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por Lilith Ashtart
Toda posição ideológica possui um conjunto de valores éticos em comum que a caracteriza, visando fornecer auxílio para a resolução dos dilemas normalmente encontrados durante a vida. Ética, contudo, jamais deve ser confundida com moral. Embora ambas caminhem frequentemente atadas de forma negativa por um laço indissolúvel na maioria das correntes filosóficas e religiosas, no luciferianismo é que encontramos sua exceção.
O luciferianismo não impõe normas morais para aqueles que se identificam e buscam seus valores éticos. Isso é justificado pelo fato da moral se basear em um conjunto conjunto de normas concretas que exigem condutas específicas do indivíduo, desrespeitando sua liberdade de formular de modo crítico e consciente suas próprias regras através da análise dos resultados de seus atos na prática, e não segundo supostas consequências pré-determinadas.
A palavra deriva do grego ethos, que significa caráter. A função da ética é a de orientar a busca individual ao fornecer parte dos subsídios para isso. A ética luciferiana é focada no próprio ser, e não no coletivo. Contudo, leva em conta a relação do ser com o meio que o cerca, para garantir-lhe que dele possa tirar o melhor proveito possível, dominando-o para trabalhar sob sua vontade e para seus propósitos. Desta maneira, pela ética se almeja o que é o melhor para si, o que nem sempre reflete o melhor para todos. Esta escolha, porém, está sempre baseada em suas conseqüências finais, de modo que o luciferiano não agirá segundo impulsos e motivações vãs, mas apenas por aquelas que através de suas análises se mostrem pertinentes para o avanço ao seu objetivo final. A parte mais importante, este caminhar, fica sob exclusiva responsabilidade do buscador e sua capacidade de determinar suas ações, de modo a não provocar nenhuma reação que possa vir a impedi-lo e limitá-lo depois. Os planos devem ser cuidadosamente dosados naqueles a curto e longo prazo, pois ao mesmo tempo que não se deve viver apenas para uma situação por vir, não é inteligente entregar-se apenas ao momento de modo que isso atrapalhe qualquer planejamento futuro. Outro fator que permite a existência da ética dentro do luciferianismo sem entrar em conflito com o mesmo é sua temporalidade. Estando aberta à inclusão de novos conceitos devido à sua característica contestadora, ela ao longo do tempo vai se transformando e evoluindo, seja individual ou coletivamente.
E quais seriam esse princípio e prática no luciferianismo? Apenas a obtenção do autoconhecimento pelos próprios méritos. Ao almejarmos nossa iniciação, devemos ter em mente que há etapas a serem cumpridas sucessivamente para alcançarmos de modo efetivo nossa meta. Jamais devemos desejar ou procurar pular estas etapas, pois serão cobradas posteriormente e, uma vez não transpostas em um grau anterior, se tornarão obstáculos capazes de arruinar todo o processo.
Sendo assim, não há etapas maiores ou mais importantes para desejarmos uma em detrimento de outra. Cada prova será equivalente e essencial ao grau de evolução em que nos encontrarmos, e por isso todas são iguais em intensidade no momento em que ocorrem. Não há chances de vitória ao entrarmos em uma guerra antes de termos aprendido a conhecer e utilizar nossas armas. É certo, porém, que quanto mais avançarmos no domínio de seu manejo, maiores serão os inimigos a serem enfrentados, e mais fatais os nossos erros.
Toda etapa é única. Apenas a total compreensão, controle e conseqüente superação das ordálias encontradas nela nos fornecerão subsídios suficientes para a próxima, uma vez que estas virtudes serão constantemente exigidas. É nisto que reside seu caráter naturalmente seletivo: um conjunto formado por etapas interligadas e interdependentes em relação ao todo, porém ao mesmo tempo individuais e completas em suas particularidades. Desta forma, a superação de uma não significa a conquista do conjunto, e sim de uma parte imprescindível dele. Como conseqüência, a qualquer momento um indivíduo poderá cair perante uma etapa, mesmo que tenha tido sucesso nas anteriores, mostrando que sua natureza e o caminho escolhido não são compatíveis.
Isso ocorre pois os elementos que fornecem subsídios para se realizar tais superações apenas serão válidos se, no indivíduo em que se encontram, estiverem presentes como reflexo de sua essência. Os elementos em si mesmo nada significam se forem adquiridos de forma externa e artificial. Se faltar a base que os conduz corretamente e fornece suporte para sua execução, o que restará? É como possuir uma carruagem e um cavalo. Qualquer um pode se locomover utilizando este conjunto, porém para se conseguir chegar ao destino esperado é necessário, além de um prévio conhecimento de como manejá-lo, possuir força para comandar as rédeas. Qualquer destes fatores que falte, resultará no fracasso da intenção.
As sociedades e principalmente as religiões costumam adotar códigos morais com a finalidade de conduzir a todos em um único caminho, reprimindo seus instintos e essências para moldá-los segundo suas supostas “verdades”, tornando o ser humano totalmente estranho a si mesmo.
Doravante, nutrida e expressada a fragilidade humana, o campo dos valores culturais e comportamentais alienantes se torna cada vez mais fértil e presente a cada dia que passa, enquanto a essência apaga-se e submerge num interior obscurecido e negado da consciência humana. O ópio oferecido à humanidade tomou nova roupagem e invadiu novos espaços, abandonando a exclusividade de ser ofertado pelas religiões para englobar os diversos meios de comunicação que nos cercam, ditando novos ideais e inclusive o modelo humano idealizado de forma artificial e supérflua, que se esquece de suas faculdades intelectuais sagradas para focalizar-se apenas no profano.
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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