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Por Fenix Konstant
É de suma importância deixar claro que o presente ritual não fará de você – nem de ninguém – um satanista, se você já não se sente e se vê assim. Poderíamos dizer que a iniciação se divide em duas etapas. A primeira etapa é interior e consiste em estudo, reflexão, meditação, percepção e transformação. Sem passar por ela, de nada adianta a segunda etapa, que é a exterior. Realizar uma cerimônia de iniciação sem ter passado pela primeira etapa seria o equivalente a comprar um diploma sem ter estudado nada. Ou seja, é o caso de uma pessoa que anseia por ostentar um título apenas, e exibí-lo com orgulho leviano seja para si mesmo ou outras pessoas. O ritual de iniciação funciona como uma formatura, lhe conferindo um título devido aos seus conhecimentos adquiridos. Alguém pode se perguntar agora: “Mas se não haverá ninguém para me avaliar, como vou saber quando serei digno e merecedor disto?” A resposta é simples: como eu disse no início, quando você se sentir um satanista naturalmente. Uma auto-avaliação sincera é o que basta. O Satanismo é a religião do sem-mestre, e além disso, nele sua opinião é a mais importante de todas. Então se na sua opinião você é mesmo um satanista, não precisa buscar avaliações alheias e exteriores. Entretanto, é evidente que só “conhecimentos adquiridos” não bastam para “fazer” de você um satanista. Obviamente, é preciso também IDENTIFICAÇÃO. Há muitos estudiosos do tema adeptos de outras religiões. Mas o que é identificação? É enxergar no Satanismo um espelho, enxergar você mesmo e reconhecer-se um satanista. É natural que muitos leitores se perguntem: “Mas qual a utilidade de um ritual de auto-iniciação satânica se você já se considera um satanista?” Muitas pessoas sentem a necessidade de formalizar e oficializar sua “adesão” ao Satanismo através de uma cerimônia. Este ritual foi escrito para preencher esta lacuna. De qualquer forma, é bom lembrar: tudo o que você precisa fazer para ser um satanista é passar a viver como um. Além disso, não é possível “virar” um satanista, você simplesmente nasce assim ou não. Este ritual é um modo de proclamar ao Universo o auto-reconhecimento de que você é um satanista. Em outras palavras, é uma forma de dizer “eu percebi que sou um satanista!”
Algumas pessoas acham que é preciso colocar alianças e se casar no civil e religioso para se poder dizer que são casadas “mesmo”, outras dispensam isso e simplesmente vão morar juntas – mas levam uma vida igual a dos casais “oficiais” e não ficam devendo em nada para eles. O mesmo se aplica aqui, e esta analogia evidencia a importância da primeira etapa. Afinal, você se casaria com alguém que conheceu hoje? Logicamente, primeiro vem um namoro, depois o noivado, e finalmente o casamento. Portanto, não coloque o carro na frente dos bois. Hoje em dia parece que a maior parte das pessoas está mais preocupada em conseguir um diploma do que realmente conhecer sua profissão, e no Ocultismo não é diferente. Tudo ocorre de dentro para fora (vide big-bang), então lembre-se: primeiro o trabalho interior e depois o exterior. Este ritual não deve ser encarado muito menos executado de forma leviana e como uma brincadeira.
MATERIAL NECESSÁRIO:
– Adaga (pode ser uma simples faca de cozinha)
– Altar (pode-se improvisar um com qualquer móvel de medidas adequadas, um móvel com espelho acoplado seria perfeito; como uma cômoda por exemplo)
– Espelho
– Sino ou pequeno gongo (pode-se substituí-los simplesmente batendo a adaga no cálice)
– Manto branco (uma camisa/camiseta – sem estampas – e calças brancas também podem ser usadas)
– Cálice contendo vinho
– Uma vela vermelha e 4 velas negras
– Uma corda fina (pode ser um barbante ou fio dental)
PREPARAÇÃO:
Vista-se de branco e amarre a corda em seus dois pulsos, como uma algema. Seu comprimento deve ser grande o bastante para lhe dar liberdade de movimento com as mãos e braços. O altar deve ser posicionado no centro da câmara, de modo que quando o celebrante estiver de frente para ele fite o Sul. Sobre o altar ficam o espelho, sino/gongo, adaga, cálice com vinho e a vela vermelha – a vela deve ficar no centro do altar já estando acesa. As outras quatro velas negras restantes devem ser posicionadas nos pontos cardeais, mas devem permanecer apagadas por enquanto.
CHAMANDO OS QUATRO PRÍNCIPES DO INFERNO:
Pegue a adaga e o sino/gongo (ou o cálice para ser batido com a adaga).
Frente à vela do Sul, toque o sino/gongo três vezes lentamente, deixando o som produzido ressoar. Com sua mão esquerda aponte a adaga para a vela e diga:
“Satã, Senhor do Fogo. Te invoco para ser testemunha de minha libertação e renascimento. Acendendo esta vela, faço-o presente aqui esta noite.” Acenda a vela.
Repita este mesmo procedimento nos outros pontos cardeais em sentido anti-horário, substituindo as palavras e nomes necessários:
Leste: Lúcifer – Ar
Norte: Belial – Terra
Oeste: Leviatã – Água
A PROCLAMAÇÃO:
Após ter acendido as quatro velas, fique de frente para o altar fitando-se no espelho e aponte a adaga na direção do seu reflexo (com a mão esquerda), recitando:
“Eu me reconheço como meu próprio deus, pois o homem é o único ser com o poder de criar e destruir de que se tem conhecimento. Não há nenhum ser que interfira no destino do homem além dele mesmo. Em meu altar, a única imagem presente é a minha, pois esta é a única imagem digna de adoração. Eu olho no fundo dos meus olhos e reconheço tu, Satã! Eu sou teu reflexo neste mundo. Pois eu me recuso a servir e adorar qualquer ser, assim como tu. Eu olho para todos os demônios do Inferno, e não sinto medo, mas reconheço irmãos. Eu olho para todos os anjos do Paraíso, e não vejo salvadores, mas sim os arautos da mentira! Eu olho para Deus, e não vejo um pai bondoso e justo, mas sim o maior de todos os déspostas, o tirano inefável! E agora eu olho para ti, Satã, e vejo eu mesmo. Tornando-me tu, eu sou veículo e canal para sua manifestação na Terra. Eu porto a luz das chamas do Inferno, eu sou um dos filhos e herdeiros de Lúcifer. Eu levantei o véu de Deus e vi sua verdadeira face. Eu arranquei sua máscara e vi a verdade. Eu reconheci que os papéis de herói e vilão no drama do Universo estão invertidos, e eu me recuso a ser um mero espectador ou figurante. Eu reconheço o Paraíso como o cárcere de servos, e o Inferno como a morada de reis emancipados e independentes! Como uma criança curiosa, atraído pelo proibido eu vaguei na escuridão da noite, e lá nada encontrei. Nenhum espantalho! Então eu olhei para mim, e percebi, eu sou o espantalho do qual eles falavam! Pois eu era o único que lá estava. Eu sou Satã! Tu me libertaste, Satã! Tu me fez ver além. Agora para mim não há fronteiras nem limites. Tu rasgaste a venda que cobria meus olhos, e a minha frente descortina-se o horizonte negro e infinito repleto de estrelas. E então eu pude ver, eu sou uma destas estrelas! Para representar minha liberdade, eu peço que tu quebre esta última corrente, símbolo da escravidão da qual a humanidade é vítima. Que as chamas do Inferno libertem-me!
(O celebrante queima a corda que ata seus pulsos na vela do altar.)
As chamas do Inferno mostraram-me a verdade escondida na escuridão e iluminaram meu caminho. Elas consumiram todas as mentiras sagradas, reduzindo-as a pó e cinzas. Esta noite eu renasço livre delas. Esta noite eu proclamo ao Universo que sou meu próprio deus, despido de qualquer resquício escravagista do passado. Esta noite eu abandono a vergonha de meu próprio corpo, pois este é o meu templo, altar vivo e pulsante de sangue e energia. Deve um deus envergonhar-se de si mesmo? Não! Como o deus que sou, eu tenho orgulho de mim. É chegada a hora de renascer! Aqui eu abandono a hipocrisia, para ser eu mesmo, de corpo, mente e alma. Eu não tenho vergonha de ser eu mesmo, mas sim orgulho! Eu não me restrinjo pela moral, mas junto-me aos deuses que estão além do bem e do mal. Por acaso um predador sente vergonha, culpa ou remorso por caçar e alimentar-se? “Tu és mau, portanto eu sou bom.” Nesta fórmula, é o escravo e a presa que falam! Aquele que anseia pelo poder deve esquecer a piedade. Para um lado da balança subir, o outro precisa descer! A fábula da igualdade foi inventada para confortar os medíocres! Eu reconheço a minha superioridade e não me envergonho dela, pois deve um rei esconder sua coroa e vestir-se como um plebeu? Eu não lamento por ser diferente, eu me orgulho de ser distinto! Hoje eu cruzarei os portões do Inferno, deixando toda a esperança, pois ela é a bengala e o consolo dos fracos, conformados e covardes! Eu reconheço que o dever de ser “bom” foi implantado nas massas para mantê-las sob controle e no seu devido lugar, limitando-as sem jamais alçar vôos mais altos. Eu rejeito e me liberto do maniqueísmo! Pois eu mesmo sou Deus e Satã.
(O celebrante deve despir-se e ficar totalmente nu – pois foi assim que você nasceu, não foi? Então é assim que você deve “renascer” também. Com a mão esquerda, mergulhe a adaga no cálice de vinho e trace levemente – não vá se cortar – um pentagrama invertido na sua testa – assim representando um batismo. Largue a adaga sobre o altar. Pegue o cálice e levante-o com sua mão esquerda, olhando-se no espelho e oferecendo um brinde a si mesmo.)
Deste momento em diante, somente a ti adorarei e servirei, Satã!
Deste momento em diante, somente a mim mesmo adorarei e servirei!
A ti eu bebo e saúdo, Satã.
A mim eu bebo e saúdo!
Do cálice da vida eu bebo, despido e livre de toda e qualquer culpa.
(Beba todo o conteúdo do cálice de uma só vez, sem retirá-lo dos lábios – e não se preocupe em não derramar.)
Indulgência e não abstinência!
A rota dos pecados conduz ao palácio da felicidade.
Está feito!”
Nota: se assim desejar, o celebrante pode realizar uma versão mais “hardcore” do ritual ateando fogo às suas vestes brancas e queimando-as num caldeirão (qualquer um que tenha estudado um pouco de Ocultismo ou mesmo psicologia sabe que quanto mais impactante e marcante for um ritual, melhor – principalmente no caso de rituais de iniciação). Também sinta-se à vontade para retirar sua camisa/camiseta rasgando-a pela gola e sem abrir botões. Ao final do ritual, dá-se licença aos Príncipes para que possam partir e agradece-se pela sua presença, somente depois de fazer isso as velas devem ser apagadas. Se puder – e quiser, é claro – o celebrante deve após a realização do ritual, no dia seguinte ou quando for mais apropriado realizar algum desejo que tenha sido negligenciado ou reprimido durante sua vida, assim colocando a indulgência no lugar da abstinência e fazendo uma oferenda a si mesmo (Satã). Uma oferenda é algo feito para agradar deuses, mas você mesmo é o deus que adora então agrade-se e faça-o feliz. Faça aquilo que você sempre teve vontade mas nunca teve coragem – desde que isso não implique em atividades criminosas, desnecessário dizer. Experimente aquilo que você sempre quis experimentar. Demita-se e dedique-se a carreira que você sempre sonhou seguir, mude de cidade, vire um andarilho hippie, coma cinco barras de chocolate, vista-se de mulher. Faça o que lhe der mais prazer mas que por algum motivo você nunca fez. Agora a única coisa proibida é preocupar-se com o que os outros podem pensar e suas opiniões. Ignore-os assim como eles ignoram a própria ignorância. Seja tomar banho de chapéu ou discutir Carlos Gardel, faz o que tu queres é a única Lei.
É comum se ver muitos iniciantes na prática ritualística se perguntarem assustados: “É preciso decorar tudo isso??” Se você for um deles, não se preocupe com isso e esqueça essa idéia absurda. Você já viu um padre rezar uma missa (que também é um ritual) sem um livro auxiliando-o e guiando-o? Tudo que ele faz e diz está escrito lá, não é? Até mesmo os mais experientes magistas se utilizam de um “roteiro” durante seus rituais. Alguns decoram certos rituais sim, é verdade, mas isso porque eles são rituais básicos de invocação/banimento(ou “abertura/fechamento”) realizados com bastante frequência. Sinta-se à vontade para escrever o ritual inteiro ou apenas o que achar necessário. E você não precisa pagar uma fortuna por um livro empoeirado de capa grossa com detalhes em alto relevo que pareça um grimório medieval para fazer suas anotações, um simples caderno de capa preta “artesanal” cumpre a mesma função com a mesma eficiência. O celebrante pode segurar seu livro das sombras com o “verso” do braço direito enquanto aponta a adaga, colocá-lo num “porta-bíblia” sobre o altar, ou ainda usar um suporte de partitura musical posicionado no chão com o livro na altura ideal. Estas considerações não são válidas somente para a execução deste ritual, exatamente pelo contrário; aplicam-se a muitos outros. Será que algum exorcista sabe decor o Exorcismo?
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