDADE E AMOR E SERVEM ÀS TENEBROSAS FORÇAS DO PODER, AVIDEZ E CASUALIDADE. PERCEBEMOS NO SEIO DE SUA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ OS MESMOS TRISTES SINAIS DE OUTRORA: AS REALIDADES DE SUAS VIDAS DIÁRIAS SÃO DIAMETRALMENTE OPOSTAS AO SEU IDEAL RELIGIOSO, CONTUDO VOCÊS NÃO O PERCEBEM; O PENSAMENTO DE QUE AS PRÓPRIAS LEIS QUE OS GOVERNAM, SEJA NA POLÍTICA OU NA ECONOMIA, SE CHOCAM DOLOROSAMENTE CONTRA AS ORIGENS DE SUA RELIGIÃO PARECE NÃO PERTURBÁ-LOS NEM UM POUCO. MAS SE AS NAÇÕES DO OCIDENTE ESTÃO TÃO INTEIRAMENTE CONVENCIDAS DE QUE O IDEAL NUNCA SE TORNARÁ PRÁTICO E QUE O PRÁTICO NUNCA ALCANÇARÁ O IDEAL, ENTÃO VOCÊ TEM DE FAZER UMA ESCOLHA: OU SUA RELIGIÃO É IMPRATICÁVEL, E NESSE CASO ELA NÃO É MAIS DO QUE UMA PRESUNÇOSA ILUSÃO, OU ENTÃO DEVERÁ ENCONTRAR UMA APLICAÇÃO PRÁTICA; CONTUDO É VOCÊ, SÃO VOCÊS MESMOS, QUE NÃO SE PREOCUPAM EM APLICAR A ÉTICA RELIGIOSA NA VIDA DIÁRIA… POR ISSO, ANTES DE CONVIDAR OUTRAS NAÇÕES “À MESA FESTIVA DO REI”, DA QUAL SEUS CONVIDADOS SE LEVANTAM MAIS FAMINTOS DO QUE ESTAVAM, VOCÊ DEVERIA ANTES DE TENTAR TRAZÊ-LOS PARA SUA PRÓPRIA MANEIRA DE PENSAR, OLHAR PARA A REFEIÇÃO QUE ELES TE OFERECEM… SOB O DOMÍNIO E INFLUÊNCIA DOS CREDOS EXOTÉRICOS, QUE SÃO AS SOMBRAS GROTESCAS E DISTORCIDAS DE REALIDADES TEOSÓFICAS, SEMPRE HAVERÁ A MESMA OPRESSÃO DOS FRACOS E POBRES, E A MESMA LUTA TIFÔNICA DOS PODEROSOS E RICOS ENTRE SI… SOMENTE A FILOSOFIA ESOTÉRICA, A COMBINAÇÃO ESPIRITUAL E PSÍQUICA DO HOMEM COM A NATUREZA, PELA REVELAÇÃO DE VERDADES FUNDAMENTAIS, PODE TRAZER AQUELE MUITO DESEJADO ESTADO INTERMEDIÁRIO ENTRE OS DOIS EXTREMOS DO EGOÍSMO HUMANO E ALTRUÍSMO DIVINO E, FINALMENTE, LEVAR AO ALIVIO DO SOFRIMENTO HUMANO…” (VER CONTINUAÇÃO NA ÚLTIMA PÁGINA.) (ASSIM ESTÁ NO MANUSCRITO. A CONTINUAÇÃO DA CARTA ESTÁ NA PÁGINA 14, E COMEÇA COM AS PALAVRAS: “A TEOSOFIA NÃO DEVE REPRESENTAR”, ETC. – C.JINARAJADASA)
(2) SR. J. S. COBB.
(3) DURANTE ANOS ESSE SÁBIO REGULAMENTO, QUE DIZIA QUE QUALQUER MEMBRO ACUSADO DE MALEDICÊNCIA OU CALÚNIA SERIA EXPULSO DA SOCIEDADE APÓS SUFICIENTE EVIDÊNCIA, TORNOU-SE OBSOLETO. HOUVE DOIS OU TRÊS ÚNICOS CASOS DE EXPULSÃO, PELO MESMO MOTIVO, DE MEMBROS SEM IMPORTÂNCIA. FOI PERMITIDO A EUROPEUS DE NOME E POSIÇÃO COBRIREM A SOCIEDADE LITERALMENTE COM LAMA E CALUNIAREM SEUS IRMÃOS COM TODA IMPUNIDADE. ESSE É O KARMA DO PRESIDENTE – E É JUSTO.
(4) ALÉM DISSO, O AUTOR DESTAS QUEIXAS, EM “ALGUMAS PALAVRAS, ETC.” É MEMBRO DO CONSELHO GERAL HÁ MAIS DE DOIS ANOS. (VER REGULAMENTO DE 1885); POR QUE NÃO FALOU ANTES?
(5) NO ENTANTO, A FRATERNIDADE TEOSÓFICA PARECE DESTINADA A RIVALIZAR COM O GRUPO DOS APÓSTOLOS QUANTO AO NÚMERO DE SEUS PEDROS NEGADORES, SEUS TOMÁS DESCRENTES E MESMO OCASIONALMENTE ISCARIOTES, PRONTOS A VENDER SUA FRATERNIDADE POR MENOS DE TRINTA “SHECKLES” DE PRATA!
(6) OS MEMBROS DA S.T. SABEM, E AQUELES QUE NÃO SABEM DEVEM SER INFORMADOS, QUE O TERMO “MAHATMA”, AGORA TÃO SUTILMENTE ANALISADO E CONTESTADO POR ALGUMAS RAZÕES MISTERIOSAS, NUNCA TINHA SIDO USADO PARA DESIGNAR NOSSOS MESTRES ANTES DE NOSSA CHEGADA A ÍNDIA. DURANTE ANOS ELES FORAM CONHECIDOS COMO OS “IRMÃOS-ADEPTOS”, OS “MESTRES”, ETC. FORAM OS PRÓPRIOS HINDUS QUE COMEÇARAM A USAR O TERMO PARA OS DOIS INSTRUTORES. ESTE NÃO É LUGAR PARA UM TRATADO ETIMOLÓGICO SOBRE A CONVENIÊNCIA OU NÃO DA QUALIFICAÇÃO NO CASO PRESENTE. COMO UM ESTADO, A CONDIÇÃO DE MAHATMA É UMA COISA; COMO UMA PALAVRA COMPOSTA, MAHA-ATMA (GRANDE ALMA) É OUTRA BEM DIFERENTE. OS HINDUS DEVERIAM SABER O VALOR DOS NOMES SÂNSCRITOS METAFÍSICOS USADOS, E SÃO ELES OS PRIMEIROS A USARAM O TERMO PARA DESIGNAR OS MESTRES.
(7) “XIV- TENDO A SOCIEDADE DE TRATAR APENAS DE ASSUNTOS FILOSÓFICOS E CIENTÍFICOS, E TENDO LOJAS EM VÁRIAS PARTES DO MUNDO SOB DIFERENTES FORMAS DE GOVERNO, NÃO SE PERMITE A SEUS MEMBROS, COMO TAIS, INTERFERIREM EM POLÍTICA, E SE REPUDIA QUALQUER TENTATIVA DE INTERFERÊNCIA A FAVOR OU CONTRA QUALQUER PARTIDO POLÍTICO OU PROPOSTA. A VIOLAÇÃO DESTE ARTIGO ACARRETARÁ EXPULSÃO.”
ISTO DE FATO MODIFICA UM POUCO O ASPECTO DA ACUSAÇÃO, QUE PARECE ESQUECER CONVENIENTEMENTE QUE OS “ASSUNTOS FILOSÓFICOS E CIENTÍFICOS” NÃO SÃO OS ÚNICOS OBJETIVOS DECLARADOS DA SOCIEDADE. NÃO VAMOS DEIXAR ESPAÇO PARA DÚVIDA DE QUE HÁ MAIS ANIMUS MOTIVANDO AS ACUSAÇÕES DO QUE SERIA ESTRITAMENTE TEOSÓFICO.
(8) ESTA É A PRIMEIRA VEZ DESDE QUE A S.T. EXISTE QUE TAL ACUSAÇÃO DE PODER ARBITRÁRIO É LEVANTADA. NÃO SE ENCONTRARÁ MUITOS QUE PENSAM ASSIM.
(9) NÃO É PRECISO RODEIOS PARA DIZER QUE NENHUMA FRATERNIDADE SERIA POSSÍVEL SE MUITOS TEOSOFISTAS COMPARTILHASSEM DOS PONTOS DE VISTA TÃO ORIGINAIS DO ESCRITOR.
(10) FOI EM CONSEQÜÊNCIA DESTA CARTA QUE O ARTIGO XII FOI ADOTADO NOS REGULAMENTOS, E FOI O MEDO DA FALTA DA CARIDADE PRESCRITA QUE LEVOU TÃO FREQÜENTEMENTE À NEGLIGÊNCIA DE SUA APLICAÇÃO.
(Original Programme Manuscript)
Publicado nos anos setenta pelo CÍRCULO BLAVATSKY 01:
Tradução: Sylvio do Prado Frigo
Revisado: MST – Jina
Alimente sua alma com mais:
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