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Os Landmarks

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Em inglês, “Land” significa “terra” e “mark” traduz-se por “marca”, “alvo”. “Landmark” é, assim, a marca, o sinal, na terra, e, mais especificamente, os sinais colocados nos terrenos para assinalar a sua delimitação em relação aos terrenos vizinhos. Em suma, “landmark” é, em português, o marco, no sentido de marco delimitador de terreno.

Fazendo a transposição para a Ordem Maçónica, Landmarks são, correspondentemente, os princípios delimitadores da Maçonaria, isto é, os princípios que têm em absoluto de ser intransigentemente seguidos para que se possa considerar estar-se perante Maçonaria Regular.

Ou seja, os Landmarks são o conjunto de princípios definidores do que é Maçonaria. Só se pode verdadeiramente considerar maçon quem, tendo sido regularmente iniciado, seja reconhecido como tal pelos outros maçons e observe os princípios definidores da Maçonaria constantes dos Landmarks.

Porque definidores do que é Maçonaria Regular, os Landmarks são imutáveis.

Os Landmarks são doze.

Primeiro Landmark

A Maçonaria é uma fraternidade iniciática que tem por fundamento tradicional a fé em Deus, Grande Arquitecto do Universo.

Este primeiro Landmark define a essencialidade da Ordem Maçónica.

O seu texto esclarece, mostra, as quatro características fundamentais da Maçonaria: a Maçonaria é uma fraternidade; é iniciática; baseia-se na tradição; baseia-se na fé no Criador.

A Maçonaria é uma fraternidade, isto é, é uma instituição em que as relações internas entre os seus membros se processam similarmente às relações entre irmãos. Sendo uma fraternidade, tem como pressuposto essencial a Igualdade entre os seus membros, a qual não é prejudicada por eventuais e transitórios estatutos conferidos a algum membro. Numa família, os irmãos mais novos devem reconhecer o maior desenvolvimento do irmão mais velho, pela simples razão de o ser e, portanto, ter tido oportunidade de viver mais e de aprender mais, mas tal não obsta a que todos os irmãos tenham um estatuto essencial de igualdade. Até porque, a seu tempo, todos chegarão à idade adulta e todos serão autónomos. Assim na Maçonaria, embora existam graus (Aprendiz, Companheiro e Mestre), em razão da diferente evolução, decorrente da diferente antiguidade, dos seus membros, tal não ofusca a igualdade fundamental entre os maçons, independentemente do seu grau, por isso que todo o Aprendiz pode, a seu tempo, chegar a Companheiro, todo o Companheiro pode, na sua altura, elevar-se a Mestre e todo o Mestre deve ter a consciência de que é e será sempre um Aprendiz na tarefa do seu aperfeiçoamento. A fraternidade pressupões ainda a plena Liberdade de relacionamento entre os seus membros. Todos podem e devem dar o seu contributo, a sua opinião, a sua razão e os contributos, as opiniões, as razões de todos e de cada um, livremente expressas, são importantes para a deliberação final, resultante dos contributos e dos argumentos de todos, por todos sopesados e analisados.

A Maçonaria é iniciática, isto é, os conhecimentos (os mistérios…) que cada um adquire são faseadamente obtidos, requerendo-se uma iniciação num determinado nível de conhecimentos para ser possível passar ao nível seguinte. Decorre tal facto de a Maçonaria não ser, em rigor, ensinada, antes ser aprendida, ou seja, cada um, pela observação, pelo raciocínio, pela informação que obtém vai tirando as suas conclusões e cada conclusão a que chega é um patamar, um ponto de partida para novas observações que é agora capaz de fazer, novas informações que pode agora processar, novos raciocínios que a sua inteligência pode então efectuar, e assim chegar a novas conclusões e… recomeçar o processo. Iniciática também porque, assim sendo, dependendo o Conhecimento obtido de um indispensável trabalho individual, não é possível transmiti-lo integralmente a quem não tenha efectuado esse trabalho (eis, assim, a essência, do “famoso” segredo maçónico…).

A Maçonaria fundamenta-se na Tradição. Os nossos antecessores efectuaram suas observações, seus raciocínios, seus estudos, com isso chegaram a suas conclusões e com elas efectuaram seus trabalhos, que legaram a seus sucessores. Estulto seria repetir indefinidamente sempre os mesmos esforços, não aproveitando o património de base constituído pelos resultados dos trabalhos legados pelos antecessores (rituais, normas de funcionamento e de comportamento, bases de interpretação simbólica, optimização de organização, etc.). Todo esse rico acervo, muito dele oralmente transmitido ou pessoalmente observado, de geração em geração constitui um precioso património para o maçon que, trilhando o caminho aberto por seus antecessores, sem necessidade de o desbravar ou desmatar, por ter esse trabalho sido já feito, pode, se for diligente, se for constante, se tiver vontade para tal, ir um pouco mais longe e desbravar mais um pedaço de caminho, que constituirá o seu legado para os vindouros. Todo esse acervo constitui a Tradição maçónica, que se respeita, que se observa, que se transmite, não por ser Tradição mas por ser o fruto do trabalho de gerações passadas que enriquece as gerações presentes e que temos obrigação de transmitir às futuras.

Finalmente – e os últimos são os primeiros, assim diz o Povo… – a Maçonaria Regular baseia-se na fé no Criador que, na nossa cultura é chamado de Deus e, para que se possa atender a todas as culturas e religiões, os maçons chamam de Grande Arquitecto do Universo. Sem essa fé, sem essa crença, o trabalho de aperfeiçoamento do maçon seria vão e sem sentido. Não é o animal homem que beneficia desse trabalho é a sua centelha divina, o Espírito recebido através do sopro de Vida conferido pelo Criador, que beneficia desse trabalho e desse aperfeiçoamento, na medida em que dele resulta o melhor auto-conhecimento de quem o efectua, a consciência integral de si, em todas as suas dimensões e a noção da integração num Valor muito mais vasto, que dá sentido à nossa existência, à nossa passagem por este mundo e ao fim dela. Sem esta fé, sem esta crença, pode-se ser bem intencionado, pode-se procurar melhorar a Sociedade, pode-se ser justo e bom, pode-se intitular de maçon, mas não se é Maçon Regular, por falta da essencial dimensão espiritual inerente a essa condição.

Segundo Landmark

A Maçonaria refere-se aos “Antigos Deveres” e aos “Landmarks” da Fraternidade, especialmente quanto ao absoluto respeito das tradições específicas da Ordem, essenciais à regularidade da Jurisdição.

Os “Antigos Deveres” (Ancient Charges of a Free Mason) foram compilados nas Constituições de Anderson de 1723
Respeitam a seis temas: I – De Deus e da Religião; II – Dos Magistrados Civis, Supremo e Subordinados; III – Das Lojas; IV – Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes; V – Da Direcção da Ordem no Trabalho; VI – Do Comportamento.

Ainda hoje as suas regras devem ser seguidas e cumpridas. Os Antigos Deveres não possuem, porém, a característica de imutabilidade dos Landmarks. A sua redacção tem sido, assim, alterada, quer em função da evolução semântica da língua, quer em função da evolução da Sociedade. As alterações efectuadas são essencialmente de forma, de redacção. A sua natureza mantém-se intocada.

Na sua versão actual, os Antigos Deveres (agora Antient e não na grafia orifginal Ancient) estão publicados no sítio da United Grand Lodge of England, mais precisamente aqui, em ficheiro .pdf das “Craft Rules”, e devem ser lidos pelo Secretário da Loja ao Venerável Mestre Eleito imediatamente antes da instalação deste na cadeira de Salomão (tomada de posse da função), nas Lojas sob jurisdição da Grande Loja Unida de Inglaterra.

O rigoroso cumprimento dos Landmarks e dos Antigos Deveres é condição essencial para uma estrutura maçónica, qualquer que ela seja (Grande Loja ou Grande Oriente, Loja ou Triângulo) seja considerada Regular.

Terceiro Landmark

A Maçonaria é uma ordem, à qual não podem pertencer senão homens livres e de bons costumes, que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz.

A primeira noção que o terceiro Landmark nos transmite é a da masculinidade da Maçonaria Regular. Esta regra possibilita a crítica de que a Maçonaria seria misógina, na medida em que exclui a possibilidade de integração de pessoas do sexo feminino. Apontam ainda os críticos que, se se percebe a adopção desta regra no século XVIII e antes, não tem ela já cabimento nos dias de hoje, com a emancipação da mulher inerente à evolução da sociedade (de tipo ocidental, digo eu, já que, infelizmente, por esse mundo fora, em muitos locais não é bem assim…).

Não está, porém, caduca nem anacrónica esta regra. Nem revela a mesma qualquer misoginia. A masculinidade da Maçonaria Regular resulta de uma constatação que se afigura evidente: a diferença na forma de pensar e sentir entre os sexos. É comum ouvir-se e ler-se a frase de que “os homens são de Marte, as mulheres de Vénus”, a qual pretende, precisamente, ilustrar essa diferença entre os sexos. Essa realidade é incontornável: os homens e as mulheres são diferentes, reagem diferentemente, e isto independentemente das diferenças causadas pelas influências sociais ou de educação (que também contribuem, e muito, para acentuar as diferenças entre sexos).

Buscando a Maçonaria Regular o aperfeiçoamento individual dos seus membros, todas as normas de conduta, todos os ensinamentos, todas as formas de estímulo a esse aperfeiçoamento têm em conta a mentalidade masculina, as reacções masculinas. Não são, assim, adequados ao género feminino que não seria por eles motivado.

Vi já escrito – com uma inteligente ironia, reconheça-se – que, assim sendo, então estaria demonstrada a misoginia dos maçons, que considerariam que só os homens são susceptíveis de aperfeiçoamento. Também esta crítica não é justa. Poder-se-ia devolver a ironia, retorquindo que isso sucedia porque os maçons reconheciam serem as mulheres já perfeitas… Mas, de ironia em ironia, ganharia o debate da questão em humor o que perdia em seriedade. A razão da injustiça dessa crítica é outra. Ao defender-se que a organização e a forma de funcionamento e de interacção entre os maçons está dirigida a influenciar a mentalidade masculina no sentido do aperfeiçoamento do indivíduo, não se está a extrair a consequência da impossibilidade de aperfeiçoamento das mulheres. Afirma-se apenas que o aperfeiçoamento de pessoas do sexo feminino deve ser induzido, influenciado, por diferentes formas de estímulo. Tão só.

Daí que, reclamando os Maçons Regulares para si a masculinidade da Maçonaria, não deixam estes de respeitar e saudar estruturas semelhantes que as mulheres criaram destinadas a idêntico objectivo e que são designadas por Maçonaria Feminina. Que, naturalmente, é interdita aos homens… Sem que isso autorize considerar tais estruturas como viciadas de feminismo e antagonismo ao género masculino…

Uma corrente de pensamento criou o que chama de Maçonaria mista, o Direito Humano, isto é, uma estrutura integrando homens e mulheres e destinada ao seu aperfeiçoamento. O objectivo é respeitável, ainda que, pessoalmente, me permita duvidar da eficácia da utilização do “mínimo divisor comum” entre ambos os sexos para a obtenção de tal desiderato. Mas tal não é Maçonaria, muito menos Maçonaria Regular. Será algo de semelhante, algo de aparentado, seguramente respeitável, mas tão só.

Mas este terceiro Landmark não estipula apenas a masculinidade da Maçonaria. Expressamente menciona que a Maçonaria integra homens livres. Originalmente, esta expressão excluía os escravos. que não dispunham de liberdade em sua pessoa. Hoje, abolida a escravatura, a menção respeita à liberdade de determinação dos membros da Maçonaria. Que devem, consequentemente, abster-se de todos os actos que afectem essa liberdade de determinação, designadamente o consumo de substâncias que a prejudiquem ou alterem.

Têm ainda os maçons de serem “de bons costumes”, isto é, em especial de serem honestos, mas também que terem um comportamento socialmente aceitável, até porque só poderá influenciar a sociedade o maçon aperfeiçoado que pela sociedade seja aceite… Há quem entenda que esta menção aos bons costumes visa a exclusão da Maçonaria dos homossexuais. Não irei tão longe. Digo apenas que, onde for socialmente aceitável a homossexualidade, não existe exclusão; onde for socialmente inaceitável, ela existe.

Finalmente, este Landmark afirma expressamente que a Maçonaria é reservada aos que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz. Esta afirmação não exclui o acesso à Maçonaria dos militares. Embora profissionalmente se preparem para fazer a guerra, se necessário, tal não exclui que pretendam assegurar e garantir a Paz e que, muitas vezes, sejam necessários para a assegurar.

Este Landmark implica assim um permanente trabalho dos maçons em prol da Paz e da resolução dos problemas entre homens e sociedades por via pacífica, isto é, no seio da Legalidade Democrática.

Quarto Landmark

A Maçonaria visa ainda, pelo aperfeiçoamento moral dos seus membros, o da humanidade inteira.

Este Landmark postula o objectivo essencial da Maçonaria e dos Maçons Regulares.

Constitui pedra de toque na distinção entre a Maçonaria Regular e a maçonaria irregular ou liberal.

Conforme faz notar Luís Nandin de Carvalho, Past Grão-Mestre da GLLP / GLRP, in A Maçonaria Entraberta,

Para um maçon “regular” a sociedade só será mais perfeita se isso decorrer do processo de aperfeiçoamento individual, de cada um, enquanto para um maçon “irregular”, o essencial é ser ele o agente da transformação da sociedade. Isto é, passa o maçon em vez de ser o destinatário das suas reflexões e consciência, para procurar o auto aperfeiçoamento, a considerar-se o agente de transformação e da perfeição da sociedade.

Bem se compreende que esta atitude possa gerar desde logo, a quebra de harmonia entre os maçons. Ultrapassada a intimidade de cada um, em que só cada qual é juiz de si próprio, e de acordo com os parâmetros da sua autodefinição, sendo portanto responsável pela sua própria consciência, os maçons irregulares confrontam-se exteriormente sobre as várias actividades que poderão contribuir para transformação e aperfeiçoamento da sociedade…e estas serão tantas quantas as percepções do que é a perfeição da sociedade.

O maçon deve procurar o seu aperfeiçoamento e, pela sua transformação, dar o exemplo e actuar no mundo profano, contribuindo, por essa via, para o aperfeiçoamento geral da sociedade.

Quinto Landmark

A Maçonaria impõe a todos os seus membros a prática exacta e escrupulosa dos ritos e do simbolismo, meios de acesso ao conhecimento pelas vias espirituais e iniciáticas que lhe são próprias.

A preparação do maçon, a sua evolução, a aquisição dos conhecimentos que lhe servirão de utensílios para o seu esforço de aperfeiçoamento não é realizada através de aulas, lições, conferências ou estudos.

O maçon trabalha praticando, repetindo situações e textos que, por essa repetição prática, vão abrindo horizontes.

Quantas vezes, ao revermos um filme não descortinamos detalhes, significados, que nos tinham escapado da(s) vez(es) anterior(es)? Ou ao relermos um poema, tantas vezes lido e lembrado, se nos ressalta uma réstea de beleza, que anteriormente nunca nos captara a atenção? Ou ainda, ao ouvirmos a nossa música favorita pela enésima vez, damos conta de umas notas tocadas em fundo por um instrumento, que melhor completam a Harmonia da peça musical?

O método maçónico baseia-se assim numa forma oral de transmissão de elementos, repetida, permitindo a cada um que, daquilo em que assiste e participa, vá retirando o que, na ocasião, lhe é útil retirar. A própria evolução do maçon lhe permitirá descortinar novos significados no que antes apenas um caminho lhe abria.

Os maçons trabalham, pois, segundo um ritual, textos de há muito estabelecidos, que exaustiva, escrupulosa e pormenorizadamente repetem. E disso beneficiam, assim aprendem, assim evoluem.

Uma das minhas frases preferidas, quanto à Maçonaria, é a de que a Maçonaria não se ensina, aprende-se. E aprende-se por esta tão particular via.

Os ritos (há mais do que um, sendo cada Loja livre de utilizar o que entender) são textos carregados de significados simbólicos que, pela via da repetição, vão sendo naturalmente entrevistos pelo maçon.

Esta é a via, o modo de trabalhar, aprender e evoluir, que é característica da Maçonaria e que, portanto, não pode ser modificada ou abandonada. Se o fosse, estar-se-ia a realizar uma actividade porventura meritória, mas que não seria já Maçonaria.

Maçonaria é, pois, um método de aperfeiçoamento através da prática de ritos dotados de significados simbólicos, que são descobertos e apreendidos através da repetição cuidada dos rituais.

Sexto Landmark

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

Este preceito resume as regras de convivência entre maçons.

Desde logo, avulta o respeito absoluto pela individualidade dos demais. As opiniões de cada um devem ser, e são, absolutamente respeitadas por todos os outros. Pode-se discordaar de uma opinião emitida por outro maçon, mas a manifestação dessa discordância deve ser feita fundamentadamente e sem hostilizar, escarnecer ou por qualquer forma apoucar o seu autor. Pelo contrário, a crítica ponderada e fundamentada possibilitará um diálogo sereno, susceptível de permitir verificar os pontos de discordância, mas também aqueles em que se concorda, as razões do desacordo e a validade delas. Assim procedendo, não se criticam pessoas, analisam-se opiniões e, no limite, será possível que uma ou ambas as posições evoluam e, quiçá, o que começou por uma clara divergência poderá terminar numa convergência de pontos de vista. Mas, se assim não suceder, não é nenhuma tragédia: cada um tem o direito de manter o seu ponto de vista e, mesmo discordando do outro, ficará a saber o conteúdo e as razões do diferente pensamento discordante; poderão ambos não concordar, mas, pelo menos – e não é pouco! – compreender-se-ão.

Quanto às crenças de cada um, estas nem sequer se discutem: reconhecem-se e respeitam-se. Buscam-se os pontos de entendimento, a base ética comum que subjaz a toda a crença religiosa. E tanto basta!

Por isso, em Loja não se discute Política nem Religião. Esta, porque sendo do foro íntimo da cada um, não faz sentido discuti-la. Aquela, porque sendo susceptível de grandes paixões poderia cavar insanáveis conflitos entre Irmãos. Ademais, reconhecendo cada maçon no seu Irmão um homem livre e de bons costumes, grave atentado a essa liberdade seria não lhe reconhecer o direito à sua crença religiosa e ao seu entendimento político. Não quer isto dizer que um maçon não possa ou não deva afirmar a sua convicção religiosa ou a sua posição política. Pode este, pode aquele, pode aqueloutro, podem todos. Mas, isto feito, mais além não se vai. Cada um crê no que crê, pensa como pensa, ponto final! Não há lugar para discussões sobre se esta crença é melhor do que aquela ou se aquele entendimento político é mais ou menos adequado do que aqueloutro.

É por isso que os maçons – e particularmente os maçons de cada Loja entre si – constroem laços especialmente fortes de amizade e consideração mútua. Porque, tal como os irmãos de sangue não têm de pensar da mesma forma para fraternalmente se amarem, também os maçons consideram e respeitam e criam laços fraternos com os demais maçons, independentemente das crenças ou opiniões políticas de cada um. Com esta postura, a Loja é um lugar em que cada um pode estar sem desconfianças, um oásis de harmonia, que permite descansar das, por vezes, duras e amargas lutas do dia a dia, e cada maçon vê no seu Irmão um homem sério e honrado, que poderá dele discordar, mas que nunca o trairá.

Sétimo Landmark

Os Maçons tomam as suas obrigações sobre um volume da Lei Sagrada, a fim de dar ao juramento prestado por eles o carácter solene e sagrado indispensável à sua perenidade.

Este Landmark reforça o carácter deísta da Maçonaria.

Só quem é crente atribui significado ao “carácter solene e sagrado” de um juramento! É também através deste preceito que apreendemos que o ateu ou o agnóstico não pode integrar a Maçonaria Regular. Este é, pois, um dos Landmarks que distingue a Maçonaria Regular da dita maçonaria irregular ou liberal.

Para o maçon regular, o assumir dos seus compromissos é um acto solene, daí que tal assunção se faça pela forma do mais sagrado dos juramentos, o que é proferido sobre um volume da Lei Sagrada.

Porque o cumprimento dos seus compromissos tem uma alta importância para um maçon, tal inevitavelmente que se reflecte na sua vida profana, no seu dia a dia. Deve, consequentemente, o maçon, entre outras coisas, distinguir-se pelo cumprimento da sua palavra, constituindo exemplo de lealdade e seriedade para todos aqueles com quem lida.

O juramento é prestado sobre “um volume da Lei sagrada”. Não diz o preceito qual seja e compreende-se porquê: o maçon deve ser crente, mas é indiferente qual a religião que pratica. O juramento deve, pois, ser prestado sobre o Livro da Lei Sagrada da religião praticada pelo autor de tal compromisso.

Seguindo à risca esse entendimento, e atendendo às orientações religiosas dos membros que actualmente a integram, na Loja Mestre Affonso Domingues estão disponíveis a Bíblia, Livro Sagrado para os católicos e protestantes, e a Torah, Lei Sagrada para os Judeus. Estando assumido e interiorizado que a escolha religiosa individual só ao próprio diz respeito e que todas as opções religiosas são respeitáveis, a prática que naturalmente se estabeleceu nesta Loja é a de que TODOS os seus membros prestam os seus juramentos sobre AMBOS os volumes da Lei Sagrada.

Oitavo Landmark

Os Maçons juntam-se, fora do mundo profano, nas Lojas onde estão sempre expostas as três grandes luzes da Ordem: um volume da Lei Sagrada, um esquadro, e um compasso, para aí trabalhar segundo o rito, com zelo e assiduidade e conforme os princípios e regras prescritas pela Constituição e os Regulamentos Gerais de Obediência.

A unidade fundamental da Maçonaria é a Loja, um conjunto autónomo de maçons utilizando o mesmo rito, isto é, o mesmo conjunto de textos e actos pelo qual se busca a concentração dos presentes e que é utilizado como fonte de significados simbólicos a serem apreendidos e desenvolvidos pelos maçons, como forma e método do seu aperfeiçoamento moral.

A Loja é um espaço de união e de liberdade. Cada um sabe o que nela tem de fazer como contribuição para o grupo, como se comportar, como colaborar com os demais. Cada um, respeitando esses princípios, é livre de pensar como entender, de se expressar em conformidade com o seu pensamento, de agir como entender, em consonância ou dissonância com os demais. A essência da Maçonaria, neste aspecto, pode ser resumida numa frase: “O maçon é um homem livre numa Loja livre”. A Loja, enquanto estrutura que integra e enquadra cada maçon individualmente, assume assim a indicada característica de fundamentalidade, de centro da vida maçónica dos maçons que a integram, de espaço de fraternidade, solidariedade e união entre todos os seus membros e de meio essencial para o aperfeiçoamento de cada um e, por essa via, da melhoria colectiva da própria Loja. Cada Loja maçónica é diferente das outras, ainda que praticando o mesmo rito, ainda que seguindo os mesmos princípios, porque cada Loja tem um percurso, resultante dos laços entre os seus membros, da interacção entre eles, do respectivo desenvolvimento, das vitórias e dos fracassos de cada um e de todos, que a diferencia de todas as demais. É por isso que a Ordem Maçónica encoraja os seus membros a, além de participarem nos trabalhos de sua Loja, visitarem outras Lojas, como forma de se aperceberem das semelhanças e das diferenças que, naturalmente, se vão estabelecendo entre as diferentes estruturas, através dos respectivos processos evolutivos. Naturalmente que só uma sólida aceitação e prática dos princípios fundamentais da Maçonaria e um total cumprimento das regras e regulamentos maçónicos possibilita que essas diferentes evoluções não sejam de tal forma divergentes que passem a ser realidades completamente diversas. Dentro da Maçonaria impõe-se o estrito cumprimento dos princípios fundamentais e das regras e regulamentos, mas , assegurado este, há um vasto campo de evolução, de diferenciação, de estudo, mesmo de experimentação, que permite que cada Loja evolua segundo as suas próprias características e os percursos dos seus membros.

Essencial é que as reuniões de Loja decorram sempre na presença do que os maçons denominam as três grandes luzes da Ordem: o volume da Lei sagrada, o esquadro e o compasso. O volume da Lei Sagrada (ou os volumes, se as opções religiosas dos membros da Loja o impuserem), como testemunho de que todo o trabalho realizado decorre tendo como pano de fundo a crença de todos os maçons num Criador e símbolo da equidade e da sabedoria; o esquadro, símbolo, além do mais, da matéria e da rectidão; o compasso, que simboliza, designadamente, o espírito e a justiça.

 

Nono Landmark

Os Maçons só devem admitir nas suas lojas homens maiores de idade, de perfeita reputação, gente de honra, leais e discretos, dignos em todos os níveis de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem e o infinito poder do Eterno.

Este nono Landmark define, com precisão evidente, as características de quem está em condições de ser admitido maçon.

Tal só pode ocorrer relativamente a homens – o que exclui a admissão, na Maçonaria Regular, de mulheres e a existência de Lojas mistas; conferir, a este respeito, o comentário que elaborei a propósito do terceiro Landmark.

Esses homens têm de ser maiores de idade, isto é, adultos. A maioridade afere-se, desde logo, pela lei civil que vigora no país onde funciona a Loja. Mas o preceito, correctamente interpretado, exige mais: exige a maioridade de pensamento, isto é, a maturidade necessária para compreender o que implica ser maçon e a capacidade e vontade de palmilhar o caminho do aperfeiçoamento.

Têm ainda tais homens de ser de perfeita reputação. Não basta ser sério e honesto, impõe-se que seja tido e reputado como tal no seu ambiente social. O maçon, por o ser, deve impor-se à consideração geral. Dificilmente o consegue quem não tiver angariado por si e suas acções tal reputação. Não seria a aquisição da qualidade de maçon que melhoraria a sua reputação. Pelo contrário, seria a mácula na sua reputação que mancharia a Maçonaria.

Tem de ser gente de honra, ou seja, que dá valor à sua palavra e a cumpre, que sabe o valor, a importância e a responsabilidade da sua honra e age em conformidade.

Devem os maçons ser leais, condição essencial para integrarem uma Fraternidade em que todos em si vão confiar.

Devem ser discretos, porque o é a Maçonaria. Note-se: não secreta, mas discreta! No sentido em que preserva a intimidade e a identidade dos seus membros e da sua actividade. No sentido de que não alardeia nem publicita o que faz, a quem ajuda, o que contribui, seguindo o preceito de que, no vero homem de bem, nem sequer a mão esquerda tem de saber o que deu a mão direita.

Têm de ser dignos de serem bons irmãos, porque só assim podem integrar a Fraternidade Maçónica.

Têm de ter a capacidade de reconhecer os limites do homem, porque só assim podem reconhecer o seu papel no Universo e procurar aproximar-se o mais possível desses limites, sem a pretensão de serem mais do que são: humanos.

Finalmente, têm de ter a capacidade de reconhecer o infinito poder do Eterno, isto é, de serem crentes num Criador Todo Poderoso.

Quem acusa a Maçonaria de ser uma elite… tem razão! Poucos estão ainda em condições de ser admitidos maçons, efectivamente! Mas um dos objectivos do trabalho maçónico é a construção do Templo Colectivo, isto é, o aperfeiçoamento geral da sociedade, através da intervenção e do exemplo dos maçons. Esperamos que cada vez mais estejam em condições de vir a ser admitidos maçons!

Décimo Landmark

Os Maçons cultivam nas suas Lojas o amor da Pátria, a submissão às leis e o respeito pelas autoridades constituídas. Consideram o trabalho como o dever primordial do ser humano e honram-no sob todas as formas.

Este Landmark estipula o carácter intrinsecamente legal da Maçonaria Regular.

O Maçon deve ser patriota e amar sua Pátria. O maçon respeita as leis em vigor no seu País e no país onde se encontre. O maçon respeita a Legalidade Democrática e, portanto, as autoridades que a exercem.

A Maçonaria Regular integra-se, pois, perfeitamente na Sociedade Democrática e só pode livremente funcionar em Democracia. A Maçonaria Regular não patrocina, nem prepara, nem apoia revoluções ou conspirações. A Maçonaria Regular não tem intervenção política. A Maçonaria Regular é uma organização patriota, democrática, pacifista e respeitadora da Legalidade. O mesmo exige aos seus membros. Em resumo, a Maçonaria Regular respeita e coopera com as Instituições Democráticas, não as combate. A Maçonaria Regular aspira à melhoria da Sociedade através da melhoria dos seus membros e do exemplo por eles transmitido, não fomenta “saltos mortais da História”, isto é, não decreta, prevê, aprova ou favorece pretensas melhorias voluntaristas através de alterações políticas de qualquer índole.

Cada maçon professa as ideias políticas que entende, dentro do respeito da Pátria, da Democracia e da Legalidade.

Os maçons consideram o trabalho a actividade nobre por natureza do ser humano e, portanto, contam com o esforço do seu trabalho para atingir os seus propósitos individuais.

Os maçons respeitam o seu trabalho e os dos demais. Respeitam igualmente o trabalho físico e o intelectual, porque ambos enobrecem o Homem e ambos são úteis, devendo cada qual executar o tipo de trabalho para que tenha mais capacidade e em que seja mais útil, não havendo trabalho mais ou menos nobre.

 

Undécimo Landmark

Os Maçons contribuem pelo exemplo activo do seu comportamento são, viril e digno, para o irradiar da Ordem no respeito do segredo maçónico.

Este Landmark fixa o objectivo de cada maçon perante a Sociedade: constituir, pelo seu comportamento de Homem que fez e faz um contínuo esforço de aperfeiçoamento, um exemplo para a Sociedade e todas as pessoas.

Menciona-se aqui, consequentemente, o objectivo de, além da construção do Templo Interior (o aperfeiçoamento individual), colaborar na construção do Templo Universal (o aperfeiçoamento global da espécie humana).

O comportamento do maçon deve ser são, isto é, saudável, isento de vícios que prejudiquem a saúde e o seu desempenho. Deve ser viril, digno de um homem que o é e sabe sê-lo. Deve ser digno, porque a dignidade é uma qualidade essencial para qualquer indivíduo.

Ao comportar-se de forma a ser um exemplo para os demais, o maçon contribuirá mais para o irradiar, o crescimento, da Ordem Maçónica do que com mil actos propagandísticos ou um milhão de palavras.

Faz como eu faço: esta a mensagem que o maçon deve implicitamente transmitir. E esta é a melhor forma de contribuir para o aperfeiçoamento geral.

O maçon deve guardar o segredo maçónico (desde logo, a identidade de seus irmãos e as formas de reconhecimento mútuo). Não necessita de o desvendar para exercer uma boa influência sobre os demais. Mais, o desvendar desse segredo em nada contribuiria para beneficamente os influenciar.

Em resumo: o melhor comportamento que um maçon pode ter é… comportar-se como um maçon, aplicando as qualidades que treina, evitando os defeitos que combate.

 

Duodécimo Landmark

Os Maçons devem-se mutuamente, ajuda e protecção fraternal, mesmo no fim da sua vida. Praticam a arte de conservar em todas as circunstâncias a calma e o equilíbrio indispensáveis a um perfeito controle de si próprio.

O último Landmark da Maçonaria Regular começa por enfatizar os deveres de fraternidade dos maçons. Fecha-se assim o círculo: relembremos que o primeiro Landmark define a Maçonaria como uma fraternidade iniciática.

Após a referência inicial ao conceito de Fraternidade, os Landmarks como que se dedicam a outros temas e delimitações, não desenvolvendo o conceito. Mesmo no sexto Landmark, a única relação que se pode fazer com o conceito de Fraternidade é de ordem omissiva: os Irmãos Maçons respeitam as opiniões e crenças de cada qual e, portanto, devem omitir todos os actos que possam afectar a harmonia fraterna entre eles.

Ficou reservado para o último Landmark, como que assinalando que o terreno da maçonaria Regular ficava assim integralmente delimitado, regressando-se ao ponto de partida, o desenvolvimento de como devem os maçons agir para preencher o conceito de Fraternidade: devem-se mutuamente ajuda e protecção, não de qualquer tipo, mas fraternal, ou seja, o tipo de ajuda e protecção que cada um de nós deve a seu irmão. Embora não irmãos de sangue, os maçons são Irmãos na Ética, na Busca do Aperfeiçoamento, na Prática da Virtude e no Combate ao Vício! Para tudo isso, para o fácil e para o difícil, para as boas e para as más horas, com os ventos bonançosos e arrostando com a borrasca, cada maçon deve, SEMPRE, e sem hesitação, ajudar e proteger seu Irmão.

Este dever de ajuda e protecção não é, porém, ilimitado: basta atentar no décimo Landmark para se ter presente que a ajuda e a protecção devem ser prestadas sempre com submissão às leis e respeito às autoridades constituídas.

O dever de ajuda e protecção permanece até e mesmo no fim da vida. Cada maçon deve auxiliar seu Irmão a viver com dignidade até ao fim da vida, para que a sua morte ocorra com igual dignidade. Perante a aproximação da morte, o auxílio de um Irmão que lembre que ambos acreditam que a morte não é um fim, mas apenas uma passagem – para o Oriente Eterno, dizem os maçons… – será porventura útil para auxiliar o moribundo a viver seus últimos momentos calma, serena e confiantemente e a morrer de forma tão digna como viveu! E, ocorrida a Passagem ao Oriente Eterno de um maçon, devem seus Irmãos aos seus restos mortais o respeito que em vida lhe consagraram e a homenagem devida a quem procurou com firmeza seguir os sãos princípios da Fraternidade Maçónica!

Finalmente, este último Landmark aponta o essencial meio para que seja possível ao maçon proficuamente trilhar o caminho de seu aperfeiçoamento: deve ele procurar manter sempre o perfeito controle de si próprio e, para tal, mister é que aprenda, que se esforce, que consiga, em todas as circunstâncias, manter sempre a calma e o equilíbrio para enfrentar qualquer situação. O simples enunciado deste dever dá-nos a noção de quão difícil de atingir ele é! Mas também a certeza da indispensabilidade da obtenção desse desiderato e da necessidade de envidar todos os esforços para, em todos os momentos, em todas as ocasiões, manter a calma e o equilíbrio. E os que, progressivamente, o conseguem, que enorme vantagem passam a ter sobre os demais!

Os Landmarks da Maçonaria Regular são, não só o estabelecimento dos limites entre o que é Maçonaria Regular e o que é outra coisa, mas tanbém preciosos ensinamentos e princípios para serem por todos seguidos ao longo de suas vidas. Este duodécimo e último Landmark é bem o espelho disso!

por Rui Bandeira


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