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Hino Védico à Terra

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(Atharva Veda, XII)
cerca de 1200 a.C

Tradução Raul S. Xavier

Alta realidade, lei rigorosa, sacramento, fervor, prece, sacrifício, se sustentam na Terra. Senhora do que foi e do que será, dê-nos Terra um abrigo longínquo. Não se nos oponham embaraços, entre os homens. Há encostas na Terra, ladeiras, largas planícies e plantas de muitas virtudes. Que ela se digne de estender-se e prosperar para nós. Ela possui águas: o oceano e o rio. Nela, os deuses alcançaram a imortalidade. Nela se anima tudo o que respira e sente. Digne-se a Terra de reservar-nos as primícias das bebidas.

Pertencem-lhe os quatro horizontes. Nela nasceram o alimento e o trabalho. Em muitas maneiras, ela guarda consigo tudo o que respira e se move. Digne-se a Terra de reservar-nos as primícias das bebidas.

Nos primeiros tempos, os primeiros homens ocuparam a terra. Sobre ela, dominaram os deuses e os demônios. Abrigo dos cavalos, dos bois, dos pássaros, dê-nos a Terra boa sorte e prestígio.

Possuidora de tudo, tesouro de bens, muralha, couraça de ouro, ela é que detém aquilo que se move e que sustenta o Fogo universal. Indra é o seu touro. Que a Terra nos de descanso, na riqueza.

Noite e dia, sem desfalecerem, guardam-na os deuses, a terra vasta. Que ela nos deixe colher o suco precioso, Que sobre nós se derrame o seu esplendor.

Em seu princípio, era ela uma onda no seio do oceano. Com suas magias, buscavam-na os sábios. No mais alto dos céus está o seu coração imortal, o coração da Terra, envolto na Verdade. Deu-nos a Terra, brilho e força em um império soberano.

As águas correntes passam sobre ela, em ritmo uniforme, noite e dia, sem cansarem. Terra onde jorram fontes mil, colhe para nós o leite, derrama sobre nós o teu esplendor. Mediram-na os Aswins, Visnú percorreu-a com seus passos, Indra, o esposo de Shaci, livrou-a de inimigos. Dê-nos a Terra o seu leite, assim como faz a mãe ao seu filho.

Que nos sejam acolhedoras as tuas montanhas, as alturas, as florestas, oh Terra, escura, negra, vermelha, e com todas as formas. No entanto, é imutável a Terra vasta, sob a custódia de Indra. Inviolado, invencível, invulnerável, dela fiz a minha morada.

Abriga-nos em teu centro e eixo, em todos os vigores que emanam do teu corpo e através disso tudo nos purifica. A Terra é mãe. Eu sou filho da Terra, meu pai é Parjanya. Que ele nos satisfaça.

Terra, onde se levantam seus altares, onde celebram seus sacrifícios os obreiros de todos os ritos. Terra, onde se erguem, puros e altos, os pilares, antes da oblação. Que se aumente o teu vigor e faça crescer o nosso.

Terra previdente, entrega-nos quem quer que nos odeie, ataque ou nos ameace com seu pensamento ou com sua arma mortal.

Nascem de ti e ao teu seio regressam os mortais. És o apoio dos animais, dos quadrupedes e bípedes. Pertencem-te as cinco raças de homens, para os quais se abre a luz imortal, sob os raios do sol nascente. Que se deixem ordenhar todos esses seres. Dá-me, Terra, o mel da palavra.

Genitora universal, mãe das plantas. Terra vasta e imutável, que a Lei conserva hospitaleira e pacífica. Possamos sempre andar sobre ela.

Imensurável retábulo, és a imensa. São imensos o teu reboliço, tremor e tumulto. E imenso Indra, que te protege, sem cansar. Terra, faz-nos resplandecentes como os reflexos do ouro. Ninguém nos queira mal.

Quando suas vestes são o fogo, seus joelhos enegrecem. Que a Terra me faça brilhante e afiado.

Sobre a terra, oferecem-se aos deuses sacrifícios e libações excelentes. Sobre a terra, vivem, alimentam-se e bebem os homens mortais. Terra, permita-me alcançar a velhice.

Derrama sobre mim o teu perfume. Terra, o perfume das plantas e das águas, dos Gandharvas e Apsáras. Ninguém nos queira mal. Embebeu-se o loto do teu odor primeiro, perfume que os deuses levaram às núpcias da Filha do Sol. Dá-me, Terra, o teu perfume. Ninguém nos queira mal.

Seja pedra, adubo, rochedo ou pó, a terra está sempre firme e sólida. Sua couraça é de ouro. Rendo minha homenagem à Terra. Nela se apoiam as árvores, princesas da floresta, imóveis e sempre erguidas. Invocamos a Terra sólida. a Terra nutriz.

Ao nos levantarmos ou nos sentarmos ou iniciarmos uma caminhada, seja o primeiro passo com o pé direito ou com o pé esquerdo, que não cambaleemos sobre a terra.

Falo à Terra purificadora, à Terra paciente que se fortalece na oração. Tem ela consigo o vigor, a floração, os alimentos e a manteiga sagrada. Possamos, terra, descansar sobre ti.

Nas águas puras, lave-se o nosso corpo. Sobre os inimigos atiramos nossos excrementos. Terra, limpo-me em teu filtro.

Quando eu estiver viajando, que me sejam hospitaleiros os teus horizontes, Terra: o do Oriente e o do Norte, o do Ocidente e o do Sul. Em me apoiando no mundo, esteja eu livre de quedas.

Terra, aconselha-nos, bem. Não nos expulses da frente, não nos expulses de traz, nem de cima, nem de baixo. Não nos prendam os guardas dos caminhos. Afasta para longe a arma da morte. Se vejo a tua superfície, terra, à luz do sol, não permitas que os meus olhos enfraqueçam, à medida que os anos forem passando.

Se estando deitado, volto-me do lado direito ou do esquerdo, se, com o meu dorso estendido, te roçam minhas costelas, não nos faças mal, terra. Não és o leito de todas as cousas? Cicatrizem logo as feridas que abro em ti. Oh purificadora, jamais eu atinja nem teu coração, nem qualquer outro lugar mortal.

O verão, as chuvas, o outono, o inverno, a geada a primavera, as estações sucessivas, os anos, teus dias e noites, oh terra, deixa-nos ordenhá-los.

A purificadora, que estremece ao ver a serpente, que abriga as chamas ocultas nas águas e denuncia os demônios. que insultam os deuses, escolheu Indra por esposo e não Vrita que insultam os deuses, escolheu Indra por esposo e não Vrita, ela que se entregou ao poderoso Touro, o Macho.

Pertencem-lhe os tamboretes e os carros no sacrifício. Sobre ela se levanta o pilar do ritual. Sobre ela entoam os bramanes suas árias e estâncias, sobre ela se reúnem os oficiantes, para que Indra beba o soma.

Sobre ela, os Sábios antigos, que faziam criaturas, com seus cânticos, trouxeram as vacas à existência, os sete demiurgos, pela cerimônia, pelo sacrifício e também pela ascese.

Mostre-nos ela a riqueza que desejamos e se lhe associe Bhaga com seus esforços. Indra, marche à nossa frente.

Terra, onde combatem, cantam e, ruidosamente, dançam os mortais, onde ressoam o grito de guerra e o tambor, rechaça para longe os meus rivais. Que a Terra me faça sem rival.

Ela possui os alimentos, o arroz e a cevada. Da Terra dependem as cinco raças humanas. Prestemos homenagem à Terra, esposa de Parjanya, alimentada de chuva.

E senhora de cidadelas, construídas pelos deuses. Dispersam-se os homens pelo solo da terra, a matriz de tudo.

Torne-a Prajapati cada vez mais agradável. Possuidora de bens e de tesouros, em muitos esconderijos, dê-me a Terra ouro e diamantes. Com tantos tesouros, ao distribuir seus tesouros, reserve-nos a deusa sua complacência. Sobre a terra, em muitos lugares, habitam povos de línguas diversas, de leis que variam segundo as regiões.

Para nós, abram-se nela mil fontes de riqueza. Para nós, seja a terra uma vaca robusta, que não recusa o seu leite.

A serpente, o escorpião ávido ao picar, o animal que engole o inverno, oculto e imóvel em seu torpor, o verme inquieto, ao cair das chuvas, o que rastejar não rasteje sobre nós. Terra, concede-nos a graça de nos ser favorável o que nos for propicio.

Os numerosos caminhos que abriste aos homens. as estradas para os carros grandes e pequenos, a via por onde ao mesmo tempo andam os bons e os maus, possamos nós percorrê-la sem salteadores e inimigos. Concede-nos a graça de nos ser favorável o que nos for propicio.

Sobre ela vivem o ajuizado e o insensato. Suporta o covil do malvado e o abrigo do bom. Vive a terra em concórdia com o javali, o porco selvagem, ao qual a terra o seu corpo.

Leva-os para longe de nós, as feras do deserto, os animais das florestas, comedores de homens, tigres e leões andarilhos, lobos e chacais, a miséria, ogres e demônios, oh Terra. Rechaça-os para muito longe de nós. As Gandharvas e Apsáras, os avarentos, os devoradores, os vampiros, todos os demônios, Terra, afasta-os de nós.

Sobre ela, voam os animais de asas, flamengos, águias, folcões, pássaros. Sobre ela estremece o vento, Mätarishvan, que levanta a poeira e sacode os ramos das árvores. Quando sopra e cresce o vento, o fogo logo se acende. Sobre a terra se estendem o dia e a noite, harmonizando-se o vermelho e o negro. A chuva cobre e recobre a terra.

Quando, amavelmente, te estendeste outrora, oh deusa, e, a pedido dos deuses, revelaste o teu poder, desde então desfrutas de bem estar. Abriste os quatro horizontes. Nas vilas e nos campos, nas reuniões, em todo o mundo, entre a multidão e nos conselhos, digamos palavras graciosas a teu respeito.

Como o cavalo sacode poeira, assim a Terra levantou os quando nasceu. Pioneira alegre, guardiã do mundo, ela é que sustenta as árvores e as plantas.

Pacifica, perfumada, hospitaleira, com o seio entumescido de leite, proteja-me a Terra com o seu leite. O deus de todas as obras (96) procurava-a, oferecendo-lhe libações, quando ela se achava mergulhada na impureza dos mares. Taça de prazer, oculta em segredo, agora se manifestaram seus benefícios aos homens.

És a semeadora das criaturas. Espaçosa, és, Aditi, a que os desejos. Conceda-te Prajapati, o Primogênito da Ordem, aquilo de que careceres.

Seja-nos fecundo o teu regaço, isento de mal. isento de febre, para nosso bem, oh Terra. Se despertarmos para uma longa existência, hás de ser tu quem receberá nossas oferendas.

Terra, nossa mãe, concede-me a graça de uma boa moradia. Tu que vives em harmonia com o céu, coloca-me. oh Sábio, na glória e na prosperidade.


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