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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Dez.
EM O Renascer da Magia eu chamei a atenção à similaridade entre a situação que enfrentavam os antigos iniciados e aquela que confronta a humanidade hoje. Esta situação está desenvolvendo uma sensação substancial embora ainda amplamente subconsciente de influência opressiva a partir do lado externo que – como Crowley observara344 – está encontrando expressão no ‘medo [do] pesadelo de uma catástrofe, contra a qual nós ainda estamos parcialmente hesitantes para tomar precauções’.
Inumeráveis livros tem surgido dentro das duas últimas décadas relacionados com aqueles que são agora considerados como sendo exemplos altamente prováveis de invasões periódicas deste planeta por parte de entidades extraterrestres. Muitos poucos livros oferecem um fragmento de evidência convincente em apoio à estas teses; entre aqueles que o oferecem pode ser citado O Mistério de Sírius, de Robert Temple, que tem a virtude de revelar ao público a existência de uma tribo africana com uma tradição ininterrupta de uma visita extraterrestre e que tem durado por mais de 10.000 anos.345 O Mistério de Sírius está profundamente relacionado à Tradição Tifoniana a qual minha Trilogia tem tratado exaustivamente.
Os escritos de H.P.Blavatsky eram indubitavelmente a fonte de inspiração para uma grande quantidade de literatura atual baseada na suposição de que várias evoluções passadas da onda de vida neste planeta fracassaram devido à algum acidente terrível ou má utilização do conhecimento oculto. Ainda assim Blavatsky, e Crowley, que em um certo sentido continuou o trabalho dela, declaravam serem apenas transmissores, de Inteligência extraterrestre. O Livro de Dzyan é provavelmente a transmissão mais completa que temos com relação aos mistérios das criações pré humanas, e O Livro de Thoth – na forma de curiosos glifos ocultos(?) conhecidos como o Taro – resumem o meio prático pelo qual esta Inteligência, e a corrente que ela incorpora, pode ser invocada e canalizada por Adeptos competentes para direcionar as forças que esta representa. A Doutrina Cósmica de Dion Fortune declara ser um outro corpo de transmissão não humana. Entre os Adeptos contemporâneos, Michael Bertiaux do Culto da Serpente Negra transmitiu e estabeleceu uma corrente transmundana em seus Papéis Graduados pertencentes ao Monastério dos Sete Raios.346 E a Soror Nema (Margaret Cook) em Ohio é um foco das Forças de Maat.347
Os 22 Atus de Thoth indubitavelmente contem fragmentos da ‘sabedoria proibida’, ou sabedoria oculta, a qual os pós-Tifonianos buscavam abolir. Ainda assim com a primeira explosão nuclear que ocorreu neste planeta durante a atual onda de vida, a porta oscilou abrindo-se novamente e emanações do Abismo tem se derramado para dentro da atmosfera astral da terra desde então. A carga resultante de energia qlifótica está se acumulando tão rapidamente que apenas aqueles que conseguem entrar na arca de Nu como seres totalmente polarizados estão imunes do contágio. Tais seres eram simbolizados pelo andrógino dos antigos ensinamentos, desde o Ardhaniswari Indiano até o Baphomet bi-sexual dos Templários.
É sugerido pelos autores de O Despertar dos Mágicos348 que uma certa região do deserto de Gobi mantém as cicatrizes de uma explosão nuclear. No relato caldaico da disputa entre Bel e o dragão, a divindade solar se arma com a espada (zain) dos quatro quadrantes que se tornaram quatro caminhos. A espada, brandida e em movimento, é equivalente ao fylfot(?) de Thor o [Deus do] Trovão, ou à Suástica de Agni o Deus do Fogo. Bel ‘mata o dragão, e quando a batalha termina diz-se que as onze tribos afluíram após a batalha em grandes multidões vindo para observarem pasmos a serpente monstruosa. A palavra onze é distintamente escrita istin-isrit ou um e dez349 de forma que não possa haver dúvida a respeito do número, embora nada seja conhecido a respeito das onze tribos’.350 A explicação de Massey é que estas onze tribos representam os onze signos zodiacais previamente descobertos, e que a morte do dragão ocorreu no décimo segundo, como o último signo do zodíaco solar final, a saber: Peixes. Mas o décimo primeiro signo sózinho é suficiente para explicar a parábola, pois Aquário tipifica as águas do abismo do espaço onde o dragão (Draconis) foi morto ou afundou para o Amenta, quando a supremacia solar sobre os cronometristas estelares foi finalizada. De outra forma, o onze se refere a Daäth como o local da morte e o local do oitavo, i.e. a Besta ou Dragão. Isso pode ser interpretado como o lugar através do qual o dragão da escuridão projetou-se para o ‘outro lado’.
Nuit ou Nu arqueada sobre a terra, como retratada na Tábua da Revelação,351 é o glifo egípcio da Arca de Nu ou Noé que continha um par de cada membro da criação animal com a exceção de certas bestas que os cultos posteriores baniram como Tifonianas, i.e. ‘impuras’. Elas foram excluídas da arca – como implica a lenda – não por causa de sua natureza híbrida ou impura mas porque elas foram dispensadas por conta de serem incorporações simbólicas de uma travessia bem sucedida do lugar mais próximo para o outro lado da inundação que tipificava o abismo.
A lenda de Noé, distorcida na versão hebraica como também em seu análogo grego, o mito de Deucalion, ainda assim preserva traços da verdadeira gnosis que foi quase totalmente(?) destruída eras antes do começo do período monumental da história do Egito.
O cinco e o seis (56) que é a Palavra de Nu (Não / Not) é a chave para a arca e o arco. Isso é expresso cabalisticamente no 5 x 6 = 30 dos Gnósticos, ou o (vide símbolo no livro_OM) dos hindus, a Palavra ou Vibração do Não (Not), o Ain, o Olho do Sete (i.e. Set).352 Além do mais, 5 + 6 = 11, é o número da magia(k) de mutação ou transformação353 porque ele é o número de Nuit que diz: ‘Meu número é 11, como todos os números daqueles que são de nós’. Eu percebi em algum lugar que ‘nós’ (‘us’) (66) é um glifo das qliphoth que os judeus não compreenderam e que eles portanto categorizaram como conchas dos mortos, demônios, e os gillulim ou deidades excrementais.354 A verdade da matéria é a verdade da mater (mãe), Nu, e ela repousa fisicamente naquela manifestação excremental estigmatizada particularmente pelos judeus e persas, e abominada por aqueles que não estavam cientes de seu valor alquímico. Os únicos repositórios sobreviventes destes mistérios são, ao que parece, certos Tantras do sul da Índia, as obras dos antigos Adeptos do Tamil, e certos tratados árabes secretos velados na obscuridade de uma terminologia mística ainda mais elaborada e intrigante do que os textos alquímicos familiares aos estudantes ocidentais. Destino ou acaso – chame-o do que quiser – colocado à minha disposição um comentário raro sobre uma obra Tântrica por parte de um expoente do ramo (?) Chandrakala da divisão Vamachara dos Tantras, que contém claras referências ao uso mágico daqueles elementos psicofísicos que foram lançados fora (vama) e anatemizados unicamente devido à um preconceito religioso provocado por uma revolução em métodos de cronologia355. A grande mudança de tipos e símbolos foi exaustivamente explicada por Gerald Massey em sua obra monumental, mas o que não foi esclarecido por ele é o fato de que a potência mágica possuída pelas essências, os kalas, as flores ou emanações simbolizadas pelas divindades – sempre femininas – do panteão primordial. Ainda assim, à despeito da limitação imposta sobre Massey a respeito da ausência de textos iniciáticos disponíveis em seu tempo, sua obra permanece de altíssimo valor no que ela traça mais precisamente do que aquela de qualquer outro escritor, antes ou desde então, a linha de surgimento, a evolução e a história dos veículos simbólicos da Corrente Tifoniana a qual o presente escritor buscou explicar em todos os seus escritos. Com a exceção de Sir John Woodroffe e Aleister Crowley, nenhum escritor ocidental além de Massey, tocou sobre o conteúdo vital da gnosis genuína, a verdadeira tradição mágica. Pois, não existe dúvida absolutamente de que lá reside nos eflúvios sutis de certas vibrações vaginais magicamente carregadas a substância ou essência alquímica que, corretamente extraída e consumida, pode assim transformar o complexo corpo-mente humano de modo a torná-lo capaz de realizar a definição de magia(k) ‘fazendo ocorre alterações em conformidade com a vontade’.356 Os métodos mágicos para obter isto foram dados – até um certo ponto – nos escritos de Crowley, mas em muito poucas de outras obras até agora publicadas no ocidente, sempre excetuando umas poucas traduções de textos Sânscritos e Tibetanos apresentados por Sir John Woodroffe.357 É portanto meu objetivo particular fornecer o ‘elo perdido’ na obra de Massey fornecendo referências Tântricas que não apenas expliquem a Tradição Draconiana, mas que também tragam aquela tradição alinhada com a gnosis psicofisiológica primordial que, após ter transposto a brecha devastadora feita pelos solaritas, conduza diretamente para a Nova Gnosis que a ciência hoje em dia está vagarosamente revelando.358
Deveria estar profusamente claro agora que o Mistério do Abismo, o Portal do Abismo, a Porta de Daäth, etc., não são meras invenções literárias. O simbolismo do portal de ingresso, como o de saída, tipificado por Babalon, comporta as implicações contidas nos tantras já mencionados, implicações que eram suprimidas ou distorcidas pelos pós-Tifonianos ainda que durassem um pouco mais tardiamente [mas] de forma obscura nos escritos dos gnósticos com suas alusões aos banquetes de amor e ritos eucarísticos de Charis anatemizado pelos cristãos, que criaram o mito de um Cristo tornado carnal.
O simbolismo do Abismo permeia todas as tradições mágicas e mitologias antigas. Os finlandeses, por exemplo, se referiam a seus magos como ‘Abismos’, e a Abadessa de um certo Culto Budista Tibetano portava o título de Dorje Phagmo, significando ‘leitoa adamantina’ ou ‘eterna’, sendo a leitoa um tipo Tifoniano primordial da Deusa como a semeadora ou geradora.
As lendas dos Gêmeos da Luz e da Escuridão – Horus e Set que podem ser interpretados como o Direito e o Esquerdo (ou Frente e Costas) da Árvore, resumem a doutrina das polaridades negativa e positiva da corrente criativa: dia e noite, macho e fêmea, a dupla lunação,359 ou o horizonte duplo.360 Esta polaridade é representada antropomorficamente como a criança Set, o garoto impúbere, e o homem Horus, o masculino viril. Note porém que no simbolismo da gnosis o impúbere era o tipo de potencial. Não sendo nem masculino nem feminino ele era o símbolo aceito de ambos (both), ou beth, o dois, o gêmeo que era Um como o Magus361 com sua força ou potencialidade gêmea. Massey nota que a lenda dos Gêmeos – Set-Horus – era pré monumental e ‘pertencia ao tempo de Shus-en-Har, à quem é atribuído um período histórico de 13, 420 anos’. Este cômputo ele observa ‘tem sido desde então corroborado pelas inscrições descobertas em Sakkarah’.362
Porém ainda antes do Culto dos Gêmeos, antigo como é, o Culto da Trindade, ou Três em Um, existia com a Mãe Tífon como a fonte primordial de criação que continha dentro de si mesma o filho (Set) cujo potencial foi atualizado como Horus. Este triplo caráter foi atribuído à Lua de Hecate, e os judeus também preservaram a tradição em sua formulação mais antiga da Árvore onde ele ainda permanece sob as formas de Daäth, Yesod e Malkuth. Daäth era a lua cósmica e a fonte da ilusão da fenomenalidade, i.e. o ego; Yesod era a lua astral ou celestial, a lua da magia(k) e bruxaria; Malkuth era a lua física que gerava encantos sobre o plano terreno. Malkuth era portanto o aspecto mais denso da trindade e a reificação da lua no feminino humano. Daäth é para a Tríada Superna o que Yesod é para a Tríada Infernal, e é significativo que a imagem qlifótica que os judeus atribuíam a Yesod era aquela de Gamaliel, o Asno Obsceno.
Segundo Sharpe363 a cabeça do asno é um hieróglifo egípcio determinativo possuindo o equivalente numeral de 30, o que mostra seu relacionamento à corrente lunar e o mês de 30 dias dividido em três partes, cada uma de dez dias. Contudo é nos textos persas que nós nos encontramos com o asno que pode ser considerado obsceno. Ele possui três pernas ou membros, a terceira sendo o falo, com o qual ele purifica o oceano de sal. ‘Quando ele enfraquecer(?) no oceano toda a água do mar será purificada’. O poder purgativo da urina é bem conhecido na Ásia,364 mas há outra forma, mais esotérica, de purificação conhecida pelos Tântricos a qual requer um consumo da urina da sacerdotisa escolhida para representar a Deusa nos ritos do Kalachakra.365 No Bundahish as águas são identificadas com o tempo, e o asno é o ‘assistente especial de Sothis em manter o tempo correto, ou em preservar as águas puras por meio de sua micção(?), que destrói as criaturas da corrupção’.366 Em outras palavras, as qliphoth são repulsadas e aniquiladas pela Estrela de Set que, com seu assistente o asno, purga o abismo dos teratomas gerados por Tífon. Massey nota que no Livro dos Mortos o ‘Tanque de Sal e de purificação é descrito como o local do começo dos anos’, i.e. o local do início do tempo, ou a fonte de kala tipificada por Kali ou Babalon, a Mulher Escarlate.
Existe aqui uma confusão de tipos; o asno era originalmente um glifo da mulher como a fonte, fundação ou assento, o traseiro (???_ass) como ele é vulgarmente chamado. O fluido purgativo era o kala do fluxo lunar. A urina, embora um purificador, era nada mais que uma fonte secundária de purificação, logo a associação do asno com a fundação (Yesod significa ‘fundação’), e, mais tarde, com as divisões lunares: o brilhante e o escuro (quinzenas) representados pela água brilhante ou dourada e o fluxo escuro ou menstrual.
É afirmado por algumas autoridades que o asno era o objeto particular de adoração nos ritos dos Templários, e que a sodomia conectada à este simbolismo – como com aqueles ritos – era ela mesma simbólica do caminho para trás, para a esquerda, ou o caminho furtivo da mulher. A cabala egípcia, com o asno significando o número 30 a conecta com idéias já mencionadas em relação à este número e com a própria Árvore da Vida.
Massey compara o asno com Noé, ambos sendo verdadeiros cronometristas. Isso pode ser compreendido como significando que tanto a arca de Noé, o arco de Nuit, quanto o asno ou fundamento, são, como a lua e Sothis, reguladores do tempo periódico. Além do mais, as águas fluindo do abismo e fervilhando com as ‘criaturas de corrupção’ (i.e. as qliphoth) são purificadas pela regulação mágica de tempo e período e, quando consumidas, conferem o poder de penetrar para o outro lado da Árvore.
De modo a compreender a total importância deste Mistério é necessário fazer aqui uma prolongada divagação. Existe uma conexão mística, senão uma identidade real, entre os conceitos Daäth e Maat. Em uma de suas grafias Maat é 51, o número de Edom (ADVM), o reino dos ‘reis demônios’ ou ‘forças desequilibradas’. Grafado de outra maneira é 442, o número de APMI ARTz, ‘o fim da terra’. Maat significa ‘regra’, ‘medida’, ‘comprimento’367 e ela representa uma terminação ou fronteira entre uma região e outra, entre o reino de Edom e o lado mais próximo da Árvore, ou, de modo inverso, entre o fim da terra e o outro lado da Árvore. Em uma comunicação recebida por uma Sacerdotisa de Maat contemporânea, aquela deusa é descrita como a ‘Pausa’.368 Similarmente, no livro de Halevy sobre a Qabalah,369 Daäth é descrita como o ‘Intervalo’. Daäth e Maat portanto simbolizam o estado de interposição que Austin Spare associou com a ruptura infinitesimal na continuidade da consciência que permitiu o influxo de poder alienígena370. Mas é em seu avatar de Maut, a deusa abutre, que Maat se torna explicável como a solution de continuité em oposição à Nu ou Nuit.
Ambas Maut e Nu possuem o valor de 56 (=11). Nuit, como a ‘contínua do céu’371 é dissolvida na descontinuidade do inferno372 presidida por Maut que é idêntica com Maat como a partícula-verdade atômica, Atma.373 Os dois conceitos, Maut e Nu, totalizam juntos 112 (duas vezes 56) que é um mais do que 111, o número de Smai, um título de Set e da palavra grega HNNHA, significando ‘nove’. Nove é o número de Yesod, a zona de poder que reflete Daäth dentro do mundo astral. 5 + 6 + 5 + 6 totaliza 22, o número de raios conectando os 32 kalas da Árvore da Vida. O ‘um’ que é mais do que 111 é também o ‘um em oito’ explicado anteriormente em relação ao simbolismo da serpente de oito cabeças: o ‘um em oito’ que é ‘nove’ para os tolos 374 que são 111.375
Como Crowley observa:376
Se alguém assumir que o Taro é de origem egípcia, pode-se supor que Mat (esta carta sendo a carta principal de todo o maço) realmente significa Maut, a deusa abutre, que é uma modificação da idéia de Nuith mais antiga e mais sublime do que a de Isis.
Aqui é mantido, contudo, que Maut não é apenas ‘uma modificação mais antiga . . . da idéia de Nuith’, etc., mas o Negativo Primal que assume continuidade ou duração aparente no universo fenomenal; que ela é deveras o vazio numênico que é o substrato da Realidade. Em outras palavras, ela é a vacuidade que caracteriza o tolo, ou ‘o bobo’, o mat ou louco, o ‘santo’ que é ‘um em oito’, como previamente explicado. E este um em oito é Daäth ou Maath – a Boca do Abismo, o buraco no espaço que se abre para o outro lado da Árvore.377 Assim, idéias tais como O Louco, o vazio, a boca, o santo, estão todas incorporadas na imagem de Maut.
Crowley também chama a atenção para o fato de que o abutre era antigamente considerado como tendo reproduzido sua espécie pela intervenção do vento. A palavra ‘louco’ deriva de ‘follis’, uma ‘bolsa de vento’, de forma que ‘até mesmo a etimologia dá a atribuição ao ar’.378
Quando Crowley e Neuburg evocaram Choronzon no deserto379 eles utilizaram a
adaga. Esta é a arma mágica atribuída ao ar que, como um conceito metafísico, simboliza o espaço e a vacuidade, o complemento do tempo e continuidade representados por Nuit. Maut e Nu-Isis portanto alcançam equilíbrio na décima primeira zona de poder e no décimo primeiro caminho (aleph), o Caminho do Louco.
O ar é simbólico do fantasma ou geist, a rajada de vento ou alento de espírito que – na tradição bíblica – impregna a Virgem Maria e é portanto conhecido como o espírito ‘santo’. Maut também reproduz segundo este estilo, pois Matéria (Maat) é a manifestação do imanifesto, tipificado por espaço (o vazio). Os extraterrestres fecundam a humanidade via espaço, e o transmissor de suas vibrações sutis é o aethyr (éter), simbolizado pela pomba, a besta do ar.
No Comentário ao Liber Pennae Praenumbra é notado que ‘Qualquer coisa pesando mais que Maat, a própria Verdade, não pode prosseguir ou cruzar o Abismo’. A pena que tipifica Maat é um símbolo do ar e do vôo; não o vôo da águia, mas do abutre cujas asas permanecem imóveis no espaço, já que não pode existir movimento no vazio. Os deuses são os ‘goers’(‘os que vão’_?) e ‘o equilíbrio é mantido pelo movimento para frente’.380 Uma ruptura total de progressão leva ‘imediatamente ao Abismo . . .’ porque ‘quando o movimento é transcendido, o mago não mais existe, é nada (no-thing)’.381
A Palavra do Aeon de Maat é IPSOS (IPSE + OS). Ela é traduzida por seus Adeptos como ‘a mesma boca’. A boca é Maut. Ipsos é mais ainda declarada como sendo a palavra do 23o Caminho ou Kala, cujo número é 56 (5 + 6 = 11). Este é o número de ambas Nu e Maut, e onze é o número da qliphoth tanto quanto da magia(k). O 23o kala é atribuído à água, o elemento mais oposto ao ar, pois a respiração é abolida pela água, que é atribuída ao Enforcado do Taro.
Este Atu possui uma significação oculta explicável apenas em sua importância mais profunda com referência ao Vama Marg. O Enforcado é retratado de ponta cabeça, uma postura típica do inverso associado com viparita karani.382 A ‘água’ peculiar à este caminho é o sangue que flui da boca daquela deusa cujo símbolo é o abutre, um pássaro que ganhou a reputação de se alimentar deste fluido formativo. O morcego vampiro é um outro zoótipo do sugador de sangue que foi ‘enforcado’. Ele se pendura de ponta cabeça em seu sono ‘yóguico’ de saciedade, empanturrado pelo fluido vital de suas vítimas.
A palavra hebraica para água é MIM = 90, o número de Tzaddi, a letra sobre a qual está escrito:383 ‘Tzaddi não é a Estrela’.384 O significado de Tzaddi é um ‘anzol para peixe’, e o peixe é o esperma secreto que nada dentro do sangue da sacerdotisa cujo símbolo é a Estrela de Prata. O número da Sacerdotisa é 3, que, junto com Tzaddi soma 93, ou 3 x 31. O Caminho da Sacerdotisa é atribuído ao número 13, o inverso de 31, a Chave de AL, que, nas mãos da Sacerdotisa, 3, se torna 93.385 Treze denota a corrente mágica cognata com sangue menstrual, o sangue386 do qual ambos emanam, e é consumido pelo Enforcado.
Este simbolismo se iguala com aquele da pérola negra no lótus de cristal descrito em Liber Pennae Praenumbra. A pérola é a pedra especial da Sacerdotisa; ela é negra porque ela é a sacerdotisa de Kali, do Tempo, ou ‘em seu tempo, ou período (dela)’. O cristal é atribuído ao 13o caminho; o lótus ao 23o caminho.387
Existe, contudo, uma maneira profundamente mística na qual este sangue não é; quer dizer, na qual ele é a antítese de tempo e, portanto, de manifestação. MIM, grafado com o ‘m’ final contado como 600, torna-se 650,388 que é o número da palavra caldaica LShOIRM, significando daemonibus hirsutis (às deidades hirsutas / cabeludas).389 Estes eram tipos de Set390 como deuses de geração. Nuit diz: ‘Meu incenso é de madeira & gomas resinosas; e não há sangue nisto: por causa de meu cabelo as árvores da Eternidade’.391 Ela então prossegue declarando: ‘Meu número é 11, como todos os números dos que são de nós’. Aqui Nuit dá a receita de seu incenso em oposição a seus perfumes, fragrâncias, ou flores (i.e. o lótus). O incenso é atribuído ao ar, espaço, o vazio; e as flores (particularmente o lótus) à água, sangue. Logo, Maat (ar), e Maut (sangue) são formuladas em Nuit como NOT (NÃO), ‘a Estrela’.
Maat é a contraparte feminina de Thoth, que é idêntica com Daäth. Maat e Daäth têm portanto uma equivalência de polaridade(?) que em nenhum outro lugar é tornada tão evidente como na atribuição à Thoth – como seu consorte – do cinocéfalo ou macaco com cabeça de cão. Maat é portanto a Verdadeira Palavra que, quando refletida ou ‘imitada’ pelo cinocéfalo, torna-se falsidade. É este aspecto dual de Nuit, como o não-manifesto (numênico) e o manifesto (fenômenos), que é combinado na décima primeira zona de poder, Daäth. Daäth é portanto o ponto crítico da Árvore, o verdadeiro local de travessia para o ‘outro lado’, e seu significado com relação à Maat como a janela se abrindo por sobre o Aeon de Nu, o Aeon de Nu-Isis ou Maat, será agora explicado.
Notas:
344 Vide introdução à edição de bolso do Liber AL publicada pela O.T.O. em 1938.
345 Vide O Mistério de Sírius (Robert Temple), Sidgwick & Jackson, 1976. O leitor interessado poderá notar a recorrência nos livros de Temple de importantes conceitos e temas Tifonianos que são tratado em minha Trilogia, e, talvez acima de tudo, a confirmação do locus de origem da Tradição Tifoniana na A.’.A.’. ou Argenteum Astrum (Estrela de Prata) a qual eu identifiquei com Sothis em 1972. Vide O Renascer da Magia, etc.
346 Vide Cultos da Sombra, capítulos 9 e 10.
347 Vide capítulo 11.
348 Louis Pauwels e Jacques Bergier.
349 Compare o ‘um além do dez’. (Nota do presente autor).
350 Talbot, Registros do Passado, vol. IX, pág.136, citado por Massey em Gênese Natural. II. 334.
351 Vide O Renascer da Magia, ilustração 7.
352 O ‘sete’ é Z; portanto z-ain, a Espada que efetua a dissolução do Tempo.
353 i.e. da morte e da ‘dissolução e êxtase eterno nos beijos de Nu’. (Al. II. 44).
354 Por exemplo, a Merodach menstruante, desdenhosamente referida como a ‘delicada Merodach’ pela Septuaginta. Vide also Isaías xlvi, 12 onde a tradução inglesa é vertida vagamente e de forma imprecisa, talvez não deliberadamente mas porque os tradutores também não conseguiram compreender o significado das qliphoth.
355 Chronos: de onde vem cronologia. Os Kronótipos eram cronometristas inteligentes em oposição às forças do espaço pré-kronianas e elementares. Estas forças foram primeiro tipificadas zoomorficamente, ou totemicamente, como Elementárias de Chaos (Espaço) antes de nascerem no Cosmos (Ordem, e portanto Tempo) onde eles foram continuados na fase estelar da mitologia como símbolos das constelações, i.e. como cronometristas celestiais.
356 Magick (Crowley), p.131.
357 Vide em particular O Tantra Demchog, Karpuradistotra, Kamakalavilasa, Anandalahari, Kularnavatantra, etc.
358 Vide em relação à isto a obra estimulante e sugestiva de Fritjof Capra, O Tao da Física: Uma Exploração dos Paralelos entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental. (Wildwood House, 1975).
359 Crescente e minguante da lua.
360 Os equinócios de Primavera e Outono.
361 Atu Um é atribuído a Beth, O Mago. Beth, sendo ambos (both), é portanto também neither (nenhum). Vide cap. 2,
supra.
362 A Gênese Natural, vol. II, p.473. Vide também O Renascer da Magia, capítulo 3.
363 Inscrições Egípcias, lxxiii, 7.
364 Na Índia, por exemplo, a urina de vaca tem sido utilizada desde tempos imemoriais na cura de mordida de cobra.
365 O Círculo Kaula. Vide a Trilogia Tifoniana; capítulos sobre Tantra da Mão Esquerda.
366 A Gênese Natural (Massey), vol. II, p.346.
367 Compare com nosso vocábulo maths (matemática).
368 Vide Liber Pennae Praenumbra. Cincinnati Journal of Ceremonial Magick , vol. I. No. I (1976).
369 Adão e a Árvore Kabalística, p.23.
370 Nota do Tradutor: No sentido de Estranho.
371 AL. I. 27.
372 O abismo.
373 Também explicado como ‘Atum’ e ‘Edom’.
374 AL. II. 15.
375 A letra Aleph atribuída ao Louco do Taro, quando soletrada por extenso resulta no número 111.
376 O Livro de Thoth, p.53.
377 O leitor é referido à O Livro de Thoth, p.55, onde Crowley observa mais além que a palavra ‘silly’ (bobo), significando ‘vazio’, deriva do alemão selig, significando ‘santo’.
378 Ibid, p.53
379 Vide Liber 418, 10o Aethyr.
380 Do Comentário ao Liber Pennae Praenumbra.
381 Ibid.
382 Inversão dos sentidos. Vide Cultos da Sombra, capítulo 4.
383 AL. I. 57.
384 A interpretação de Frater Achad desta frase como significando ‘Tzaddi é Nuit (Não / Not), a Estrela’ pode abordar mais de perto o coração do mistério, como distinta da [interpretação] de Crowley que mantém que Tzaddi não é a Estrela porque alguma outra letra é.
385 O número de Thelema, Agapé, Aiwass, Nakaka, etc.
386 Glifado como MIM, água.
387 Segundo o Liber 777 ‘todas as plantas de água’ são atribuídas ao 23o caminho.
388 Note o simbolismo recorrente 6 + 5 = 11.
389 Cultuadas no Egito.
390 Sobre o LShOIRM ou Serau, Massey observa ‘Existe um tipo particular de bode cabeludo conhecido nos monumentos como o Serau . . . Na linguagem do Egito, diz Heródoto (ii. 46), ambos um bode e o deus Pan são chamados Mendes’. I.e. os serau eram sagrados à Set, a forma egípcia de Pan.
391 AL. I. 59. Os itálicos são do presente autor.
Revisão final: Ícaro Aron Soares.
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