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Em sua vida Carl Jung testemunhou duas guerras mundiais e boa parte da Guerra Fria. Foi neste período, particularmente após as explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki que começaram a surgir pelo mundo milhares de casos de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados. Jung morreu em 1961, quatorze anos depois do Caso Roswell e exatamente no mesmo ano que Betty e Barney Hill trouxeram ao mundo o primeiro relato de abdução alienígena. Não a toa os avistamentos de Discos Voadores sejam um tema que chamou bastante sua atenção em seu últimos anos de vida.
O famoso psiquiatra fez isso de forma bastante respeitosa para com o fenômeno OVNI. Atuou não do ponto de vista um ufologista que discute a veracidade dos relatos mas sim do ponto de vista psicológico que se interessa no que as pessoas descrevem e relatam com relação ao que chamou de uma verdadeira experiência mitológica moderna.
Foi com esta postura que em 1958 escreveu Discos Voadores: Um mito moderno sobre coisas vistas no céu, onde examina “não a realidade ou irrealidade” dos fenômenos titulares, mas seu “aspecto psíquico”, e “o que pode significar que esses fenômenos, reais ou imaginários, sejam vistos em tal número neste dado momento” – a Guerra Fria – “quando a humanidade está ameaçada como nunca antes na história.” Foi o seu penúltimo livro a ser lançado, logo antes de “O Homem e Seus Símbolos” e como gostam de lembrar os teóricos da conspiração não consta em nenhuma das coleções póstumas de “Obras Completas”.
No livro, Jung compara os discos voadores com as mandalas, símbolo do universo e do eu. Os discos voadores são de outro mundo (o inconsciente) e é habitado por alienígenas (outros arquétipos). Desta forma ele destacou que pelo menos alguns dos avistamentos podem ser “projeções”; ou seja, “manifestação de um fundo inconsciente”.
Ele conclui por meio de uma série de observações e raciocine-os que o Fenômeno Ovni indica a incompatibilidade do homem moderno consigo mesmo e com o mundo e o desamparo que daí resulta. Cada avistamento é um chamado urgentes das profundezas de nosso subconsciente para que resgatemos nossa conexão com o universo e como um apelo para salvarmos nossa individualidade da opressão social. Entretanto, após expor sua teoria , ele conclui de forma bastante honesta, reconhecendo que não está em condições de resolver o problema definitivamente.
Mas em 1957, um ano antes da publicação do livro Disco Voadores, o editor da New Republic, Gilbert A. Harrison, queria obter a perspectiva junguiana sobre OVNIs em sua revista:
No início desta postagem, você pode ver acima original da resposta de Jung à consulta de Harrison, cuja tradução segue:
“Caro Sr. Harrison,
O problema dos Ufos é, como você diz com razão, muito fascinante, mas é tão enigmático quanto fascinante; visto que, apesar de todas as observações que conheço, não há certeza sobre sua própria natureza. Por outro lado, existe um material avassalador que aponta para o seu aspecto lendário ou mitológico. Na verdade, o aspecto psicológico é tão impressionante, que quase devemos lamentar que os Ufos pareçam ser reais, afinal. Tenho acompanhado a literatura o máximo possível e me parece que algo foi visto e até confirmado por radar, mas ninguém sabe exatamente o que se vê. Em consideração ao aspecto psicológico do fenômeno, escrevi um livreto sobre ele, que logo será lançado. Também está em processo de tradução para o inglês. Infelizmente, estando ocupado com outras tarefas, não consigo atender sua proposta. Sendo já bastante velho, tenho que economizar minhas energias.
A carta é hoje um item de colecionador tanto entre entusiastas de Jung como de OVNIs e foi foi leiloada em quatro mil dólares. Jung, como você pode ver, tinha dois tipos de interesses pelo assunto, não apenas considerando discos voadores um fenômeno social, mas também um fenômeno físico real. Em uma entrevista para o Washington Post de 30 de julho de 1958 ele faz declarou sua posição: “No curso dos anos, eu reuni uma considerável massa de observações. Entretanto tudo que posso dizer é que estas coisas não são um mero rumor. Alguma coisa tem mesmo sida vista.”
Alberto Grosheniark
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