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A Família e outras supertições – Ataque e Defesa Astral parte 13 de 13

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Marcelo Ramos Motta

Em 1963 E.V., publicamos um livro intitulado “Chamando os Filhos do Sol”: o qual foi a primeira publicação Thelêmica em português desde os escritos de Fernando Pessoa, o grande poeta e iniciado. Nesse livro anunciávamos a A\A\e a O.T.O., e criticávamos duramente o comunismo, que era então a filosofia da moda entre os liberais e ameaçava dominar politicamente o governo. Em 1964 e.v. mandamos destruir a edição, pois não queríamos ser identificados como o reacionarismo ultra-direitista que sabíamos iria resultar da assim-chamadas “Revolução”.

Entretanto, o livro havia vendido uma razoável quantidade de exemplares e tinha nos angariado uma pequena quantidade de correspondentes e candidatos a iniciação. No ano seguinte ficamos como hóspedes na residência de um desses discípulos, e pilheriando com sua filhinha de oito anos dissemo-lhes “Por enquanto você ainda é muito criança para flertar comigo. Daqui a dez anos eu passo você na cara.”

A criança não deveria ter entendido nossa expressão de brincadeira, e seu flerte era a atividade espontânea e inocente do desenvolvimento genético. Porém, ao lhe dizermos isto, notamos que havíamos nos enganado quanto ao seu estágio de desenvolvimento intelectual: ela nos olhou com uma expressão de tal malícia que fomos impelidos a recolher-nos ao Silêncio e retiramo-nos da sala.[1]

Alguns dias depois o pai que estivera presente juntamente com a mãe, à nossa conversação com a filha, interpelou-nos duramente em particular, acusando-nos de tentar hipnotizar a menina para “uso” futuro.

Disse-lhes que estavam sendo ridículos. Será que não percebem que é o ciúme de sua filha que lhes levam a me falar assim?

O pai disse-me: Eu não tenho ciúme sexual de minha filha! –Esse insulto é prova da sua obsessão com o sexo! Eu só quero proteger a inocência dela!

Não podíamos lhe dizer que inocência era coisa que a filha dele não tinha, aos oito anos de idade; isto apenas iria aumentar o ciúme doentio do pai, e prejudicar o desenvolvimento da criança durante a puberdade e adolescência. Decidimos que o mais conveniente naquelas circunstâncias era sairmos de sua casa, e assim o fizemos, para nunca mais voltar.[2]

Trocamos correspondência com esse discípulo ainda durante alguns meses após esse incidente; finalmente, sua insubordinação e desrespeito nos levaram a cortar contato com ele.

Doze anos mais tarde esse mesmo indivíduo entrou novamente em contato conosco. Submetemo-lo a um teste preliminar de obediência, no qual ele passou; e aceitamos novamente como discípulo. Logo porém, pressentimos que não mudou em nada: seus recalques, e seu ódio surdo por nós, continuavam os mesmos.[3] Havíamos ensinado a este homem uma fórmula mágicka de grande poder.[4] Ao entrar em contato conosco novamente, solicitamo-lhe que nos enviasse um Relatório Mágicko dos doze anos decorridos. Assim fez. Averiguamos que, com o auxílio da fórmula de poder que lhe fornecemos, tinha melhorado bastante o nível de vida de sua família: mas averiguamos também, que era perigoso contrariá-lo em alguma coisa. Entre outros casos, citava um militar de alta patente que o prejudicara indiretamente num negócio; pouco após, a filha desse militar falecera de um mal súbito. Um negociante tentara passá-lo para trás numa empreitada; este comerciante caíra seriamente doente, e um filho seu morrera num acidente de automóvel. O Relatório indicava que nosso discípulo associava a desventura desses opositores como a interferência deles em suas atividades.

Escrevemo-lhe, reprovando duramente. Você se chama Thelemita, dissemo-lhe, mas a sua psicologia parece aquela de qualquer feiticeira barata da Idade Média.

Replicou-nos, furioso, dizendo que não tínhamos moral para acusá-lo, pois tentáramos hipnotizar a sua filha para que nos servisse de concubina. “Ou você acha que é atitude de um Iniciado decretar a uma menina de oito anos que vai passá-la na cara daí a dez anos? E a vontade da menina, não entra em conta?”

Lemos esta carta com profundo espanto: pensávamos que a estupidez e a obstinação de pretensos candidatos a Iniciação não poderiam nos surpreender mais; e aqui estava um desmentido. É claro esquecêramos, tanto o incidente, quanto a menina; mas a insistência do pai trouxe-nos a cena de volta. Poderíamos ter explicado que nunca se passara pela nossa mente forçar a menina a se submeter a nós! Mas a explicação era tão óbvia que oferecê-la a um pretenso candidato a Thelema seria uma farsa. Além disso, tínhamos certeza de que este homem não nos acreditaria se nos desculpássemos; ele pensaria que estávamos mentindo. Ele renovara contato conosco simplesmente para nos “provar” que não tínhamos mais “poder” do que ele sobre a filha; e para provar que era mais poderoso que nós.

Escrevemo-lhe as seguintes linhas:

“Sinto muito que você se sinta tão inferiorizado em relação a mim, e morreria com prazer para evitar que minha existência lhe oprimisse tanto: mas infelizmente tenho compromissos prévios que considero de maior importância que o conforto do seu ego puramente humano.

“Quanto a sua filha eu tinha esquecido a existência dela, mas lembro-me agora que percebi nela uma certa grosseria do sensorium (Kama-Rupa), que sem dúvida ela herdou do pai; e receio ter perdido o interesse de passá-la na cara. Ela terá que procurar outro parceiro ou parceiros para este fim, Faço votos sinceros, em benefício do progresso dela nesta encarnação, que encontre alguém mais refinado que ela, e muito mais que o pai.”

A finalidade desta carta era testar o controle egóico do discípulo; como já esperávamos, ele fracassou nesta Ordália, o que possibilitou cortar o contato com ele por completo. [5]

Pode parecer incrível que nos dias de hoje, uma pessoa interessada em parapsicologia possa ignorar o trabalho de pioneiros com Freud, Adler, Jung, Stekel, e Reich. Mas no Brasil tudo é possível, até mesmo censura e liberdade dirigida.

Nosso leitores já devem ter ouvido falar nos Complexos de Édipo e de Electra; mas é possível que não tenham refletido sobre a existência do Complexo de Jocasta e do complexo de Agamenon!

Tanto o amor materno como o paterno, no que tem de sadio, são instintos puramente animais. Não há porque se estabelecer como divinos ou inigualáveis, que a humanidade, freqüentemente, costuma exibir com menos perfeição que outros da classe dos mamíferos.

Quando o sentimento materno ou paterno, sai do nível do instinto, entra inevitavelmente, no nível da libido.

Todo sentimento de afeição é basicamente sexual em sua origem, como disse Freud: e é por isto que homens que zombam de homossexuais, ou humilham enquanto os usam, são suspeitos de gostos parecidos. Esses homens em geral, têm um amigo do peito, ou pertencem a uma patota favorita, ou têm reuniões anuais com colegas de universidades ou de colégios.

Eça de Queiroz definiu a família em certa ocasião, como “um grupo de egoísmo que janta de chinelas”. No que concerne ao egoísmo, este fino epigrama se aplica a qualquer grupo humano; o problema consiste que o egoísmo pode se tornar demasiado, como no tipicamente super-pai brasileiro. Esse assunto da possessividade genitora, foi delicadamente tratado por Gibran em um dos seus poemas:

“Vossos filhos não são vossos filhos.

“Eles vêm através de vós, mas não são de vós.

“E embora vivam convosco, não vos pertencem.

“Podeis dar-lhes vosso amor, mas

 não vossos pensamentos.

“Porque eles têm pensamentos próprios.

“Podeis abrigar-lhe o corpo, mas não o espírito.

“Podeis esforçar-vos em ser como eles, mas

não busqueis fazê-los como vós.

“Pois a vida não anda para trás.”

Quando escrevemos “Chamando os filhos do Sol” publicamos as seguintes linhas:

“Quereis educar bem os vossos filhos? Tratai-os como frescas incarnações da divindade, deuses recém-nascidos ao mundo, verdes mensageiros das alturas, emissários do mundo misterioso do além-túmulo a que ireis dar um dia.

Proporcionai-lhes todas as oportunidades de adquirir conhecimento e experiência, e deixai que eles escolham livremente entres todas as oportunidade que lhes proporcionais. Não os limites nunca a não ser nas coisas que o bom senso manda, isto é, na conservação da saúde e na disciplina da inteligência. Está no bem comandar a uma criança que não ponha a mão no fogo; mas é melhor ainda explicar-lhe que o fogo queima aos descuidados, e dar-lhe uma demonstração. Quando vossos filhos atinge a idade responsável, isto é, a puberdade, momento em que o Fogo se manifesta pela primeira vez através da inteira carne, ou a Água jorra pelos portais da vida com sua doçura e alegria, não tenteis apagar o fogo, nem tenteis represar a água. Ensinai antes a ambos o que sabeis a respeito da reprodução dos sexos, o que não é muito; ensinai-lhes como evitar a concepção involuntária, tendência natural do ser instintivo; ensinai-lhes as regras de higiene que conservam o aparelho criador livre das chamadas doenças venéreas; e assim cumprindo o vosso dever, deixai que corram os vossos filhos livremente o largo do mundo. Se tivestes o cuidado de respeitar o julgamento de vossos filhos desde o berço, se cultivastes com desvelo a vossa essência inteira, ressoando assim na virtude interna de vossos filhos, se, enfim, habituastes os vossos filhos ao destemor e a liberdade, eles amarão sem prejudicar e sem serem prejudicados, e voarão mais alto e mais longe que jamais alcançastes.

Que maior fonte de orgulho podem ter os pais, do que ver como os seus filhos os ultrapassaram em tudo? E há nisto simples e saudáveis egoísmo, que se fazeis de vossos filhos homens e mulheres mais livres e mais fortes do que sois, eles por sua vez, farão de vós homens e mulheres mais livres e mais fortes ainda, quando encarnardes no meio deles.

Cada criança que nasce e cresce saudável e livre, é a esperança da humanidade. Portanto, regai as flores, ó homens, se querereis um dia colher os frutos!”

Este capítulo leva o título “A família e outras superstições. Que é superstição? Os dicionários definem a palavra como significando apego exagerado a alguma crença ou dogma sem base nos fatos. Mas embora a humanidade, como bem disse Fernando Pessoa, tenda a ser estúpida, ela não é estúpida a ponto de se apegar espontaneamente ao que não é prático. Uma superstição, portanto, é um apego exagerado a algum fato, ou conjunto de fatos que já foi prático e adequado ao bem-estar humano; mas deixou de assim ser por algum motivo., isto é, a Lei de Mudanças.

Em épocas pré-históricas a família era fonte de união e de força para um grupo de seres humanos; juntos eles eram mais eficientes contra outros grupos, ou contra grandes perigos que os cercavam.

Em épocas históricas, antes da idade industrial, a família era muito útil, principalmente, aos pais, cujo principal motivo para terem os filhos era na obtenção de trabalhadores na lavoura ou no artesanato a quem não precisavam pagar salários.

Na época industrial, ou moderna, a família deixou de ter sentido econômico. Filhos, a não ser para os muito pobres ou para os muito ricos, são um peso e uma desvantagem.

Note-se nunca houve na forMaçom de família, qualquer verdadeiro sentido de amor ou amizade. A lenda de amor fraterno, é desmentida pela lenda de Caim e Abel; a lenda do amor filial é desmentida pela lenda de Júpiter matando Saturno para lhe herdar o trono; a lenda do amor paterno é desmentida pela lenda de Jeová expulsando Adão do Paraíso; a lenda do amor materno é desmentida por Cibele, emasculando seu filho Átis para conservá-lo preso.

A realidade é bem outra: a família não apenas é um grupo de egoísmo que janta de chinelas, como é um círculo telepático de conformismo e inércia.

Como escreveu Mestre Therion: “Em todo sistema de treino mágicko ou místico, a primeira condição que os aspirantes devem cumprir é colocar a família, de uma vez por todas, fora de seu círculo.

“Mesmo os Evangelhos insistem claramente e persistentemente nisto.

“O próprio Cristo (todo aquele que seja designado por este título na passagem) renega a sua mãe e os seus irmãos  (Lucas, viii, 19). E repetidamente ele condiciona o discipulado `a renúncia total de todos os laços familiares. Ele nem sequer queria permitir a um homem que comparecesse ao enterro do pai; dizendo-lhe: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos.”

“Eu creio que a definição do problema deveria incluir qualquer conjunto de pessoas as quais têm interesse em comum dos quais se esperam que você compartilhe. A nossa velha turma, o nosso velho clube, a nossa velha firma, o nosso partido, o nosso país: qualquer um desses poderá se irritar o bastante se você se interessar por assuntos que nada têm a ver com eles.

“Mas a família é o tipo clássico, porque a sua atração é potente e persistente. O condicionamento começou quando você nasceu; sua personalidade é deliberadamente repuxada e contorcida para se adaptar ao código dos seus parentes; e o conhecimento que eles têm da zoologia é tão imperfeito que estão sempre certo que o Patinho Feio deles é na realidade uma Ovelha Negra.

“A força de toda família está no fato de que ela só se preocupa com a família; sua fórmula mágicka, portanto, é necessariamente hostil a um fito exclusivamente individual quanto a Iniciação.”

A renuncia à liberdade individual em prol de um grupo, por penosa que seja, possibilitou a sobrevivência de nossa espécie na pré-história; mas nos tempos modernos não é necessário mantermos uma concepção grupal que só foi realmente útil aos trogloditas.

A existência da família diminui a possibilidade de revolta contra o sistema – qualquer que seja – porque diminui a iniciativa e o espírito de aventura do cidadão individual.

Lembramo-nos que quando os estados Unidos entraram em guerra com a Coréia, discutiu-se a possibilidade do Brasil participar com uma força expedicionária. Estávamos no círculo familiar nesta ocasião quando o assunto veio à baila.

-Se o Brasil enviar uma força expedicionária eu irei – dissemos.

Nossa mãe olhou-nos com assombro.

-Irá por que?

-Porque eu sou reservista e fui aluno do Colégio Militar. Além disso, detesto comunismo.

-Você não irá não! – gritou nossa mãe. – Se for preciso, eu corto o seu dedo indicador para você não ir!

Bom, pelo menos era apenas o dedo indicador. Mas embora, na época, não soubéssemos da história de Átis, achamos que seria prudente sairmos da vizinhança de uma pessoa que considerava qualquer parte de nosso corpo sua propriedade particular; e assim fizemos tão logo atingimos a maioridade. Fomos morar nos estados Unidos, e só regressamos ao Brasil depois da morte de Jocasta.

Certa vez Mestre Therion, antes de morrer, escreveu a uma de suas discípulas falando sobre o amor materno:

“Você declara que o amor da mãe pela prole é algo que homem nenhum pode entender e você parece achar que este argumento é irrespondível!

“Bem alguns homens pelo menos tentaram entendê-lo; entre outros, entra Émile Zola, som seu romance “La terre debaixo do Braço.

“Ira ele bancar o poeta romântico e nos falar de rosas perfumosas e do brilho do orvalho na noite enluarada?

“De jeito nenhum.

“A terra, para ele, é realmente a mãe de todos os seres humanos: fonte única do nosso alimento essencial; à terra estamos todos acorrentados pelos nossos inexoráveis corpos, nossa necessidade irresistível de viver – e de morrer.

“Não ‘e sublime a tese? E como Zola a demonstra?

Simples: uma vaca está parindo uma cria num estábulo; ao mesmo tempo, a dona da vaca está parindo uma criança na casa da fazenda. O escritor descreve os dois acontecimentos simultaneamente; pula de um para o outro de tal forma que breve o leitor perde o fio e não sabe se é a vaca que está “dando à luz” ou se é a mulher que está dando cria.

“O mingau ralo acumulado de um bilhão de sentimentalistas estala em vão contra este feio penhasco de verdade nua.

“Mas dirá você: está bem! Zola está descrevendo o parto de uma mulher do campo, uma pessoa rústica e de sentimentos grosseiros.

“Esta desculpa não serve ó tu Aspirante à Sabedoria Secreta! Sob o efeito de anestésicos, as mais refinadas senhoras das mais altas posições sociais e com as melhores reputações religiosas são capazes de dizer torrentes de sujeiras que envergonhariam as mais grosseiras megeras das favelas.

‘Daí concluímos que enquanto nossa existência estiver ligada aos reinos animal e vegetal, de maneira a permanecermos escravos natos dos hábitos totalmente inevitáveis da matéria, continuaremos sendo arrastados de volta de qualquer vôo do ideal ou da imaginação que tente quebrar as cadeias que nos ancoram à lama.

“O que encontramos, na prática, como conseqüência deste instinto “sublime e sagrado”?

“A fórmula mágicka do homem é atirar-se para fora; a da mulher é encerrar dentro de si mesma.

“Portanto, como até Jung percebeu em seu primeiro livro, e declarou explicitamente, a primeira tarefa da hombridade – do herói – é escapar da mãe. Ora no caso do filho, com sua fórmula masculina, é fácil “cuspir no prato que comeu”, mas a filha não tem porrete,(Baqueta) nem espada, sua única esperança é arranjar um homem como fez a mãe: a ameba, que nasce por fissão, nutre-se estendendo seus pseudópodes para envolver quaisquer partículas que cheguem ao seu alcance; ela é um parasita de sua própria genitora até que a fissão se complete.

“A fórmula da mulher normalmente se manifesta como o instinto possessivo; freqüentemente se mascara em instinto protetor, mas a verdade essencial é que seu impulso é devorar. Daí a idéia mortal do lar, onde ela pode digerir suas vítimas em segurança e tão devagar quanto lhe aprouver.[6]

“Portanto, quando a gente ouve dizer que uma mãe é tão boa, tão dedicada à filha – coitada da filha!

“Não lhe permitem nunca decidir por si mesma, nem sequer nas coisas mais simples; está acorrentada pé e mão ao seu decente lar cristão; é uma criada doméstica sem férias nem salário. Nem poderá escapar, a não ser que o vampirismo da mãe se manifeste na forma de vendê-la em leilão ao melhor partido.

“Será preciso dizer que a “boa mãe” usualmente não está consciente de tudo isto, e que lerá esta simples descrição dos fatos com revolta e indignação?

“Mas a verdade é esta: a fórmula feminina é a Morte: o “retorno à Grande Mãe é a catástrofe do herói nas lendas.

“Deveria ser desnecessário acrescentar a conclusão, mas que eu acrescente: Quem quer que não tenha destruído totalmente e para sempre qualquer vestígio deste instinto em si mesmo, ou si mesma, arrancando toda raiz e torrando-a com Fogo, não está em condições de dar o primeiro passo no Caminho dos Sábios.

“Não é com estas poucas mas bem escolhidas palavras que eu me proponho a aumentar minha popularidade nos clubes de senhoras de seu país. (A discípula, Jane Wolfe, era uma cidadã americana)”

Faz aproximadamente dez anos um conhecido nosso, judeu e sionista, levou-nos a visitar parentes seus em Niterói. Era o primeiro contato que tínhamos com uma família ortodoxa israelita, e tivemos oportunidade de constatar que os complexos e recalques relacionados com a família não são exclusividade dos católicos romanos.[7]

Entre os membros da família havia uma moça de uns vinte e cinco anos, inteligente e atraente, que trabalhava em posição de responsabilidade numa firma comercial; e em dado momento seus parentes começaram a insistir com ela sobre as grandes vantagens de se casar e constituir família; eventualmente, sobre as doçura de ser mãe e ter filhos.

Observando a expressão fisionômica da moça enquanto seus parentes falavam, fomos levados a fazer o seguinte comentário:

-Pessoalmente, eu não gosto de ver uma mulher grávida. Acho feio, grotesco e animal. Lembra-me uma vaca a ponto de dar cria.

Enquanto os parentes constrangidos pararam um momento de falar, a moça nos lançou um olhar de compreensão e gratidão. Quando a conversa recomeçou, os parentes passaram a outro assunto.

Ao sairmos da residência, nosso conhecido nos exclamou:

-Você não tem um pingo de tato! Aquela menina não quer casar, e você ainda vai e diz uma coisa daquelas na frente dela!

Não replicamos a este comentário. Nossa intenção fora mostrar a moça que ela não estava só no mundo, nem era anormal por suas relações. Não queremos diminuir as probalidades da moça se tornar esposa, e constituir família. Decisões no nível humano só devem ser tomadas em sã consciência. As mulheres que reconhecem e admitem que a gravidez, o parto, e a maternidade são atividades puramente animais, quase sempre são as melhores mães: são as que menos tentam aprisionar os seus filhos.

A lenda da Virgem Maria, isto é, de uma mulher que concebe sem cópula e pare sem dor, é uma tentativa patética do falso misticismo cristista de evitar a percepção, por parte da humanidade, de que a família, longe de ser santa, é um dinossauro cultural em vias de extinção. Reproduzimos aqui um trecho de uma carta publicada num jornal brasileiro, de grande circulação, na semana santa de 1978. e.v. por um padre:

“…nada nos impede admitir que o próprio Jesus, nascendo para sofrer, quisesse poupar sua Mãe as dores do parto.

“Não consta que o parto de Maria tenha sido doloroso. O que consta é que ela se dirigiu para ele com um entusiasmo radioso e aniMaçom do amor. Consta também que no estábulo, com seu filho recém-nascido, ela estava serena e silenciosa.”

“É claro que para os católicos, o parto de Nossa Senhora foi em tudo diferente de todos os outros partos. É natural que não gostemos e que, até, nos sintamos feridos e machucados com qualquer coisa que se diga em detrimento da grandeza da mãe divina que amamos e reverenciamos e que tomemos como ingênua qualquer tentativa de pôr em dúvida a sua nobreza.

Esta carta foi escrita em protesto a um pseudo-documentário sobre “as condições políticas que levaram a execução de Jesus”, exibido em horário nobre pela TV Globo. O padre alega que tal exibição irá desencorajar futuras genitoras de aumentar a superpopulação mundial; mas enfatiza, simultaneamente, que a única mulher que foi isenta pela sistema de dores e desconfortos do parto foi a “Mãe de Deus”.

Como de costume, esta religião, nada dá, a não ser promessas, e tudo quer tomar da raça humana. A religião inteira celebra a apoteose da dor, e do sofrimento. Sofrer é expiar; expiar é ser salvo; ser salvo é não ir para o inferno, onde seguramente irão parar todos que não pertençam a essa “santa religião”. Seria o caso de sugerir a esse padre, que não quer que as mulheres exibam descontrole nem medo, que ache um meio de engravidar e parir, ele mesmo, a fim de ver como é bom.

Lembramo-nos de que, numa classe mais adiantada daquele mesmo curso onde fomos despedidos, trouxemos à baila uma conversação em inglês o assunto de bebês de proveta. Sugerimos que dentro em breve serão poupadas às mulheres o peso da gravidez e o sofrimento do parto: uma vez facilmente extraído, sem dor nem dano, e colocado num útero artificial onde necessárias substâncias nutrientes poderão ser cuidadosamente dosadas de acordo com, o desenvolvimento do feto. (Isto não é um sonho nem ficção-científica: a experiência já foi feita, debaixo de enorme sigilo, em muitas partes do mundo.)[8]

A idéia de que aquilo que nos causa dor e sofrimento para obter tem mais valor que as coisas que conseguimos sem dificuldades é, evidentemente, irracional; provém da concepção do Deus Sacrificado que tanto influenciou a humanidade. Sacrificar significa, simplesmente Consagrar.

A origem deste condicionamento foi brilhantemente estudada em “O Ramo Dourado” pelo grande antropologista inglês Sir. James Frazer. Este livro que por óbvios motivos nunca foi publicado em português, traça as analogias entre vários cultos do Deus Sacrificado. Esta obra monumental esta dividida em vários volumes, cada um cobrindo um deus que morre e ressuscita. “Jesus” ocupa um dos volumes apenas.

Do ponto de vista científico, e do bom senso organizado, a dor é um sintoma de erro ou ineficiência. A dor fisiológica foi estabelecida para nos servi de aviso que há algo errado na relação do nosso Psicossoma com nosso meio-ambiente. A idéia de que há um valor moral e especial em sofrer é uma característica cultural adquirida; não é uma tendência normal em qualquer espécie viva.

Fernando Pessoa, em certa ocasião, escreveu estas linhas lapidadas:

“O amor é que é essencial.

O sexo é só um acidente.

Pode ser igual, ou diferente.

O homem não é um animal:

É uma carne inteligente,

Embora às vezes doente.”

Os animais raramente experimentam dor durante o parto; e é sabido que em certas tribos primitivas as mulheres escolhem um lugar solitário e se agacham quando chega a hora de parir; e o fazem sem gritar, sem gemer, e sem a necessidade de parteira ou obstetra.

O fato de que o parto está se tornando progressivamente mais doloroso para a mulher civilizada indica que a humanidade está se distanciando cada vez mais das suas origens naturais, e animais; e a carne está se tornando mais inteligente, consequentemente mais complexa e mais sensível. Ora é preciso usar a inteligência se quisermos aliviar a carne!

Os cursilhos são tentativas de adaptar a teologia católico-romana às condições sócio-político-econômicas do fim do Século Vinte. Sabemos aliás que grande parte do material ensinado em cursilhos foi inspirado pelas nossas criticas feitas ao sistema católico romano, em mais de quatrocentas cartas a espiões e informantes, disfarçados em candidatos à Iniciação, escritas entre 1964 e.v. até a presente.

As mulheres nunca conseguiram a igualdade que tanto ambicionam, e que tanto merecem, enquanto as desvantagens representadas pela gravidez e a maternidade permanecerem. É verdade que a mulher vem sendo explorada há milênios; mas isto não ocorre porque os homens sejam mais egoístas ou maldosos do que elas: é o resultado simples e direto de suas desvantagens puramente animais de fêmeas. O vilão de tudo é a própria existência animal, que a inteligência procura transcender. A única maneira de sermos verdadeiras mulheres e verdadeiros homens, é nos lembrarmos de que, antes de pertencermos a um determinado sexo, pertencemos a espécie humana. Fossem os homens a parirem, e as mulheres a saírem para sustentação do lar, as variáveis da equação trocariam de lugar; mas os termos permaneceriam exatamente os mesmos.

Não há vilões tradicionais e absolutos na natureza; não caímos do céu, nem pecamos no paraíso, quer por conta própria ou conta alheia: somos apenas mais uma espécie viva em evolução dentro do Universo. Recentemente, desenvolvemos instrumentos de percepção que nos causam problemas de que a maioria dos outros animais estão à salvo.

Neste livro, procuramos tratar de alguns tipos desses problemas. Não deve ser lamentado que tais problemas existam: são o preço que a carne paga para ser inteligente; e não são nem pertencentes, nem decretados por qualquer divindade! Quem aspira a escalar os cimos deve se lembrar de que os raios só atingem as montanhas. “Quem não arisca não petisca”, diz o ditado popular; e novamente como disse o genial Fernando Pessoa:

“Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

[1] A precocidade sexual da menina, devia-se a vivência do pai, o qual, antes de casar-se e se tornar um Burges respeitável, havia, conforme nos confidenciou, trabalhado como proxeneta e sido sustentado por mulheres.

[2] Estávamos hospedados naquela casa a convite do nosso discípulos, e a contragosto: sabíamos que as vibrações da aura de um iniciado do grau que então tínhamos podiam exacerbar o ego de principiantes, e o preveníramos desta possibilidade quando de seu convite. Ele insistira, e cedêramos. É escusado dizer que este foi um erro que não tornamos a repetir.

[3] O discípulo sempre odeia o mestre, num certo plano de consciência: é a dor do Ego ao perceber a presença do Não-Ego. O progresso iniciático depende da capacidade do discípulo de manter esta repulsa, sob controle, e obedecer ao Instrutor.

[4] Para a qual ele ainda não estava preparado. Este foi outro erro que não votaremos a cometer.

[5] Um membro da A\ A\ está obrigado para com seus discípulos enquanto estes não desobedecem a uma ordem dada em nome da Ordem. Nunca antes déramos uma ordem formal a esse homem, o que nos obrigou a recebê-lo de volta quando veio a nossa procura após doze anos de silêncio. A Ordem que lhe demos neste caso, foi simplesmente que cumprisse os compromissos que ele mesmo estabelecera conosco.

[6] Esta carta foi escrita por Crowley a uma mulher, a qual ele lhe sugere que adotasse como Mote Mágico de Probacionista, as palavras “Fiat Iod” isto é: “Que o Poder Criador Espiritual Masculino se manifeste em mim”.

[7]              Aliás, a concepção da família usa por crististas é herança direta das recomendações do Velho Testamento. Entre os judeus primitivos, vivendo em regiões inóspitas e ainda por cima invasores de terras alheias, era conveniente manter o espírito grupal tão aceso quanto possível; e isto os profetas fizeram, sempre falando, e claro, em nome de “Jeová”. Não há qualquer sistema religioso em que a concepção da família no estilo troglodita seja tão incentivada quanto no sistema israelita; e a quantidade de supermães e superpais judeus, em conseqüência, supera até hoje, tanto em número quanto em intensidade de atavismo, o número de supermães e superpais crististas. Isto foi em grande parte devido as perseguições que os judeus sofreram às mãos dos meigos seguidores de “Jesus”: os judeus foram talvez o único povo da terra forçado a manter intata a síndrome emocional da família troglodita por circunstâncias externas às suas aspirações. Isto serviu, também, para refinar este grupo cultural: durante mil anos os judeus burros ou incapazes foram sumariamente eliminados da corrente genética do grupo. Como resultado, os judeus formam hoje um dos mais eficientes e inteligentes grupos culturais sobre a face da terra, e as gerações mais recentes estão sempre na vanguarda dos invasores das artes e das ciências.

[8] Nota particular: Observem o leitor, que o autor deste livro escreveu esta observação há mais de 40 anos. Hoje já estamos certos deste resultado, como também, de várias clonagens, em várias partes do mundo.


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