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Lord Ahriman
A questão do masoquismo esclarecido é um dos de mais difícil entendimento dentro da gnose satânica. Antes de adentrar nesse tópico, é mister retornar à idéia de ambivalência, ou seja, o trabalho consciente e responsável com ambas as polaridades que permeiam o nosso ser.
“Os opostos – sofrimento e alegria, dor e prazer – estão unidos, de modo simbólico, no masoquismo. Assim a vida pode ser verdadeiramente aceita e até mesmo a dor pode ser experimentada com alegria. O masoquista, de modo assombroso e fantástico, enfrenta e harmoniza os maiores opostos de nossa existência.” Essa lição é tomada de Adolf Gugenbühl-Craig, um dos maiores analistas junguianos, a respeito do estudo da Sombra.
Obviamente, ninguém em sã consciência vai sair por aí fazendo apologia da dor. Por outro lado, ninguém em sã consciência vai negar que a dor faz parte da nossa existência. Entender e transcender a dor é uma questão que vem desafiando os filósofos há milênios, mas ninguém se preocupou em aceitar e entender a dor de modo intrínseco, ou seja, meditativo.
Quando LaVey disse que no altar do Demônio dor é alegria e alegria e dor, ele realmente teve um insight a respeito da questão da ambivalência.
No Satanomicon relato uma experiência com a dor. Peço licença ao ilustre leitor para repeti-la aqui. Certa vez, senti uma enorme dor de dente, à época do Carnaval, não tinha meios de procurar um dentista. Após tentar inúmeras saídas, inclusive toques de acupuntura, tive um insight. Resolvi dar forma à dor, imaginei-a como um monge, conversei com ela, fiz amizade com ela, convidei-a a permanecer comigo e assim ficamos em sintonia por alguns minutos, quando ela simplesmente desapareceu. Alguns dias depois, de fato procurei um dentista e resolvi o problema definitivamente.
Esse fato me ensinou que podemos tornar as trevas do nosso ser uma imensa aliada, ao aceitá-la, bem antes de conhecer a teoria acerca da Sombra junguiana.
A dor existencial é a que nos motiva a buscar um sentido para a existência e para nós mesmos. Sem essa dor, a pessoa não se preocuparia em aprender mais. O Cristianismo, ao estatuir a noção de Céu, fez da virtude o único modus operandi do ser; assim, elimina completamente a dor existencial e, com isso, impede que a pessoa alargue seus horizontes e busque o grande segredo cósmico no próprio Self.
O masoquismo esclarecido desvela totalmente a face producente do masoquismo, ou seja, é o masoquismo consciente, prenhe de gnose satânica, desafiando o ser humano não a ficar passivo diante das adversidades, mas aceitar o negrume do próprio ser como fator de transcendência.
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