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por Santiago Bovisio.
Em pleno desenvolvimento do cristianismo, as Escolas Esotéricas tornaram-se, inicialmente, um patrimônio dos Cavaleiros Iniciados, e, posteriormente, das Ordens Militares. O esoterismo helênico e romano, que, por meio do neoplatonismo, havia fertilizado os princípios cristãos, foi, contudo, perdido completamente. Com o veto do imperador Justiniano às escolas filosóficas no ano de 500 d.C., os mestres esotéricos migraram para a Pérsia, onde prepararam a semente que germinaria nas escolas esotéricas do Islã.
Com as primeiras cruzadas, os cavaleiros cristãos reestabeleceram contato com as Escolas Esotéricas Muçulmanas, absorvendo seus ensinamentos. Especialmente os Cavaleiros Normandos, homens de grande fervor religioso, que combinavam o cristianismo com as tradições druídicas, gaulesas e celtas ibéricas, assimilaram esses conhecimentos. Já no ano 800, florescia uma cavalaria cristã esotérica. As lendas do cavaleiro andante, do Santo Graal e dos Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur datam dessa época.
Essas agrupações esotéricas não eram completamente judaico-cristãs, mas essencialmente cristãs, vivendo de acordo com suas próprias tradições. Posteriormente, formaram-se Ordens Militares e novas Escolas Esotéricas. Os Cavaleiros Iniciados, ao ingressarem na fraternidade, faziam um solene juramento de fidelidade até a morte, comprometendo-se a lutar contra todas as injustiças e a proteger os pobres, desvalidos e desamparados.
A primeira cerimônia a que o neófito assistia era a do juramento. A promessa é um dom divino, e apenas os deuses podem prometer aos homens. No entanto, como a natureza humana é volúvel, muitas vezes quebrando até mesmo as vontades mais fortes, foi dito: “Não jurarás”. Todavia, ao se comprometer com um juramento, o indivíduo adquire implicitamente a obrigação de transformar sua natureza humana em divina.
A Sabedoria Divina não pode ser entregue a qualquer um, sendo essencial o segredo para evitar que o Véu Divino seja levantado por mãos inexperientes. A Bíblia afirma: “Se vires o rosto de Deus, morrerás”, o que implica que o estudo da Sabedoria Eterna exige um desenvolvimento espiritual adequado, que deve ser alcançado gradualmente, sob a orientação de Iniciados.
Durante a cerimônia, o neófito via o rosto de seus companheiros pela primeira vez, um símbolo de que a sabedoria oculta seria revelada apenas a alguns. Ao jurar, o novo adepto entrava numa grande corrente espiritual, mental e psíquica gerada pela Ordem Esotérica, sendo prejudicial se, de forma abrupta, fosse expulso dessa corrente à qual se unira voluntariamente. Para atingir esse primeiro grau cerimonial, o indivíduo deveria forçar a porta do Santuário, pois sem esforço nada pode ser conquistado.
A cerimônia do sangue e vinho
O assistente da cerimônia trazia uma taça de vinho, feita de chifre de cervo, símbolo da natureza inferior. O vinho, por sua vez, representava a força criadora em seu aspecto inferior. Noé, ao provar o suco da uva, entrou num sono profundo, sendo zombado por seus filhos. Isso sugere que o homem precisa mergulhar nas profundezas de sua natureza inferior e subconsciente para entender as forças que movem todas as coisas.
Durante a cerimônia, o Iniciado estendia o braço do neófito sobre a taça, enquanto estendia o seu próprio; as duas mãos se uniam, e uma incisão era feita em seus braços, permitindo que o sangue de ambos gotejasse na taça de vinho. O sangue, com seu valor inestimável, contém todas as substâncias físicas e está em contato direto com o éter astral. Simboliza a natureza superior, que se sacrifica para mesclar-se com a natureza inferior, redimindo-a e elevando-a.
Essa redenção é simbolizada pelo sacrifício de Cristo, que verte seu sangue na cruz, repetido todos os dias no cálice da missa. A espada, que corta o braço, simboliza a vontade forte que pode realizar essa redenção. O Iniciado e o neófito bebiam alternadamente do vinho misturado com sangue, representando a fusão das partes superiores e inferiores da natureza humana, necessária para a restauração da glória espiritual original da humanidade.
A cerimônia de investidura
Após o juramento, o neófito recebia a túnica da Ordem, com o Iniciado tocando seu ombro com uma espada. Esse gesto simbolizava a transmutação pela purificação, e o neófito também recebia uma rosa, cujo desabrochar representava o desenvolvimento das forças astrais.
As túnicas variavam de acordo com a hierarquia: os Pajens e Donzelas usavam túnicas brancas, representando pureza; os Escudeiros e Daminhas vestiam túnicas alaranjadas, simbolizando o orgulho da Ordem; e os Cavaleiros e Damas usavam túnicas pretas, significando que haviam morrido para o mundo material, vivendo apenas no Eterno.
O manto de todos era branco e circular, simbolizando a manifestação de Deus. A cogula também era circular, representando o poder espiritual. Nas primeiras eras da Igreja Cristã, os papas usavam cogulas brancas como símbolo de seu poder espiritual, substituídas posteriormente pela coroa de ouro, representando o poder material. A túnica masculina, mais curta, indicava que o espiritual não deve interromper a ação no mundo; enquanto as vestes femininas, mais longas, simbolizavam pudor e discrição.
A importância dos atributos
Os Cavaleiros e Damas da Ordem possuíam quatro atributos principais: o anel, a espada, o colar e o selo, correspondendo aos quatro poderes básicos do ser humano, depositados no corpo físico: o plexo solar, esplênico, laríngeo e a glândula pineal, respectivamente.
Além disso, montavam cavalos marrons e brancos. O cavalo, um símbolo de evolução e natureza instintiva, representava a natureza inferior dominada pela vontade do homem. O cavalo marrom significava o instinto dominado, porém ainda sensível às atrações inferiores. Já o cavalo branco simbolizava o instinto completamente dominado, utilizado apenas para propósitos elevados.
O anel representava o poder de dominar, e o domínio sobre si mesmo e os elementos estava simbolizado pelo ouro e o brilhante, símbolos da força solar. A espada simbolizava a força e a superação do medo, como a espada mencionada no Salmo 44. O colar, estampado com o nome de cada membro, representava o poder da vibração e da palavra, correspondendo ao plexo laríngeo. O selo, exclusivo do Grande Mestre, simbolizava o poder criador, estando relacionado à mente e ao Espírito.
Esses atributos indicavam os poderes internos e pessoais de cada adepto, e seus papéis dentro da Ordem.
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