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Aleister Crowley
Título Original: ‘Chastity’ excerto de Little Essays Towrads Truth
As obras da literatura antiga e medieval que são as mais pertinentes ao buscador da verdade concordam em um ponto. Dos Grimórios mais inúteis de Magia Negra, assim como os mais altos voos filosóficos da Fraternidade que não nomearemos, insistem na virtude da Castidade como algo primordial para o Portal da Sabedoria.
Vamos primeiro voltar nossa atenção para esta palavra virtude, a qualidade da masculinidade que é parte inseparável do homem. Castidade adepto Rosa Cruz ou ao Cavaleiro do Graal de Monsalvat não é outra coisa senão muito oposta ao que poeta escreve:
… A castidade que se sacia babando.
Sua luxúria, sem paredes, se prende e se vai,
Envaidecendo-se porque seus lábios lascivos cedem.
Ou àquele frigor castrado de Alfred Tennyson e da Academia.
A Castidade cuja Energia Mágica tanto protege quanto estimula o aspirante aos Mistérios Sagrados é completamente contrária em sua natureza mais profunda a todas as ideias vulgares comuns a ela; pois , primeiro, é uma paixão positiva; segundo, só está conectada com a sexualidade por obscuros vínculos mágicos; e, terceiro, é a inimiga mais mortal de todas as formas de moralidade e sentimentalismo burguês.
Assim pode ser útil definir em nossas mentes um conceito claro desta que é uma nobre e rara — mas necessária — Virtude, ao traçarmos a diferença entre ela e um de seus ingredientes, a Pureza.
A Pureza sim é uma qualidade passiva ou no mínimo estática; ela conota a ausência de toda mistura estranha de uma dada ideia qualquer; por exemplo gálio puro, matemática pura, raça pura, etc. Outro uso secundário da palavra encontramos em expressões como “leite puro” que implica em ser livre de contaminação.
A castidade, por outro lado, como sugere sua etimologia (castus, possivelmente ligada a castrum, um acampamento fortificado), pode ser considerada como a afirmação da atitude moral de prontidão para resistir a qualquer ataque a um estado de pureza existente.
[A raiz cas significa casa; e uma casa é Beth, a letra de Mercúrio, o Magus do Tarô. Ele não está parado, em um lugar de repouso, mas a quintessência de todo o Movimento. Ele é o Logos; e Ele é fálico.
Esta doutrina é da maior importância cabalística.]
Tão querida ao céu é a santa castidade
que quando uma alma é assim encontrada sinceramente
mil anjos fardados a elogiam…
… assim cantou Milton, com a visão de espada penetrante do verdadeiro poeta; pois o serviço é desperdício, a menos que a ação o exija.
A Esfinge não deve ser dominada mantendo-se distante; e a inocência brutal do Paraíso está sempre à mercê da Serpente. É a sua Sabedoria que deve guardar nossos Caminhos; precisamos de sua rapidez, sutileza e de sua prerrogativa real de lidar com a morte.
A inocência do adepto? Somos imediatamente lembrados da forte Inocência de Harpócrates e de Sua Energia de Silêncio. Um homem casto não é apenas aquele que evita o contágio de pensamentos impuros e seus resultados, mas cuja virilidade é competente para restaurar a Perfeição ao mundo ao seu redor. Assim, o Parsifal que foge de Kundry e de suas aias feiticeiras das flores perde seu caminho e deve vagar longos anos no deserto; ele não é verdadeiramente casto até que seja capaz de resgatá-la, um ato que ele realiza pela reunião da Lança e do Sangraal.
A castidade pode assim ser definida como a estrita observância do Juramento Mágico; isto é, na Luz da Lei de Thelema, devoção absoluta e perfeita ao Sagrado Anjo Guardião e busca exclusiva do Caminho da Verdadeira Vontade.
É inteiramente incompatível com a covardia da atitude moral, a castração da alma e a estagnação da ação, que comumente denotam o homem chamado de casto pelo vulgo.
“Cuidado com a abstinência de ação!” não está escrito em Nossa lição? Pois a natureza do Universo sendo Energia Criativa, qualquer outra coisa blasfema contra a Deusa, e procura introduzir os elementos de uma morte real nas pulsações da Vida.
O homem casto, o verdadeiro Cavaleiro Andante das Estrelas, impõe continuamente sua virilidade essencial ao pulsante Ventre da Filha do Rei; com cada golpe de sua Lança ele penetra no coração da Santidade e faz brotar a Fonte do Sangue Sagrado, espalhando seu orvalho escarlate por todo o Espaço e Tempo. Sua Inocência derrete com sua Energia incandescente os grilhões criminosos daquela Restrição que é Pecado, e sua Integridade com sua fúria de Retidão estabelece aquela Justiça que sozinha pode satisfazer a luxúria ansiosa da Feminilidade cujo nome é Oportunidade. Como a função do castrum ou castellum não é apenas resistir a um cerco, mas obrigar à obediência à lei e à ordem todos os pagãos ao alcance de seus cavaleiros, também é o Caminho da Castidade fazer mais do que defender sua pureza contra ataques. Pois aquele que é imperfeito não é totalmente puro; e perfeito não é o homem em si mesmo sem sua realização em todas as suas possibilidades. Assim, então, ele deve estar pronto para buscar todas as aventuras apropriadas e alcançá-las, cuidando bem para que isso de modo algum o distraia ou desvie seu propósito, poluindo sua verdadeira Natureza e restringindo sua verdadeira Vontade.
Ai, ai, portanto, para aquele impuro que se esquiva desdenhoso da aparente trivialidade, ou foge temeroso da aventura desesperada. E ai, três vezes e quatro vezes ai daquele que é atraído pela aventura, afrouxando sua Vontade e demitido de seu Caminho: pois assim como o retardatário e o covarde estão perdidos, assim o brinquedo das circunstâncias é arrastado para o mais profundo Inferno .
Senhor Cavaleiro, esteja vigilante: vigie suas armas e renove seu Juramento; pois é de sinistro augúrio e mortalmente carregado de perigo aquele dia no qual não transbordeis com atos alegres e ousados de magistral e varonil Castidade!
Alimente sua alma com mais:
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