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Sitra Achra

O sucesso do pecador

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O inglês Marc Lewis, de 28 anos, está prestes a se mudar para uma casa de mais de 1 milhão de dólares em Londres, onde vai morar com a namorada, Rachel. Poderia estar numa propriedade rural no sul da França, plantando uva e vivendo sem preocupações. Dinheiro não falta. Sua fortuna é estimada em 14 milhões de dólares. Mas não vai optar pela vida mansa, pois é viciado em trabalho. Dono de uma cadeia de restaurantes e de uma empresa de marketing esportivo, Lewis lançou há duas semanas um livro que se tornou fenômeno de vendas na Inglaterra. Em Sin to Win (Pecar para Vencer), defende que o segredo do sucesso é cometer os sete pecados capitais. Para ele, orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira são características de pessoas bem-sucedidas. Lewis, que não esconde a expectativa de que o filho, Luc, de 5 anos, aprenda bem a lição, ficou milionário aos 20 anos. Em 2000, teve a conta bancária turbinada pela venda da Web Marketing, sua agência de publicidade, por 30 milhões de dólares. Lewis falou a VEJA de Londres, onde se prepara para uma série de palestras para executivos.

Veja – Por que o senhor diz que os sete pecados capitais ajudam a ter sucesso na vida profissional?
Lewis – Orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira, os sete pecados capitais, são nossas maiores fontes de motivação. São as coisas que nos dão inspiração para o sucesso. Todas as pessoas bem-sucedidas são orgulhosas, querem ser as melhores, anseiam por novas conquistas, não estão satisfeitas com o que possuem. Agem com paixão, não perdem nenhuma oportunidade e concordam que é importante encontrar a maneira mais fácil de atingir os objetivos. Por tudo isso, precisamos exaltar e usar os sete pecados capitais. Não temê-los.

Veja – Do ponto de vista religioso, cometer tantos pecados significa punição certa. O senhor não teme a ira divina?
Lewis – Devemos ter fé somente em nós mesmos. As pessoas que trabalhavam na Enron, a gigante americana do setor elétrico que quebrou, dependiam da empresa para pagar a casa e a comida. Como se isso não bastasse, ainda investiam em ações da companhia para garantir uma boa aposentadoria. Quando ocorreu a quebra, tudo veio abaixo. Lembre-se do sábio ditado: nunca coloque todos os seus ovos na mesma cesta. Nunca confie totalmente em ninguém. A única pessoa que você sabe exatamente o que pensa e como se sente é você mesmo. Existem tantas religiões. Elas não podem estar todas certas. A maioria deve estar errada. Portanto, temos de confiar somente em nós mesmos.

Veja – Qual é o pecado mais importante?
Lewis – É o orgulho. Todas as pessoas bem-sucedidas têm amor-próprio. Em termos financeiros ou pessoais. Se você é o melhor, diga para todo mundo que você é o melhor. Ninguém tem a obrigação de saber. Nos anos 80, a Nike fabricava o mesmo tipo de calçado que a Adidas e a Reebok. Foi então que decidiu espalhar aos quatro cantos que era a melhor. Hoje a Nike patrocina Tiger Woods e Michael Jordan, que são os melhores. Não patrocina a seleção da Escócia, que não vale nada. Por isso, as crianças querem comprar tênis da Nike.

Veja – Isso pode valer para os negócios. Na esfera pessoal não é diferente?
Lewis – Claro que não. Pessoas que andam com confiança e olham no olho são as que despertam mais simpatia. São as mais aceitas. Os introvertidos, tímidos que não acreditam neles mesmos, é que são impopulares.

Veja – A propaganda é tudo?
Lewis – Claro. Diga que você é o melhor mesmo que ainda não seja. O mote da propaganda da British Airways é “a companhia favorita do mundo”. Quando essa frase foi criada, nos anos 80, era pura mentira. A Aeroflot transportava mais passageiros por quilômetro voado. A British Airways não era nem a mais luxuosa. Ficava atrás da Qantas e da Singapore Airlines. Não importa. Hoje todo mundo acredita que a British é a favorita. É preciso parecer bem-sucedido. Caso contrário ninguém vai acreditar que você de fato é. Sempre que se pergunta às mulheres o que elas gostam mais nos homens, elas dizem: senso de humor e autoconfiança.

Veja – A mentira não acaba com a credibilidade, um dos maiores patrimônios das pessoas e das empresas?
Lewis – Não digo para ninguém mentir. Fale que você é bem-sucedido mesmo que você ainda não seja. Você precisa saber que um dia será. Há três anos, eu tinha uma agência de propaganda pequena e estava mal de dinheiro. Na época, os bancos só investiam nas empresas de internet. A minha saída foi fazer um seguro de mim mesmo com um prêmio de 35 milhões de dólares. O jornal inglês Daily Mirror acabou fazendo uma reportagem sobre o executivo com o prêmio de seguro mais alto da Europa. Fiz uma cópia da reportagem e mandei para os bancos. Os investidores pensaram: esse rapaz deve ser bom mesmo. Levantei 7 milhões de dólares. A apólice me custou 85 dólares por mês.

Veja – Foi assim que o senhor se tornou milionário?
Lewis – Não. Eu morava na África do Sul, tinha uma agência de publicidade e trabalhava para uma companhia de telecomunicações especializada em ligações de longa distância. Sabendo da importância da luxúria, tive uma idéia. Antes de apresentá-la ao meu cliente, fiz uma proposta. Pedi 50% de tudo o que entrasse de dinheiro. O cliente aceitou. É melhor ter 50% de alguma coisa do que 100% de nada. A idéia consistia em explorar telessexo. O detalhe era que as mulheres estavam nos Estados Unidos e os clientes, na África do Sul. Na primeira semana, fiz 10.000 dólares, em um mês 100.000. Em três meses, 300.000. Aos 20 anos, ganhava o meu primeiro milhão.

Veja – O senhor chegou a perder tudo?
Lewis – Tinha 20 anos. Não compreendia a importância de ser avarento. Esqueci a necessidade de ter dinheiro no banco. Comprei casas em vários continentes, um Porsche, uma Ferrari e fiz muita festa. Gastei demais. Dinheiro se gasta apenas uma vez. Aos 28, tenho mais cuidado e não pretendo torrar meus 14 milhões de dólares. Não preciso mais de uma Ferrari e de namoradas caras. Aprendi a lição. A avareza é crucial e dinheiro na mão é tudo.  

Veja – Quais são as evidências de que a arrogância é benéfica?
Lewis – A arrogância é uma virtude. Todas as pessoas bem-sucedidas acreditam 100% nelas mesmas. Todos os grandes jogadores de futebol, cientistas, empresários, inventores e atores sabiam desde cedo que seriam os melhores. Isso é arrogância. Na final da Copa do Mundo de 1998, os franceses estavam tão confiantes na vitória que o Brasil não foi páreo.

Veja – Mas nem todos os arrogantes são bem-sucedidos.
Lewis – Claro. Assim como a arrogância, é preciso ter habilidades. Posso dizer a todo mundo que sou o melhor jogador de golfe do mundo, mas isso será em vão. Uma besteira. Mal sei jogar. Por outro lado, não basta ter habilidades. Tiger Woods possui as mesmas condições dos jogadores que estão no primeiro escalão do golfe. Além de habilidades, ele tem sede de vitória e acredita nele mesmo.

Veja – Em que casos a inveja pode ser positiva?
Lewis – Na Grécia antiga, uma aldeia tinha três atletas. O medalha de ouro, o de prata e o de bronze. O medalha de ouro ganhou uma estátua em sua homenagem. O medalha de bronze queria ser o melhor e compreendia a importância da inveja. Em vez de entrar em atrito, começou a treinar com o medalha de ouro e a fazer perguntas. Como você faz isso? Como faz aquilo? Pessoas bem-sucedidas contam seus segredos na maioria das vezes. Já o medalha de prata ficou extremamente enciumado com a homenagem da comunidade ao medalha de ouro. Toda noite, passava pela estátua e arrancava um pedaço. Acabou morrendo quando a estátua caiu em cima de sua cabeça. Esse é o exemplo negativo da inveja. No mundo do futebol, a inveja é muito usada.

Veja – Como?
Lewis – Os técnicos exploram a inveja dos jogadores. Há alguns meses, o treinador do Manchester United tirou David Beckham do time apenas para provocar a inveja nele. Para que se esforçasse mais. A inveja é uma ferramenta valiosíssima em termos de motivação. Senti-la é tão natural quanto respirar. Quem não a sente tem problemas. Pense na família real inglesa. Eles têm tudo. Não sentem inveja de ninguém. É por isso que não há exemplo de pessoa bem-sucedida naquela família. São um bando de perdedores. Na maior parte dos casos, os bem-sucedidos são filhos de famílias simples. Gente que sentiu inveja e lutou para melhorar. Das 1.000 pessoas mais ricas da Inglaterra, 759 vieram de baixo.

Veja – A ira é a solução para que tipo de situação?
Lewis – A ira é energia, é fazer as coisas com paixão. Nos anos em que foi campeão, Mike Tyson lutava com ira. George W. Bush pode não ser a pessoa mais articulada do mundo, mas luta no Afeganistão com paixão. Digo isso, mas não sou um grande fã do presidente dos Estados Unidos. Bill Clinton se preocupava mais com o restante do mundo. É possível ser um capitalista e ao mesmo tempo tomar providências para resolver os graves problemas que assolam o mundo. Um menino africano deve ter os mesmos direitos à educação, ao sucesso e à felicidade que um europeu. Como empresários, temos a responsabilidade de dividir nossas fortunas e nosso sucesso. A educação é a chave.

Veja – Isso não é uma contradição para quem defende os sete pecados capitais?
Lewis – A vida é muito mais complexa do que parece. Há capitalistas preocupados com a questão social e socialistas que não se importam com a pobreza. Algo precisa ficar muito claro: não sou diabólico.

Veja – Quais são os benefícios da gula?
Lewis – A gula é querer sempre mais. Quando o cantor italiano Luciano Pavarotti senta no cinema, ninguém fica nas cadeiras ao lado. No mundo empresarial, o tamanho é importante para afugentar os competidores. Bill Gates não está ameaçado porque é enorme. Na vida privada, é necessário ter uma gula insaciável por informações. Quanto mais você sabe sobre seu marido ou sua mulher, sobre seus filhos e pais, mais chances tem de manter uma boa relação com eles.

Veja – E a preguiça?
Lewis – É muito comum. Empresários de sucesso sempre buscam resolver seus problemas da maneira mais fácil possível. A teoria dos 20-80 está muito na moda. Vinte por cento de seus esforços são responsáveis por 80% de suas conquistas. Uma empresa de pasta de dentes não sabia o que fazer para aumentar as vendas. As pessoas dificilmente passariam a escovar os dentes mais que três vezes por dia. Em vez de gastar milhões em propaganda e forçar seus empregados a trabalhar mais horas, decidiu aumentar o buraco do tubo. Ficou 33% maior. Os consumidores começaram a usar mais o produto porque cada vez que apertavam o tubo saía mais pasta. Resultado: as vendas explodiram. Coisa de preguiçoso.

Veja – Os sete pecados capitais não cumprem o papel de evitar a desordem social?
Lewis – Acredito nos mandamentos que falam sobre a vida em sociedade. Não matar, não roubar. Claro que é importante respeitar o próximo. Os sete pecados são diferentes. A Igreja criou o pecado do orgulho para manter a sociedade de classes. A gula teve origem em tempos de fome, quando faltava comida.

Veja – O dinheiro pode comprar a felicidade?
Lewis – Claro. Por motivos óbvios, os chefes são as únicas pessoas que defendem a idéia de que dinheiro não é importante. Os relacionamentos têm mais possibilidades de ser bem-sucedidos com dinheiro. Os ricos são mais saudáveis. Os países mais desenvolvidos têm um sistema educacional melhor. É inegável que dinheiro traz felicidade. Devemos ter devoção ao dinheiro.

Veja – Por que, então, os países mais ricos apresentam os mais altos índices de suicídio?
Lewis – O suicídio é comum entre pessoas que tinham algo e perderam. Os japoneses são o exemplo clássico. Quando acham que fracassaram, acabam cometendo suicídio. Tomam como algo muito pessoal. Eu não acredito em fracasso.

Veja – Por que não?
Lewis – Em muitas culturas, a palavra fracasso não existe. Quando não conseguimos alguma coisa, há sempre os que dizem que fracassamos. Isso é besteira. Apenas tivemos a oportunidade de aprender o que não dá certo. É uma questão de levantar e tentar outra vez.

Veja – O senhor acha que o importante é competir, e não ganhar?
Lewis – Não. Ninguém lembra quem foram os que ficaram em segundo lugar. O único momento em que chegar em segundo lugar não é problema é na hora do sexo. A Argentina, a Inglaterra, a França e o Brasil querem ganhar a Copa do Mundo na Ásia. O objetivo não é chegar às semifinais. Na vida, vale a mesma coisa. O que importa é ser o maior e o melhor.


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