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Por Tau Hanu & Tau Kheper-Rá [1]
O universo das práticas e crenças esotéricas é habitado por indivíduos e grupos em busca de conexões com a essência divina e os poderes ocultos que orquestram o cosmos. Dentre esses grupos, destacam-se os Gnóstico-Thelemitas, seguidores da Lei de Thelema prescrita no Livro da Lei e outros escritos sagrados, e os Martinistas, adeptos dos princípios de Louis Claude de Saint Martin. À primeira vista, essas correntes parecem diametralmente opostas, mas uma análise mais cuidadosa revela paralelos fascinantes.
O Martinismo, fundado sob a influência dos pensamentos de Louis Claude de Saint Martin, é primordialmente um sistema esotérico cristão-cabalístico que enfatiza a busca pelo conhecimento direto de Deus e a iluminação através do autodesenvolvimento e meditação. Uma figura essencial no Martinismo são os “Mestres do Passado”, seres espirituais reconhecidos por terem alcançado a iluminação ou a ascensão, e que atualmente contribuem para a evolução espiritual da humanidade.
Os Mestres do Passado no Martinismo funcionam como um ponto de referência e orientação, um elo direto com o divino. Simultaneamente, eles servem como receptáculos e transdutores da energia espiritual emanada pelos praticantes do Martinismo. No campo Gnóstico-Thelêmico, encontramos uma compreensão semelhante nas Santidades, que atuam como mediadoras, canalizando e transformando a energia espiritual. Babalon, com seu cálice, acolhe o sacrifício dos santos, simbolizando a metamorfose de suas vidas terrenas em energia espiritual purificada.
No contexto Martinista, o Pantáculo ocupa um lugar central, derivando do grego panta, que significa “o todo”. Segundo o martinista Adolphe Desbarolles, a palavra vem do latim pantaculum, que denota “aquilo que inclui tudo”. Similarmente, Papus propõe que o Pantáculo é um “diagrama do todo, condensando, num único símbolo, uma profusão de significados”. Stanislas de Guaita concordava com Papus, considerando esse símbolo como o resumo hieroglífico de uma doutrina completa.
No Pantáculo Martinista, múltiplos elementos representam a cosmovisão. Aqui, nosso foco será a apresentação do Pantáculo de Babalon adotado por nossa instituição, que busca sintetizar a doutrina Gnóstico-Thelêmica do culto que dedicamos a Nossa Senhora do Abismo.
O pantáculo em questão é um círculo finamente trabalhado, repleto de simbolismo profundo e figuras cuidadosamente selecionadas. Na borda do círculo, estão gravadas as palavras: “Sanctuarium Babalonis”, sinalizando que este é um local sagrado dedicado à adoração de Babalon. A inscrição continua com o lema “In Nomine Babalon Domina Abyssi”, que se traduz como “Em nome de Babalon, a Senhora do Abismo”. Este lema exprime respeito e reverência à divindade.
Incrustados na superfície do pantáculo, encontramos os símbolos do cálice e da adaga. O cálice é um recipiente para o derramamento do sangue dos santos, simbolizando sacrifício e devoção. A adaga, por sua vez, é um emblema de prontidão e perspicácia, um lembrete de que a jornada espiritual exige discernimento e ação decisiva.
No coração do pantáculo, encontramos um quadrante com quatro cores, representando os quatro elementos de Malkuth – a mãe terrena – a sephira que simboliza o reino físico e material. Superposta a este quadrante, encontramos o símbolo de Binah – a mãe transcendente – a sephira além do Abismo, simbolizando o divino, a compreensão e a sabedoria. Essa sobreposição ilustra a crença gnóstica de que Babalon é tanto a origem quanto o destino de todos nós.
Babalon, no campo Gnóstico-Thelemita, pode ser entendida como uma entidade transcendental e imanente. Ela recebe todas as experiências humanas no cálice, transformando-as em um vinho espiritual, uma bebida embriagadora para os habitantes do Palácio de Binah. A associação de Babalon com Binah e Saturno no sistema cabalístico é profunda e multifacetada. Enquanto Binah é a terceira sephira da Árvore da Vida, Saturno é o planeta associado a ela. Babalon, como a Senhora do Abismo, é vista como a manifestação mais pura e elevada de Binah.
A estrela de sete pontas representa as sete sephiroth que se estendem de Malkuth a Binah, bem como os sete planetas clássicos do universo material. Esta estrela também é o Selo do Santíssimo nome de Nossa Senhora Babalon, conforme descrito por Frater Perdurabo no capítulo 49: ΚΕΦΑΛΗ ΜΘ A flor do Waratah do Liber CCCXXXIII: O Livro das Mentiras. A representatividade do número 7 no universo ocultista é profunda e variada, ampliando a simbologia contida neste símbolo.
Neste pantáculo, cada elemento serve como um lembrete da presença imanente e transcendente de Babalon em todos os aspectos da existência. É um lembrete de que, embora possamos buscar a divindade em lugares distantes e místicos, é aqui, neste reino terrestre, que encontramos nossa maior conexão com o divino. A existência terrena é o maior portal para a experiência divina, um tema comum tanto no Martinismo quanto na tradição Gnóstica-Thelemita.
Este é o Pantáculo Operativo de Babalon, que resume a doutrina Gnóstico-Thelemita do culto a Babalon, abrangendo todos os aspectos de nossa busca pela divindade. É, em essência, uma porta para o abismo, uma entrada para o desconhecido, e um símbolo de nossa dedicação à Senhora do Abismo. Como tal, merece nossa máxima reverência e respeito.
Bibliografia
- Azevedo, T. Gnosticismo Thelêmico. Editora Daemon.
- Crowley, A. O Livro das Mentiras. Editora Daemon.
- Deldebbio, M. Kabbalah Hermética. Editora Daemon.
- Fortune, D. A Cabala Mística.
- Hermanubis. O Simbolismo no Pantáculo Martinista
Autores
Tau Hanu (@tauhanu) & Tau Kheper-Rá (@taromancer) são Episkopos do Santuário de Babalon (@santuariodebabalon)
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