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Vampirismo e Licantropia

O Medalhão Vampiro

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A crença dos vampiros é construída à custa do medo. O vampiro vive na angústia da estaca que poderá a trespassar-lhe o coração. Teme o nascer do dia e as orações do exorcista, que podem reduzi-lo a cinzas e pôr termo à sua existência de «não morto».

Os aldeões temem o vampiro; munem-se de pentágonos e recitam fórmulas de proteção. O terror é a pedra angular do vampirismo. Sem ela, o edifício ruiria e com ele os seus cortejos de monstros e de superstições. Toda a história do vampirismo é um entrelaçado de orações, súplicas, enfeitiçamentos a contra-enfeitiçamentos, maldições. Um combate o outro, que por sua vez combate o outro, e o mundo dos homens e dos espíritos situa-se numa região crepuscular onde as leis do medo dominam.

O reverendo Auguste Montague Summers nasceu em 1880, época essa em que Bram Stoker referia ter encontrado em Londres vampyrs personnalities. Teria estudado no Trinity College onde se apaixonará pela literatura gótica antes de escrever sobre o vampirismo[1][35]. A sua paixão pelo vampirismo ocasionou várias descobertas, das quais a mais espantosa foi, sem contestação, um misterioso talismã com a efígie do príncipe Vlad Drakul. Trata-se de uma medalha circular onde caracteres romanos, misturados certamente com dialetos eslavos, estão gravados. Ao centro da medalha pode ver-se a cara de um homem, que lembra o famoso retrato de Drácula existente no castelo de Bran.

Para Montague Summers, que passou a vida a estudar os hábitos dos vampiros, este medalhão, escondido, é uma arma de proteção para o vampyr hunter (caçador de vampiro).

O papel protetor dos medalhões em ferro, espadas, punhais, é muito antigo, mas todos estes objetos mágicos podem servir o vampiro ou aquele que procura destruí-lo…! Tudo depende, explica Montague Summers, da natureza do metal assim como dos caracteres gravados:

«Um vampiro gravado num fragmento de pedra, heliotrópico, transforma-se em pedra de sangue. Ela dará àquele que a trouxer consigo, segundo os ritos próprios, o poder de dominar demônios, íncubos e súcubos[2][36]. Estará sempre presente nas suas conjuras e evocações.»

Outros livros mágicos de necromancia chamavam a esta «pedra do vampiro» a «pedra da Babilônia». Conta-se que, esfregando-a no suco do «girassol» ou «héliotropo», essa pedra teria o poder de escurecer o Sol, como num eclipse, e fazê-lo também ficar da cor do sangue.

«Bastava fazê-la ferver em cacho dentro de uma caldeira cheia de água mágica. O vapor, adicionado às palavras e caracteres do mundo da magia adensavam suficientemente o ar para velar o Sol e fazê-lo ficar da cor do sangue. Podia-se então distinguir os espectros, manes e vampiros!» (Robert Ambelain. O vampirismo)

Usar um objeto protetor, era costume nas boas famílias da Europa central, que levavam para a sepultura um anel de prata[3][37] com uma pedra-de-sangue cravada, ou qualquer outro talismã dotado de propriedades misteriosas: para proteger o seu «duplo» nas saídas do túmulo ocorridas durante a noite (como aconteceu com a família Drácula, Cillei, Garai, e também com o imperador Segismundo da Hungria).

Temiam, evidentemente, o aparecimento de caçadores de vampiros. A estaca aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do «não morto».

Protegido assim, o vampiro considerava-se rei da noite, agindo segundo a sua vontade apesar do suceder dos séculos e da evolução material operada no mundo. Diz-se que teria a perpetuidade inacessível ao comum dos mortais, salvo se o homem que o desconhece penetra na zona sagrada do vampiro um pouco como acontece ao inseto que choca, mesmo sem querer, com uma teia de aranha. Uma pequena e subtil vibração basta para que toda essa teia seja sacudida. Ao centro, a aranha encontra-se adormecida mas recebe o aviso da onda de choque…

Em poucos instantes ela atinge a parte mais larga da sua teia. A sua lei é inexorável. E a morte, a morte para o imprudente que foi apanhado dentro do perímetro mágico.

Esta crença explica os curiosos acidentes que tiveram lugar na expedição às ruínas do castelo de Drácula, em Curtea de Arges.

Em 1969, dois cineastas americanos atraídos pela atmosfera sulfurosa das ruínas tentaram filmar as pedras que restavam do Ninho da Águia. Um deles, desequilibrando-se partiu uma anca, seguindo para o hospital de Ambras. O segundo magoou-se passado um mês sobre a expedição. E óbvio que o filme não se pôde realizar.

Proteção oculta do castelo ou muito simplesmente uma coincidência? Os camponeses de Arefu, que vivem muito perto das ruínas, referem-se muitas vezes ao castelo maldito, mas hesitam ir até lá pela razão – dizem – de que Bram Stoker assombra com freqüência esses locais.

A mais antiga das crenças do vampirismo – aquela que horroriza ainda os velhos da Transilvânia – passa-se no mundo dos que, adormecidos, sofrem obsessão, imagens fixas que se tornam presentes nos seus sonhos. O mistério do sonho permanece para lá do espaço e do tempo nesta zona intermédia que nos escapa apesar da evolução do mundo moderno, dos séculos de civilização, das abordagens da psicanálise. Os feiticeiros da Sibéria diziam que o sonho era o meio de que os mortos se serviam para comunicar com os vivos


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