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Shirlei Massapust
Pesquisando ocorrências passadas de traços semióticos agregados ao mitologema do vampiro, descobrimos que dentes caninos alongados são atributos de gorgṓn (Γοργών); as monstruosas cabeças aladas da estatuária grega e etrusca, que inclusive as produzia em versões masculinas barbadas, comuns em cerâmica e blocos arquitetônicos, especialmente antefixos. E justamente esses antefixos guardam uma semelhança notória e para além da mera coincidência com o colarinho de ofídios do povo nāga (नाग), quando antropomorfo.
O povo nāga (नाग) é natural da mitologia do subcontinente indiano, ocorrendo também na variedade bíblica hebraica nāḥāš śārāp (שרף נחש), plural nāḥāšîm ha śərāpîm (השרפים נחשים). São najas capazes de assumir forma humana no todo ou em parte.
Escultura de um deva, dito Śiva (शिव), com colarinho e dentes de nāga (नाग), proveniente do sul da Índia, datada do século XI, atualmente pertencente ao acervo do British Museum (peça nº 1967,1016.1).[1]
Dentes caninos alongados se tornaram recorrentes no subcontinente indiano onde passaram a simbolizar a ira (bhairava भैरव) da divindade (deva देव) genérica, mas também do yakṣa (यक्ष), do asura (असुर), do bhūta (भूत), do piśāca (पिशाच) e doutros preternaturais benfazejos, malfazejos, nuançados e indiferentes, a exemplo das esculturas do morto-redivivo vetāla (वेताल) veneradas em Goa. Em alguns casos uma estátua como estas poderia até representar um humano travestido por crer-se um avatāra (अवतार).
Deste modo é na Ásia que dentes alongados começam a serem positivamente valorados como belos. Algumas figurações descartaram o alongamento dos colmilhos inferiores, mantendo os superiores, possivelmente porque foi tentada a mímica da teologia na vida real e usuários de próteses dentárias perceberam que a falta de espaço dentro da boca para alojar dois pares opostos causa desconforto. No templo Kailasanathar, que tem 1300 anos, todas as estátuas de Śiva estão retratadas com discretos caninos alongados.
Escultura de um deva, dito Śiva (शिव), proveniente de Mysore, Karnataka, Índia, datada do século XIII, atualmente pertencente ao acervo do The Cleveland Museum of Art.
Reparou que os narizes das esculturas mais antigas estão quebrados? A amputação de narizes era prática punitivo-pedagógica comum no mundo antigo. No Egito antigo, os ladrões tinham o nariz extirpado como forma de punição e fácil reconhecimento.[2] Na índia antiga, de acordo com as leis de Manu, a amputação do nariz era o castigo para o adultério. Inclusive, segundo Susruta-Shamhita (50 a.C.), no seu trabalho Ayur-Vede, por causa disso a classe médica praticava largamente a rinoplastia.[3] Em toda parte pessoas passaram a mutilar a memorabilia dos mortos e outras estátuas que por alguma razão lhes desagradaram como forma de, simbolicamente, lhes tirar a honra e a utilidade.
Pensamos que, no início, o temor aos dentes alongados causava reações absurdas por parte dos não iniciados. Contudo esse receio acabou sendo mitigado pela consagração do costume. Quando o mito chegou à Indonésia, escultores se empenharam na tarefa de representar sorrisos perfeitos com dentes alongados.
Escultura de um deva, dito Śiva (शिव), proveniente de Singosari, Java, Indonésia, datada do século XIII. Atualmente pertence ao acervo do Rijksmuseum Volkenkunde, o museu nacional holandês de etnologia.[4]
No século XIV o padrão iconográfico já estava assimilado à estatuária da distante Indonésia. A referida alteração na arcada dentária representa não se sabe o que em esculturas horríveis e bestiais, mas também em esculturas ternas e comoventes, dispersas na área externa do templo abandonado de Wanara Wana em Ubud, Bali.
Escultura datada do ano 1350 no templo de Wanara Wana em Ubud, Bali, Indonésia.
Enquanto isso a arte sacra hindu conquistou o direito de ter seus delicados narizes e valores de culto preservados para a posteridade. É curioso notar que o termo devanágari descritivo dos caninos alongados é dantam (दन्तं), a mesma palavra que define o marfim do elefante, antigamente usado na confecção de itens de joalheria e artigos de luxo. Mas dantam (दन्तं) também se aplica a rodas dentadas e à arcada dentária humana normal. É o mesmo caso do hebraico shen (שֵׁן) em Jó 16:9, que não nos deixa saber se Yhwh tem dentes iguais aos dos humanos ou se tem dentes alongados, pintados, animalescos, etc. Tudo que sabemos é que deus tem dentes e morde penitentes quando tomado de ira.
Caninos saltados para fora na boca de um antigo Śiva (शिव) hindu.
Close no rosto de uma escultura de um deva, dito Śiva (शिव), proveniente do estado de Karnataka, Índia, datada entre 1300 e 1500, atualmente pertencente ao acervo do Asian Art Museum em San Francisco, CA.[5]
Close no rosto de uma escultura de um deva, identificado como Yama (यम), deus da morte.[6]
O monge Ñāṇamoli Bhikkhu (1905-1960) traduziu do pāḷi[7] um discurso budista intitulado Devadūtasutta, composto entre os séculos III a.C. e II d.C., o qual menciona uma região dos mundos paralelos onde os mortos renascem para sofrer. Sob o governo de Yama, lá o decaído penalizado é predado durante um longo período por “criaturas com os dentes como agulhas” que perfuram sua derme e epiderme, “perfuram a sua carne e perfuram os seus tendões, perfuram os seus ossos e devoram a sua medula”.[8]
De acordo com a tradição tibetana, um outro livro pertinente chamado Bardo Thödol (བར་དོ་ཐོས་གྲོལ) foi ditado no século VIII por Padmasambhāva, manuscrito por sua aluna primária, Yeshe Tsogyal, e enterrado nas colinas de Gampo, no Tibete central, onde foi posteriormente descoberta por Karma Lingpa (1326–1386)[9], no século XIV. Tornado conhecido no ocidente por meio da tradução do Lama Kazi Dawa-Samdup (1868-1922), ensina que a partir do oitavo dia da morte, durante mais de uma semana, o espírito desencarnado deve afastar o medo e meditar a respeito de várias divindades bebedoras de sangue que aparecerão diante de si segurando armas, escalpos e conchas cheias de sangue.
No que diz respeito às pessoas comuns (…) fugindo por medo, terror e tremor, elas caem nos precipícios dos mundos infelizes e sofrem. Entretanto, o mais inferior dos devotos das doutrinas místicas mantrayāna, assim que enxerga as divindades bebedoras de sangue, as reconhecerá como suas divindades tutelares, e o encontro será como o dos conhecidos humanos. Ele confiará nelas; e, diluindo-se nelas, em harmonia, alcançará o estado de Buda.
Havendo meditado na descrição dessas divindades bebedoras de sangue, quando no mundo humano, e havendo praticado algum culto ou louvor a elas, ou pelo menos, havendo visto suas representações em quadros e imagens, ao testemunhar a aurora das divindades neste estágio, resultará o seu reconhecimento, e a libertação.[10]
Sem citar fontes, um erudito opinou na Wikipédia que o vetāla (वेताल) é uma forma bhairava (भैरव) de Śiva.[11] Isso reflete uma tendência de compactação monoteísta da pluralidade politeísta. Contudo, entendemos que Śiva é capaz de manifestar qualquer qualidade preternatural, as vezes se apresentando como um morto azulado, sem que com isto se torne o único vetāla que existe. Nós vemos Śiva comendo intestinos dum inimigo como quem chupa macarrão, numa estátua de madeira proveniente do Nepal, peça nº 384(IS) da reserva técnica do Victoria & Albert Museum (V&A).[12] Neste caso ele age como um bhūta (भूत) ou como um Aghori (अघोर) e nem por isso monopoliza o traço.
Embora o vetāla (वेताल) haja sido o protótipo do morto incorrupto bebedor de sangue que conhecemos – em razão da influência de seu folclórico livro de contos sobre o Die Chymische Hochzeit Christiani Rosencreutz (1616) –, quando obras como The Vampyre (1819), Carmilla (1872) e Dracula (1897) se tornaram clássicos da literatura o termo devanágari escolhido para traduzir a nova roupagem do vampiro globalizado foi piśāca (पिशाच), um preternatural que, tal como o bhūta (भूत) e o vetāla (वेताल), compartilha hábitos alimentares, valores éticos e estéticos com os ascetas Aghori (अघोर). Sendo assim, o livro de Bram Stoker geralmente leva o título Narpiśāca Dracula (नरपिशाच ड्रेकुला).
O problema é que piśāca (पिशाच) é um conceito bastante vago que define entidades que se alimentam de carne (inclusive humana) e frequentam crematórios. Tal termo foi usado para a tradução cultural do termo urdu ghūl (غول), extraído do folclore muçulmano. E também serviu para apresentar o diabo Valak no filme de horror The Nun (2018).
Os potentes dentes do fogo antropomorfo
Nenhuma das estátuas de devas hindus conhecidas é anterior à época dos vedas (1500 a.C.). Um sábio orientalista que não deseja ser identificado falou-me que curadores de museus, quando religiosos, tendem a forçar a identificação de estátuas antigas como sendo Śiva para nos dar a ilusão de maior importância deste particular em tempos passados. Porém, os hinos do Ṛg Veda (ऋग्वेद) não foram compostos no mesmo sânscrito moderno empregado na composição do Marrabāratā (महाभारत). Este sânscrito moderno surgiu no séc. IV a.C. quando Pāṇini reformulou o idioma carregando-o de sincretismo budista. Foi só depois desta época que os deuses do hinduísmo adquiriram traços nitidamente arianos! Por exemplo, o tridente de Śiva, empunhado pelos ascetas do hinduísmo, surgiu a partir deste sânscrito moderno, pois no Ṛg Veda não há referência a tridente nenhum! Nos lugares onde hoje citam o famoso “tridente” (त्रिशूल, triśūla) antes havia a “árvore” (त्रिषु, triṣu) ou ainda uma ocorrência de “lança ou estaca” (शूल, śūlaṃ).
Historicamente o primeiro deva a exibir dentes caninos alongados teria sido Agni (अग्नि), deus-fogo da era védica que encarnou como o sábio inventor da técnica de acender fogueiras para o preparo da comida. Então, graças ao seu ensinamento, a vida humana sofreu um incomensurável salto qualitativo. A tradução de Ralph Griffith do Ṛg Veda descreve o nascimento do deus radiante com dentes afiados (Livro 8, hino XIX:22).
Agni é tão forte que nada resiste intacto entre suas mandíbulas afiadas (Livro 8, hino XLIX:13-14). Seus dentes brilhantes trituram rapidamente o alimento nas florestas (Livro 7, Hino IV:2). Ele repousa sobre as árvores como uma ave, abocanhado frutos “como um touro bêbado de hidromel[13]”, derramando o suco que cai como gotas de chuva (Livro 10, Hino CXV:2-3). De acordo com Jerry Steves (nome fictício),
esse antropomorfismo do fogo com dentes se dá devido ao fato de que não haja outro devorador maior que o fogo! Ou seja, como afirmar o fogo como sendo maior devorador do que tigres e leões sem descrevê-lo como dotado de presas? Aliás, é curioso como em certas culturas afugenta-se o mal através de uma face ainda mais terrível donde quem tem a expressão facial mais aterradora detém a soberania, assim como se dá no mundo animal entre os de maiores presas, maiores cornos, etc.
Os dentes de Agni são dourados e brilhantes, como o de certas pessoas no mundo antigo que coloriam os dentes friccionando pigmentos. “Ou seja, não só da cor do fogo como mais fortes do que o de qualquer animal voraz, haja vista seu poder de consumir tudo à sua volta!” De acordo com a tradição védica, quando Agni encarnou pela primeira vez ele já nasceu com dentes e nunca bebeu leite materno. Ao invés disso saía para procurar alimento (Ṛg Veda. Livro 10, Hino CXV:1). Na idade adulta, se tornou um cremador de rākṣasa (राक्षस), razão pela qual seus devotos oram rogando por tal especialidade (Ṛg Veda. Livro 8, XLIX:19 e XXIII:14). Segundo meu informante, talvez seja Agni esculpido num baixo relevo em madeira do templo de Durga na Praça Kathmandu Durbar, Nepal. E pode ser Agni em várias esculturas africanas, com dentes serrilhados à moda Mbuti.
Baixo relevo em madeira do templo de Durga na Praça Kathmandu Durbar.
Para compor novas estórias a literatura posterior viria a justificar uma qualidade pela outra. Uma famosa citação do Bhāgavata Purāṇa narra o mito duma rākṣasī (राक्षसी) que perambulava pelo mundo humano em busca de sangue. – Sendo seu objeto de desejo literalmente rudhira (रुधिर), sangue, e não prana (प्राण) ou qualquer fonte de energia abstrata. – Quando Kṛṣṇa nasceu, Pūtanā (पूतना) desejou matá-lo, voou para Gokulam e customizou (yoṣitvā) a materialização de seu ectoplasma (ātmānam) assumindo o aspecto duma mulher de lábios carnudos, seios fartos, cintura fina, etc., sendo por isso confundida com uma moça arrumada para encontrar com o esposo.
Pūtanā alegou ser astróloga (grahāḥ) e se ofereceu para dar de mamar ao bebê. Então ocorreu uma manifestação de Agni em Kṛṣṇa.[14] O leite da morta é venenoso e amargo feito esperma (vīryam), mas Agni come qualquer coisa. O bem aventurado infante agarrou o seio da falsa ama de leite e mamou furiosamente, sugando toda sua vida (prāṇaiḥ) até que não restasse nenhum líquido no cadáver. Pūtanā chorou, gritou e se estrebuchou até retomar sua verdadeira aparência (nija-rūpam āsthitā) de assombração: Um cadáver tão seco que parecia ter sido atingida por um raio. (Bhāgavata Purāṇa 10.6.10-13) É por isso que ela tem este nome. Pūtanā significa literalmente o “cheiro de um cadáver sendo cremado”.
Conseguir a ajuda do deus é fácil. Se livrar dela é que era difícil. Quando Kṛṣṇa manifestou o poder de Agni, ele também ficou parecendo um corpo em combustão, coberto de cinzas, e suas babás lhe deram banho de urina de vaca (go-mūtreṇa) para o descarrego. (Bhāgavata Purāṇa 10.6.7 e 10.6.19-20). Na África a urina de vaca é usada como cosmético para descolorir cabelos e suavizar manchas de melanina na pele![15]
Noutra estória o rei Mutchucundá orou pedindo o poder de queimar (दहेयमहं) com olhos cheios de ira (चक्षुषा क्रोधदीपेने), pelo fogo oriundo do corpo material (देहजेनाग्निना), quem o fizesse despertar do sono. Quando Mutchucundá acordou dum sono profundo, abrindo os olhos lentamente e observando ao redor, notou que havia alguém ao seu lado e reduziu Cấlayavuaná a cinzas, só por olhar fixamente e furiosamente. (Śrīharivaṃśam, Śrīviṣṇumahāpurāṇaṃ 10.51.23 e Śrīmadbhāgavatamahāpurāṇam 10.51.11-10.51.12).
O escritor e radialista britânico Daniel Farson ilustrou um capítulo de livro sobre narrativas folclóricas de vampiros com a fotografia duma suposta “máscara tibetana” com dentes caninos alongados. Logo abaixo, ele explicou que havia cultos oferendando sangue depositado na boca de deidades.[16] A jornalista brasileira Silvia Lakatos leu esta referência e reproduziu a informação numa reportagem sobre vampiros genéricos.[17] Na realidade, aquilo não era sequer uma máscara, conforme descrito, mas sim um incensário com o rosto da deidade budista Bhurkuṃkūṭa, de boca aberta para o depósito e queima de material. Os cabelos são uma coleção de tochas manifestando a qualidade do fogo.
Preternaturais com caninos alongados no Japão
Enquanto Shigeki Sudo (須藤茂樹) pesquisava a história dos elmos utilizados pelos samurais japoneses ele localizou uma peça icônica que pertenceu a Uesugi Kenshin (上杉 謙信; 1530-1578), daimyo que governou a província de Echigo durante o período Sengoku do Japão. O elmo tinha três faces representando o deus-fogo Sanbō-Kōjin (三宝荒神) que rege a lareira, a cozinha e todas as atividades relacionadas ao fogo. Uma delas era vermelho-vivo como o fogo aceso. As outras duas eram pretas como cinzas apagadas.[18] Assim o folclore de Agni se atualizou.
No Japão o kami (神) Sanbō-Kōjin (三宝荒神) tem função e aparência análogas às do antecessor hindu.
No Museu Nacional de Tokyo existe uma máscara japonesa de madeira pintada (dimensões 20,6 x 14,8), datada do século XVI, utilizada em peças de teatro Nō.[19] A boca desta peça em particular é dotada de kiba (牙) que são os tradicionais caninos alongados.
A curadoria do museu identificou o referido personagem como sendo o folclórico Sarutobide (猿飛出), conforme descrito na Heike Monogatari (平家物語). Segundo um livro de arte nipônica, “Sarutobide é uma máscara nō de um yōkai que planeja prejudicar as leis budistas e da nobreza. Ela é bastante estranha e transmite algum tipo de sensação de leveza, normalmente é usada nas costas da cabeça”.[20] A única dificuldade em aceitarmos tal identificação está no fato de Sarutobide geralmente ser representado noutras máscaras com arcada dentária humana, embora ele seja um kaibutsu (怪物) polimorfo.
Nós vemos dentes alongados tipo kiba (牙) em arcadas dentárias de oni (鬼面) de pele vermelha, os quais eram frequentemente figurados na arte folclórica do século XVIII, onde apareciam em trajes e costumes monásticos, muitas vezes tocando shamisen. O modo como os dentes eram as vezes pintados tortos sugerem que as próteses da vida real eram muito frouxas ou moles para serem usadas aos dois pares sem machucar a boca.
Um oni (鬼面) tira a sorte de uma consulente dispersando varetas de I-Ching no chão. Ilustração de Tosa Hirokata para o livro do Imperador Go Hanazono, Amewakahiko sōshi (天稚彦草子, 1450). Exemplar do Museu Staatlichi, Berlim.
Na Ásia a palavra 吸血鬼 se pronuncia xīxuèguǐ em mandarim e kyūketsuki em nihongo. Seu equivalente em hangul é o termo derivado hŭphyŏlgwi (흡혈귀). Em todos estes casos designa um ser sobrenatural que se ramificou do gênero guǐ 鬼 (mandarim) ou oni 鬼 (nihongo) distinguindo-se pela especialização na hematofagia. Foi dentro deste táxon fantasmagórico que o homem asiático classificou os vampiros da cultura ocidental, fazendo com que, a partir daí, o mitologema estrangeiro apropriado assimilasse traços da ficção e folclore locais, de forma bela e elegante.
No romance Dracula (1897), de Bram Stoker, as marcas de mordidas anômalas são deixadas pelo monstro em forma de morcego. Quando em forma humana, o conde apresenta dentes normais. Para interpretar a bruxa Pirita no filme finlandês Valkoinen peura (1952), a atriz Mirjami Kuosmanen (1915-1963) usou próteses de dentes caninos alongados à moda asiática pela primeira vez no ocidente. Para interpretar Vlad Țepeș no filme turco Drakula İstanbul’da (1953), o ator Atif Kaptan (1908-1977) nos apresentou o primeiro vampiro cinematográfico com caninos alongados. Para interpretar o papel do conde Karol de Lavud, no filme mexicano El Vampiro (1957), o ator Germán Horacio Robles (1929-2015) equipou próteses ainda mais longas. Porém foi a larga difusão da versão britânica de Dracula (1958), da Hammer Films, estrelada por Christopher Lee (1922-2015) no papel-título, que consagrou o novo traço na cultura mainstream.
Após essa atualização do mitologema corrente, os caninos alongados se tornaram tão amplamente associados a vampiros na imaginação popular que hoje nós já não os reconheceríamos sem presas.[21] Dentre todas as centenas de filmes que vieram a seguir, a arte da mordida foi transcendida em cenas que marcaram épocas. Destaca-se os beijos apaixonados dos amantes em nuvens vermelhas no Dracula (1979) com Frank Langella, a transformação psicodélica em Lost Boys (1987), a coreografia das mordidas voluptuosas em Fright Night (1985) e Fright Night II (1988), o desejo contido em Bram Stoker’s Dracula (1992), a educação contra o desperdício de sangue em Interview with the Vampire (1994) e o saboroso triunfo contra o inimigo em Dracula Untold (2014).
Capa amarela da antologia A Lenda de Drácula: A Origem do Vampiro (ドラキュラ伝説―吸血鬼のふるさとをたずねて), impressa pela editora Kadowaka (角川選書) em 1978. E capa duma tradução de Drácula (吸血鬼ドラキュラ) impressa pela editora Kodansha (株式会社講談) em 2004.
Personagens com caninos alongados no Parque Arqueológico San Agustín
Que a crença em Śiva Bhairava espalhou-se para longe de seu local de origem nós sabemos. Difícil é determinar ou mesmo acreditar no quão longe ela poderia ter chegado. O historiador Praveen Mohan, famoso YouTuber[22], realizou um competente estudo de padrões iconográficos comparados para formular a hipótese de que o sítio megalítico San Agustín, na Colômbia, contém estatuário relacionado ao culto de Śiva Bhairava. Por exemplo, analisando uma figura humana com caninos alongados que puxa um recém-nascido, auxiliando a parturiente, Praveen Mohan sugere que o personagem possa ser não um xamã colombiano, mas o filósofo e médico obstetra Tāyumānavar (தாயுமானவர்) deificado como avatāra de Śiva. No sítio arqueológico El Purutal uma estátua do mesmo personagem conserva a multicolorida pintura original e segura outro pequeno bebê.
Uma terceira estátua exibe-o segurando uma faca com a mão direita e uma cabeça encolhida com a esquerda. A explicação corrente versa que, para a antiga civilização colombiana, isto é um deus que exigia sacrifícios humanos. Porém não seria razoável supor que uma coletividade humana adoraria algo maligno. Pelo contrário, este poderia ser um deus que vence o mal representado pelo troféu cefálico; assim como sempre ocorre com imagens de Śiva ornamentado com múltiplos crânios dos oponentes vencidos.
Uma quarta estátua do mesmo homem com caninos alongados o exibe com um colar com pingente de crânio humano. Ele está seguro entre dois guardas com porretes e dois menores dispostos de cabeça para baixo, como morcegos. Mas Praveen Mohan não poderia estabelecer qualquer relação entre o culto a Śiva e a mímica do morcego; então ele opina que sejam nāgas retorcidas sobre o próprio corpo de pilastra. Sobre os guardas é dito que “este é o hinduísmo clássico onde uma deidade central recebe a custódia de dois guardiões-porteiros chamados dvārapāla (द्वारपाल)”.
Numa quinta estátua do mesmo obstetra com caninos alongados a personagem segura um bebê e hoje está disposta entre dois homens-ofídio. Praveen Mohan estranhou este fato porque nos correspondentes hindus Śiva nunca está entre nāgas. O povo-cobra, quando o auxilia, fica guardando a entrada do templo. Então Praveen Mohan foi ao Museo de San Agustín onde encontrou uma foto da expedição arqueológica onde estava evidente que seu “Tāyumānavar” colombiano originalmente estava onde deveria estar, dentro do espaço protegido pelo povo-cobra, e não posando para turistas do lado de fora.[23]
Penso que Praveen Mohan esteja certo em vários aspectos. Grupos humanos não adoram o que lhes faz mal. Provavelmente não havia sacrifícios de bebês sadios. Porém, devemos lembrar que, no continente americano, dentes caninos alongados e alargadores de orelhas não eram exclusividade do Parque Arqueológico San Agustín. Numerosos achados arqueológicos demonstram que figuras humanoides aglutinavam características de um ou de vários animais ao mesmo tempo. Além disso, na Colômbia e Venezuela, alguns grupos étnicos possuíam xamãs que atuavam como homens-morcego. Este talvez seja o caso de três pessoas representadas de cabeça para baixo em San Agustín.
O morcego ou jatukā (जतुका), como era conhecido em sânscrito e pāḷi, não é costumeiramente associado às figuras humanas com caninos alongados no subcontinente indiano. Quando humanoides voam, eles o fazem como Hanumān (हनुमान्) ou Superman. Portanto o personagem dotado de caninos alongados em San Agustín poderia, talvez, se assemelhar ao antropomorfo Grande Tigre (omaukóhe) que devora e revive o índio Sanemá predestinado a se tornar um homem-morcego (hɛwïawán) com função de bardo-xamã.[24] Pois os Sanemá habitam hoje uma região da Venezuela situada a cerda de somente mil e quatrocentos quilômetros de distância do parque arqueológico colombiano.
Rostos de Aiapæc e do personagem com caninos alongados das ruínas do Parque Arqueológico San Agustín.
No folclore mochica, Aiapæc é um rosto humano dotado de quatro grandes dentes colmilhos ou apenas os colmilhos superiores saltados fora dos lábios. Os cabelos de Aiapæc são alternativamente como os dos humanos, como os tentáculos dum polvo ou como a cabeleira serpentiforme da medusa. Ele pode ter ou não ter um corpo. Pode ser xamã mascarado ou pura máscara. Quando encorpado, tem tentáculos de polvo no lugar de braços ou ainda braços humanos e asas de libélula ou de morcego. Mesmo quando Aiapæc se metamorfoseia em aranha gigante o seu rosto permanece invariável. Foi encontrada uma múmia humana adornada com os colmilhos de Aiapæc. A máscara mortuária acabou reduzida à prótese dentária. A múmia jazia num sítio arqueológico em Cerro Patapo, onde a civilização Mochica aflorou e prosperou entre 600 e 1100 d.C., sucedendo a cultura Wari, que prenominou de 100 a 600 d.C.[25]
Somente o par da arcada dentária superior aparece alongado numa cerâmica Maia (600/900 d.C.) representando um senhor de idade paramentado, sem máscara, usando brincos enormes.[26] Colmilhos extragrandes aparecem numa cabeça humana de orelhas comuns e nariz achatado esculpida em cerâmica (peça 35.1707 do Brooklyn Museum), num felino asteca com corpo humano feito de mesmo material (peça 36.904 do Brooklyn Museum), na figura humana que adorna um incensário Nahua de Oaxaca (PUAM 2006-60 do Ar Museum)[27] e noutros numerosos exemplos.
Uma máscara mortuária esculpida em jade, entre 660 e 750 d.C., foi encontrada em 1984, na tumba 1 da estrutura VII da selva de Calakmukl, onde há ruinas maias. Isto foi a principal peça da exposição temporária “La máscara de Calakmul: Universo de Jade” iniciada em 26/10/2015 na sala Inah do Meseo Nacional de Antropologia, no México. Este rosto não tem próteses dentárias. Tem dois pares de piercings com dentes de animal no lábio inferior, outra peça discreta de marfim no nariz e mais dentes pendurados nos brincos alargadores das orelhas.
De onde veio a semelhança?
Meditando sobre o problema da semelhança de padrões iconográficos, Jerry Steves opinou que os antigos escultores imitavam os dentes de animais, sobretudo os dentes de grandes felinos. É natural que um homem-jaguar americano se assemelhe a um homem-leão ou a um homem-tigre africano. A criatura, na Ilíada, rapsódia décima primeira, é identificada a um leão: “matador noturno que suga vísceras e sangue de suas vítimas!”
Na natureza os dentes de sabre, atestados em dois felinos, um urso e um réptil, resultaram da evolução convergente em que uma característica útil se desenvolveu em animais sem parentesco. Isso também é válido no campo da mitologia; embora o único aparelho positivo que uma impossibilidade tem de vir ao mundo seja a arte. Isto é, há máscaras e homem-animal de brinquedo para além dos sonhos e fenômenos alucinatórios.
Segundo Jill Cook, curadora do British Museum, a mais antiga representação de humano-animal conhecida é uma estatueta de marfim de mamute, com 30 cm, descoberta na caverna Stadel, no penhasco de Hohlenstein, ao sudoeste da Alemanha. De boca fechada, não vemos seus dentes, mas a cabeça é a duma Panthera spelaea cujos traços são característicos das fêmeas sem juba. Porém o trabalho de restauração revelou um corpo bípede e ereto com membros inferiores compatíveis com os de um Homo sapiens, de sexo masculino. Seria um animal fantástico, um xamã ou um personagem mascarado com pele de leoa atuando numa prosopopeia? Seu contexto social e simbólico é desconhecido e não pode ser reconstruído por evidências arqueológicas sem um alto grau de incerteza. Testes de radiocarbono realizados em materiais datáveis coletados no entorno revelaram a idade de quarenta mil anos para o sítio arqueológico onde ocorreu a descoberta.
Isto foi rapidamente reconhecido não só como a maior representação escultórica conhecida deste período, mas também como indicativo de uma mente capaz de imaginar novos conceitos em vez de simplesmente reproduzir formas reais. Gradualmente, percebeu-se que tal mente deveria indicar a atividade de um supercérebro complexo como o nosso, com um córtex pré-frontal bem desenvolvido que alimenta a capacidade de comunicar ideias na fala e na arte. O que poderia ter sido uma descoberta arqueológica misteriosa tornou-se um ponto de discussão para o campo em desenvolvimento da neurociência e da evolução da nossa massa cinzenta.[28]
Explicando melhor, Jill Cook ensina que “não é necessário ter um cérebro com um córtex pré-frontal complexo para formar a imagem mental de um ser humano ou um leão, mas isso é precisamente o que se precisa para fazer a figura de um leão-homem[29]”. Deste modo o Homo sapiens inventou a ficção fantástica, ou a religião, ou o baile de máscaras, ou algo como os alienígenas tortorianos, ou tudo isso junto. A permanência do habito de construir personagens pela fusão de espécies é atestada numa pintura rupestre de homem com partes de cervo, datada de cerca de 13.000 a.C., preservada na caverna Trois-Drères ao sudoeste da França. E também por tudo que veio a seguir, do querubim ao digimon.
Prótese de resina acrílica, produzida em 1994 no estúdio do maquilador brasileiro Vavá Torres, igual às que ele fez para uso dos atores na telenovela Vamp, exibida de 15/07/1991 a 08/02/1992 na TV Globo. Vavá trabalhou na TV Globo por 40 anos e por 10 anos na Record TV, até seu falecimento em 09/11/2020.
Próteses vampíricas removíveis com qualidade de cinema produzidas nos EUA por Father Sebastian[30] e em São Paulo pelo mestre fangzmith Andreas Axikerzus Sahjaza. Leia mais em: <https://sabretooth.com/gallery> e <https://redevampyrica.com>.[31]
A propósito, talvez não seja inútil lembrar que histórias de papões poderiam estar baseadas em fatos reais. Uma pesquisa promovida pelo University College London revelou que a seleção natural teria favorecido a sobrevivência e reprodução de antropófagos que carregavam uma mutação genética chamada PrP V127, a qual imuniza indivíduos contra todas as doenças de príon.[32] Segundo colaboradores do Imperial College London, alguns perfis de DNA responsáveis pela resistência às doenças de príon foram encontrados em 55% da população Foré, nativa de Papua-Nova Guiné, que comia seus mortos até a década de 1950, mas também em insuspeitos 48% dos turcos, 38% dos franceses e 32% dos jamaicanos. Em todos estes casos populações teriam sobrevivido a epidemias causadas por ingestão de carne crua, especialmente carne humana, num passado remoto.[33]
Um estudo publicado na revista Quaternary Science Reviews revelou a descoberta de ossadas de Homo sapiens com marcas de cortes, quebras e indícios de mastigação humana em todo o continente europeu. Disto concluiu-se que alguns grupos que viviam há 15 mil anos na Europa comiam seus mortos não por fome ou necessidade, mas como parte de suas culturas. Os Magdalenianos chegavam a utilizar os ossos que restavam dos crânios descarnados para produzir xícaras, havendo pelo menos seis sítios arqueológicos onde tais artefatos foram descobertos.[34] Posteriormente os Magdalenianos perderam território para os Epigravetianos. Portanto, quando a prática de comer os mortos terminou e os enterros se tornaram comuns no noroeste da Europa, isso não ocorreu por meio de uma disseminação de ideias, mas sim pela substituição de povos no noroeste da Europa.[35]
Em 25/10/2023 uma voz onírica falou-me que o homem-morcego-vampiro surgiu num período em que alguém “teve mais sede do que rios”. Poético! Em 1554 o aventureiro alemão Hans Staden comandava o forte português de Bertioga, no litoral de São Paulo, quando foi capturado e passou oito meses prisioneiro dos índios Tupinambás, notórios apreciadores de carne moqueada. No relato que publicou depois de voltar à terra natal, Staden diz ter argumentado com um chefe indígena que mordia um pernil de gente:
Cunhambebe tinha diante de si uma grande cesta cheia de carne humana. Naquele momento, ele estava comendo a carne de um osso, que segurou defronte ao meu nariz, enquanto perguntava se eu também queria um pedaço. Respondi: “Mesmo um animal irracional raramente devora os seus semelhantes, por que então um homem iria devorar os outros?” Deu uma mordida e disse: “Jauará ichê — Sou um jaguar, isso está gostoso”.[36]
Na poesia do mundo antigo a semelhança leonina é evocada para descrever o ataque ousado do guerreiro e o terror que ele inspira. Gênesis 49:9-10 compara o Reino de Judá a um leão que dorme passivamente até ser incomodado. Na Ilíada a metáfora indica alguém “terrível de se encarar” (XVIII.579), “confiante em sua força” (XII.299, XVII.61) e “criado na montanha” (XII.299, XVII.61).[37] O mais dramático entre os exemplos talvez provenha da Odisseia, versos 6.130-136, onde o herói Odisseu se encontra fora de sua zona de conforto, faminto e nu, razão pela qual acaba prostituído.
Odisseu vê a princesa estrangeira Nausicā e avança a fim de obter favores. Segundo Justin Glenn, “ele é subitamente transformado pelo poeta, por um breve momento, em um leão furioso prestes a cair sobre sua presa indefesa e devorá-la”. Todavia, tal passagem usa uma forma do verbo μίλνυμι para conjurar imagens de predação erótica com violência guerreira. Sendo assim, o verbo μίξεσθαι ambiguamente traz conotações de intercurso sexual. Com olhos brilhantes e instinto felino, “o herói maltratado, mas ainda viril e λυμνόζ parece pronto para μίξεσθαι com jovens mulheres núbeis”.[38] Difícil não lembrar da canção do funkeiro carioca Leandrinho Moraes, morador da Cidade de Deus: “Tchutchuca vem aqui pro seu tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão”.
[1] Figura de granito nº 1967,1016.1. Site oficial do The British Museum acessado em 15/10/2023 – 13h48. URL: <https://www.britishmuseum.org/collection/object/A_1967-1016-1>
[2] REDAÇÃO MUNDO ESTRANHO. Como a Esfinge de Gizé perdeu o nariz? O que não faltam são versões para esta história. Em: SUPER INTERESSANTE. Posto online em 18/04/2011, 18h58, última atualização em 14/02/2020, 17h48. URL: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-a-esfinge-de-gize-perdeu-o-nariz/>.
[3] MOCELLIN, Marcos. Rinoplastia – Técnica Básica. Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL: Vol.64 ed.6 de Novembro-Dezembro em 1998 (da página 05 à 11). URL: <http://oldfiles.bjorl.org/suplementos/detalhes_debates.asp?id=74>.
[4] RIJKSMUSEUM VOLKENKUNDE 2014 – BHAIRAVA. Fotografia de Michiel tirada em 23/11/2014, publicada em IpernityTM. URL: <http://www.ipernity.com/doc/288839/36473512>.
[5] HINDU DEITY SHIVA IN THE FIERCE FORM OF BHAIRAVA. Em: Asian Art Museusm. Acessado em 15/10/2023 12h12. URL: <https://www.khanacademy.org/partner-content/asian-art-museum/aam-hinduism-topic/aam-hinduism/a/hindu-deity-shiva-in-the-fierce-form-of-bhairava>.
[6] YAMA. Em: Wikipédia. URL: <https://en.m.wikipedia.org/wiki/Yama>. Acessado em 15/10/2023 – 12h55.
[7] O pāḷi (पाळि) é uma língua litúrgica utilizada na escola Teravada do budismo. Pertence ao tronco linguístico indo-europeu. É uma língua antiga indiana, próxima daquela falada pelo próprio Buddha.
[8] DEVADUTA SUTTA: OS MENSAGEIROS DIVINOS, 20. Em: Acesso ao Insight. URL: <https://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN130.php>.
[9] Descobertas como esta eram tão comuns que, no idioma tibetano, existe o termo tertön (གཏེར་སྟོན་) que designa o descobridor de antigos textos escondidos. Um tertön é basicamente um arqueólogo.
[10] EVANS-WENTZ, W. Y. (org) O Livro Tibetano dos Mortos ou Experiências Pós-morte no Plano do Bardo, segundo a versão do Lama Kazi Dawa-Samdup. Trad. Jesualdo Correia Gomes de Oliveira. São Paulo, Pensamento, 1994, p 102.
[11] VETALA. Em: Wikipedia. Acessado em 16/10/2023. URL: <https://en.wikipedia.org/wiki/Vetala>.
[12] SHIVA AS BHAIRAVA RAGA. Em: Victoria & Albert Museum (V&A). Acessado em 16/10/2023 – 08h18. URL: <https://globalnepalimuseum.com/objects/figure/>.
[13] Considerando que colmeias não são frutas fica subentendido – por figura de linguagem – que o alimento que embebeda Agni talvez seja a marula (Sclerocarya birrea) fermentada na árvore.
[14] Aqui o mito se assemelha à parábola onde o Espírito Santo se manifesta em Jesus mediante ao batismo de fogo, pois o fogo afugente e consome todo tipo de mal. E, dessa forma o(s) Deus(es) descendem aos homens mediante processo atávico… O avatár ou aparição do(s) Deus(es) amorfos na forma humana.
[15] Algumas vezes nos surpreendemos com frases racistas descobertas em obras de santos. Rumi (1207-1273) conta que quando Mohammed purificou um negro, este “foi convertido em um branco, belo como José”. Houve mudança de etnia porque o “negro feio” teria natureza oposta ao “kafur” (branco), cuja face “é como um Sol” e Alá exterminará todos os negros no dia do juízo final: “Para aquele que, como um hindu, é negro, o dia da revisão soará o dobre fúnebre de sua desgraça.” (RUMI, Maulana Jalaluddin. Masnavi. Trad. Mônica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda. Rio de Janeiro, Edições Dervish, 1992, p 63, 187 e 216).
[16] FARSON, Daniel. Hombres lobo vampiros y aparecidos. Barcelona, Editorial Noguer, 1976, p 16.
[17] LAKATOS, Silvia. Vampirismo: A maldição da vida eterna. Em: DESTINO, ano VI, nº 93. São Paulo, Globo, abril 1995, p 43 (foto do arquivo da Editora Globo).
[18] SHIGEKI SUDO (須藤茂樹). Sengoku Bushō Kawari Kabuto Zukan (戦国武将 変わり兜図鑑). Japão, edição do autor, maio de 2010, p 25-26.
[19] NOH MASK [SARUTOBIDE] TYPE. Em: Cultural Heritage Online. Acessado em 09/05/2022. <https://bunka.nii.ac.jp/heritages/detail/527073?fbclid=IwAR3y2RyJ3pws2zZP0n2D_lclneNzgfdH1CJpLctglms_JGeWUBDX46UmWrE>.
[20] NŌKYŌGEN-MEN (能狂言面). Em: NIHON NO BIJUTSU (日本の美術) nº 108. Japão, 05/05/1975, p 72.
[21] CENGEL, Katya. How the Vampire Got His Fangs: An incisive history of a Halloween snarl. Em: Smithsonian Magazine, posto online em outubro de 2020. URL: <https://www.smithsonianmag.com/arts-culture/history-vampire-fangs-180975783/>.
[22] Praveen Mohan vem sendo criticado por haver aceito dar entrevista ao jornalista David Childress, que orientou o assunto rumo ao questionamento ufológico no documentário Ancient Aliens, temporada 14, episódio 06, “Secrets of the Maya”. Mas, sendo pessoa humilde, o que mais ele poderia fazer para divulgar sua hipótese para uma grande audiência? Sem Erich von Däniken ninguém conheceria as linhas de Nazca.
[23] MOHAN, Praveen. Is San Agustin Megalithic Site, a Hindu Temple? Phenomenal Travel Videos, posto online no YouTube em 08/08/2019. URL: <https://www.youtube.com/watch?v=vkNj2isGqW4>.
[24] WILBERT, Johannes. Indios de la Región Orinoco Ventuari. Venezuela, Fundacion la Salle de Ciencias Naturales, 1961, p 221-225.
[25] LAKER, Chris. Ancient city discovered in Peru may reveal fate of sacrificial Moche culture. Publicado no portal de notícias MailOnline, em 18/12/2008. 11:41 GMT. URL: <http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-1096197/Ancient-city-discovered-Peru-reveal-fate-sacrificial-Moche-culture.html>
[26] Ficha Seated Male Whistle Figure no catálogo online do Portland Museum. Acesso em 15/06/2017, 23h12. URL: <http://www.portlandartmuseum.us/mwebcgi/mweb.exe?request=record;id=33265;type=101>; Fotografia da referida estátua tirada por Mary Harrsch, posta online no Flickr em 28/07/2012. URL: <https://www.flickr.com/photos/mharrsch/7663501078/>.
[27] Effigy Censer (Xantil). Eastern Nahua. Teotitlán del Camino, Oaxaca. Late Postclassic, A.D. 1300-1500 (PUAM 2006-60). H. 64 cm. Ficha do Art Museum acessada em 11/05/2016, disponível em: <http://artmuseum.princeton.edu/legacy-projects/Sorcerers/index.html>.
[28] COOK, Jill. Ice Age Art: The arrival of the modern mind. London, The British Museum Press, 2013, p 28-30.
[29] A PRIMEIRA ESCULTURA DA HUMANIDADE. Publicado em Archaeoethnologica, 03/02/2013. Hiperlink: <http://archaeoethnologica.blogspot.com/2013/02/a-primeira-escultura.html>.
[30] SABRETOOTH FANGS. Acessado dia 26/10/2023 15h04. URL: <https://sabretooth.com/gallery>.
[31] SAHJAZA, Andreas Axikerzus. Fangzmith: a arte da criação de dentes e prêsas vampíricas cinematográficas. Em: Rede Vamp. URL: <https://redevampyrica.com/fangzmithing-a-arte-da-criacao-de-dentes-e-presas-vampiricas-teatrais/>.
[32] DENG, Boer. Genetic mutation blocks prion disease. Em: Nature, 10/06/2015. URL: <https://www.nature.com/articles/nature.2015.17725>; HOSSZU, Laszlo L. P. e outros. Structural effects of the highly protective V127 polymorphism on human prion protein. Em: Nature, 29/07/2020. URL: <https://www.nature.com/articles/s42003-020-01126-6>.
[33] MEAD, Simon e outros. Balancing Selection at the Prion Protein Gene Consistent with Prehistoric Kurulike Epidemics. Publicado em: Science, Vol 300, Issue 5619, p 640-643. Posto online em 25/04/2003. URL: <https://www.science.org/doi/abs/10.1126/science.1083320>.
[34] MARSH, William A & BELLO, Silvia. Cannibalism and burial in the late Upper Palaeolithic: Combining archaeological and genetic evidence. Em: Quaternary Science Reviews, Volume 319, 01/11/2023, Posto online por Science Direct. URL: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277379123003578>.
[35] REDAÇÃO GALILEU. Canibalismo era comum em funerais na Europa há 15 mil anos, diz estudo: Pesquisa aponta que grupos da cultura Magdaleniana comiam seus mortos em vez de enterrá-los, até que enterros mais convencionais se tornaram comuns no noroeste europeu. Em: Revista Galileu. Posto online em 05/10/2023 12h17. Acessado e compartilhado por Arqueologia – Brasil em 13/102023 17h00. URL: <https://revistagalileu.globo.com/ciencia/arqueologia/noticia/2023/10/canibalismo-era-comum-em-funerais-na-europa-ha-15-mil-anos-diz-estudo.ghtml>.
[36] STADEN, Hans. A Verdadeira História dos Selvagens Nus e Ferozes Devoradores de Homens, encontrados no Novo Mundo, a América… (2ª edição). Trad. Pedro Süsskind. Rio de Janeiro, Dantes Livraria Editora, 1999, p 106.
[37] MAGRATH, William T. Progression of the lion símile in the Odyssey. Em: The Classical Journal. Vol. 77, No. 3 (Feb. – Mar., 1982), p 207. Posto online por JSTOR, acessado em 25/10/2023 17h12. URL: <https://www.jstor.org/stable/3296971>.
[38] GLENN, Justin. Odysseus Confronts Nausicaa: The lion símile of Odyssey 6.130-36. Em: The Classical World, Vol. 92, No. 2 (Nov. – Dec., 1998), p 107-116. Posto online por JSTOR, acessado em 25/10/2023 11h50. URL: <https://www.jstor.org/stable/4352235>.
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