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A maçonaria universal, pelo seu caráter iniciático e pela sua atuação no mínimo discreta, está recheada de lendas, afirmações históricas a exigir comprovação e, até, arroubos esotéricos exacerbados.Cada região, cada país, cada continente, incorpora suas lendas específicas ao seu acervo, contribuindo para potencializar seu caráter misterioso, mesmo paro seus adeptos. E assim é toda polêmica referente a Itambé.
A cidade de Itambé (que no Tupi significa Pedra de Fogo) situa-se em Pernambuco, nos limites com o Estado da Paraíba, mais precisamente com a cidade de Pedra de Fogo, onde, dizem, o botânico dr. Manuel de Arruda Câmara, fundou um clube com a finalidade de discutir e disseminar o ideário que amalgamava os revolucionários franceses.
A Editora A Trolha, por ocasião do bicentenário do Areópago, resolveu prestar-lhe uma homenagem, reunindo em um só livro artigos especialmente coletados de nossos mais ilustres historiadores.
Esta peça de arquitetura tem por finalidade sintetizar o livro, com o objetivo de seguir a orientação de ministrar aos aprendizes parte de nossa história, ou melhor, de nossa gloriosas história. Acrescentei, visando enriquecê-la, alguns trechos da obra do saudoso Ir.: Mário Mello publicada em 1912 e intitulada A Maçonaria e a Revolução Republicana de 1817.
Então, vamos à obra, ou melhor, à síntese.
Os IIr.: Adauto Barreto (GLPe) e Antônio do Carmo Pereira (GOIPe), referem-se ao Areópago como um disseminador dos ideais revolucionários do velho mundo e, como tal, o grande promotor da revolução de 1817. Para eles, a revolução republicana de Pernambuco, foi a práxisdo Areópago. Permeado pelo ideal iluminista, preconizava que o conhecimento racional e científico da natureza tende a identificar as leis que regem a organização da sociedade, que as ciências deveriam ser desenvolvidas mediante a aplicação de métodos experimentais, que o homem deveria desfrutar de maior liberdade, sem o controle de uma monarquia absolutista que, ao impedir a diminuição das desigualdades sociais, promove a servidão do ser humano (aí está o cerne do liberalismo político, que nada tem a ver com o sentido que posteriormente lhe foi dado) e, finalmente, que a educação do povo não deve estar condicionada aos dogmas religiosos. Estes, ao se limitarem aos escaninhos da fé, impedem ou delimitam o alcance da razão.
A Razão foi a grande referência dos filósofos iluministas, pois, pela sua graça, os homens tenderiam ao auto aperfeiçoamento e a possibilidade de buscar a felicidade aqui mesmo, tão negada pela religião católica.
São idéias profundamente subversivas para a época. Desabrochadas no iluminismo francês, vêm de uma longa e dialética maturação a partir de uma internacional de refugiados que procurava sobreviver em Amsterdã.Muitos personagens tornaram-se lendários, ou quase isto, como Descartes, Bayle, Locke e tantos outros que buscavam refúgio lá, pressionados que estavam pela intolerância religiosa. É impossível não se referir a John Locke, marcadamente por sua obra, O Tratado sobre a Tolerância, transcrita quase ipsis literisna Constituição de Anderson, contragolpeando Thomas Hobbes, ou melhor sua obra, intitulada O Leviatã, que, ao admitir e propagar a tese de que o homem é o lobo do homem, legitimava o absolutismo.
As idéias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, desenvolvem-se na Inglaterra (final do período elizabetano e início do período jacobita), explodem na França dos filósofos e cobrem o mundo, com ênfase nas Américas.
Os maçons pernambucanos, num laivo justificável de etnocentrismo, atribuem ao Areópago a condição de portão de entrada delas no Brasil.
Em Pernambuco, pelos idos de 1792/93, um carmelita conhecido por frei Manoel do Coração de Jesus, morador no povoado de Goiana, próximo à Itambé, viaja para Portugal para estudar ciências naturais. Após um período de estudos por lá, ruma para Montpellier com o objetivo de obter seu doutorado. Na França ,possivelmente pois não se sabe se sua iniciação deu-se em Portugal ou na França-, é iniciado e mantém uma assídua convivência com outros irmãos que sonhavam e almejavam participar da construção de uma humanidade livre e progressiva. Impregnado por essas idéias, retorna ao Brasil e funda, no povoado de Itambé, um clube com a finalidade de reunir as vocações similares, recrutando cuidadosamente todos que almejavam uma pátria livre para os brasileiros, isto em 1796. Cuidadosamente porque a intolerância dos reinóis punia com a pena capital qualquer movimento sedicioso. Funcionava na rua Vieira de Mello, existente até a década de l940, e reunia todos os insatisfeitos com a política de ultramar. Em 1801, teve suas portas cerradas. Mas a doutrinação exercida em seu interior, não sofreu descontinuidade , já que outras oficinas foram sendo erigidas( as Academias Suassuna, os sarauspromovidos nas próprias residências, clubes, etc.).
Afirma o Ir.: Adauto Barreto, a maçonaria, a despeito da pena capital ameaçadora, intimoratamente conspirava à luz do dia. O resultado foi a revolução de 1817, com Presidente e Ministério Maçons, à exceção do ministro da agricultura, Manoel Correia, que não era pedreiro-livre. Era a revolução dos Maçons e dos Padres.E isto não é ficcção, nem história de ouvi-dizer.
Em outro artigo, o Ir.: João Alves da Silva afirma que o Areópago de També- e não Itambé- dá a Pernambuco a primazia de ser o primeiro templo maçônico do Brasil. Sóem 1802, a Bahia veio a possuir um Templo(Virtude e Razão) e, em 1803, o Rio de Janeiro as Lojas Reunião, Constância,e Filantropia, por iniciativa do Grande Oriente Lusitano. Afirma que Arruda Câmara foi iniciada na Grande Loja de Paris, mas não apresenta qualquer prova a respeito.
O Ir.: Frederico G. Costa faz uma análise mais precisa. Recorre ao historiador José Honório Rodrigues para discorrer sobre a revolução de 1817 e o Areópago de Itambé .Segundo José Honório Rodrigues, a revolução de 1817 pôs em prática pela primeira vez na América os princípios das revoluções Americana e Francesa, que serviam de roteiro libertador para a América Espanhola.
Havia uma revolta muito grande oriunda da proibição, pelas cortes portuguesas, de promover o desenvolvimento industrial brasileiro No Rio de Janeiro, houve um início de conspiração liderado pelos comerciantes.
No ano seguinte, em 1776, uma carta régia proibia o ofício de ourives em Pernambuco. Em 14 de agosto de 1795, novamente o dedo do despotismo aponta para a proibição do exercício das ciências e letras.
Nesse caldo de insatisfação, não era difícil recrutar descontentes.
Mas admite que o assunto sobre o Areópago necessita de uma completa revisão, pois, segundo lhe informara o Ir.: historiador da USP, Mário Ricardo Gonçalves, o historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello ter-lhe-ia dito que as obras completas de Manuel de Arruda Câmara foram publicadas no Recife, na FUNDARPE, pelo historiador José Antônio Gonçalves de Mello, o qual escreveu uma introdução crítica onde demonstra que Arruda Câmara nunca viveu em Itambé e que o Areópago nunca existiu, pois não há qualquer referência sobre ele em suas obras.
Aí o tema passou do tradicional para o controverso. Mas sabemos que ele morava em Goiana, povoado muito próximo de Itambé e, também sabemos que, quando se tem a pena capital à espreita, somos obrigados a redobrar nossa segurança. Sob pena de colocar-se e a todos que lá freqüentavam em perigo, é de se esperar que o botânico jamais falasse sobre ele publicamente.
Não nos esqueçamos que o Areópago era uma sociedade secreta.
O Ir.: Fredd recorre às fontes disponíveis e cita uma delas:
o Areópago era uma sociedade secreta, intencionalmentena raia das províncias de Pernambuco e Paraíba,üentada por pessoas salientes de uma e outra parte esaiam, sem ressaltos nem arruídos, as doutrinasensinadas. (Mário C. do Rego Mello, in A Mac.: no Brasil).
Casualmente, encontrei em um sebo um livro do Ir.: Mário Mello, intitulado A Mac.: e a Revolução Republicana de 1817 e nele afirma que o Areópago de Itambé foi o centro mais adiantado que se fundou em Pernambuco para estudar as idéias mais adiantadas oriundas da França Liberal. Naquela época, prossegue ele, era crime de pena máxima o cidadão professar ou mostrar-se simpático à maçonaria, que ainda hoje é a mola da civilização.
A maçonaria daquele tempo era uma instituição eminentemente política com o juramento dos IIr.: fazerem a Pátria livre. Por conseguinte, o governo português cuidou de aumentar o rigor para impedir que a doutrina democrática tivesse publicidade. Os adeptos disfarçavam-se, convertendo-a num grande segredo, unicamente conhecido e revelado a pessoas de confiança.
Escreveu ele…claro está que estas sociedades secretas, quer as chamassem de areópagos, academias, lojas, oficinas-universidade ou coisas semelhantes, eram lojas maçônicas para aqui transplantadas pelos espíritos adiantados que se iniciaram na Europa ou nos Estados Unidos, diferindo de nome justamente para fazer confusão, desnortear o governo português, não levantar suspeitas e melhor propagar as idéias da democracia.
Mais adiante, na página 14 ele afirma: até aqui procuramos demonstrar que o Areópago de Itambé, sendo uma sociedade secreta política era, em verdade, uma loja maçônica, fundada para cogitar da liberdade do povo pernambucano, de acordo com o que sucedera na França, nos Estados Unidos e estava combinado realizar-se em toda a América Latina.
O sonho dos sócios do Areópago era tão alto que chegaram a negociar com os Estados Unidos a retirada de Napoleão Bonaparte de Santa Helena, dando-lhe pouso seguro em Fernando de Noronha.
Em 1951, por iniciativa dos IIr.: Mário Melo e Getúlio de Albuquerque César, sendo este casado com dona Rosa Amélia Cavalcanti de Arruda Câmara-sobrinha neta de Manuel de Arruda Câmara- foi erigido em Itambéum obelisco alusivo ao fato histórico. Em agosto de 1980, o Grande Oriente Independente de Pernambuco prestou uma homenagem à história ao reinstalar o Areópago de Itambé, inaugurando uma Loja Maçônica com seu nome.
Ficção ou realidade, o carisma que cerca o Areópago reflete a ação típica dos construtores sociais que, na missão auto-imposta de participar ativamente da construção de um ordenamento social superior, são capazes de vencer as próprias limitações oferecendo-se à história como seus agentes transformadores. E é a eles que dedicamos esta instrução.
BIBLIOGRAFIA
1)AREÓPAGO DE ITAMBÉ 200 ANOS . ED. A TROLHA;
2)A MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817-MÁRIO MELLO IMPRENSA OFICIAL 1912;
3)CAUSAS DA REVOLUÇÃO INGLESA LAWRENCE STONE EDUSC.
por J. Francisco Simas ( M.·. I.·.)
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