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“Você viu o sinal amarelo?”
– Robert W. Chambers,
O Rei de Amarelo e Outras Histórias de Horror
Desde 2015, Setembro Amarelo é o nome da campanha nacional de prevenção ao suicídio. Este mês foi escolhido devido a uma campanha internacional que coloca o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Isso explica metade do nome. Mas porque amarelo?
Ocorre que em 1994 Mike Emme, um jovem dos Estados Unidos de 17 anos estava dentro de um mustang amarelo quando tirou a própria vida. Sua família distribuiu fitas amarelas e mensagens de apoio caso outras pessoas estivessem em dificuldades e a mensagem foi se espalhando mundo afora ligada a cor.
Mas talvez o amarelo e sua ligação com a morte tenha raízes histmais profundas do que isso.
Carrascos e bobos da corte
Para começar na Idade Média os condenados por crimes especialmente desonrosos (como lesa majestade) tinham a cara pintada de amarelo antes de conhecerem o machado do carrasco. Nesses casos os cara-amarelas eram obrigados a andar ou engatinhar amarrados por uma multidão onde recebiam insultos, cusparadas, esterco e frutos podres. A cor foi tão fortemente ligada a infâmia que tornou-se uma das cores mais comuns nas fantasias dos bobos da corte.
Marcas de segregação
Enquanto isso em Bagdá, durante o califado Omíada faixas amarelas eram obrigatórias na chapelaria e no pescoço de todos os não-muçulmanos. Além disso os homens deviam carregar um pedaço de chumbo no cinto e as mulheres um sapato preto e outro vermelho. A ideia era serem facilmente identificados e vistos mesmo de longe. Aghlabid, governador dos Emirados da Sicília (séc IX) foi além e ordenou que não só as vestes fossem marcadas mas as portas das casas fossem decoradas com um pedaço de pano amarelo em forma de burro.
A segregação também virou moda em Paris e no século XIII, o rei Luís IX da França impôs uma multa severa para todos os judeus encontrados em público sem um distintivo claro, geralmente um anel amarelo no peito.
A ideia se espalhou pela Europa e alguns anos depois o Rei Eduardo I da Inglaterra emitiu um decreto que dizia que “todo judeu com mais de sete anos deve usar uma marca distintiva em sua vestimenta exterior, isto é, na forma de duas tábuas unidas, de feltro amarelo.”
Essa prática foi retomada na Alemanha Nazista. Os primeiros decretos oficiais exigindo um sinal distintivo vieram logo em 1939 após a invasão da Polônia. Começou com uma exigência no território ocupado de que todos os judeus usassem uma estampa amarela no formato da estrela de Davi nas costas e no lado esquerdo do peito. Em pouco tempo tornou-se obrigatório para todos os judeus do Reich o uso da Estrela de David com a palavra Jude (alemão para judeu) – escrita imitando o estilo hebraico, uma preparação para o horror do Holocausto.
O Amarelo Ressignificado
O amarelo é uma cor que chama atenção rapidamente. No mundo do pós-guerra -de Yellow Submarine a Pikachu – a cor foi ressignificada e hoje é associada a energia e jovialidade. A campanha do Setembro Amarelo quer usar a característica de chamar atenção do amarelo para dar visibilidade ao assunto do suicídio: um tabu que as pessoas preferem não enxergar. Mas se o problema for escancarado e puder ser visto de longe talvez possamos ajudar alguém. E talvez o histórico dos uso dos infames sinais amarelos do passado nos sirva como uma lição adicional: humilhação e segregação também são uma forma de nos matar aos poucos.
Tamosauskas
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Uma resposta em “Por que amarelo em setembro?”
A estratégia de segregação pode ser evidente ou velada, mas está sempre presente tentando te fazer se sentir um estranho no ninho, culpado por ser diferente, até chegar na sensação de que não faz sentido viver essa vida. A melhor estratégia na luta contra o suicídio é nunca esquecer que somos essencialmente iguais em sermos únicos, e nem deixar que as pessoas à nossa volta se esqueçam;-)