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Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomínia, para a reprovação eterna. DANIEL (XII 1-3)
Segundo as lendas e as crenças o vampiro seria uma criatura da noite, um não morto absorvendo a vitalidade dos vivos para escapar ao túmulo. Construiria dessa forma uma espécie de imortalidade mágica na região das trevas, que separam a vida da morte.
Os vampiros existiram?
Processos verbais e crônicas do século XVIII são explícitos. No decorrer de certas exumações, sob o controlo das autoridades locais, desenterraram-se cadáveres em perfeito estado de conservação: «O corpo não libertava qualquer cheiro, tinha sim, pelo contrário, mantido o seu estado de frescura sem que apresentam-se o mínimo sinal de decomposição. O sangue que saía da boca do cadáver era tão fresco como se de uma pessoa sã se tratasse. O cabelo, a barba e as unhas tinham crescido e a pele começava a separar-se do corpo, enquanto uma nova se formava. O rosto, as mãos, os pés, estavam igualmente conservados.» (Asfeld, 1730.)
Na maior parte dos casos; neste tipo de sepulturas (contrastando com as outras) registram-se tenebrosas vibrações. Fazem-se na aldeia o levantamento de muitas e misteriosas mortes, ocorridas na proximidade do cemitério. Animais degolados, homens e mulheres exangues, crianças mortas por debilidade e outros tantos casos de enlouquecimento.
Os agentes da polícia e os religiosos encarregados de fazer o inquérito dirigiram-se por fim ao cemitério, como era inevitável!
Os túmulos são abertos e o coração do cadáver é trespassado com o auxílio de uma estaca, a cabeça cortada à machadada e o caixão cheio de cal viva. Processos verbais, são redigidos e assinados pelos oficiais do rei e autenticados pelas autoridades locais.
Em 1776, D. Agustin Calmet, padre beneditino e abade de Senóvia, redigiu o seu Tratado sobre as aparições dos espíritos, reencarnações, anjos, demônios, e vampiros da Silésia e da Morávia, dedicado ao príncipe Carlos de Lorena, Bispo d’Olmütz.
Relata-nos ele: «Citam-se e ouvem-se testemunhas, examinam-se situações, observam-se os corpos exumados procurando sinais vulgares, como a mobilidade, a flexibilidade dos membros, a fluidez do sangue, a incorruptibilidade do corpo. Se tais pormenores forem na verdade observados concluir-se-á que são eles quem molesta os vivos, pelo que são entregues ao carrasco a fim de que ele os queime.» E mais adiante, adverte do perigo que paira: «Este mal que espalha o terror, castiga particularmente a Hungria, a Polônia, a Silésia, a Morávia, a Áustria e a Lorena. Quem de- le nos livrará, pois não deixará de aumentar caso não se puser cobro a tal situação?»
E conclui por fim: «No meio de tudo isto, não vejo senão trevas e dificuldades, cuja solução deixo aos mais hábeis e ousados.»
Superstições, alucinações, lendas ou presenças autênticas vindas de além túmulo? A caça está aberta…
Quando se estuda o vampirismo pode dizer’:”se que se trata de uma via tenebrosa, de um culto da noite cuja divindade central seria o não morto visto que o vampiro cultiva a sua personalidade demoníaca. Ele ama o seu próprio corpo e tenta, por todos os meios mágicos, evitar a sua desintegração.
Os adeptos deste culto mudam de nome segundo as regiões, os dialetos, os costumes. O jesuíta Gabriel Rzazcynsi explica em 1 721: «Há mortos que mesmo no túmulo conservam a avidez de devorar e que, à boa maneira dos espectros, fazem as suas vítimas pela vizinhança; os polacos dão-Ihe o nome especial de Upiers e Upiercza. A Europa central foi, durante muito tempo, o feudo destes senhores da.noite, capazes de interromper o processo de decomposição do corpo, suspensos entre a vida e a morte nessas zonas de obscuridade que as antigas religiões povoavam de diabos, de demônios.
Nas províncias da Alemanha, em Hasse, Wurtenberg, Brunswick, afirmava-se que o cadáver-vampiro, uma vez saído do caixão, tinha o poder de se transformar em ave noturna e voar durante a noite à procura das suas vítimas.
Mais perto de nós, o professor Vukanovic assinalou danos causados pelos vampiros na Sérvia, nos anos de 1933,1940, 1947 e 1948, principalmente na província de Kosovo-Motohija.
Em 1970, o feiticeiro inglês David Farrant foi condenado, sem apelo nem agravo, a cinco anos de ‘prisão por violação e profanação de sepultura. E no prosseguimento de numerosos testemunhos acerca de uma «presença» no cemitério de Highgate, no Norte de Londres, que Farrant e os seus adeptos tentaram um ritual de invocação do vampiro. Os jornais ingleses seguiram esta rocambolesca aventura durante várias semanas. Falou-se no caso de um caixão arrombado, de um cadáver decapitado por Farrant, de símbolos mágicos pintados sobre as sepulturas, de obsessões, de pesadelos que apavoravam os habitantes de Highgate, de animais degolados pelas veredas do cemitério, etc.
Assim o vampirismo, que tem como figura principal a sombria e arrogante figura do famoso príncipe Drácula – embora estejamos longe das epidemias vampirescas dos séculos XVIII e XIX –faz sempre os seus discípulos. Propõe um método para vencer a morte, utilizando o fascínio e o desejo, jogando com o medo e a obsessão. E uma espécie de espiritualidade contraditória que procura evitar a decomposição do corpo, mantendo os instintos e os impulsos selvagens do homem para além túmulo. O oposto às espiritualidades libertadoras que partem as amarras e comunicam ao homem o sentimento de eternidade, a união com Deus.
A magia negra do vampiro permitiria obter uma eternidade fictícia, uma espécie de estado letárgico intermediário. O vampirismo seria uma doença da alma.
Para Siméon le Nouveau Théologien – eremita do século X – só a perfeição espiritual permite vencer o túmulo e libertar-se do tempo e da morte, escreve ele nos seus Capítulos Teológicos: «Morre sem na verdade morrer todo aquele que atingir a perfeição, porque viva em Deus, ao qual está unido, como que tendo deixado de viver em si próprio.»
Na outra extremidade, Stanislas de Guaita, esoterista e mestre da Ordem Cabalística de Rosa-Cruz, declara: «Proceder aos ri tos sanguinários num túmulo entreaberto, agrava talvez a situação: é sugerir à alma embaraçada ainda nas peias magnéticas do cadáver a tentação de se manter assim, é estender-lhe o cálice do abominável vampirismo.»
Jean Paul Bourre
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