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Cabala Thelema

Shalicu

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 Por Kenneth Grant, Nightside of Eden.

O 31o Túnel está sob o domínio de Shalicu cujo nome deve ser vibrado na clave de ‘C’ num sussurro sibilante e sinistro. Seu sigilo deve ser pintado em vermelho sobre uma superfície esmeralda.

A tripla língua de fogo (shin) é atribuída ao Caminho 31, e isto é refletido dentro do abismo na forma do tridente invertido de Chozzar (uma forma de Choronzon e um emblema de magia(k) atlante).

Este é o caminho de Evocação e Piromancia via língua de fogo secreta que se manifesta no túnel de Shalicu na forma de Choronzon. Como está escrito no grimório:

Então também a Pirâmide foi construída de forma que a Iniciação pudesse ser completa.[713]

O número de Shalicu é 500 que é o número de ShR, significando ‘Príncipe’, SORAH, ‘principal’, do egípcio Ser, ‘chefe’ ou ‘presidente’, de onde vem o inglês ‘sir’. Shalicu é o príncipe das qliphoth na sua forma do arqui-demônio Choronzon que reina dentro deste túnel e que transporta o kala mais secreto, que é conhecido como O Aeon. Este kala flui da zona de poder de Mercúrio até aquela da terra. Este túnel é portanto de importância primordial no que ele estende à terra as vibrações Chorozônicas de Daäth, via Mercúrio.

ThNN, ‘estender’, também possui o número 500. A atribuição é confirmada por ThNIM (também equivalente a 500), significando ‘bestas selvagens do deserto’. ThNIM se aproxima da palavra egípcia tenemi, que significa ‘fazer recuar’. Os habitantes deste túnel são as bestas vorazes do Deserto de Set, e elas repulsam todos os esforços para ganhar acesso ao Pylon de Daäth.

500 é também o número de MThNI, ‘os quadris’, que tem afinidade com a palavra sânscrita maithuna, significando ‘acasalamento’, ‘união sexual’.

O fogo deste caminho é o fogo de Set que é o calor sexual tipificado pelas bestas que espreitam no limiar de Daäth perante o Véu do Abismo. A Pira ou Pirâmide, e o Fogo, são idênticos; portanto a pirâmide como um símbolo de Set e da Estrela Sothis.

Os deuses atribuídos ao 31o kala são Vulcano e Plutão; aspectos gêmeos de Hades (seus aspectos ígneo e escuro respectivamente). Plutão é uma forma do Cérbero ou besta com cabeça de cão que guarda os Portões do Abismo.

O sigilo de Shalicu mostra a tumba de Christian Rosencreutz, ou, mais precisamente, a placa que anuncia o fato da morte, julgamento, e ressurreição. Estes compreendem a tríplice fórmula da Travessia do Abismo via crucificação ou passagem da vida para a morte. A ideia de julgamento, implícita nos cultos do velho aeon, denota a purgação e refinamento do corpo grosseiro (a múmia) e sua preparação para a travessia para o Amenta. Isto é esboçado na fórmula alquímica do Dragão Negro que simboliza o aparecimento da Primeira Matéria (Ser) em seu estado corrupto ou não regenerado (ego), antes da sua projeção como o Último Kala (remédio/medicina).

Nos mistérios da Golden Dawn esta fórmula era expressa pelos rituais dos Graus 0o = 0 (quadrado) e 5o = 6(quadrado); o primeiro esboço – do ponto de vista dos habitantes da terra (Malkuth) – de Não-Ser definitivo se processando através da zona de poder de Hod (Mercúrio) até Malkuth (Terra).

O siddhi mágico do Caminho 31 é a Transformação, Invisibilidade, ou Desaparecimento; o desaparecimento do mundo das aparências (i.e. a numenalização dos fenômenos que, interpretada em termos de existência objetiva, é a transformação do corpo grosseiro em sua essência etérica).

A ‘enfermidade típica’ atribuída ao Caminho 31 é a Febre, que é associada ao calor ou fogo e que culmina no túnel de Shalicu como Morte e/ou Insanidade Total.

O panteão africano relativo a este kala inclui os aspectos ígneos de divindade tal como Manamana (relâmpago); Orun-apadi, a fornalha equivalente ao conceito cristão de inferno; e Egungun, o Juízo Final. É interessante notar que O Último Julgamento era o título dado ao Trunfo do Taro que mostrava os mortos se erguendo de suas tumbas. O simbolismo deste trunfo, revisado de acordo com a doutrina do Novo Aeon, é agora entitulado O Aeon, e ele está na forma da Criança que o espírito ressucitado ergue da escuridão do Amenta. O grande mistério é, contudo, que esta criança é feminina: a filha, não o filho. Ela é representada no imaginário do pássaro fabuloso, TzITzISH, que denota o pássaro emplumado ou prestes a voar (i.e. a mulher pubescente), o pássaro da lenda cabalista. Seu número é 500. Ele é o último símbolo do Aeon de Maat como esboçado na Doutrina Negra de Ma Ayon.

Com relação a esta Doutrina, que é de suprema importância, Michael Bertiaux observa:

Na metafísica Druida, que é mais antiga que a religião Celta… o estudo do Universo ‘A’ [o universo conhecido] é chamado ‘ontologia’, ou a ciência do ser, enquanto que o estudo do Universo ‘B’ [o Meon, ou universo desconhecido] pôde apenas ser chamado ‘meontologia’, ou o estudo do não-ser. Contudo, eles [i.e. os Druidas] não desenvolveram este conceito muito bem, devido ao medo de contatar os seres no outro universo. [714]

Segundo a antiga sabedoria oculta há apenas um método de penetrar os mistérios do Meon, e este é através de uma reversão das invocações mágicas que normalmente se utilizaria em conexão ao Universo ‘A’. Frater Achad em tempos recentes usou esta fórmula de reversão num sentido cabalístico e ela o capacitou à desvendar muitos mistérios em O Livro da Lei. Ela produziu a chave mágica que Aleister Crowley tinha buscado em vão, embora Crowley tivesse intuído a fórmula correta quando ele declarou: ‘Eu reconheço a magia(k) como envolvida em reverter qualquer ordem existente’. [715]

Michael Bertiaux transportou esta ideia um estágio mais além do que ambos Crowley e Achad. Bertiaux sugere que ‘Choronzon poderia ser considerado como uma das abordagens ao Universo ‘B’.

Poderia ter sido, deveras, através deste túnel até o ‘outro lado’ da Árvore que Crowley obteve os elementos do ‘mal’ que iriam destruir sua obra no Outer (Ordem Externa_?) e tornar seus livros abominados por aqueles que não compreendiam a extraordinária conexão entre os dois universos. Bertiaux explica claramente este caso:

O Mal não existe no Universo ‘A’, e no Universo ‘B’ ele não existe. Entretanto, quando há um relacionamento entre os dois universos, existe a possibilidade de o mal penetrar o mundo, dentro do Universo ‘A’. Eis o porquê os magos que operam ao longo das linhas de busca de contato com o Universo ‘B’ estão algumas vezes em uma situação onde eles dão a impressão de serem ‘Magos Negros’ ou além disso, de serem ‘perigosamente maléficos’ ou ‘perversos e não naturais’.

Bertiaux prossegue dizendo que a ‘qualidade maléfica de Choronzon existe apenas no fato que ele existe entre os dois universos, ‘A’ e ‘B’, como um guardião mágico… ’ [716]

O 31o Caminho está dividido entre os poderes do Fogo e Espírito, e o 32o e último caminho está dividido entre os poderes da Terra e Saturno.

No 31o túnel os poderes do Fogo e Espírito resumem a fórmula da Serpente de Fogo, que é aquela do Espírito/Matéria no macrocosmo e Choronzon/Mulher no microcosmo. Em outras palavras, as forças essenciais da escuridão (matéria) são ativadas no macrocosmo pelo elemento do Espírito, e no microcosmo elas se manifestam na mulher que incorpora a Serpente de Fogo. [717] A mecânica desta fórmula foi explicada na minha Trilogia Tifoniana. [718]

A este kala 31 a Papoula Vermelha, Hibisco, ou Rosa da China são atribuídas, pois estas flores são simbólicas da Mulher Escarlate – Babalon – que encarna as energias cósmicas da Serpente de Fogo. Estas são simbolizadas pelo Opala de Fogo que surge como uma pedra preciosa de sua vulva, e pela Pirâmide de Set, a chama fálica cósmica que a consome completamente com sua tripla língua de fogo.

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Notas:

[713] Liber CCXXXI.

[714] Os itálicos são do presente autor.

[715] O Diário Mágico da Besta 666, p.248. O símbolo supremo de reversão é Tífon, a deusa que representa o Caminho Para Trás ou Reverso. Vide O Mistério de Sírius (Temple) p.71

[716] Itálicos do presente autor, Michael Bertiaux, Curso do 3o Ano (Monastério dos Sete Raios).

[717] i.e. a Sacerdotisa iniciada da Besta, Shugal-Choronzon.

[718] Vide também a explicação de Crowley sobre a Fórmula de LAShTAL (Magick, págs. 415-16).

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Revisão final: Ícaro Aron Soares.


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