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A Inexistência de Jesus Cristo – Carta a um Maçon (3 de 13)

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Devo começar por repetir-lhe o que lhe disse por ocasião de nossa conversa, e que tanto chocou seus bons sentimentos e sua honesta devoção: que o homem chamado “Jesus Cristo” nos Evangelhos nunca existiu. Suas peripécias são fictícias; não padeceu sob nenhum Pôncio Pilatos; não foi nem poderia jamais ser a única Encarnação do Verbo; e qualquer Igreja, seita ou pessoa que diga o contrário ou está enganada ou enganando.

Não quero dizer com isto que um homem assim não pudesse ter nascido, pregado, e padecido. Pelo contrário: tais homens nascem continuamente, e continuarão a nascer por todos os tempos: Encarnações do Logos, Templos do Espírito Santo, Cruzes de Matéria coroadas pela chama do Espírito.

Direi mais: houve, em certa ocasião, um homem que alcançou no mais alto grau a consciência de sua própria Divindade; e este homem morreu em circunstâncias análogas (porém não idênticas!) àquelas narradas nos Evangelhos. Seu nascimento perdeu- se na noite dos tempos: ele foi o original do “Enforcado” ou “sacrificado” no Taro, e os egípcios o conheciam pelo nome de Osiris. Foi esse Iniciado quem formulou na carne a fórmula do Deus Sacrificado. Esta é a fórmula da Cerimônia da Morte de Asar na Pirâmide, que foi reproduzida nos mistérios de fraternidades maçônicas da tradição de Hiram, das quais o exemplo mais perfeito foi o Antigo e Aceito Rito Escocês. O Graus 33º desse rito indicava uma Encarnação do Logos; a descida do espírito Santo; a manifestação, na carne, de um Cristo; a presença do Deus Vivo.

Para os fatos que servem de base às asserções acima, indico ao senhor as seguintes obras, de maçons ilustres e merecedores:

  • LA MISA Y SUS MISTERIOS, de J.M. Ragón.
  • THE ARCANE SCHOOLS, de John Yarker.
  • DO SEXO À DIVINDADE, do Dr. Jorge Adoum.
  • CURSO FILOSÓFICO DE LAS INICIACIONES ANTIGUAS Y MODERNAS, de J.M.Ragón.
  • ISIS SEM VÉU, de Helena Blavatsky

(Madame Blavatsky não era dos vossos, mas era dos Nossos…)

Na minha opinião, Dr. G., um maçon de alto grau, com tempo a seu dispor, faria um grande benefício a seus irmãos ao traduzir para o português as obras acima citadas, principalmente as duas primeiras.

Os documentos incluídos no assim-chamado “Novo Testamento” (a saber, os Quatro Evangelhos, os Atos, as Cartas e o Apocalipse) são falsificações perpetradas pelos patriarcas da Igreja Romana na época de Constantino, por eles chamado “o Grande” porque permitiu esta contrafação, colaborando com ela. Constantino não teve sonho algum de “In Hoc Signo Vinces”. Tais lendas são mentiras desavergonhadas inventadas pelos patriarcas romanos dos três séculos que se seguiram, durante os quais todos os documentos dos primórdios da assim-chamada “Era Cristã” existentes nos arquivos do Império Romano foram completamente alterados.

O que realmente aconteceu na época de Constantino foi que, aliados, os presbíteros de Roma e Alexandria, com a cumplicidade dos patriarcas das igrejas locais, dirigiram-se ao Imperador, fizeram-lhe ver que a religião oficial era seguida apenas por uma minoria de patrícios, que a quase totalidade da população do Império era cristão (pertencendo às várias seitas e congregações das províncias); que o Império se estava desintegrando devido à discrepância entre a fé do povo e a dos patrícios; que as investidas constantes das seitas guerreiras essênias da Palestina incitavam as províncias contra a autoridade de Roma; e que, resumindo, a única forma de Constantino conservar o Império seria aceitar a versão Romano-Alexandrina do Cristianismo. Então os bispos aconselhariam o povo a cooperar com ele; em troca, Constantino ajudaria os bispos a destruírem a influência de todas as outras seitas cristãs!

Constantino aceitou este pacto político, tornando a versão romano-alexandrina de Cristianismo na religião oficial do Império. Conseqüentemente, a liderança religiosa passou às mãos dos patriarcas romano-alexandrinos, que, auxiliados pelo exército do Imperador, começaram uma “purgação” bem nos moldes daquelas da Rússia moderna. Os cabeças das seitas cristãs independentes foram aprisionados; seus templos, interditados; e congregações inteiras foram sacrificadas nas arenas das províncias de Roma e Alexandria. Os gnósticos gregos, herdeiros dos Mistérios de Eleusis, foram acusados de práticas infames por padres castrados como Orígenes e Irineu (a castração era um método singular de preservar a castidade, derivado do culto de Atis, do qual se originou a psicologia romano-alexandrina). Os essênios foram condenados através do hábil truque de fazer dos judeus os vilões do Mistério da Paixão; e com a derrota e dispersão finais dos judeus pelos quatro cantos do Império, a Igreja Romano-Alexandrina respirou desafogada e pode dedicar-se completamente ao que tem sido sua especialidade desde então: ajudar os tiranos do mundo a escravizarem os homens livres.

Para o escrito acima, indico ao senhor os seguintes livros:

Quanto às falsificações da Igreja Romano-Alexandrina, indico ao senhor as palavras do grande erudito americano Moses Hadas, em suas notas à tradução do livro de Burckhardt, à página 367, que passo a traduzir:

“A História Augusta apresenta biografias de imperadores, cézares e usurpadores, de Afriano a Numério (117-284), com uma lacuna no período de 244 a 253. Pretende ser o trabalho de seis autores (Aelius Spartianus, Vulcacius Gallicanus, Aelius Lampridius, Julius Capitolinus, trebellius Pollius e Flavius Vopiscus), e ter sido escrita entre os reinados de Diocleciano e Constantino, ou cerca de 330. Alguns estudiosos creêm tais asserções verdadeiras, mas outros mantêm que a obra foi escrita um século mais tarde, e por uma só pessoa. Em tal caso o nome dos seis autores terá sido adicionado para tornar mais convincente o que foi escrito.”

Trocando em miúdos, o que ele quer dizer é o seguinte: os patriarcas romanos, ansiosos por esconder seus crimes (especialmente a perseguição a cristãos de outras seitas ou igrejas) e por se declararem os únicos cristãos verdadeiros, destruíram todos os documentos autênticos nos quais conseguiram por as mãos. (Isto lhes era particularmente fácil já que, desde a era de Constantino, eles foram os guardiãos de tais manuscritos.) Feito isto, substituíram os destruídos por outros, forjados, que descreviam a sua facção como oprimida pelos imperadores e outras seitas cristãs como inexistentes ou obscenas. (Na realidade, ela bajulara os imperadores desde o começo: o culto de Átis era o único em Roma ao qual os patrícios podiam ir legalmente.)

Um pouco mais tarde, Romanos e Alexandrinos brigaram. Isto porque cada facção queria fazer de sua cidade o centro político e religioso do Império. Foi então que um dos poucos historiadores pagãos que escaparam à atenção dos Patriarcas escreveu: “As atrocidades dos cristãos uns contra o outros ultrapassa a fúria das bestas selvagens contra o homem.” (Ammianus Marcellinus)


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