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Tau Hanu[1]
Babalon, uma divindade intrigante e poderosa, tem papel de destaque em no Panteão do Novo Aeon, apesar de sua referência direta estar ausente no “Liber AL vel Legis”, também conhecido como o Livro da Lei, texto fundamental de Thelema. Sua influência, entretanto, é claramente sentida em muitos outros escritos e práticas thelêmicas.
Aleister Crowley, profeta de Thelema, teve sua primeira visão de Babalon registrada em “A Visão e a Voz”. Esta obra, que ocupa um lugar de grande relevância entre os Livros Sagrados de Thelema, é dedicada à exploração de Crowley dos Aethyrs Enochianos. Durante esta jornada, Crowley descreveu Babalon de maneiras variadas, desde calorosa até aterrorizante. De forma memorável, em uma visão no terceiro Aethyr, ele recebeu a revelação de que Babalon e Chaos são equivalentes, um entendimento que emergiu através da gematria cabalística.
Crowley descreveu Babalon como uma entidade que reside além do abismo da dualidade, sendo o nome secreto de Nuit (Crowley, 2018). Nuit representa a totalidade e, neste sentido, Babalon se apresenta como um elemento vital para a existência. Sua importância está evidente nas palavras do Credo Gnóstico encontrado em Liber XV:
“Eu creio em uma Terra, a Mãe de todos nós, e em um Ventre no qual todos os Homens são gerados, e onde eles descansarão, Mistério do Mistério, em Seu nome, BABALON”.
Ainda em “A Visão e a Voz”, Crowley registra o recebimento do Mantra de Babalon, redigido no idioma “Bathyllic”, nome este que provavelmente derivado do grego “bathys”, indicando as profundezas do mar.
“Omari tessala marax,
tessala dodi phornepax.
amri radara poliax
armana piliu.
amri radara piliu son’;
mari narya barbiton
madara anaphax sarpedon
andala hriliu.”
Cabe pontuar que inexiste na história humana referências sobre qualquer sociedade que tenha se utilizado deste idioma anteriormente. Este mantra teria sido ditado pelo anjo “Sappho-Calypso”, que representa a união de Sappho, uma famosa poetisa grega da Antiguidade, conhecida por sua poesia lírica de amor e desejo, muitas vezes direcionada às mulheres, e Calipso, uma ninfa da mitologia grega que manteve o herói Odisseu em sua ilha por sete anos como parte da trama da Odisseia de Homero.
Crowley fornece uma tradução poética desse mantra, seguindo uma característica comum em seus escritos.
” Eu sou a prostituta que sacode a Morte.
Este abalo dá a paz da luxúria saciada.
A imortalidade jorra de meu crânio,
E música da minha vulva.
A imortalidade jorra da minha vulva também,
Pois minha prostituição é um perfume doce como um instrumento de sete cordas,
Brincou para Deus, o Invisível, o governante de tudo,
Isso vai dando o grito estridente do orgasmo.”
No entanto, considerando o simbolismo e o contexto, uma interpretação alternativa poderia ser:
“Eu sou a sedutora que desafia a Morte.
Este desafio traz a Paz do Desejo Saciado.
A imortalidade emerge do meu crânio,
E música do meu íntimo.
A imortalidade também emerge do meu íntimo,
Pois minha sedução é uma fragrância doce, como um instrumento de sete cordas,
Tocado em reverência ao Invisível, o Todo-Poderoso,
Que percorre, proferindo o grito arrebatador do êxtase.”
“Sedutora” parece mais adequado do que “prostituta”, já que Babalon é a força que nos atrai além do abismo. O “crânio”, comumente utilizado em vários rituais, pode ser interpretado como “sabedoria”, enquanto a “vulva” pode representar nosso “íntimo”, seja fisicamente, emocionalmente ou espiritualmente. O “êxtase” como a própria intensidade da experiência mística e espiritual.
Jack Parsons, nascido como Marvel Whiteside Parsons, contribuiu significativamente para a compreensão dos Mistérios de Babalon. Parsons, um cientista de foguetes respeitado e adepto do ocultismo, trabalhou com L. Ron Hubbard, futuro fundador da Cientologia, em um conjunto de práticas ocultas conhecidas como “Babalon Working”. Parsons alegou ter recebido um mandato da deusa para escrever o Liber 49, que considerava ser o quarto capítulo do Livro da Lei e uma mensagem de Babalon para a humanidade.
Parsons morreu tragicamente em 1952 devido a um acidente com produtos químicos usados em seu trabalho com foguetes, mas sua contribuição para a compreensão de Babalon permaneceu, especialmente em sua obra “A Liberdade é uma Espada com Dois Gumes”, onde ele explorou tópicos mágicos e sociais que influenciariam diversos movimentos nas décadas seguintes.
Seu trabalho enriqueceu a visão de Babalon legada por Crowley, mostrando que ela representa uma força vital primordial e ilimitada (Grey, 2021), e abrindo espaço para outros autores que identificaram Babalon na 6ª Chamada Enochiana transmitida a Dee e Kelly (Biroco, 2002), no texto gnóstico Trovão, Mente Perfeita (John, 2017), e na correlação cabalística entre Sophia e Babalon (Testa, 2006).
Em resumo, Babalon é um elemento fundamental em Thelema, fato reforçado na obra de Crowley, nas práticas de Parsons e nas interpretações modernas de vários estudiosos. Pois atuando como um meio de transmutação, Babalon recebe o sacrifício dos adeptos em seu cálice, simbolizando a transformação do material para o espiritual. Ela personifica a possibilidade de transcendência, oferecendo um caminho onde, através de atos mágicos e devoção, todos podem mergulhar na vivência da sua Verdadeira Vontade e na realização da Grande Obra e em sua própria jornada espiritual.
Referência Bibliográfica
Biroco, Joel. 2002. KAOS. Londres : The Kaos-Babalon Press, 2002.
Crowley, Aleister. 2018. O Livro das Mentiras. [trad.] Johann Heyss e Leo Holmes Frater Iskuros. São Paulo : Daemon, 2018.
Grey, Peter. 2021. The Red Goddess. s.l. : Scarlet Imprint, 2021.
John, Oliver St. 2017. Nuit-Babalon Gnosis: Thunder Perfect Mind. Star and Snake. [Online] 01 de 03 de 2017. https://oliverstjohn-thelema.blogspot.com/2017/02/nuit-babalon-gnosis-thunder-perfect-mind.html.
Testa, Anthony. 2006. The Key of the Abyss: Jack Parsons, the Babalon Working and the Witchcraft Decoded. 2006.
Tau Hanu (Tales de Azevedo) é thelemita, graduado em história, especializado em teologia e autor do livro “Gnosticismo Thelêmico” lançado pela editora Daemon – https://artereal.talesaz.com/“
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Uma resposta em “Breve Estudo Sobre Babalon ”
Como uma dos Primordiais, Ela é Pura Chama Viva Das Areias Do Grande Deserto. Seu Toque, Seu Beijo, Seu Abraço e Seu Coração são como Poderes Além Das Visões Fenomênicas. Babalon, A Grande, sinteticamente contemplada aqui com uma importante interpretação sintética. Textos assim, simples e inteligíveis na Linguagem, são os melhor acerca de assuntos incomuns e invulgares como este.