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Sitra Achra

Uma Ode à Curiosidade

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Desmascarando a Onisciência Divina (ou Revelando seu Sadismo)

“A curiosidade é o que diferencia o homem superior do medíocre. Na verdade, há apenas duas classes de homens: os despertos e os adormecidos; os primeiros são aqueles que já acordaram do sono bruto da indiferença, no qual os outros ainda estão miseravelmente imersos. Um sono imbecilizante, que os faz crer que a vida se resume à meia dúzia de funções orgânicas, exceto a mais nobre: a de usar os seus próprios cérebros para criar algo de belo, que os torne felizes como um deus. E isto somente alguém dotado de curiosidade pode fazer, ou seja, alguém desperto.”
– Diálogo entre Odin e Loki em “As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica”, de A.S. Franchini & Carmen Seganfredo

 

Ela foi, é e sempre será a grande e principal mola propulsora, a força motriz por trás da evolução da humanidade. Mais do que isso, na verdade se não fosse por ela sequer existiríamos, e não sou eu quem diz, mas a Bíblia – já explico. De quem eu estou falando? Sim, é claro, da curiosidade. Devido ao presente de Prometeu, o intelecto (que infelizmente nem todos parecem ter recebido), é natural do ser humano perguntar-se coisas como “de onde viemos?”, “quem somos?”, “para onde vamos?” e “qual é o sentido da vida?”. Alguns satanistas dizem que as crianças são satânicas por natureza – veja bem, satânicas, não satanistas. Uma tal afirmação com certeza soa absurda e escandalosa para os leigos, mas se pararmos para pensar é muito fácil compreender o porquê dela. Qual é a principal característica das crianças além da demanda pela satisfação imediata dos desejos, “desembaraçada de propósito e livre da ânsia de resultado”? A curiosidade, a vontade de conhecer o mundo e como ele funciona. Elas querem saber os porquês da vida e são questionadoras por natureza – e não deve ser exatamente esta uma das principais características de um satanista? E, ao contrário do que tantos ingenuamente pensam, é a curiosidade, e não o sexo, o verdadeiro pecado original. Nada corrobora tanto este fato quanto a perseguição religiosa da qual a Ciência foi e, em alguns casos, continua sendo vítima – isto sem falar, é claro, que ciência e fé são opostos, porque fé é acreditar enquanto ciência é saber. As religiões sempre censuraram ou mesmo combateram a curiosidade porque é ela que conduz ao questionamento e, assim, às verdades que elas tentam ocultar tapando o sol com a peneira. LaVey não poderia estar mais certo, a dúvida é o maravilhoso vão por onde escorre a verdade, e por isso mesmo, o primeiro degrau da iniciação satânica, como nos aponta Morbitvs Vividvs em seu Lex Satanicus. Alguns poderiam argumentar que o pecado original não foi a curiosidade mas a desobediência a deus, mas acontece que foi justamente a curiosidade a causa de tal desobediência. Outros também poderão dizer, e com certa razão, que o pecado original foi a curiosidade misturada ao orgulho e ambição – no caso, a ambição de igualar-se a deus. Mas seguramente também poderíamos dizer que tratava-se da ambição pelo conhecimento, ambição de saber, o que nada mais é do que um eufemismo para a curiosidade. Evidentemente, com o passar do tempo a curiosidade que nos era antes tão natural quando crianças é suplantada por outras preocupações. Para suas dúvidas existenciais, religiosas e filosóficas, a maioria acaba aceitando as respostas prontas – e bem esfarrapadas – que nos são oferecidas ou, às vezes, infelizmente empurradas goela abaixo. Esta lamentável aceitação passiva deve-se, essencialmente, à preguiça de procurar as suas próprias respostas ou ao medo de não encontrá-las – e é claro, também não podemos esquecer o “medo de ser diferente” que habita a alma dos medíocres. Outros simplesmente não se importam e se conformam com a ausência de respostas, esperando para descobrir a Verdade Suprema ao morrer. Mas deixar para descobrir o sentido da vida somente após a morte me parece algo, no mínimo, arriscado – você não acha?

É claro, quando o assunto é “o sentido da vida”, não podemos descartar a possibilidade dela não ter sentido algum, o que tornaria a busca por ele um desperdício da própria vida. Complicado, não? Bem, talvez justamente por isso a maioria das pessoas simplesmente evite pensar no assunto, assim como na morte. Parece que as pessoas não gostam de pensar em problemas que não possam resolver, afinal eles muito claramente expõem a impotência e a incapacidade humanas perante muitas coisas. Muitos, certamente, se ultrajarão diante da possibilidade de suas vidas não terem sentido algum, e veementemente afirmarão que decidem o sentido das próprias vidas – como conquistar alguma coisa, etc. Mas, ora, se você precisa dar algum sentido à vida, é porque ela não possui nenhum.

Mas apesar de tudo isso, no coração de alguns poucos permanece um estranho anseio indefinido, uma incômoda inquietação que não cessa, uma chama que não se apaga: é a sede de saber, a vontade de conhecer mais sobre si mesmo e o Universo. É engraçado, mas podemos dizer que os cientistas e ocultistas se mantém eternas crianças, pois nunca deixam de ser curiosos, cada qual à sua maneira tentando descobrir, afinal, qual é a verdade – antes de morrer, é claro, se não o jogo perde a graça. Estes, não contentes com o que lhes é oferecido, bravamente partem em busca de suas próprias respostas, provas e experiências. É uma viagem solitária, extenuante, de paisagens nem sempre agradáveis, mas algo mais forte os impele na direção de sabe-se lá o quê. Todo buscador tem um quê de masoquista, pois vive a se torturar com as próprias perguntas.

Não nos seria muito mais fácil preocuparmo-nos apenas com nossos afazeres mundanos do que com o sentido da vida e toda essa baboseira? Mas, como dito no início deste ensaio, se não fosse pela curiosidade de um famoso casal, sequer existiríamos. Prometi explicar, e àqueles que ainda não entenderam (poucos, espero!), explicarei agora.

Os cristãos podem dizer que a Serpente do Éden, que tentou Eva com a maçã, era o Diabo disfarçado, mas uma coisa eles não podem negar: sem ela, eles não estariam aqui agora. Ou melhor, nem aqui nem em lugar algum, pois simplesmente não existiriam! Aliás, isso cria uma perspectiva no mínimo inusitada, não? Pois, se levarmos isto ao pé da letra, como tantos cristãos fazem, então na verdade deus criou apenas Adão e Eva, e o responsável pela criação da raça humana é… sim, o Diabo! Algumas pessoas podem se sentir profundamente ofendidas e aturdidas com tal idéia, mas não podem negar sua lógica óbvia, pura e simples. Talvez sejamos realmente um acidente, fruto do acaso – isto é, não estava nos planos de deus que nós existíssemos!

Mas dizem que deus é onisciente, ou seja, sabe e conhece absolutamente TUDO. Este TUDO obviamente inclui o passado, o presente e o futuro, caso contrário não seria TUDO e não seria onisciência. Se formos acreditar nisto, então a conclusão evidente é que a chamada “Queda” era o plano de deus desde o princípio. Se deus não queria que o homem provasse da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, então por que a teria criado? O mesmo questionamento, logicamente, aplica-se também à criação da Serpente. Se ele for mesmo onisciente, então sabia muito bem que Adão e Eva sucumbiriam à tentação e isto não foi motivo de nenhuma surpresa ou desagrado.

Pense um pouco.

Bem, como você pode ter imaginado, isto só nos deixa duas possibilidades:

1ª. Ou deus não é onisciente (portanto não é “deus”, mas um impostor) e cometeu um erro ao criar e falar sobre a Árvore – pois esta possibilitou a Adão e Eva assemelharem-se a ele, o que o desagradou bastante, tanto que os expulsou do “Paraíso” como punição, pois se diz que caso também provassem da Árvore da Vida (sim, haviam duas árvores), a transformação em deuses seria completa;

2ª. ou é onisciente e sua “estratégia”, por assim dizer, teve como objetivo apenas infundir culpa no homem – uma atitude certamente um pouco sádica, não? É como dizer para uma criança que você colocou doces em tal lugar, mas não devem ser comidos. Ora, se você não quer que sejam comidos por que revelou exatamente onde estão? Bem, não é preciso ser um gênio para entender: tal sujeito é um canalha que se compraz em aplicar castigos e provocar sentimentos de culpa, remorso, arrependimento, vergonha, etc. E não é assim que a maioria das pessoas se sente em relação ao fruto proibido, isto é, o sexo? O homem se julga muito evoluído, livre e esclarecido, mas em pleno séc. XXI ainda se envergonha de seu corpo. Por quê? Por razões religiosas! Lembrem-se que “só aqueles que são como crianças adentrarão o Reino dos Céus”, isto quer dizer: só aqueles que não se envergonham de seus corpos. E o mais triste e irônico nisso é que, como já foi dito, o sexo é apenas uma alegoria, uma metáfora, pois a verdadeira tentação, o impulso mais forte no homem, é o desejo pelo conhecimento. Esta é a maior aspiração da humanidade, ou não teríamos chegado onde estamos, enviado sondas ao espaço e etc. A coisa mais proibida que existe não é o sexo, é o conhecimento, pois o conhecimento traz poder!

Também é dito, é claro, que deus é onipresente; ou seja, está em toda parte. Assim sendo, ele estaria também presente na Serpente tentadora, o que vai de encontro à possibilidade da Queda ter sido mesmo sua intenção.

Mas voltando à onisciência, o mais curioso é que, para uma mente bastante atenta e analítica, a própria Bíblia põe em cheque a suposta onisciência de deus – ou se não esta, então sua “bondade” (pois é, acho que esqueceram de retirar esta parte!). Do que eu estou falando? Eu estou falando de Abraão e do teste ao qual este foi submetido por deus, em Gênesis, cap. 22. Ora, antes de mais nada, se deus for realmente onisciente, não deveria ele já saber de antemão o resultado de todo e qualquer teste, assim eliminando a necessidade de realizá-lo? Não obstante, é bastante popular o episódio da Bíblia onde deus, por algum motivo desconhecido, decide testar a obediência e fé de Abraão ordenando-lhe que sacrifique seu próprio filho, Isaque. Abraão deve ter hesitado, supomos, mas por fim parte para cumprir a terrível ordem. Porém, antes do momento derradeiro, deus avisa-o que não é necessário sacrificar seu filho, pois ele só estava testando-o. Novamente, só nos restam duas explicações para a atitude de deus nesta situação:

1ª. Ou deus é onisciente e totalmente SÁDICO – pois o sofrimento pelo qual passou Abraão foi, nesse caso, desnecessário.

2ª. Ou deus simplesmente não é onisciente. E mesmo nesse caso, continua sendo sádico, além de inseguro e vaidoso. Afinal, que tipo de ser exige que alguém mate o próprio filho como prova de obediência e lealdade? Se esse deus existe, deve ser o maior monstro do Universo. Mas como se isto não bastasse, em Mateus 10:34-37 se lê: “Não julgueis que vim trazer paz à Terra, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim.”

Sim, as pessoas deveriam mesmo ler mais a Bíblia, para conhecerem melhor e saberem como é o deus que tanto louvam, para contemplarem sua verdadeira e repugnante face! Perante tantas evidências, é difícil não concordar com os gnósticos (para maiores detalhes a respeito, recomendo a leitura do artigo “Deus é o Diabo: Jeová como o Senhor das Trevas”). Dizem que devemos conhecer nossos inimigos, mas devemos mais ainda conhecer aqueles que julgamos nossos “amigos”.

Como vocês podem ver, a questão da onisciência divina apresenta muitos problemas. Mas o maior e mais óbvio deles (e que mesmo assim a imensa maioria parece não perceber), diz respeito ao destino. Se existe algum ser com a capacidade de ser onisciente, isto automaticamente significa que TODO o futuro já está escrito, e não passamos de meras marionetes, atores que mesmo sem saber cumprem à risca seu roteiro. Isto não seria tão ruim, mesmo privados do livre arbítrio, se tal roteiro reservasse a felicidade a todos, ou pelo menos algum grau dela. Mas observemos o mundo ao nosso redor; assista ou leia um jornal e você perceberá que este, evidentemente, não é o caso. Se existe um roteiro escrito por um deus todo-poderoso, ele distribui o papel de mendigos esfomeados a uns, e o de reis a outros. Com que critério? Bem, se você não acreditar em reencarnação e livre arbítrio – o que anula a onisciência – então não há critério algum, ficando tudo, como dizem, “a gosto de deus”. Você pode nascer no seio de uma família real, ou num verdadeiro inferno sobre a Terra onde as pessoas têm de se alimentar até com seus próprios excrementos. Isso sem falar nos portadores de necessidades especiais. Ou seja, quanto ao nascimento, nossa única esperança de justiça é o Karma. Se reencarnação e Karma não existirem, então somos todos vítimas do acaso – ou do “humor de deus”. E, pior do que isso, talvez não haja sequer sombra de justiça no Universo. Pois, sem Karma nem lei de talião (a do “olho por olho”), o que nos resta é apenas um arremedo de justiça. E em alguns casos, nem mesmo a lei de talião seria suficiente para fazer verdadeira justiça: Uma pessoa pode ser responsável por diversas mortes, mas logicamente só pode ser morta uma única vez. Assim sendo, já que são a única chance de justiça plena, espero que reencarnação e Karma existam, mas não posso deixar de pensar numa questão que considero, no mínimo, bastante perturbadora: Se reencarnação e Karma existem, então por que vemos tantas pessoas de má índole nascendo em posições altamente privilegiadas? O homem tende fortemente a acreditar no que lhe for mais conveniente, mas tal crença, infelizmente, nem sempre condiz com a verdade.

O Slayer afirmou que “deus odeia a todos nós”, mas não se preocupem, pois isto, evidentemente, não pode passar de uma meia-verdade. No máximo, ele odeia alguns de nós, reservando-lhes miséria e desgraça, enquanto favorece a outros, reservando-lhes riqueza e alegria (Óh injusta e cega Fortuna!). Por uma coincidência verdadeiramente impressionante, o álbum que leva o título supracitado, “God Hates Us All”, foi lançado no mesmo dia dos atentados terroristas às Torres Gêmeas – se é que foram atentados terroristas (a respeito disto, sugiro que leiam “11 de Setembro: Dia da Mentira”). Se deus é onipotente e benevolente, por que nada faz para evitar que o mal seja causado a pessoas inocentes? Não deve o pastor zelar por suas ovelhas? Não deve ele proteger e cuidar de seu rebanho? Não deveria deus reservar o mal apenas aos maus e recompensar os bons? Mas quem já ouviu falar de algum malfeitor que morreu atingido por um raio?

Se há um deus onisciente que escreveu o destino, então os religiosos estão mesmo certos ao afirmar que tudo o que existe e acontece no Universo é obra e vontade sua – pois “nenhuma folha cai das árvores sem a permissão de deus”*. Mas muitos parecem ignorar, voluntariamente, que isto inclui não só as coisas maravilhosas e sublimes mas também as indescritivelmente horrendas. Para isso, é claro, eles inventaram o Diabo e o responsabilizaram por todo o mal do Universo. Mas por que deus criou o Diabo? Ora, para essa pergunta todos os religiosos têm uma resposta na ponta da língua: O Diabo quando foi criado era um anjo, que só depois rebelou-se, etc. Assim, pensam eles que não podemos afirmar que deus criou o mal, que não podemos responsabilizar deus pelo mal. Bem, parece que eles estão se esquecendo de um “pequeno detalhe”, e ironicamente na verdade estão blasfemando contra o deus que tentam defender. Pois, ao darem tal resposta, estão dizendo, sem perceber, que deus não é onisciente. E sendo onisciente, não deveria deus saber que aquele anjo rebelaria-se e tornaria-se o “causador de todo o mal”? Estamos cansados de saber que o Diabo é um bode expiatório, mas ele ser um bode expiatório até mesmo para deus é uma nova perspectiva surpreendente, não é?

Muitos podem dizer que o mal não é obra de deus, mas resultado do mau uso do livre arbítrio. Estes, equivocadamente, afirmam que deus deu o livre arbítrio ao homem, portanto é importante frisarmos que o livre arbítrio e a onisciência são completamente incompatíveis, mutuamente excludentes, ou seja, se um existe, o outro não existe! Por quê? Porque a onisciência implica em saber tudo o que vai acontecer no futuro, enquanto que o livre arbítrio impossibilita qualquer previsão e vice-versa. Ou seja, se o homem tem livre arbítrio, não existe um deus, posto que uma das principais características deste, obrigatoriamente, deve ser a onisciência. Ou melhor, nesse caso, o homem tendo livre arbítrio torna-se seu próprio deus, autor do próprio destino. Assim, talvez a aspiração de Lúcifer já tenha se concretizado, só não tenhamos percebido. Não foi à toa que Crowley disse “não há deus senão o homem”. Muitos riem desta afirmação e consideram-na uma grande blasfêmia porque são incapazes de compreendê-la. Se o homem for dono de seu destino, “apenas” isto já basta para torná-lo deus, não é preciso lançarmos raios pelas mãos, ter poderes de super-herói. (Mas cá entre nós, talvez até tenhamos, só não saibamos, pois o homem utiliza apenas uma pequena parte de seu cérebro. E mesmo utilizando somente esta pequena parte, ele já foi capaz de fazer coisas antes tidas como “impossíveis”, então…)

Por fim, não posso deixar de me perguntar: Se deus é onisciente e absolutamente tudo é pré-determinado por ele, então ele predeterminou que eu escrevesse este texto “blasfemando” contra ele? E que você o lesse? Bem, se for assim, parece que deus não só é sádico como também um pouco… masoquista, digamos. Sim, já posso ouvir muitos dizendo que deus me deu o livre arbítrio para fazer e dizer o que eu quiser, mas, pobres tolos, não percebem que, como eu acabei de explicar, se alguém tem livre arbítrio, então deus não existe. Alguns dirão que eternamente arderei no Inferno por conta destas palavras, outros que deus, em sua infinita bondade, me perdoará. Novamente, pobres tolos! Como um ser que pré-determinou TUDO pode ser desobedecido e afrontado? TUDO o que acontece é de SUA VONTADE! Se existe um destino determinado por deus, ele é inescapável, ou então não é destino, não é digno de assim ser chamado – e o mesmo se aplica a deus. Como disse Bakunin: “A existência de deus implica necessariamente a escravidão de tudo abaixo dele. Assim, se deus existir, só haveria um meio de servir à liberdade humana: seria o de deixar de existir.”

Também não posso deixar de me lembrar do que, muito sabiamente, afirmou LaVey na introdução de “Os Rituais Satânicos”:

“Os religiosos fortaleceram Satã em seu papel de bode expiatório, enquanto mantiveram-no alimentado e à mão para as necessidades deles. Agora são eles que se enfraqueceram e atrofiaram enquanto Satã quebra suas correntes. Agora a raça de Satã pode falar por Ele, e ela tem uma arma projetada para aniquilar as medíocres e insípidas lamentações nas armadilhas do velho púlpito. Esta arma é a LÓGICA.”

Não, nós não somos os donos da verdade, apenas seus buscadores e arautos, por mais desagradável que ela possa ser. E para uma mente sã, suficientemente forte e honesta consigo mesma para reconhecê-la, a inevitável e irrefutável conclusão final é que deus é (para dizer o mínimo e manter a classe) injusto e sádico, ou então não existe. Os que disto não se apercebem, ainda estão miseravelmente imersos num profundo sono imbecilizante. Talvez, melhor para eles. Pois como dito em Matrix, nem todos estão preparados para acordar. Nossa realidade pode não ser a do filme, mas é tão aterradora quanto. Pois, como já foi explanado, ou vivemos sob a tirania invencível de um deus injusto e sádico, ou não há deus algum senão o homem e este ainda não descobriu isto – e parece que não vai descobrir tão cedo. Então, no fundo, nossa realidade não é tão diferente, pois apesar de tantos avanços tecnológicos e científicos, a humanidade ainda vive mergulhada na mais completa ignorância de sua real condição – seja esta a de escravos do destino imposto por deus, ou deuses com livre arbítrio. Até quando?

E sabem o que é mais irônico? Se alguém diz que não crê em deus (ou num deus bom), boa parte do mundo olha-o com desconfiança, como um grande candidato a mau caráter. Afinal, uma pessoa que não crê em deus deve ser desprovida de qualquer noção de certo e errado, bem e mal, não? Pois, para ela, nada é pecado! Mais do que isso, por alguns ela será enxergada como um elemento perigoso e temido. Esquecem-se estes, que muitos dos maiores massacres da História foram perpetrados por homens que acreditavam em deus. Não obstante, aos que ainda insistem em pensar assim, não posso deixar de dar-lhes uma sugestão:

A de visitar uma cadeia e perguntar quantos dos presos acreditam em deus.

*Ao contrário do que muitos pensam, tal afirmação não consta na Bíblia, mas é um dito popular baseado em Mateus 10:29-31. Seu significado, entretanto, não deixa de ser o mesmo da passagem citada:

“Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; bem mais que os pássaros valeis vós.”

E na verdade, tal dito popular encontra-se num trecho do Alcorão:

“Ele possui as chaves do incognoscível, coisa que ninguém, além d’Ele, possui; Ele sabe o que há na terra e no mar; e não cai uma folha sem que Ele disso tenha ciência; não há um só grão, no seio da terra, ou nada verde, ou seco, que não esteja registrado no Livro da luz.” – 6ª Surata, versículo 59

Por Fenix Konstant


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