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Rodrigo Vignoli – @Rfvignoli
Quando estudamos a prática da viagem astral na parte V do Liber O vel Manus et Sagittae muito pouco nos é dito acerca do Corpo de Luz. As instruções são sim suficientes para o estudante executar o ritual, mas o entendimento dos conceitos implícitos na prática só vai se dar conforme ele faz as suas experimentações e reflete sobre as sensações e imagens decorrentes da experiência. Assim, o entendimento do que é o Corpo de Luz é uma consequência da prática, e não é essencial para a sua execução. Por outro lado, o estudante pode achar muito mais fácil empreender tal atividade se ele conseguir formular intelectualmente os conceitos envolvidos e isso fizer sentido para ele.
Muitas outras publicações tratam desse tema, às vezes de forma superficial, outras vezes de maneira muito técnica e enfadonha, e outras tantas vezes com um viés muito específico e um vocabulário inapreensível e dispensável. Nesses casos a abundância de informações, muitas vezes até contraditórias, acaba por afastar o estudante ou fazer parecer que a prática da viagem astral seja algo difícil. Não é.
Esse artigo tem a intenção de apresentar o que é o Corpo de Luz, qual a sua natureza e função, e como o estudante pode operá-lo de forma acessível, prática e coerentemente. O entendimento do Corpo de Luz leva ao entendimento do Plano Astral e, por conseguinte, como desbravá-lo. A nossa intenção aqui é justamente preparar o estudante para isso.
O Corpo de Luz, também chamado de Corpo Astral ou Duplo Etérico, é uma massa amorfa que se sobrepõe ao corpo físico e o circunda. Sua extensão é variável e depende de inúmeros fatores, tais como a saúde, o humor e o magnetismo do indivíduo. Assim, conforme os diversos estados de consciência se sucedem, também esse campo se altera e se apresenta em formatos, tamanhos e cores variadas. Esse campo que se estende para além do físico é chamado de Aura ou Campo Etérico e, por mais que ele seja tido como invisível, em certas circunstâncias ele pode sim ser visto e até tocado. Exercícios como o Psyball permitem que os curiosos ou aqueles que se julgam insensíveis manipulem parte dessa energia em suas mãos e atestem nossas palavras.
A principal característica do Corpo de Luz, bem como do Plano Astral, é a sua plasticidade, ou seja, os imagens e a substância que as animam são moldáveis conforme a vontade do indivíduo. Isso significa dizer que por meio da projeção da intenção pode-se moldar o nosso próprio corpo astral, as ferramentas que utilizamos, os cenários em que nos encontramos e boa parte das figuras com as quais interagimos.
Essa modulação é muito simples de ser feita e depende de dois fatores principais: imaginação e intenção. Utilizamos a imaginação para criar, modelar, estruturar e delimitar as ideias, conferindo-lhes a forma que desejamos. E então usamos da intenção, ou vontade, para preencher, direcionar, animar e manifestar as formas previamente criadas. Essas formas-pensamento são extensões da psique do magista e se sustentam enquanto dura a energia com a qual foram abastecidas. Essa energia é justamente a vontade que a insuflou, que possui variações em sua qualidade conforme as variáveis previamente citadas de humor, saúde, magnetismo, entre outros tantos fatores.
O ponto que aqui desejamos demonstrar é que as criações mentais do indivíduo são extensões dele mesmo, de forma que a sua consciência não se resume apenas ao seu corpo físico ou astral, mas se projeta conforme a sua vontade lhe direciona. E é justamente sobre isso que se trata a viagem astral: uma projeção da consciência para além de seu centro, sem que no entanto deixe de também ali estar. A questão principal aqui é o foco – direcionar a atenção para estar apenas onde sua vontade está lhe conduzindo. O corpo físico permanece inerte, a consciência também está ali, mas o foco e a atenção revelam experiências remotas e inéditas, e é isso que importa nesse momento.
O texto do Liber O instrui o estudante para que ele
“imagine a sua própria imagem (preferencialmente vestido com os trajes mágicos adequados e armado com as armas mágicas adequadas) como se ela envolvesse seu corpo físico ou estivesse próxima e em frente a ele”.
Essa passagem emprega uma palavra importante que já utilizamos anteriormente: imaginação. A imagem que é formulada o é através da visualização criativa e só vai se estabilizar e estar pronta para o uso como veículo etérico da consciência depois de ser imantada com a vontade do indivíduo. Agora, perceba que a dúvida é a inimiga da vontade. Quando o projetista se sente inseguro acerca de como deve ser a sua imagem, sobre as preliminares do ritual, ou se sente ansioso pela viagem que está prestes a empreender acaba por comprometer a estabilidade de sua consciência e, por conseguinte, a eficácia de suas criações mentais. E, claro, isso se aplica na prática da viagem astral, mas também em qualquer outro tópico da vida: a dúvida marca a presença do indivíduo perante os demais, tal como o medo de uma presa é explícito para seus predadores. Portanto, o correto é se preparar previamente e eliminar boa parte da insegurança e dos imprevistos.
Então você pode estar se perguntando: qual é a minha imagem? Quais são os trajes adequados e quais são as armas adequadas? E se eu não os possuir, não posso projetar minha consciência? E essas são perguntas perfeitamente normais e que devem ser examinadas, começando do final: qualquer pessoa pode se projetar, independente de sua imagem, de seu grau de consciência ou competência iniciática, da posse de suas armas ou trajes. Assim, os trajes e armas adequados, dentro da Santa Ordem, correspondem aos elementos do seu grau atual. Ou não. Ou você pode decidir usar elementos e acessórios genéricos e que sejam mais compatíveis conforme você se enxergue ou se sinta à vontade. O ponto aqui é justamente esse: encontrar o ponto de equilíbrio em que você se sinta confortável com a sua imagem. E é exatamente isso que gostaríamos de propor nesse artigo, que mais do que uma mera prática de desdobramento da consciência, o estudante possa avaliar a si mesmo e chegar num consenso de como ele gostaria de se apresentar para o mundo. Não só em termos imagéticos e estéticos, mas quais as reações que ele deseja provocar a partir de sua presença? Se estamos falando de projeção astral, precisamos refletir não apenas no fenômeno que experimentamos, mas no evento que provocamos com a nossa presença, seja ela física ou astral.
Eu descobri que uma forma bastante divertida de explorar a minha imagem astral foi me pôr a desenha-la no papel. Folhas e mais folhas de rascunho iam se multiplicando conforme eu decidia os detalhes do meu traje, quais armas mágicas de fato cabiam em minhas mãos e se eu me sentia confortável em carregar toda aquela parafernália comigo, como eu enxergava o meu rosto, meu cabelo, meu corpo, qual sensação eu causava – em mim e nos outros -, enfim, aos poucos eu ia esculpindo a minha autoimagem ideal a partir de uma examinação de quem eu era e de quem eu queria ser.
Eu não preciso dizer que esse exercício me proporcionou uma série de reflexões riquíssimas que encheram páginas do meu diário, não sobre a projeção astral em si, mas sobre como eu me enxergava e sobre as possibilidades de nos redefinirmos.
O Corpo Astral tem um formato pré-moldado, como quase tudo no plano astral. Essa imagem com a qual entramos em contato logo de cara é fruto do nosso inconsciente naquele momento. Ela não é estática e se altera conforme nossas variáveis internas e externas. E, não sendo estática, não é também estável e, portanto, é pouco eficiente para projeções mais elaboradas. Por isso todo esse exercício de definição e construção do Corpo de Luz.
Mas lembre-se que embora o Corpo de Luz seja plástico e aceite todas essas definições, nós precisamos bancá-las. Mais do que imaginação, é necessário vontade. Vontade é o combustível para sustentar a imagem. E através da aplicação da intenção nos comprometemos conosco mesmo e criamos um vínculo definitivo com a forma, incorporando-a em nosso interior e sincronizando nossas referências internas.
Aqui há ainda um último passe de mágica: quando levamos esse exercício realmente a sério e nos pomos a reformar nossa autoimagem acabamos por manifestar essas mudanças também no físico: em nossos hábitos, nossas vestimentas, a forma como nos apresentamos e as projeções que causamos. Se o Corpo de Luz é o veículo etérico da consciência para a vivência de situações remotas, o corpo físico é também um veículo da consciência, mas para a execução de nossa Vontade no mundo. É inevitável que essa formulação interna reflita diretamente no externo. É desejável que assim o seja. Esse é o propósito da magia. Esse também é o propósito desse texto: conferir novas perspectivas para que você ajuste suas projeções no mundo. Tome parte de Si!
Rodrigo Vignoli é terapeuta holístico, apresentador do Diário Mágicko e entende que a manipulação de energia é a chave oculta para operar os segredos dos grimórios mágicos. Ele fala sobre isso em seu canal @RodrigoVignoli no Youtube.
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