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Vampirismo e Licantropia

Lobisomens e vampirismo

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O lobisomem é um entre vários monstros associados ao vampiro na mente popular. Esse relacionamento foi em grande parte estabelecido nos anos 30 com a produção de dois filmes de lobisomem pela Universal Pictures, e a inclusão do lobisomem e do vampiro juntos em três filmes durante os anos 40. Por definição, o lobisomem é um ser humano que em várias ocasiões (geralmente na lua cheia), voluntária ou involuntariamente se transforma num lobo ou numa criatura parecida com um lobo, assumindo suas características, especialmente sua ferocidade. Intimamente ligada aos lobisomens havia uma doença, a licantropia, na qual as pessoas acreditavam estar se transformando em um lobisomem, quando na realidade isso não ocorria.

Lobisomens e vampiros têm sido relacionados como existindo lado a lado nas mitologias em muitas culturas, porém têm um relacionamento especial com a área dos Bálcãs do sul, de onde provém muita da mitologia vampírica. Esse relacionamento estava particularmente evidente no uso do termo vrykolokas (termo usado em muitas línguas eslavas) para descrever vampiros nos recentes séculos na Grécia. Em relatos de vrykolokas no sul dos países balcânicos havia uma certa confusão sobre o significado da palavra. No início do século 20 o pesquisador pioneiro Freidrich Krauss, trabalhando na Bósnia, concluiu que o vrykolokas (vukudlak, na Bósnia) era um lobisomem (isto é, um homem ou uma mulher que se transformava num lobo e atacava o gado).

Pesquisadores mais recentes como Harry Senn e Jan L. Perkowski têm argumentado que a palavra vrykolokas derivava de uma antiga palavra eslava relativa ao ritual de se usar peles de lobo entre as tribos eslavas durante o primeiro milênio da era cristã. Anteriormente, Mircea Eliade tinha observado que os dacianos, os povos que habitavam a região hoje conhecida como Romênia, e cujo nome significa “lobo”, transformavam ritualmente seus jovens guerreiros vestindo-os com pele de lobo e fazendo a mímica adequada. O historiador Heródoto descreveu esse comportamento entre os primitivos povos dos Bálcãs do sul. Na época o lobo era admirado como um animal guerreiro. Senn observou que durante os primeiros séculos do segundo milênio o papel do lobo mudava de um de admiração para outro de medo. O lobo tornou-se uma ameaça à comunidade porque atacava as pessoas e o gado.

No decorrer dos primeiros séculos do segundo milênio, o uso do termo vrykolokas perdeu seu significado ritual (como a imagem do lobo mudou e o próprio ritual desapareceu). De acordo com Senn, o ponto de referência dos vrykolokas foi transferido para o vampiro. Nos Bálcãs do sul (Romênia, Sérvia, Croácia, Grécia, etc…), ele substituiu o velho termo pelo vampiro. Perkowski enfatizou que havia um passo intermediário no qual o termo assumia uma referência mitológica para um ser que perseguia as nuvens e devorava a lua (Agnes Murgoci, trabalhando na Romênia durante os anos 20, descobriu referências contínuas a esse significado de vrykolokas). Uma transição adicional foi feita no século 16, na época em que vrykolokas estava passando a se referir a vampiros. Esse significado espalhou-se então pelos Bálcãs até a Grécia. Perkowski argumentou ainda ainda que o termo nunca se referiu ao lobisomem, conforme Krauss e outros têm sugerido. Entre os modernos romenos existe uma criatura parecida com o lobo, o tricolici (ou pricolici) um homem que pode assumir a forma de um porco, um cachorro ou menos freqüentemente a de um lobo.

A crença nos lobisomens aparentemente teve seu auge na Europa durante a Idade Média. Embora muitos se recusassem a acreditar que os lobisomens existiam, muitos acreditavam que a licantropia era causada pelo diabo. Os primeiros caçadores de bruxas, James Sprenger e Heinrich Kramer, autores em 1486 do livro Malleus Maleficarum, “O Martelo das Bruxas”, que iniciaria a grande caçada nos dois séculos seguintes, declararam que a transformação do homem num lobo era impossível. Acreditavam que bruxas e feiticeiras poderiam fazer com que a pessoa acreditasse que tinha se transformado num lobo. Houve no entanto, diversos julgamentos contra pessoas acusadas de “lobisominismo”.

O vampiro e o lobisomem parecem ter sido reunidos na tela pela primeira vez em The Return of the Vampire (1943), o filme de Bela Lugosi feito para a Columbia Pictures. A Universal juntou o vampiro (Drácula) e Wolf Man (personagem interpretado por Lon Chaney Jr.) em três filmes na década de 40: House of Frankenstein (1944), House of Dracula (1945) e Abbot and Costello Meet Frankenstein (1948). No primeiro filme Chaney procura uma cura para sua condição, que finalmente encontrou no segundo filme. No terceiro filem, de brincadeira, o Wolf Man juntou-se à equipe de comédia para evitar que Drácula (Lugosi) transplantasse o cérebro de Costello no monstro de Frankenstein. Seguiram-se outros filmes de lobisomens, em 1961 a Hammer Films fez o filme The Curse of the Werewolf, dirigido por Terence Fischer, que tinha feito The Horror of Dracula alguns anos antes. A Hammer, como a Universal, nunca tentou juntar Drácula e o lobisomem no mesmo filme.

Na televisão. duas criaturas foram reunidas na série Dark Shadows com um novo personagem de nome Quentin. No decorrer da história, foi amaldiçoado a se tornar um lobisomem, a primeira tranformaçao tendo ocorrido no Capítulo 752. A princípio Quentin e Barnabas Collins, o personagem vampírico, eram inimigos, tentando eliminar um ao outro. Entretanto chegaram ao entendimento de que eram afligidos pelo mesmo mal e ai começaram a trabalhar juntos.

A tentativa seguinte de juntar os dois personagens ocorreu em 1970 com Werewolf vs. Vampire Woman, de uma série que apresentava Paul Naschy como o Conde Waldemar Daninsky (o lobisomem) tendo como oponente a vampira/bruxa Condessa Waldessa. Um vampiro apareceu na quinta seqüência de Howling (série de filmes de lobisomem). Em Howling IV: The Freaks (1990), o vampiro rapta o lobisomem para servir de atração em seu show de excentricidades. O tema lobisomem também estava evidente em Dracula’s Dog (1977), história de um cachorro vampiro à solta em Los Angeles.

O Livro dos Vampiros, A Enciclopédia dos Mortos Vivos – J. Gordon Melton


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