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Texto de Vincent St. Clare. Traduzido por Caio Ferreira Peres.
Meditação Zazen
Eihei Dōgen (também conhecido como Dōgen Kigen, 1200 – 1253), fundador da escola budista Sōtō Zen no Japão e um dos mestres zen mais importantes e influentes, pregava a onipresença da natureza búdica (tathāgatagarbha)—que a natureza búdica, a natureza verdadeira e iluminada de uma pessoa, está presente e disponível para todos, em todos os lugares e em todos os momentos. Para Dōgen, o zazen, a meditação, não é tanto uma tentativa de iluminação quanto a iluminação em si mesma. Para ele, a simplicidade de apenas sentar-se, mantendo a mera presença, é suficiente para acessar a perfeição mais íntima de uma pessoa.
Como Dōgen disse: “Modelar-se segundo o caminho dos Budas é modelar-se segundo si mesmo”. Essa é uma postura de autoautenticação radical, uma visão da iluminação que, embora essencialmente natural e inegavelmente simplista, está, em última análise, além da descrição, estando enraizada na pureza da prática, e não em conjecturas ou retórica filosófica. Daí o nobre silêncio do Buda, a insistência de Bodhidharma de que o verdadeiro e profundo dharma é “uma transmissão especial fora das escrituras, que não depende de palavras e letras” e—como lemos em tantos koans—as respostas sem palavras dos mestres zen aos alunos questionadores.
Uma parábola zen que ilustra a onipresença e o imediatismo da natureza búdica é um mondō, ou diálogo entre um discípulo e um professor, envolvendo o mestre zen Hotetsu.
Nesse diálogo, um monge se aproxima de Hotetsu, que está se abanando, e pergunta o seguinte:
“A natureza do vento é constante. Não há lugar onde ele não circule. Por que você ainda usa um leque?”
Hotetsu responde:
“Você só sabe que a natureza do vento é constante. Você ainda não sabe o significado de ele circular por toda parte.”
Em seu comentário sobre a parábola de Hotetsu, Dōgen afirma: “Dizer que, uma vez que (a natureza do vento) é permanente, não se deve usar um leque, e que se deve sentir a brisa mesmo quando não se usa um leque, é não conhecer a permanência e também não conhecer a natureza do vento”.
Essa é, por si só, uma resposta um tanto enigmática a uma parábola já enigmática, mas continua sendo reveladora: Acho que o que Dōgen quer que entendamos, essencialmente, é que a natureza búdica está inerentemente disponível o tempo todo, mas que só porque ela está “lá” e nós a “temos”, não significa que a compreendemos, apreciamos plenamente e a integramos em nossas vidas.
O zazen é, portanto, como o leque, uma utilização do potencial latente. Simplesmente sentando em meditação, compreendemos melhor e, de fato, integramos a natureza búdica. Por meio da prática, passamos da especulação filosófica para a afirmação espiritual. Em um único momento de sentar, a natureza búdica é percebida.
Meditação para Aperfeiçoamento Espiritual
Professores de outras tradições têm, em muitos outros termos, ecoado noções semelhantes, com a ideia principal sendo mais ou menos a de que a pessoa já é espiritualmente “perfeita”, mas ainda precisa realmente “lembrar” ou “perceber” essa perfeição.
É possível inferir indícios desse conceito nos escritos do esoterista Aleister Crowley: Crowley criticou a ideia de reencarnação restauradora em seu comentário sobre Liber AL vel Legis, dizendo:
“A ideia de encarnações ‘aperfeiçoando’ uma coisa originalmente perfeita por definição é imbecil.”
Essa concepção de existência, por mais nietzschiana que pareça, pressupõe que cada vida humana individual, em sua própria singularidade, já é “perfeita” e não precisa (embora não necessariamente queira ou deseje) nada além de si mesma.
Crowley desenvolveu Thelema, um sistema espiritual e filosófico que, assim como o budismo, faz com que seus praticantes se envolvam em meditação. E, assim como o aluno de Dōgen, o aluno de Crowley pode, se seguir sua filosofia ao pé da letra, ver a meditação e a prática espiritual em geral não como uma remodelação de algo atualmente inadequado para um determinado propósito (nesse caso, a iluminação), mas como um lembrete para despertar—uma sugestão para abordar a vida com excelência e viver a perfeição que já e sempre reside em todos os seres humanos.
Link para o original: https://thelemicunion.com/theres-nothing-special-about-meditation/
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Uma resposta em “Não Há Nada de Especial na Meditação”
É como infindavelmente preencher uma xícara de chá até transbordar e continuar preenchendo porque a mesma sempre estará acima. O acúmulo de chá sobre a mesa, fora da xícara, não deve ser percebido como um empecilho, há sempre infinito espaço no que é vazio e sempre um espaço além do que está preenchido.