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Rafael Ward Cury @SeuChaos
A Estela da Revelação é um artefato religioso egípcio, datado da 26ª dinastia, criado para homenagear Ankh-f-n-khonsu, um sacerdote do deus Mentu (Mentu também conhecido como Montu, Monthu ou Mont foi um importante deus da mitologia egípcia, associado à guerra, ao sol e à força conquistadora dos faraós. Ele era venerado principalmente no Alto Egito, especialmente na região de Tebas) . Trata-se de uma tábua de madeira coberta com “gesso”, adornada com hieróglifos e cenas mitológicas. Essas estelas eram tradicionalmente colocadas fora das tumbas como um ponto de oferendas para os falecidos, permitindo que amigos e familiares honrassem sua memória.
No início de 1904, Aleister Crowley e sua esposa, Rose Edith Kelly, visitavam o Egito quando tiveram uma experiência mística que os levou até a Estela. Durante um ritual realizado por Crowley na Grande Pirâmide de Gizé, Rose entrou em um estado de transe e falou repetidamente: “eles estão esperando por você”, referindo-se a uma entidade que identificou como Hórus.
Pouco tempo depois, seguindo as instruções de Rose, o casal foi ao Museu Bulaq, no Cairo. Lá, ela identificou de imediato a imagem de Hórus na Estela de Ankh-f-n-khonsu, então catalogada sob o número 666. Este evento marcou o início de uma série de comunicações místicas que culminaram na recepção do Livro da Lei. Desde então, a Estela da Revelação ocupa um papel central em Thelema, mais a final, o que a estela nos conta? Para construirmos esse “Objeto Mágico” no inconsciente do leitor exploraremos tanto a tradução de seus escritos, quanto um parafraseado poético de Aleister Crowley, e as conclusões geradas a partir da tradução de seu conteúdo.
ANVERSO :
(1): O Behedite, o Grande Deus, Senhor do céu.
(2): Re-Horakhty, Chefe dos Deuses.
(3): O Osíris, o sacerdote de Monthu, Senhor de Tebas, o abridor das portas do céu em Karnak, Ankh-ef-n-Khonsu, Justificado.
(4): Gado e aves, cerveja, pão.
(5): Palavras ditas por Osíris, o sacerdote de Monthu, Senhor de Tebas, aquele que abre as portas do céu em Karnak, Ankh-ef-en-Khonsu, Justificado. Ó Altíssimo, que seja louvado, o Grande em Poder, o Espírito de Grande Dignidade, que infunde Temor de Si mesmo (para) os Deuses, que Resplandece em seu Grande Trono.
Abram caminho para (minha) Alma, para (meu) Espírito, para (minha) Sombra, pois estou Equipado para que possa Resplandecer como um que está Equipado. Abram para mim caminho para o Lugar onde estão Rá, Atum, Khepri e Hathor. O Osíris, sacerdote de Monthu, Senhor de Tebas, Ankh-ef-en-Khonsu, Justificado, o Filho de um Homem com os mesmos Títulos: Bes-en-mut; Gerado da Musicista de Amon-Rá, a Senhora da Casa, Taneshi.
CROWLEY parafraseando:
Acima, o azul cravejado de gemas é
O esplendor nu de Nuit;
Ela se curva em êxtase para beijar
Os ardores secretos de Hadit.
O globo alado, o azul estrelado
São meus, ó Ankh-f-n-Khonsu.
Eu sou o Senhor de Tebas, e eu
O porta-voz inspirado de Mentu,
Para mim se revela o céu velado,
O autoimolado Ankh-f-n-Khonsu
Cujas palavras são verdade. Eu invoco, eu saúdo
Tua presença, ó Ra-Hoor-Khuit!A Unidade se manifesta plenamente!
Eu adoro o poder do Teu sopro,
Deus supremo e terrível,
Que fazes os deuses e a morte
Tremerem diante de Ti.
Eu, eu Te adoro!Aparece no trono de Rá!
Abre os caminhos do Khu!
Ilumina os caminhos do Ka!
Os caminhos do Khabs atravessam,
Para me mover ou me aquietar!
Aum! Que isso me mate!A Luz é minha; seus raios me consomem.
Eu fiz uma porta secreta
Na Casa de Rá e Tum,
De Khephra e de Ahathoor.
Eu sou teu tebano, ó Mentu,
O profeta Ankh-f-n-Khonsu!Por Bes-na-Maut, meu peito eu golpeio;
Pela sábia Ta-Nech, eu teço meu feitiço.
Mostra teu esplendor estelar, ó Nuit!
Ordena que eu habite em Tua Casa,Ó serpente alada de luz, Hadit!
Permanece comigo, Ra-Hoor-Khuit!
REVERSO :
Palavras proferidas por Osíris, o Sacerdote de Monthu, Senhor de Tebas, Ankh-ef-en-Khonsu, Justificado. Ó meu Coração de minha Mãe (duas vezes), ó meu Coração – Enquanto eu estiver sobre a Terra, não te levantes contra mim. Como minha Testemunha, não te opões a mim no Tribunal. Não sejas hostil contra mim na Presença do Grande Deus, Senhor do Oeste; embora eu tenha me unido à Terra no lado Ocidental do Grande Céu, que eu possa perdurar sobre a Terra.
Palavras proferidas pelo Osíris, o sacerdote de Tebas, Ankh-ef-en-Khonsu, Justificado.
Ó Ser Único que brilha como a Lua, que possas seguir adiante, Ankh-ef-en-Khonsu, entre tua Multidão, para o Exterior.
Ó libertador daqueles que estão sob a Luz do Sol, abre para Ele o Mundo Inferior, de fato.
O Osíris, Ankh-ef-en-Khonsu, sairá à Luz do Dia para realizar tudo o que deseja sobre a Terra, entre os Vivos.
CROWLEY parafraseando:
Diz Mentu, o irmão que fala a verdade,
Aquele que foi mestre de Tebas desde o nascimento:
Ó coração meu, coração de minha mãe!
Ó coração que tive sobre a Terra!
Não te ergas contra mim como testemunha!
Não te opões a mim, ó juiz, em minha busca!
Não me acuses agora de indignidade
Diante do Grande Deus, o temível Senhor do Oeste!
Pois eu uni um ao outro
Com um feitiço para seu vínculo místico,
A Terra e o maravilhoso Oeste,
Quando floresci, ó Terra, em teu seio!
O morto Ankh-f-n-Khonsu
Diz com sua voz de verdade e calma:
Ó tu que tens um único braço!
Ó tu que brilhas no luar!
Eu teço-te no encanto giratório;
Eu te atraio com a melodia ondulante.O morto Ankh-f-n-Khonsu
Separou-se das multidões sombrias,
Juntou-se aos habitantes da luz,
Abrindo Duat, as moradas estelares,
Suas chaves recebendo.
O morto Ankh-f-n-Khonsu
Fez sua passagem para a noite,
Seu prazer na Terra é cumprir
Seu desejo entre os vivos.
“O que conseguimos descobrir a partir da tradução da Estela?“
A estela funerária pertence a Ankh-ef-en-Khonsu, um sacerdote de Monthu, Senhor de Tebas, que ocupava o cargo de Abridor das Portas do Céu em Karnak( provavelmente se refere a um alto cargo sacerdotal no Templo de Karnak, um dos mais importantes centros religiosos do Antigo Egito.). Ele era filho de Bes-en-mut, que possuía os mesmos títulos sacerdotais, e de Taneshi, uma Cantora devota de Amon-Rá e Senhora da Casa. O texto da estela reflete as crenças egípcias sobre a vida após a morte, trazendo invocações a divindades como Rá, Atum, Khepri e Hathor, pedindo passagem para que seu espírito possa resplandecer no Além. São mencionadas também oferendas tradicionais, como gado, aves, cerveja e pão, reforçando a ideia de sustento para a vida eterna. No reverso da estela, há um trecho do Capítulo 30 do Livro dos Mortos, no qual Ankh-ef-en-Khonsu se dirige ao próprio coração, pedindo que não testemunhe contra ele no Tribunal de Osíris, garantindo assim sua justificação e passagem para o Mundo Inferior. O texto finaliza com uma afirmação de que ele sairá à luz do dia, indicando sua esperança de renascer espiritualmente e continuar existindo entre os vivos, uma crença fundamental da cultura egípcia.
A Estela, portanto, não é apenas um artefato arqueológico; é um portal entre os mundos. Seu texto sagrado ressoa através do tempo, ecoando a eterna jornada da alma em sua busca pela luz. Para os antigos egípcios, ela era a garantia da imortalidade de seu portador (Ankh-ef-en-Khonsu); para os thelemitas, tornou-se um testemunho do Novo Aeon, um farol que ilumina o Caminho da Vontade.
Ao ser re-descoberta por Rose; e revivida por Crowley a Estela despertou de seu silêncio milenar para sussurrar novamente seus mistérios, tornando-se um símbolo vivo da Lei de Thelema. Seu chamado ainda ressoa para aqueles que ouvem: Faze o que tu queres será o todo da Lei. Pois aqueles que compreendem sua mensagem sabem que a verdadeira libertação reside na Vontade, e que os Portões do Universo sempre se abrem para aqueles que ousam atravessá-los.
Amor é a lei, amor sob vontade.
CHAOS
Rafael Ward Cury
Barueri, SP, Brasil
26.01.2025
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