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Neste texto serão feitas diversas distinções como, por exemplo, corpo físico e corpo astral. Em primeiro lugar quero dizer que não acredito nestas divisões. Essa dicotomia é somente necessária para uma explanação mais precisa. O mundo físico e o mundo astral não são dois, são um. No entanto pela limitação de nossos sentidos essa divisão é feita. Assim como o ser humano classificou a si mesmo em várias partes: sistema respiratório, sistema digestório, estrutura óssea; também durante os milênios de nossa existência criamos alguns padrões de classificação da vida humana como um todo. Estas divisões entretanto são meramente didáticas.
A primeira destas divisões é a mais óbvia parte do conjunto que constitui o ser humano: é o seu corpo material. É aquilo que sobra de um ente após sua morte. Na tradição Vodu, recebia o nome de Corps Cadavre, no Egito antigo recebia o nome de Khaibit. Atualmente é conhecido simplesmente como Corpo Físico.
Com o passar do tempo a experimentação do corpo com o mundo físico e os outros seres viventes criou um duplo de si mesmo através de sua própria personalidade. Este agrupamento de hábitos, memórias, sensações e vontades formam juntos aquilo que cada pessoa chama de Eu. Este é o Eu mutável que os Hindus chamavam de Jiva, os egípcios nomearam-lhe como Ka, o duplo que era dito pairar sobre os túmulos de forma que é facilmente relacionado com o duplo astral que todos nós possuímos. Jung postulou para a psicologia moderna que o Ego é o constructo interno formado pela vivência do indivíduo, e este o nome que iremos usar neste trabalho.
Mas se este Eu é mutável, quem sou realmente Eu? A pergunta aflige humanos há milênios e nomes foram dados para este Eu Absoluto e imutável. O Eu com nome no cartório, estado civil, carteira assinada e time do coração não é seu Eu verdadeiro. O Eu que tem religião, partido político não é o Eu absoluto. E principalmente, o Eu que vive automaticamente sua rotina fisica/emocional não é o Eu Superior. Os sacerdotes egípcios o chamavam esse Eu verdadeiro de Akh, e o representavam como um íbis de crista que simbolizava o estado de morte glorificado, a parte que poderia sobreviver ao mundo físico e coabitar com os deuses. Os hindus chamavam esta mente imutável e imortal como Atmã e muitos ocultistas chamam o eu Supremo de Self.
Basicamente todas as teorias do pós-morte desde o Antigo Egito seguem o seguinte modelo com algumas poucas variações; O Corpo físico definha, (por doença, acidentes ou desnutrição ) e a “alma”, formada pelo Ego e pelo Self, de repente, se vê sozinha.
Qualquer estudante de ginásio sabe que se não há trabalho sem energia, não há vida sem energia. A própria consciência faz parte do universo entrópico no qual vivemos. Desta forma, um homem ou uma mulher que não comam ou respirem certamente verão o seu corpo definhar em fraqueza até que se decomponha e se torne algo diferente do corpo que conhecíamos. A entropia é o estado natural do universo, e a vida é uma constante luta, em última instância sempre inútil, de nadar contra essa corrente.
Logo que nasce seu primeiro ato no mundo é uma profunda respiração que preencherá seu corpo com as primeiras cargas de energia. Nutriremos nosso corpo de formas variadas a partir de então para garantir que nosso manto de carne viva mais um dia. Esta energia recebeu diversos nomes na história: Prana, N’âme e Vitae são apenas alguns exemplos disto que metaforicamente é representado pelo Sangue. Vida é portanto dependente de energia.
O corpo físico foi por muito tempo visto com maus olhos. Os seres humanos foram ensinados a odiar seus mantos de carne. É comum algumas tradições o chamarem de prisão, correntes ou mais hipocritamente de “um mal necessário”, dizendo que a alma se sente livre quando deixa para trás tal fardo. Esta visão é típica de filosofias anti-naturais e hipócritas que desprezam a vida. A verdade é que o corpo é naturalmente a pedra angular na qual se sustenta nosso ser. Por esta razão eu sempre convido quem maldiz a carne a livrar-se de uma vez do seu problema e parem de reclamar.
Algumas tradições ocultas nos fornecem pistas de como o corpo físico pode ser na verdade a fonte de energia que mantém o Ego forte e saudável. Quem quer que já tenha ficado mais de uma noite sem dormir sabe do que estou falando. Durante certas horas de sono o Ego ou Duplo se destaca do seu Manto de Carne. Nessas fases essenciais a energia acumulada pela nutrição do corpo retirada do mundo físico é transferida para os outros aspectos do ser. Não é a toa que sentimos um sono natural após as refeições.
[MUNDO FÍSICO] —-(vitae)——> [CORPO] —–(vitae)—–> [EGO -SELF]
A MORTE
Voltando ao assunto, na morte o Ego se vê subitamente privado da fonte que lhe fornecerá energia durante toda a sua existência e na falta de “recarga” em alguns dias estará morto também. De fato, na China a morte significava a dispersão da força vital nomeada como Chi. Tal perspectiva criou neste povo um grande interesse na conservação e bem desfrutar desta energia. Com a morte há um corte no fornecimento da energia e o Ego em condições normais vive somente mais algum tempo.
É por isso que alguns grupos, dentre eles os espíritas e os hindus, aconselham que se espere um certo número de dias antes de se cremar o cadáver, prevendo a perturbadora experiência que poderia vir a ser ver o próprio corpo ser consumido pelas chamas. No Vodu é dito que por um período de uma semana após a morte o espirito do falecido fica vulnerável as artes dos feiticeiros, após isso o chamado Gros bonange (Grande Anjo) está livre, pois toda a personalidade morreu junto com o Ti Ange (Pequeno Anjo).
Este esquema é relembrado em várias tradições. Na Grécia antiga aquilo que aqui chamamos de Ego era composto de Timo (Emoções) e Nous ( Intelecto). Era dito que esta parte da mente deixava de existir após a morte do corpo enquanto a psique perambulava pela terra ou era levada até Hades. Como podemos ver facilmente o testemunho dos séculos é o mesmo, mudando-se apenas a terminologia e a forma como lidar com eles. Com a morte do Corpo físico e da conseqüente desintegração do Ego, o Self está então novamente sozinho em seu estado original e o que acontece com ele já é um assunto que deixarei para outra oportunidade. É importante notar que o corpo físico e o Duplo podem ser reconhecidos por experiências diretas respectivamente no dia a dia e em projeções astrais enquanto que o Self é quase como invisível. Há a possibilidade, inclusive, dele ser só uma metáfora para a volta e reintegração dos elementos que formavam o corpo físico e o Duplo astral ao mundo do qual vieram.
O que quer que ocorra com o Self, agora ele está em seu estado original de pureza e o ser que ia ao cinema, gostava de mulheres em calcinhas vermelhas e sabia de cor algumas frases de Willian Blake teve sua chama apagada e já não existe mais.
A MORTE DA MORTE
O Ser humano têm se destacado dentre os animais por ser o filho ‘respondão’ da mamãe natureza. Ela disse “Não terás grande pelugem como seus irmãos animais” e na primeira brisa cobrimos nosso corpo com a carcaça dos mesmos. Ela disse “Ficarás no escuro” e logo pontos brilhantes iluminavam as florestas que era nosso lar. Ela disse “Não voaras” e fizemos questão de cortar os ares com nossos aviões. A regra é que frente a um desafio destes, arrancamos a espada da própria mão da natureza e a subjulgamos com suas próprias armas. E ela disse “Não viveras para sempre!”, advinha o que faremos?
É claro que em grande escala o universo têm um fim, o próprio planeta terra deve acabar muito antes disso acontecer. Mas mesmo assim por todas as culturas têm-se ouvido histórias de seres que viveram depois da morte. Muitas lendas foram criadas. Lendas, o cínico pode afirmar, não passam de lendas. Mas onde há fumaça há fogo. Abaixo coloco uma teoria de como isso possa ocorrer.
Foi dito que o Ego é alimentados pelo corpo e com a morte deste corpo ele definha, desintegrando-se em não existência. Como uma lâmpada incandescente que se apaga aos poucos ao ter sua fonte de energia cortada, como os dados de um disco rígido de computador que vão se corrompendo e se apanhando quando o disco perde sua energia magnética. Tendo sua fonte de vida e energia cortadas o corpo fica sem outra opção além de esperar o próprio declínio e retorno ao Todo. Certo?
Errado. Em algum momento da história pela primeira vez (e o padrão certamente então se repete até hoje em casos espalhados pelo globo) um ser fez o impensável. Se recusou a morrer.
A idéia no fundo é realmente bem simples. Partindo da lógica que o Ego é alimentado pelo corpo é de se supor que há certa quantidade de vitae acumulada no Ego (acumulo que inclusive permite a vida do Ego mesmo após alguns dias da morte do corpo). É como uma barra de ferro que passa um tempo recebendo energia de uma fogueira e de repente vê a fogueira extinta, ela permanece quente por algum tempo, aquela energia que recebia não desaparece de uma hora para outra. E se há energia acumulada no Ego sem corpo, claramente há energia no Ego que ainda mantêm suas ligações com o Mundo físico. O que o Corpo astral faz é então atacar o corpo astral dos vivos e garantir energia para mais um período de vida. O esquema abaixo tenta passar o conceito:
[EGO – SELF]
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(vitae)
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[MUNDO FÌSICO]—(vitae) —->[CORPO] —(vitae)—- >[EGO – SELF]
Como a drenagem é feita, depende da técnica usada que pode ser fruto do instinto de sobrevivência do agora Vampiro ou fruto de técnicas desenvolvidas e treinadas durante a vida física do mesmo. Sendo a noite o período que a maioria das pessoas dorme e portanto recarrega seus corpos astrais com a energia colhida graças a seus corpos físicos, é a noite que as drenagens geralmente ocorrem. A pessoa atacada pode ter visões do astral em seus próprios sonhos e se sentir ameaçada, fato que pode ter dado origem a toda a sorte de lendas sobre os vampiros.
Pode ser alegado agora que seria possível se utilizar dessas técnicas para poder viver no mundo físico sem a necessidade de alimentação ou qualquer outro tipo de nutrição. O autor não nega essa possibilidade, mas lembra que grupos como Temple of Azathoth e Temple of The Vampire defendem que há uma transformação da energia quando esta é transferida do corpo físico para o astral nas horas de sono. Enquanto uma é química a outra é mais sutil, e se a re-transformação desta energia sutil captada no astral para a energia química do corpo não for possível então realmente esta possibilidade está descartada.
Mas neste aspecto é notório que existem relatos no mundo todo de pessoas que conservam o corpo físico como se estivessem vivos, isso é muito comum na história dos santos, que diga-se de passagem recebem energia gratuita das centenas de adoradores e fiéis espalhados pelo mundo todo. Na mesma sorte de vampirismo passivo pelos quais se conservam fortes os Espíritos Vampiros das Organizações supracitadas.
Já que falamos nestas organizações vampíricas é importantíssimo notar seu real funcionamento. Basicamente elas se estruturam numa hierarquia na qual o adepto à se tornar um futuro vampiro deve servir aos “Vampiros Não-mortos”. Sendo assim o adepto coloca-se voluntariamente no papel de presa e têm a sua força vital drenada pelos predadores astrais. Em troca disso os predadores irão ensinar técnicas de drenagem e conhecimentos que facilitarão sua entrada para o “outro mundo”. Dito isso fica o alerta, apesar do pouco do que sei sobre vampirismo ser frutos não só do estudo mas também de minha experiência com estes grupos e de insights fornecidos pelos chamados “Vampiros Não-Mortos”, no entanto após um período de contato fica claro que a troca passa a ser desigual e o a condição de gado astral é tomada pelo praticante.
Além disso um vampiro que estude as técnicas e faça as os rituais das seguintes ordens por conta própria não têm como ter sucesso em sua empreitada se o fizer isoladamente. As Organizações são criadas de forma que cada praticante consiga garantir a próxima geração de adoradores dos vampiros, enquanto que um vampiro solitário não terá a quem o fornecer energia e acabará por perecer, sendo sua única alternativa a caça astral por suas próprias mãos.
A MORTE DA MORTE DA MORTE
Tendo delegado a vocês o que entendo como a chave da “vida eterna”, darei agora as razões do porquê devem jogar essa chave fora.
As possibilidades parecem empolgantes, mas essa insistência demonstra um apego doentio tanto pelas máscaras que usamos como também pela falsa idéia de que precisamos de qualquer entidade externa para realizarmos nossa Vontade. Assumo que nós só precisamos de nós mesmos para evoluir e toda dependência de seres externos, seja Jesus te salvando ou os “Vampiros Não-Mortos” é um sinal de fraqueza.
Além disso, vejo que com essas técnicas a pessoa acaba aprisionada ao acúmulo de gordura emocional e de personalidade que deixou grudar em si. Na verdade isso é algo terrível, de fato horroroso, se for real. Pois é a afirmação clara de que você acreditou em todas as mentiras que te contaram durante a vida. Você é Católico. Você é Comunista. Você é apaixonado por mim. Tudo isso está abaixo do Self. Assim, presos por uma necessidade de continuar mantendo os corpos antigos e pior, a personalidade antiga que foi moldada por esse corpo, a pessoa não se eleva a camadas superiores da existência onde a lei do bem e do mal são superadas pela lei da liberdade.
A abordagem oriental do problema é muito mais inteligente. Em vez de tentar atrasar a morte (pois mesmo os vampiros morrem de tédio uma hora) eles se preparam para a mudança. Isso pode acabar em uma luta contra o Ego, como acontece com algumas correntes do budismo, algo funesto em minha opinião. Mas o mesmo pode ser feito pela transcedência e vivência do próprio Ego como expliquei no meu livro Lex Satanicus nos capítulso sobre Materialismo Místico. Anatta é o conceito budista de que o indivíduo não possui alma eterna, mas que constituem o agrupamento de costumes, desejos lembranças sentimentos e interesses que juntos formam a ilusão de que existe um ser estável e duradouro. É isso o que mais aterroriza as pessoas sobre a morte. O medo de que ao retirar todas as máscaras que acumulou durante a vida não encontre no final nenhum rosto por baixo delas.
Morbitvs Vividvs é autor de Lex Satanicus: O Manual do Satanista e outros livros sobre satanismo.
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