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Circulam pela Internet as repercussões de uma história que, se confirmada, irá mudar radicalmente nossa forma de encarar toda a parafernália eletrônica que nos cerca: rádio, televisão, computadores, satélites, etc. O transistor, invenção que revolucionou o mundo moderno e que é a base dos circuitos eletrônicos da atualidade, teria sido desenvolvido a partir de tecnologia alienígena. É um tema fascinante mas que, para ser aceito como verdade, precisará vencer a poderosa barreira de silêncio que cerca o caso Roswell há quase 51anos. Para quem não conhece o caso, um objeto voador não-identificado caiu perto da cidade americana de Roswell, no Estado do Novo México, em julho de 1947, numa região conhecida como Planícies de San Augustin. Na ocasião, o pessoal de relações públicas da Força Aérea americana deu com a língua nos dentes, informando que se tratava de um artefato extraterrestre tripulado que havia caído. É claro que logo depois as autoridades negaram o fato, mas aí o circo já estava armado.
Começava a tomar corpo o famoso “Incidente Roswell”. Juntaram-se provas, contraprovas, acusações e desmentidos durante esse tempo todo. O hardware alienígena teria sido cuidadosamente estudado por cientistas americanos e pelo menos um tripulante da nave teria sido localizado, com sua necropsia filmada. Chegaram até a exibir o tal filme na TV recentemente. Pois bem, só 50 anos depois, em 1997, a Força Aérea apareceu com a declaração oficial de que o objeto de Roswell era um balão que fazia parte de um projeto secreto na época. De acordo com a Usaf (United States Air Force), o tal projeto sigiloso chamava-se Mogul, e a engenhoca teria sido confundida com um disco voador pelos experimentados oficiais do 509º Grupo de Bombardeio de Roswell, que naquele tempo era o único grupo de bombardeio atômico dos EUA.
A conversa não colou. Muito pelo contrário: os pesquisadores civis independentes trabalhando no caso, que já estavam cheios de certezas, depoimentos e material de apoio, ficaram ainda mais agitados. Para alegria desses indômitos buscadores, o militar que comandou as operações de despacho dos destroços do veículo extraterrestre acidentado para centros de pesquisa civis e militares resolveu escrever um livro: “O dia seguinte a Roswell”. Este oficial é o tenente-coronel Philip J. Corso, que afirma que a tecnologia alienígena foi pesquisada a fundo e teve como conseqüência diversas descobertas que mais tarde seriam indevidamente atribuídas a cientistas terrestres. Segundo Corso, os destroços teriam sido enviados para laboratórios de renome, como os da AT&T e da Motorola. Estas empresas, naturalmente, negam tudo. Todavia, o oficial que abriu o verbo é respeitadíssimo no meio militar. O livro de Corso merece atenção, a julgar pelo notável currículo desse oficial do Exército americano, com 21 anos de carreira, reformado em 1963, 19 condecorações militares, membro do Conselho de Segurança Nacional, oficial da Inteligência de MacArthur na Coréia e tendo ocupado outros cargos de destaque.
Diversos dispositivos avançadíssimos retirados do disco voador teriam sido encaminhados aos laboratórios Bell, na época funcionando em Murray Hill, New Jersey. Dentre estes equipamentos havia máquinas nucleares, artefatos de comunicação e até sistemas de computação. Os componentes foram estudados, analisados e testados detalhadamente e, dentre eles, uma das peças aparentou possuir potencial assombroso – era um estranho interruptor alienígena composto de um material contendo os elementos químicos silício e arsênico, dispostos numa matriz microscópica muito mais complicada do que qualquer outro material produzido artificialmente até então. Esta peça funcionava ao mesmo tempo como um interruptor de alta velocidade e um amplificador. Decidiram chamá-lo “resistor de transferência” (TRANsfer reSISTOR). Cabe ressaltar que até setembro de 1947 não se havia inventado nenhum dispositivo que se parecesse ou funcionasse com um transistor. Havia apenas diodos de germânio e selênio produzidos com materiais naturais.
Companhia diz ter protótipo de artefato
eletrônico baseado em tecnologia alienígena
American Computer Company reproduz relato afirmando que transistor resultou de pesquisas num disco voador acidentado em Roswell em 1947.
A história toda é muito estranha e recheada de tópicos dignos da mais bem elaborada teoria conspiracionista. Daria um belo roteiro de filme de ficção científica. O único problema é que tem gente até então tida como séria fazendo a afirmação mirabolante: todo o arsenal eletrônico desenvolvido pela humanidade é resultado do aproveitamento da tecnologia de uma nave alienígena que teria caído na cidade norte-americana de Roswell, no Estado do Novo México, em julho de 1947. No ano passado o “Incidente em Roswell”, como ficou conhecida a mais popular e até hoje polêmica história da Ufologia dos EUA, completou 50 anos, coincidindo com o cinqüentenário da própria era moderna da Ufologia, inaugurada pelo relato de Kenneth Arnold, piloto civil norte-americano, que ao sobrevoar o Monte Rainier teria observado uma formação de vôo de nove objetos discoidais a grande velocidade.
E justamente no aniversário de 50 anos, o Incidente em Roswell ganhou duas novas versões, uma oficial e outra reforçando o caráter insólito do alegado episódio. A versão oficial ficou por conta da nota divulgada pela Força Aérea dos Estados Unidos, afirmando que realmente um objeto caiu em Roswell, mas que tratava-se apenas de um balão com um dispositivo de reflexão de ondas de radar. Segundo a USAF, o projeto, chamado “Mogul”, era então secreto e acabaria sendo confundido com um disco voador pelos experimentados oficiais do 509º Grupo de Bombardeio de Roswell, na época o único grupo de bombardeio atômico dos Estados Unidos. A versão que corrobora o caráter ufológico do incidente foi lançada primeiro pelo Coronel Philip J. Corso, em seu livro “The Day After Roswell” (O Dia Seguinte a Roswell), publicado pela Editora Pocket Books. No livro, o Coronel Corso afirma ter ele próprio comandado as operações de despacho dos destroços da nave alienígena acidentada para laboratórios de pesquisa civis e militares com o objetivo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de forma a parecer que tratavam-se de invenções terrestres.
A checagem das alegações de Corso logo gerou uma polêmica na Ufologia Mundial. A maioria dos informantes por ele mencionados já morreu. A confirmação só seria possível com a boa vontade do Governo dos EUA, de departamentos como o Pentágono, CIA e empresas para as quais teriam ido os destroços, como os Laboratórios Bell, AT&T, Motorola, General Electrics etc. Ou seja: a comprovação dependeria de tudo que os ufólogos do mundo esperam há 50 anos. No entanto, contra seus críticos, Philip Corso apresenta seu currículo e patentes militares, estas sim, confirmadas. Coronel do Exército dos EUA reformado em 1963, com 21 anos de carreira e 19 condecorações militares, foi oficial da Inteligência na equipe do General Douglas MacArthur, na Coréia; membro do Conselho de Segurança Nacional (durante o governo de Eisenhower) e diretor do Setor de Tecnologia Estrangeira do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército dos EUA, no Pentágono. Ao se reformar, o coronel tornou-se assessor especializado em segurança nacional para os senadores James Eastland e Strom Thurmond.
A American Computer Company e o Transistor
Tela de abertura do site da ACC onde está
a suposta estória verdadeira do transistor.
Mas o debate ficou mesmo quente depois que uma companhia que vende computadores entrou em cena. A American Computer Company (ACC), uma empresa de médio porte sediada no segundo andar de um edifício de estabelecimentos empresariais de Nova Jersey, nos EUA, lançou em seu site na Internet http://www.american-computer.com/) uma versão nova para a história da invenção do transistor, dispositivo em que está baseada a quase totalidade dos aparelhos eletrônicos do homem, desde um simples rádio de pilha até os mais avançados computadores da atualidade. Conforme descreve a ACC em suas páginas na Web
(http://www.american-computer.com/roswell.htm), o transistor teria sido desenvolvido na Bell Labs –braço da pesquisa e desenvolvimento de ponta da empresa Lucent technologies, incorporada pela AT&T– como parte de um projeto de pesquisa e aprendizado do funcionamento dos dispositivos encontrados no artefato alienígena acidentado em Roswell.
No site, o relato começou sendo apresentado de forma humorística, inicialmente apenas requisitando a opinião dos leitores, o que seria parte de uma estratégia depois explicada pelo presidente da ACC, Jack Shulman, durante entrevista concedida ao radialista Jeff Rense. Ao radialista, que comanda o popular programa Sightings, nos EUA (http://www.sightings.com/), Shulman relatou que a intenção era dar publicidade à história e ao mesmo tempo não prejudicar a imagem da companhia junto aos seus clientes, deixando a cargo de contribuições futuras dos leitores do site e contatos da ACC confirmar ou desmentir o material apresentado.
O presidente da ACC afirma ter recebido o relato de um consultor de sua companhia com o qual, como é praxe no mundo da Ufologia, ele comprometeu-se a não revelar o nome. O mistério, assim como a computação e o gosto pela polêmica parecem fazer parte da vida de Shulman. O empresário é também diretor da ACSA – American Computer Scientists Association (Associação Americana dos Cientistas da Computação), uma Associação que reivindica vitória por W.O. de seu sistema Valkyrie –montado pela ACC– sobre o Computador Deep Blue e reproduz em seu site até mesmo o manifesto do terrorista mundialmente conhecido Unabomber. Shulman tem uma página no site da ACSA (http://www.acsa.net/shulman.html) dedicada a apresentar seu currículo no ramo da computação. Ao invés de sua foto, no entanto, consta uma fotografia do monumento de Stonehenge, na Inglaterra. O site http://www.acsa.net/shulman1.html, que reproduz um artigo de Shulman a respeito de inteligência artificial, refere-se a ele, entre outros adjetivos, como “um dos pais da tecnologia da computação”, tendo desenvolvido trabalhos para a IBM, AT&T, HP, Bell Labs/AT&T, governo dos EUA e “dúzias de outros”.
Listas de e-mail e reforço com declaração de astronauta
Logo surgiram nas listas de discussão de Ufologia na Internet, algumas delas retransmitidas no Brasil pela OVNIBR-l, mantida pelo pesquisador Pedro Cunha, dezenas de mensagens apoiando a iniciativa ou duvidando dos fatos relatados pela ACC. Repercutindo em mais desconfiança, surgiram dois misteriosos investigadores, chamados Bob Wolf e Ed Wang, que muitas vezes pareceram falarem nome da ACC, o que é negado por Shulman. O presidente da companhia afirma tratarem-se de dois pesquisadores que entraram em contato com ele, assim como muitos outros.
Não tomando conhecimento da controvérsia, a ACC continuou ampliando em seu site o espaço destinado à história do transistor. Diversas reportagens, releases de imprensa e ofícios foram publicados. Apelando para o espírito patriótico do povo norte-americano, a companhia encaminhou ofício ao Departamento da Defesa dos Estados Unidos para que se pronunciasse a respeito da história em benefício da própria confiança do povo americano em seu governo.
Aí a polêmica começou a esquentar. Praticamente na mesma época, segundo garante Shulman, o prédio da ACC foi arrombado, alguns equipamentos de menor valor foram roubados e uma série de documentos foi deixada na empresa. A investigação acabou tendo envolvimento do Escritório de Informação Estratégica da Força Aérea Norte Americana e até da CIA, depois de contato telefônico da ACC com a Central procurando informações sobre um suposto satélite de espionagem mencionado numa das muitas comunicações misteriosas recebidas via fax ou e-mail.
Lutando contra investidas para derrubar seu sistema de segurança na Internet, a ACC prosseguiu e conseguiu, através do ex-astronauta Edgard Mitchell, o sexto homem a caminhar sobre a Lua, um importante incentivo. No dia 15 de outubro de 1997, a agência de notícias internacionais Associated Press veiculou nota revelando que Michell admitiu que alguns aviões militares utilizam tecnologia derivada de uma espaçonave alienígena que teria sido capturada e desmontada. A nota, que se refere às declarações do astronauta durante um congresso no dia 11 de outubro, diz ainda que, para Mitchell, “o proposto projeto secreto está sendo encaminhado há décadas debaixo de uma administração governamental paralela, separada do presidente e dos membros do alto-escalão do Pentágono”. Apesar de não referir-se especificamente à ACC, a companhia tomou a declaração como reforço ao seu próprio relato.
Novas tecnologias “alienígenas”
Depois de vários comentários, novas revelações (veja entrevista exclusiva de Jack Shulman à Revista Vigília, via e-mail), finalmente veio a cartada mais contundente da companhia: segundo a ACC, não só o material que reuniu na investigação que depreendeu é confiável, como conseguiu identificar um novo componente eletrônico entre as anotações que lhe foram repassadas pelo misterioso consultor. Denominado pela empresa de Transcapacitor, ou Transcap, ele seria capaz de armazenar, num único ‘chip’ de cristal, o equivalente a 90 gigabytes de memória de computador, por exemplo. Ou ainda ser aplicado a dispositivos ampliando entre 50 e 1000 vezes a capacidade de operação dos transistores convencionais.
A notícia despertou o interesse até mesmo da newsletter eletrônica Newsbytes (http://www.newsbytes.com/pubNews/97/105422.html), veículo de divulgação de tecnologias da computação. A matéria, publicada no dia 18 de dezembro de 97, por Craig Manefee, relatou a criação, pela ACC, do Transcapacitor Technologies Laboratory (TTL – Laboratório de Tecnologias do Transcapacitor). Shulman não só anunciou isso como confirmou já ter em seu poder um protótipo do dispositivo, sobre o qual pretende esclarecer toda a comunidade internauta e ufológica antes de comercializar o direito de fabricação. Para tanto, uma suposta foto foi colocada em seu site, assim como o símbolo que será usado em circuitos elétricos e relatórios de análises técnicas levadas a cabo pelos laboratórios da companhia.
Segundo o presidente da ACC, as patentes já estão sendo providenciadas junto aos organismos competentes no Estados Unidos e houve propostas de compra –até agora recusadas– por parte de executivos de grandes empresas, mas, como sempre, ele ainda não quer revelar seus nomes. À Newsbytes ele declarou: “as pessoas podem pensar que estou fazendo isso apenas pelo dinheiro. Bem, eu estou nisso pelo dinheiro, mas eu não vou procurar ninguém por ajuda financeira até nós entendermos esta coisa melhor. Isso feriria minha credibilidade”, ponderou. De fato, no primeiro dia de 1998, o site da companhia trouxe o anúncio de um porta-voz da empresa: “Após cuidadosa consideração de ofertas não-solicitadas de compra do Transcapacitor ACC da ACC, decidimos, por um futuro próximo. NÃO licenciar nem vender estes dispositivos para qualquer comprador, pelo menos até podermos expor seus designes e operações para o público, para que todas as ramificações de suas origens sejam conhecidas pelo público. Desenhos, artigos científicos e fotos estarão disponíveis quando nossos advogados nos aconselharem, e em nenhum momento antes disso”.
Sem comentários
Até agora Bell Labs, sediada em Murray Hill – Arizona, manteve silêncio a respeito do assunto. Vigília tentou contato via e-mail com a empresa. Richard P. “Dick” Muldoon, funcionário da Bell Labs – Lucent technologies limitou-se a indicar o site para informações sobre o transistor: http://www.lucent.com/transistor. Procurando este site, o internauta provavelmente receberá uma mensagem de erro. Somente através de um link no site da Bell Labs nós conseguimos encontrar à página à qual o funcionário se referia: http://www.lucent.com/ideas2/heritage/transistor. O site da Lucent que reporduz a história até então conhecida do componente eletrônico está criado em dezembro de 1947 por John Bardeen e Walter Brattain e William Shockley, trabalhando na Bell Labs, com base em descobertas científicas importantes que remontam o século 19.
Todo o trabalho de inventores e cientistas famosos como Maxwell, Hertz, Faraday, Thomas Edison, Guglielmo Marconi, Fleming, Nikolas Tesla e muito outros é lembrado como base dos conhecimentos que conduziram ao transistor e às aplicações às quais ele foi empregado desde então. Nenhuma outra companhia citada pela ACC manifestou-se a respeito da história. Fica agora a expectativa da comunidade ufológica mundial para o anúncio definitivo do lançamento do Transcap e sua comprovação como resultado do aproveitamento de uma suposta tecnologia alienígena. Enquanto a ACC não der esta última e decisiva cartada, a história não vai passar de mais uma entre as muitas fantásticas teorias especulativas do mundo da Ufologia.
Fabio Sabalo
Fonte:
-Correio da Paraíba, 09/12/1997.
-Vigilia Home Page
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