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Shirlei Massapust
No século XXI o programa AATIP das forças armadas dos EUA classificou cinco categorias de eventos “observáveis” em fenômenos aéreos não identificados (UAP). São eles: 1. aceleração repentina e instantânea, 2. velocidades hipersônicas sem assinaturas, 3. baixa observabilidade, 4. viagem transmídia e 5. elevação positiva. Somente uma vez avistei um observável, embora eu desgraçadamente estivesse sem câmeras, filmadoras ou outros meios de registro. Eu estava em casa com minha mãe, no Rio Comprido, Rio de Janeiro, RJ. Nesta ocasião fiz a seguinte anotação em meu diário:
Terça-feira, dia 28/10/1997, 21h46. Acabo de voltar do terraço. A alguns minutos atrás, eu estava deitada na cama do meu quarto, em frente a janela, olhando para o céu. De repente percebi um objeto estranho se aproximando. O objeto apresentava-se como um ponto muito brilhante, laranja claro envolvido por uma auréola de luz transparente branca e que aparentava possuir uma grande e luminosa cauda branca produzida, talvez pela alta velocidade. Por causa da cauda, de princípio pensei se tratar de um objeto em forma de bastão, mas depois ele entrou voando por cima das nuvens (o céu está parcialmente coberto por cirro-estratos) e, graças às nuvens, tornava-se hora visível, hora não. Ele parece ter diminuído a velocidade e, nos momentos em que estava visível, pude constatar que na verdade era um objeto circular.
Pensei tratar-se de um OVNI, pois estava apresentando um “comportamento” muito estranho para um simples avião. Parecia estar querendo se esconder entre as nuvens, e eu já havia lido que OVNIS costumavam fazer isto. Chamei minha mãe. Ela veio ver e concordou que aquilo não parecia com um avião. Fomos correndo para a varanda para ver melhor. Minha mãe reparou que o objeto estava subindo cada vez mais, fazendo uma rota incrivelmente alta – nenhum avião faz uma rota naquela altura.
Chegou um momento em que não encontrávamos mais o objeto entre as nuvens. Ficamos procurando até que minha mãe apontou dizendo: “Ali!” Uma grande esfera havia saído por cima das nuvens e, na medida em que se distanciava delas, ia baixando as luzes até ficarem bem fracas. Isso sim, não tinha erro, era um disco escuro azul metálico rodeado por sete luzes laranja e uma vermelha. Era um objeto tão grande que mesmo numa altura considerável podia ser visto do tamanho de uma moeda de 50 centavos, aproximadamente. (Obs.: Não sei se era o mesmo objeto de antes, este inclusive estava numa altitude mais baixa). Este disco voou em linha reta desde quando saiu das nuvens até o perdermos de vista passando por cima da nossa casa.
Pouco tempo depois, minha mãe reparou no que parecia ser uma “estrela se movendo”. Uma forma redonda alaranjada – muito semelhante à primeira – que voava a alta altitude se dirigindo para a direita em linha reta. Ficou muito tempo nesse trajeto até sumir entre as nuvens. Aparentemente se deslocava bem lentamente, mas eu não saberia medir a velocidade de algo naquela distância.
Durante esse tempo juntou um pouco de gente na rua quando me ouviram gritando para minha irmã vir correndo. Creio que alguns viram, pois estavam olhando para o céu. Ninguém estava com máquina fotográfica ou filmadora. Eu também não registrei porque o filme da máquina já havia acabado (ainda não tenho filmadora).
Eram objetos voadores terrenos exóticos? Sinceramente não sei. O espaço aéreo sobre o Rio Comprido parece com uma zona de testes para tudo que voa. Segunda-feira, dia 09/03/1998, à noite, vi uma cascata de fogos de artifícios que estouravam sem produzir som durante trinta minutos. Pareciam quedar de um drone invisível, da cor do céu noturno. No fim do ano a recente invenção dos fogos silenciosos foi anunciada pela imprensa, que nos convidou a assistir a um espetáculo inédito na Praia de Copacabana.
Num belo dia um dirigível começou a passear sobre os morros cariocas. Eu via isso pela janela. Achamos que seria uma nova atração turística do Rio de Janeiro, assim como os bondes cariocas, pois era um veículo antigo e bonito. Então, por volta de setembro de 2002, o governador Anthony Garotinho anunciou que o Dirigível Pax Rio sobrevoava favelas com câmeras superpotentes para mapear e monitorar áreas violentas.
Certa vez também começou a passar aviõezinhos do tipo Maria Fumaça sobre os morros. Eu vi isso pela janela. Foi divertido. Logo depois anunciaram o primeiro Red Bull Air Race, ocorrido em janeiro de 2007. Quarta-feira, dia 29/07/2014, pela tarde, vi algo metálico sem asas deixando um rastro de fumaça enquanto seguia em linha reta bem alto no céu, seguindo em direção ao Centro da Cidade (o ponto mais longínquo que vejo no horizonte). Cerca de cinco a dez minutos depois desceu um cheiro forte de pólvora igual ao deixado por fogos de artifício quando explodem, só que mais intenso. Isso foi amedrontador. Penso que vi um míssil. Mas por que um míssil sobrevoaria o Brasil? (Bizarramente, em 28/07/2014, um outro míssil proveniente de lugar incerto e não sabido destruiu a paróquia da Sagrada Família, a única presença católica na Faixa de Gaza).
Em verdade vos digo que não esperamos por tudo, nem por tão pouco. Raul Seixas e Jorge Mautner sempre estiveram conscientes de que o disco voador atirador de raio paralisante é e não é uma metáfora. Por que alienígenas haveriam de criar vampiros ávidos pela brasilificação da cultura popular inglesa? Mas sim, “eles” estavam exaurindo gente em Colares! Michael Persinger (1945-2018) foi, no século XX, a segunda maior autoridade na pesquisa de alucinações depois de Oliver Wolf Sacks (1933-2015). Um grupo liderado por ele testou a hipótese do papel modulador de processos naturais mal interpretados sobre o aumento do número de narrativas de fenômenos luminosos anômalos.
Torta de nuvem. © 2010, Shirlei Massapust.
Primeiro foi contabilizado o número de relatórios investigados na Bacia do São Francisco nos anos de 1950 a 1969, o qual variou em mais de 50% em janeiro, durante a estação de chuvas, atingindo picos quando as precipitações excediam 8,5 polegadas, aumentando ainda mais após a ocorrência de abalos sísmicos na região. Com base nestes dados a equação foi aplicada aos anos 1973, 1993 e 1995 prevendo corretamente a variação na média do número de relatórios (escore z > 1,5).[1]
Em outra pesquisa mais recente, com pertinência temática, Michael Persinger e sua equipe contabilizaram 3.667 narrativas de ocorrências eventos classificados como incomuns ou estranhos. Estes foram divididos em oito categorias principais para quatro blocos de tempo contíguos, entre 1770 e 1970. A principal fonte da discordância (phi = 0,52) ao longo do tempo foi a diminuição no número de relatórios de precipitações de gelo, rochas e animais (chuvas diferentes), seguida do aumento dos relatórios de fenômenos luminosos, rotulados como OVNI. “Uma hipótese para explicar esse resultado é que mudanças culturais nas atribuições de causas de fenômenos naturais podem afetar sua designação como estranhas e não mundanas”.[2]
Portanto seriam os óvnis apenas raios e trovões? Está provado que muitos de fato o são. Outra hipótese é que as precipitações de grandes estalactites de gelo expostas – um tanto sarcasticamente – por Charles Hoy Fort (1874- 1932) hajam sido algo tão único quanto a passagem do objeto interestelar 1I/ʻOumuamua pelo sistema solar. A estrela Betelgeuse só explodirá uma vez. Quem ver verá. Quem não ver perderá a chance.
Em novembro de 2014 um técnico operando uma câmera infravermelha, a bordo de um helicóptero da marinha chilena, filmou durante nove minutos um objeto de câmaras duplas semelhante a um amendoim que sobrevoava a costa chilena. Embora, no filme infravermelho, possamos ver o objeto liberando um rastro de calor, a olho nu o piloto e o técnico não perceberam nenhum rastro de condensação, de fumaça ou de liberação de produtos químicos. Esse vídeo foi autenticado e divulgado pelo governo chileno em 2017.[3]
Pois bem, isso não foi uma alucinação. Não foi uma má interpretação de fenômeno natural. Aqui vemos o maravilhoso desconhecido captado por uma testemunha de elite.
Os óvnis do Pentágono
No ano 2004 os operadores de radar do navio militar USS Princeton detectaram o voo rotineiro de objetos não identificados sobre o mar territorial estadunidense. Isso ocorria durante testes militares, gerando risco de colisão. A olho nu os pilotos viram um cubo opaco dentro de uma esfera translúcida que voava sozinho. Viram também muitas pequenas coisas que se comportavam como drones ou aeronaves voando em formação. Isso desceu como pingos de chuva caindo e entrando no mar.
Todos esses objetos entraram ilegalmente onde não deveriam, sem que ninguém pedisse autorização. Certa vez um objeto desceu rapidamente de uma altura de vinte e quatro mil trezentos e oitenta e quatro metros até atingir seis mil e noventa e seis metros acima do nível do mar. Então começou a ser perseguido e filmado pelo piloto David Fravor, usando as câmeras do caça F/A-18 Super Hornet. O vídeo de David Fravor tem duração de um minuto e dezesseis segundos, sendo conhecido como FLIR. Ao final deste lapso temporal o objeto acelerou e evadiu-se em míseros dois segundos. Ao mesmo tempo o condutor do porta-aviões USS Nimitz Carrier Strike Group acompanhou a ocorrência pelo registro dos sensores. As principais diferenças entre este objeto voador e as aeronaves conhecidas era a ausência de asas, ausência de uma assinatura de calor e inexistência de meios visíveis de propulsão. Aquilo voava em velocidade hipersônica.
Nos anos de 2014 e 2015 outros pilotos da marinha norte-americana decolaram do porta-aviões USS Theodore Roosevelt a fim de produzir mais vídeos do fenômeno aéreo não identificado. Apenas um piloto, que prefere permanecer anônimo, conseguiu gravar mais dois vídeos de trinta e quatro segundos cada, onde um objeto maior voa, gira e acelera na direção contrária a ventos de mais de duzentos e vinte e dois quilômetros por hora. Novamente notamos a ausência de uma assinatura de calor, que geralmente acusa a localização do motor da aeronave, bem como a inexistência de meios visíveis de propulsão.
Os três vídeos vazaram, acabaram nas mãos de um grupo de ufólogos de elite e foram divulgados por Luis Elizondo[4] e Tom DeLonge. Atendendo ao pedido de cidadãos civis, amparados pela Lei de Liberdade de Informação, em 27/01/2020 o Pentágono autenticou os três vídeos – chamados “FLIR”, “GOFAST” e “GIMBAL” – e determinou que fossem disponibilizados para download no site governamental Naval Air Systems Command. Durante a gravação do documentário Unidentified Inside America’s UFO Investigation (2019 / 2021) um colega de trabalho do piloto que gravou GOFAST e GIMBAL afirmou que na verdade somente as partes em baixa resolução dos três vídeos vieram a público. Existem registros sigilosos mais nítidos sobre atividades mais complexas.
Não recordo o nome do especialista em efeitos especiais de cinema entrevistado por Luis Elizondo que analisou o vídeo GIMBAL em um telão. Ele percebeu que o vídeo aparenta mostrar um sólido constituindo o núcleo quente de um campo magnético frio, em formato de bolha. Ou seja, alguém já descobriu a lei do globo e conseguiu aplicá-la inserindo alguma engenhoca dentro de um raio globular, certamente para dirigi-lo. Isto é capaz de girar quase 90º no ar, algo que um avião não poderia fazer sem cair no mar.
Depois disso parece que comunicadores oficiais do Pentágono decidiram reportar à imprensa qualquer porcaria. Em 04/02/2024 um caça F-22 Raptor da Força Aérea dos EUA derrubou algo na costa da Carolina do Sul. Após o recolhimento dos destroços tal objeto foi identificado como sendo um balão chinês. Em 10/02/2023, 11/02/2023 e 12/02/2023 outros três objetos voadores foram derrubados por caças F-22 Raptor, quando sobrevoavam respectivamente o espaço aéreo do Alasca, Yukon – uma região na costa-oeste do Canadá – e o Lago Huron, em Michigan, também na fronteira com o Canadá.[5]
John Kirby, do Conselho de Segurança Nacional, afirmou que tais objetos não apresentavam sinal de comunicação, propulsão, nem eram tripulados; e embora não representassem ameaça direta às pessoas, sobrevoaram áreas militares sensíveis e poderiam afetar o tráfego aéreo (porque voavam entre seis e doze mil metros de atitude). Chuk Schumer – senador do estado de Nova Iorque, eleito pelo Partido Democrata – estudou o corpo de delito concernente à primeira derrubada e opinou que tudo aquilo não passava de versões pequenas de balões espiões chineses. Todavia membros da Força Armada dos EUA não confirmaram a declaração do líder da maioria no senado norte-americano, alertando que não dever-se-ia generalizar. Ninguém logrou êxito em identificar quais eram os três objetos mais recentemente derrubados, de onde procediam ou como permaneciam no ar. Ao ser questionado pela imprensa sobre tecnologia alienígena, o General Glen Vanherck, chefe do NORAD, respondeu: “Vou deixar que a comunidade de inteligência e a contraespionagem resolvam isso. Não descartei nada neste momento”.[6]
Poucos meses depois este importante homem de 62 anos foi aposentado pelas forças armadas. Enquanto isso, curiosamente, o próprio Chuk Schumer abandonou a postura incrédula e começou a defender o aumento na transparência do governo dos EUA em torno dos Óvnis por meio da criação, pela agência National Archives and Records Administration (que protege e arquiva documentos governamentais e históricos), de uma coleção de registros a ser conhecida como UAP Records Collection. Segundo o senador democrata, “durante décadas, muitos americanos ficaram fascinados por objetos misteriosos e inexplicáveis e já passou da hora de obter algumas respostas”.[7] Só que ninguém precisa de outro projeto Blue Book para fornecer desinformação e respostas erradas. Lembram do objeto caído em Roswell onde a história começou com testemunhos militares sobre OVNI e acabou com fotografia oficial de balão meteorológico? Bah! Pelo amor dos deuses, chega de balões hipersônicos. Não sei o que eu vi, mas FLIR, GOFAST e GIMBAL não são carneirinhos de cirro-cumulus nem muamba taiwanesa. Ponto final.
NOTAS
[1] JS, Derr, PERSINGER, Michael. Geophysical variables and behavior: XCV. Annual January rainfall may modulate the incidence of luminous phenomena within the San Francisco Basin. Em: Percept Mot Skills. 2001 Jun; 92 (3 Pt 2): p 1180-90.
[2] PERSINGER, Michael.Geophysical variables and behavior: XC. What people consider strange: change in proportions of reports of Fortean phenomena over time. Em: Psychol Rep. 2001 Feb;88(1):89-90.
[3] MARINHA DO CHILE DIVULGA VÍDEO DE SUPOSTO DISCO VOADOR. Em: Balanço Geral. Posto online em 09/01/2017. URL: <https://www.youtube.com/watch?v=u9e30veqv0c>.
[4] Luis Elizondo foi agente especial e diretor do programa secreto Advanced Aerospace Threat Identification Program (AATIP), antes de pedir demissão e passar a produzir documentários sobre ufologia.
[5] LEBLANC, Paul. Here’s everything we still don’t know about the unidentified objects. Em: CNN. Posto online em 14/02/2023. URL: <https://edition.cnn.com/2023/02/13/politics/object-shot-down-lake-huron-what-matters/index.html>.
[6] EUA DERRUBA MAIS TRÊS ÓVNIS E CASA BRANCA AFIRMA QUE OBJETOS NÃO SÃO DE ORIGEM EXTRATERRESTRE. Em: TV Cultura. Posto online em 14/12/2023. URL: <https://www.youtube.com/watch?v=xNISctkBIgs>.
[7] UFOS: SENADORES DOS EUA QUEREM FORÇAR A LIBERAÇÃO DE REGISTROS DE ÓVNIS E ASSUNTOS EXTRATERRESTRES. Em: ESTADÃO. Posto online em 17/07/2023 | 11h06. URL: <https://www.estadao.com.br/internacional/senadores-eua-querem-forcar-liberacao-de-registros-de-ovnis-uaps-ufos-extraterrestres-nprei/>.
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