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O arquétipo de Lilith – Satanomicon

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A origem do nome Lilith está no termo sumério Lil, que significava espírito do vento.  Segundo o Talmude, ela foi a primeira mulher de Adão. Este arquétipo era conhecido da mitologia suméria, babilônica, assíria, persa, hebraica, árabe e outras, ficando conhecida como Lilith na Mesopotâmia.

O lado sombrio e feminino do eu, que se manifesta nos homens e mulheres, tanto em nível pessoal, quanto em coletivo, é representado pelo arquétipo de Lilith. Um exemplo, em nível pessoal, é o estado puerperal que acomete a mulher após o parto, que é uma espécie de loucura momentânea, outro exemplo é a irritação da mulher durante o período menstrual; em nível coletivo, o melhor exemplo é o Movimento Feminista, que inspirou tremenda reação ao patriarcalismo do homem, o que levou a  mulher a alcançar o status quo de liberdade atual. Da mesma forma, milhões de homens projetaram a sua sombra feminina em Marilyn Monroe. Esta foi a causa da sua morte, porque ninguém pode receber tantas projeções sem contato pessoal.

Uma piada…

Um terrível dragão assolava o reino, assustando os camponeses e matando os cavaleiros da Távola do Rei Artur. O soberano, vendo que não havia mais jeito, reuniu os cavaleiros e disse:

–         Darei a mão da princesa a quem matar o dragão!

Os cavaleiros que não passavam de um monte de vagabundos, que viviam às custas dos camponeses, e não queriam nada com a Hora do Brasil, nem responderam.

O rei repetiu:

–         Eu darei a mão da princesa a quem matar o dragão!

Foi então que se fez ouvir uma vozinha lá do fundo…

–         Majestade! Majestade!

E o rei:

–         Fala, nobre cavaleiro!

Então surgiu um cavaleiro jogando plumas para todos os cantos, aproximou-se do rei e disse:

–         Majestade, se eu matar a princesinha, posso casar com o dragão?

Enquanto Eva era o símbolo da submissão da mulher ao domínio do homem, Lilith era o signo da independência, daí ser relacionada oportunamente com um demônio devorador de bebês, pelos patriarcas judeus. Barbara Black Koltuv, Ph. D.[1], relata que “Eva é o lado feminino instintivo que nutre a vida, enquanto Lilith é o seu lado oposto, aquele que lida com a morte”.  Eva representa a mulher que cuida do marido, que procria os filhos e submete-se ao patriarcalismo do homem; Lilith é a mulher mágica, livre, criativa, instintiva.

Eva, pela idéia de pecado original, e Lilith, pela idéia de demônio, levaram a mulher a uma degradação e inferioridade durante os últimos dois mil anos na cultura cristã-judaica. A estratégia foi simplesmente decretar que a mulher era maligna. Em Provérbios, VII, 25-27, reside a sentença: “Creio que a mulher é mais amarga que a morte porque é uma armadilha, seu coração uma cilada, suas mãos cadeias; quem ama a Deus foge dela, quem é pecador é capturado por ela.” Ainda hoje ordens iniciáticas, como a Maçonaria, vedam o acesso da mulher às suas lojas, o que demonstra este escolho “divino” baseada no mau entendimento dos dois arquétipos.

O homem possui o seu lado feminino[2], passível de ser bem trabalhado, tanto psíquica quanto magicamente, para integrá-lo. Renegar este lado, impondo uma espécie de machismo ostentador, bloqueia o próprio lado masculino e leva o lado feminino a irromper de forma perniciosa. Lilith pode ser perigosa para as pessoas completamente inconscientes, mas para o buscador ela se torna o grande passo para o transpessoal e a assimilação de Lilith tem um profundo efeito sobre a individuação[3].

Se um homem é visto cozinhando ou uma mulher praticando uma arte marcial, alguém pode achar que os mesmos são homossexuais, mas a canalização da energia oposta pode servir para uma osmose entre as duas tendências no ser humano. Afinal, quando se é dada uma utilização produtiva a uma qualidade pessoal, ela deixa de se manifestar de forma exacerbada.

Por fim, Roberto Sicuteri[4] afirma que “Se Lilith-Lua Negra, como vimos nos numerosos ritos cultuais, era fonte de terror, de pânico, devia ser também fonte de uma experiência psíquica transformativa e de enriquecimento do mundo interior, conduzido para diante do deus e dos  nascentes segredos da vida. O medo, como o amor, diz Hillman, pode se tornar um apelo para a consciência; permanecendo em contato com o medo, encontra-se o inconsciente, o desconhecido, o numinoso e  incontrolável. Por isso, não nos desagrada, hoje, que a Lua Negra provoque ainda medo e, por que não, nos seduza!”

 


[1] Extraído de O Livro de Lilith, desta autora.

[2] O homem não possui dois lados, a referência dual aqui é apenas cultural, fruto de mais uma ilusão. Como se vive na ilusão, o autor é obrigado, infelizmente, a trabalhar com eles.

[3] O Livro de Litith.

[4] Lilith, a lua negra


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