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Independência do Brasil e a Maçonaria

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Introdução

Quando começamos a pesquisa para a elaboração deste trabalho deparamo-nos com enorme quantidade de material, tanto maçônico como profano. Somente os textos coletados de fontes ligadas à Maçonaria, em uma avaliação rudimentar, somaram cerca de vinte e sete mil palavras. Esta quantidade de texto, se lida em velocidade normal, consumiria cerca de quatro horas. Assim sendo, concluímos que qualquer síntese que se pretenda fazer, desde que deva se enquadrar em um tempo de até trinta minutos de leitura, correrá o risco de pecar pela seletividade e omissão, obrigatoriamente necessárias.

Tendo em vista este problema e considerando que a história pública da Independência é sobejamente mais conhecida do que a história da participação maçônica, optei por fazer foco principalmente nesta segunda. Desta forma, a dissertação sobre os fatos públicos, aqui, servirásomente para explicar a participação maçônica.

Na análise do material literário obtido, uma segunda dificuldade deve ser mencionada: não háhomogeneidade no que diz respeito ao conjunto de aspectos que são utilizados para descrever o processo de Independência. Desta forma, forçosamente somos obrigados a delimitar, mais ou menos arbitrariamente, este conjunto de aspectos que iremos abordar, pois, do contrário, qualquer texto seria insuficiente para abranger a enorme gama de informações disponíveis.

Tendo por base a premissa acima, fizemos a escolha dos tópicos que apresentamos a seguir, esperando com eles permitir uma concepção abrangente, sem tornar excessivamente longo o nosso trabalho. São os tópicos escolhidos os seguintes:

· Um breve relato dos Primórdios da Maçonaria no Brasil;
· Os Expoentes Maçons da Independência;
· A Descrição Histórica do Contexto Externo e Interno ao Brasil;
· A Descrição Sumária Dos Fatos Que Culminaram Com o Sete de Setembro;


1 – Os Primórdios da Maçonaria no Brasil

Após sua instituição, logo a Maçonaria penetrou em todo o continente europeu. Pela sua íntima relação com o Brasil, interessa-nos aqui o seu surgimento em Portugal. Foi ela introduzida em Portugal por um escocês de nome Gordon. Fundaram-se duas Lojas. Uma foi imediatamente perseguida pela Inquisição e cessou suas atividades. A outra resistiu até1743. No reinado de D. José I, um monarca liberal, que deixou o governo nas mãos do Marquês de Pombal, a Maçonaria então trabalhou em paz. A situação ficou trágica, quando subiu ao trono D. Maria I, em 1777. Os maçons foram perseguidos sem trégua. Acentuou-se a perseguição durante a Revolução Francesa. Muitos maçons se exilaram. Os que permaneceram em Portugal foram presos ou banidos. Restaram somente cinco Lojas em 1800, constituída de ingleses e franceses, a quem o governo português não ousou perseguir. Em 1802 foi eleito um Grão-Mestre. Em 1804, foi fundada a primeira Grande Loja. Em 1817, foi a Maçonaria proibida em Portugal e nas suas colônias. Essa era a situação em Portugal.

No Brasil, desde 1752, começaram a surgir sociedades secretas, de caráter político e literário. Embora não haja provas de que tais associações fossem maçônicas, crê-se que muitos de seus membros fossem maçons, iniciados na Europa. Entre estas associações estão a Associação Literária dos Seletos, formada no Rio, em 1752; a Academia Brasílica dos Renascidos, também em 1752, na Bahia; a Sociedade Literária (1786-1794), no Rio. Finalmente em 1796, o Areópago de Itambé, em Pernambuco, centro de estudos onde se discutiam idéias de liberdade e de emancipação dos povos e que alcançou grande celebridade.

Em 1797, foi fundada na Bahia a Loja “Cavaleiros da Luz”, tida por muitos como maçônica, mas parece que, na verdade, era uma sociedade política para propagar os ideais republicanos da Revolução Francesa.

O primeiro registro que se tem de uma Loja maçônica regular, no Brasil, data de 1800. Trata-se da Loja União, fundada em Niterói. Tendo crescido rapidamente, transformou-se na Loja Reunião, em 1801, reconhecida pelo Grande Oriente da Ilha de França, subordinado ao Grande Oriente da França. Em 1802, maçons portugueses instalaram em Salvador a Loja Virtude e Razão. Em 1804, o Grande Oriente Lusitano funda no Rio as Lojas Constância e Filantropia, que foram fechadas em 1806 por ordem do Conde dos Arcos, vice-rei do Brasil, que suspendeu todos os trabalhos maçônicos na Colônia. Mencionam-se ainda nessa época, no Rio, as Lojas Beneficência e São João de Bragança, também fechadas por ordem de D. João VI. Outras Lojas funcionaram naquele período, mas de existência tão efêmera, que não mereceram registro. Seu membros, perseguidos pela polícia, mudavam de lugar a cada sessão, acabando por abandonarem as atividades maçônicas.

Em 1813, três Lojas em Salvador fundaram o Grande Oriente Brasileiro, tendo por Grão-Mestre Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. A repressão ao movimento revolucionário pernambucano de 1817 fez cessar seu funcionamento.

Entre 1809 e 1816, uma Grande Loja Provincial teria sido criada em Pernambuco, formada por cinco Lojas. Tinha cunho essencialmente político e preparou a Revolução Pernambucana de 1817. Foi fechada pela repressão.

Em 1815, foi fundada, no Rio, também com objetivo político, a Loja Comércio e Artes, subordinando-se ao Grande Oriente Lusitano. Um de seus fundadores foi Joaquim Gonçalves Ledo, cujo propósito era organizar no Brasil a primeira Loja que seria um centro de propaganda das idéias liberais da época. Importante frisar que, na época, também eram proibidos os partidos políticos.

Com a eclosão da Revolução Pernambucana em 1817, severamente reprimida e em que foram executados muitos patriotas brasileiros, D. João VI expediu Alvaráem 1818, que declarava criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas e determinava pena de morte a seus integrantes e aos que participassem de suas atividades. O alvo era a Maçonaria. Entretanto, vários maçons brasileiros, correndo os riscos inerentes, continuaram seu trabalho político em outros locais, sob a capa de sociedades recreativas e culturais. Exemplo disso foi o Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda, fundado por Joaquim Gonçalves Ledo. Também, com o mesmo objetivo, fundou José Joaquim da Rocha, em sua própria casa, o Clube da Resistência.

Era essa a situação da Maçonaria brasileira, às vésperas do retorno de D. João VI a Portugal: fora da lei, funcionando clandestinamente, em locais improvisados, disfarçada em Clubes e Associações de caráter cultural e recreativo.

Vê-se aqui que pertencer à Maçonaria nos reinos e domínios da Coroa Portuguesa, na época que antecede à Independência, não era algo muito fácil. Uma declaração do Intendente de Polícia no reinado de D. Maria I reitera isto, confessou ele em certa ocasião: “… Desde 1788 combati com vigor o estabelecimento dos franco-maçons neste reino…os membros desta associação infame pertencem a todas as classes da sociedade. As nossas medidas rigorosas reprimiram uns, fizeram abjurar outros e os relapsos foram sentenciados”.

Assim eram considerados os maçons, naquela época: verdadeiros subversivos, tanto em Portugal como no Brasil.

A volta de D. João VI para Portugal, em abril de 1821, permitiu a reorganização da Maçonaria no Brasil, sob a direção de Joaquim Gonçalves Ledo. A Loja Comércio e Artes foi reaberta ainda em 1821, tendo por obediência o Grande Oriente de Portugal. Pesava ainda, porém, sobre os maçons, o Alvará de 1818. Era necessário revogá-lo. Até lá bastava que a Maçonaria fosse consentida e que membros do governo fossem se comprometendo com ela. Entretanto, como a Maçonaria vinha lutando e, então, mais do que nunca, pela independência do Brasil, era necessário que adquirisse autonomia com a fundação de uma Obediência própria, separada da portuguesa.

Em princípios de 1822, a Loja Comércio e Artes tinha em seu quadro 94 membros, número mais que suficiente para se desdobrar em mais duas outras Lojas e assim formar uma Obediência Maçônica brasileira. Foi o que se fez. Criadas mais duas Lojas: a União e Tranqüilidade e a Esperança de Niterói, foi fundado em 17 de junho de 1822 o Grande Oriente Brasiliano. Foram eleitos por aclamação, como Grão-Mestre, José Bonifácio de Andrada e Silva; Grão-Mestre Adjunto, o Marechal Joaquim de Oliveira Álvares, Primeiro Grande Vigilante, Joaquim Gonçalves Ledo e o Padre Januário da Cunha Barbosa como Grande Orador.

Uma vez fundado o Grande Oriente Brasiliano, o Brasil se preparava para a arrancada final que o conduziria à Independência.

Cabem aqui dois pequenos destaques: (1) O GOB fundado nesta ocasião é nomeado em diferentes textos de várias formas, em alguns casos échamado de Grande Oriente do Brasiliano, em outros a palavra Brasiliano é substituída por Brasílico, do Brasil e Brasileiro; (2) O Grande Oriente Brasiliano foi a primeira potência maçônica a ser instalada na América Latina, seguido em curtos intervalos pelas colônias espanholas.

2 – Expoentes Maçons da Independência.

A Independência foi feita por muitos, nem todos eles eram maçons, mas certamente a ordem maçônica contribuiu de maneira intensa e de forma muito qualitativa para a formação do quadro daqueles que levaram a contento este importante feito.

À frente do movimento, agindo de maneira enérgica e participativa, achavam-se muitos Pedreiros Livres de primeira hora, são citados freqüentemente nos livros de história os nomes de José Clemente Pereira, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Joaquim da Rocha, Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, Felisberto Caldeira Brant, o Bispo Silva Coutinho Jacinto Furtado de Mendonça, Martim Francisco, Monsenhor Muniz Tavares, Evaristo da Veiga dentre muitos outros.

No entanto, estes nomes mencionados não incluem os daqueles que foram realmente os grandes arquitetos do Sete de Setembro. Estes são dois e respondiam por Joaquim Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva.

Estes dois homens lideraram os maçons divergindo principalmente com relação à forma como a Independência deveria ser conduzida. Havia, sem sombra de dúvida, uma luta ideológica entre os grupos de José Bonifácio e de Ledo. Enquanto o primeiro defendia a independência dentro de uma união brasílico-lusa perfeitamente exeqüível o segundo pretendia o rompimento total com a metrópole portuguesa, o que poderia tornar difícil atransição para país independente. E essa luta não era limitada, evidentemente, às paredes das lojas maçônicas, assumindo caráter público e se estendendo, inclusive, através da imprensa.

Embora ambos os grupos sempre tenha trabalhado pelo objetivo principal, a disputa entre eles persistiu por tão período longo que, após a Independência, face aos conflitos, D. Pedro mandou, como Grão Mestre e como imperador, que o Grande Oriente fosse fechado. Só em 1831 é que a Maçonaria renasceria no país depois da abdicação de D. Pedro através de dois grandes troncos: o Grande Oriente Brasileiro, que desapareceria cerca de trinta anos depois e o Grande Oriente do Brasil.

Passamos agora a um breve relato biográfico destes dois grandes maçons:

Joaquim Gonçalves Ledo

Gonçalves Ledo nasceu no Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1781. Em 1795, foi para Portugal, onde ingressou na Universidade de Coimbra para estudar Direito. Com a morte do pai, interrompeu o curso, retornando ao Brasil em 1808. Liberal e constitucionalista, sonhava com a libertação do Brasil, nos moldes dos princípios adotados pela Revolução Francesa. Aqui no Brasil continuou a estudar, tendo desenvolvido seus conhecimentos na ciência jurídica a tal ponto que chegou a ser advogado de sucesso. Era orador vibrante e eloqüente. Teve atuação firme, destemida e inteligente na condução e envolvimento da Maçonaria na preparação e consecução da Independência.

Alguns fatos de destaque em sua vida:

· Juntamente com o Padre Januário da Cunha Barbosa, um mês após a reabertura da Loja Comércio e Artes, fundou o jornal “Revérbero Constitucional Fluminense” para divulgar as idéias liberais e libertárias. Foi este o órgão doutrinário da Independência brasileira;

· Quando da fundação do Grande Oriente Brasiliano foi eleito por aclamação Primeiro Grande Vigilante, juntamente, com o Grão-Mestre, José Bonifácio de Andrada e Silva;

· Em conjunto com José Bonifácio e seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, todos maçons e amigos de D.Pedro, foram os principais articuladores do ingresso deste na Maçonaria;

· Em 20 de maio de 1822 dirigiu ao Príncipe a seguinte exortação: “Quando uma nação muda seu modo de existir e pensar, não pode, nem deve tornar a ser governada como era antes da mudança. O Brasil, elevado à categoria de reino, reconhecido por todas as potências (…), tem inquestionável jus a reempossar-se da porção de soberania que lhe compete, porque o estabelecimento da ordem constitucional é um negócio privativo de cada povo. “A natureza não formou satélites maiores que os seus planetas. A América deve pertencer à América, a Europa àEuropa; porque não debalde o Grande Arquiteto do Universo meteu entre elas espaço imenso que as separa. O momento para estabelecer-se um perdurável sistema, e ligar todas as partes do nosso grande todo, é este. Desprezá-lo éinsultar a Divindade, em cujos decretos ele foi marcado, e por cuja lei apareceu na cadeia do presente. “Tu já conheces os bens e os males que te esperam e à tua prosperidade … Queres? ou não queres? Resolve, Senhor”.

· No dia 1 de agosto de 1822 envia a D.Pedro o seguinte manifesto: “Não temais as Nações Estrangeiras: a Europa que reconheceu a Independência dos Estados Unidos da América, e ficou neutra na luta das colônias espanholas, não pode deixar de reconhecer a do Brasil, que com tanta justiça e tantos meios, e recursos, procura também entrar na grande família das Nações. Do Amazonas ao Prata não retumbe outro eco, que não seja de Independência. Formem todas as nossas províncias o feixe misterioso, que nenhuma força pode quebrar”.

· Ignorando o que havia se passado no Ipiranga em 7 de setembro, pois de São Paulo ao Rio gastavam-se cinco dias, o Grande Oriente Brasiliano, em sua 14ª Sessão, realizada no dia 9 de setembro de 1822 (20º dia do 6º mês), e não 20 de agosto, presidida por Joaquim Gonçalves Ledo, aprovou por unanimidade a moção deste que exigia que fosse proclamada nossa Independência.

José Bonifácio de Andrada e Silva

José Bonifácio, como Ministro do Reino, foi a figura principal do Gabinete do Príncipe Regente, D. Pedro. Foi o primeiro brasileiro a ocupar um Ministério. Tinha 59 anos então. Nascido em Santos, foi educado em Coimbra, onde se tornou professor de sua famosa universidade e secretário da Academia de Ciências de Lisboa. Respeitado nos círculos cultos da Europa, havia viajado por quase todos os países do Velho Continente e mantinha relações pessoais com seus mais notáveis cientistas. Era poderosa sua influência sobre o Príncipe D. Pedro e a Princesa Dona Leopoldina.

Embora não fosse tão virulento e manifesto quanto o era Gonçalves Ledo, vários fatos históricos justificam plenamente o título de Patriarca da Independência com o qual Bonifácio é lembrado. Os acontecimentos de 07 de setembro de 1822 foram, comprovadamente, premeditados e conduzidos por José Bonifácio. Em suas Memórias, Antônio de Menezes Vasconcellos Drumond, emissário da Maçonaria nas províncias de Pernambuco e da Bahia relata detalhadamente os acontecimentos que precederam o Grito do Ipiranga e como José Bonifácio os havia conduzido.
Citaremos a seguir alguns dos fatos entre os inúmeros que contaram com a participação de José Bonifácio:

· Foi o primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente Brasiliano eleito por aclamação na data de sua fundação;

· Foi o propositor da iniciação do Príncipe Regente;

· No episódio do Fico, escreve uma vigorosa representação conclamando D.Pedro a permanecer no Brasil. Nesta é possível ler: V. Alteza Real deve ficar no Brasil, quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes, não só para o nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo. Se V. Alteza Real estiver (o que não é crível) deslumbrado pelo indecoroso decreto de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno grupo de desorganizadores, terá que responder, perante o céu, pelo rio de sangue que, decerto, vai correr pelo Brasil com a sua ausência….

· Assim como Gonçalves Ledo, às vésperas da Independência, Bonifácio encaminha um manifesto a D. Pedro. Neste ressalta sem nenhuma inibição a revolta brasileira contra o que houve de mais opressivo nos três séculos de dominação colonial. Convidava todas as nações amigas do Brasil a continuarem a manter com este as mesmas relações de mútuo interesse e amizade. O Brasil estava pronto a receber os seus ministros e agentes diplomáticos e a enviar-lhes os seus.

· Os documentos enviados por Bonifácio a D.Pedro e que o alcançaram na colina do Ipiranga eram: carta de D. João a seu filho, carta da princesa D. Leopoldina, carta de Chamberlain, agente secreto do príncipe, instruções das Cortes, exigindo o imediato regresso do príncipe e a prisão e processo de José Bonifácio jáque era o personagem mais importante do movimento emancipador e carta do próprio José Bonifácio, onde à sua maneira viril, ele dizia:

Senhor, as Cortes ordenaram a minha prisão por minha obediência a V. Alteza. E no seu ódio imenso de perseguição atingiriam também aquele que se preza em o servir com lealdade e dedicação do mais fiel amigo e súbdito. O momento não comporta mais delongas ou condescendências. A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Si parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal e Portugal atualmente não tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente para não dizer quase visivelmente. Si fica, tem V. Alteza contra si o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! Até a deserdação, que dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientissimo do Senhor D. João VI, que as Cortes tem na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a V. Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. Senhor, ninguém maisdo que sua esposa, deseja sua felicidade e ela lhe diz em carta que com esta será entregue, que V. Alteza deve ficar e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem ligações e obediências ás despóticas Cortes portuguesas, que querem a escravidão do Brasil e a humilhação do seu adorado Príncipe Regente. Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe que é V. Alteza, para orgulho e felicidade do Brasil. E si não ficar correrão rios de sangue nesta grande nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já não governa em Portugal, pela opressão das Cortes; nesta terra que tanto estima V. Alteza e a quem tanto V. Alteza estima. José Bonifácio de Andrada e Silva .


3 – O Contexto Histórico

Desde sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica, liberdade administrativa e muito menos liberdade política. Como a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito de protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros. Estes fatos motivaram as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando ainda não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão.

Fora do Brasil, no continente europeu, imperavam as monarquias absolutas. Nas Américas, o colonialismo opressor.

A Independência das colônias norte-americanas em 1776 foi o primeiro acontecimento a inspirar ideais de liberdade nas demais colônias européias da América.

Em 1789 ocorreu aquele que é considerado o mais importante acontecimento da história contemporânea: A Revolução Francesa. Inspirada pelos ideais iluministas, a sublevação do lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” ecoou em todo mundo, pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os valores burgueses.

As idéias condensadas na Ata da Independência Americana e na Declaração dos Direitos do Homem, proclamados pela Revolução Francesa, difundiram-se nas colônias espanholas e na portuguesa do Novo Mundo determinando o despertar de sua emancipação.

Sinteticamente este é o pano de fundo, o ambiente externo, no qual devemos situar o Brasil à época dos fatos que culminaram com a Independência.
Cabe aqui um destaque. Nas colônias espanholas, o grande artífice e comandante do movimento libertador foi o maçom Simón Bolivar. É revelador o fato de que todos os libertadores das colônias americanas foram maçons, a começar por George Washington.

Internamente, no início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreram, então, a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus seguidores; depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas já existentes, de caráter maçônico tais como: “Cavaleiros da Luz” na Bahia e “Areópago de Itambé” na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como pelas ações individuais ou de grupos de Maçons.


Os Fatos:

O processo histórico que conduziu ao movimento à Independência não foi curto. Na realidade uma longa série de eventos conduziu a este desfecho, sendo que em muitos deles houve a intensa participação maçônica já mencionada nos itens anteriores deste texto. De maneira extremamente sintética reproduziremos aqui esta linha do tempo.

· 1789: Inconfidência Mineira, movimento impregnado pelas idéias liberais da época e de franca hostilidade à administração lusitana e seus métodos.

· 1798: Conjuração Baiana ou a Revolta dos Alfaiates, sob a influência da loja Cavaleiros da Luz deu um sentido mais intelectual ao movimento que contou também com uma ativa participação de camadas populares e tinha ideais republicanos e abolicionistas.

· 1808: D. João e toda família real refugiam-se no Brasil em decorrência da invasão e dominação de Portugal por tropas francesas;

· 1808: D. João assina o decreto da Abertura dos Portos, que extinguia o monopólio português sobre o comércio brasileiro. O Brasil começa a adquirir condições para ter uma vida política independente de Portugal.

· 1810: Ocorre a expulsão dos franceses por tropas inglesas, que passam a governar Portugal com o consentimento de D. João.

· 1815: D. João, adotando medidas progressistas, põe fim na situação colonial do Brasil, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, irritando sobremaneira os portugueses.

· 1817- Revolução Pernambucana: movimento de inspiração nitidamente maçônica e republicana. Triunfante, a princípio, foi logo subjugado. Foi chamada a Revolução dos Padres, pois nela estiveram envolvidos aproximadamente setenta clérigos, muitos deles maçons.

· 1818- D. João VI declara criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas.

· 1820: Cansados da dominação e da decadência econômica do país, os portugueses iniciam uma revolução na cidade do Porto culminando com a expulsão dos ingleses. Estabelecem um governo temporário, adotam uma Constituição Provisória e impõem sérias exigências a D. João ou sejam:

1. aceitação da constituinte elaborada pelas cortes;
2. nomeação para o ministério e cargos públicos;
3. sua volta imediata para Portugal.

· 22 de Abril de 1821: o Príncipe Herdeiro énomeado Regente do Brasil;

· 26 de abril de 1821: Com receio de perder o trono e sem outra alternativa, em face das exigências da Corte, D. João VI regressa a Portugal;

· Abril de 1821- A volta de D. João VI para Portugal permitiu a reorganização da Maçonaria no Brasil, sob a direção de Joaquim Gonçalves Ledo.

· 1821: Dois decretos das Cortes Gerais portuguesas, são editados na tentativa de submeter e inibir os movimentos no Brasil. Um reduzia o Brasil da posição de Reino Unido à antiga condição de colônia; o outro, considerando a permanência de D. Pedro desnecessária em nossa terra, decretava a sua volta imediata.

· 11 de setembro de 1821: Surge o jornal, “Revérbero Constitucional Fluminense”, redigido por Gonçalves Ledo e pelo Cônego Januário, que teve grande influência no movimento libertador;
24 de dezembro de 1821: é redigida a representação dos paulistas pelo Maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, incitando D.Pedro a ficar no Brasil;


O Ano de 1822

· 9 de janeiro de 1822: Dia do Fico, quando, depois de considerar as manifestações, o Príncipe responde: “estou pronto, diga ao povo que fico”. Este episódio, marcou a primeira adesão pública de D. Pedro a uma causa brasileira.

· 16 de janeiro: José Bonifácio foi nomeado Ministro do Príncipe Regente D.Pedro.

· 14 de maio: o título oferecido ao Príncipe de “Defensor Perpétuo do Brasil”;

· 20 de maio: Gonçalves Ledo dirigiu ao Príncipe uma e exortação à Independência;

· maio de 1822: Aconselhado pelo então seu primeiro ministro das pastas do Reino e de Estrangeiros, José Bonifácio, D. Pedro assina o Decreto do Cumpra-se, segundo o qual só vigorariam no Brasil as Leis das Cortes portuguesas que recebessem o cumpra-se do príncipe regente;

· 2 de junho de 1822: Em audiência com D. Pedro, o Irmão José Clemente Pereira leu o discurso redigido pelos Maçons Joaquim Gonçalves Ledo e Januário Barbosa, que explanavam da necessidade de uma Constituinte. D. Pedro comunica a D. João VI que o Brasil deveria ter suas Cortes. Desta forma, convoca a Assembléia Constituinte para elaborar uma Constituição mais adequada ao Brasil. Era outro passo importante em direção à independência;

· 17 de junho de 1822: a Loja Maçônica “Comércio e Artes na Idade do Ouro” resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro. O que leva à criação do “Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano”;

· 29 de julho: passa a ser editado o jornal “Regulador Brasílico-Luso”, depois denominado, “Regulador Brasileiro”, redigido pelo Frei Sampaio, que marcou também sua presença e atuação no movimento emancipador brasileiro;

· 1 de agosto: Lançado o Manifesto de Gonçalves Ledo;

· 2 de agosto: por proposta de José Bonifácio, é Iniciado o Príncipe Regente, D. Pedro, adotando o nome histórico de Guatimozim (ultimo imperador Asteca morto em confronto com os colonizadores), e passa a fazer parte do Quadro de Obreiros da Loja “Comércio e Artes”;

· 5 de agosto: por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência dos trabalhos, foi aprovada a Exaltação ao Grau de Mestre Maçom. Portanto foi jásendo Maçom que o Príncipe, no mesmo mês de agosto de 1822 , tomou a medida mais dura em relação a Portugal, declarou inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil sem o seu consentimento.

· 6 de agosto: Lançado o Manifesto de José Bonifácio;

· 14 de agosto: D. Pedro, acompanhado de pequena comitiva, viaja para São Paulo com o propósito de apaziguar os descontentes em São Paulo, aonde chega a 25 e érecebido com grandes pompas.

· 5 de setembro: D.Pedro de São Paulo se dirige para Santos, de onde regressou na madrugada de 7 de setembro. Encontrava-se na colina do Ipiranga, às margens de um riacho, quando recebe as cartas enviadas pelo seu primeiro ministro José Bonifácio. D. Pedro, após tomar conhecimento dos conteúdos das cartas e das notícias trazidas pelos emissários, pronunciou as seguintes palavras: “As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal”.


Bibliografia:

Este trabalho foi elaborado tendo como base a bibliografia listada abaixo, sendo que dela foram retirados as idéias centrais, referências e inclusive transcrições literais.

1.A Criação do Grande Oriente e a Independência do Brasil. José Castellani
2.A Independência e o Império do Brasil. Melo Morais
3.A Maçonaria e a independência Brasileira. Tito L. Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira
4.A Maçonaria e a Independência do Brasil. Fuad Haddad
5.A Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução. Morival de Calvet Fagundes
6.A Maçonaria na independência do Brasil. Teixeira Pinto
7.A Maçonaria no Brasil e a Independência. Lauro Della Monica
8.História do Grande Oriente do Brasil. José Castellani
9.José Bonifácio – O Dínamo da Independência. José Castellani
10.Os Maçons e a Independência do Brasil. João Alberto de Carvalho
11.Os Maçons na Independência do Brasil. José Castellani


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