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Entrevista com Naamah Acharayim (Manus Gloriae Editora)

Leia em 10 minutos.

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Naamah Acharayim é uma figura enigmática e influente no mundo da bruxaria moderna, conhecida por suas contribuições ousadas e provocativas ao campo da feitiçaria antinomiana. Como autora dos livros “Bruxaria Diabólica – Um Grimório de Feitiçaria Antinomiana” e “Cultos da Morte,” Naamah desafia as convenções e convida os leitores a explorarem os limites da magia e da espiritualidade. Além de seu trabalho como escritora, ela é a mente visionária por trás da Manus Gloriae Editora, um selo dedicado a publicar obras que exploram os aspectos mais sombrios e profundos da experiência humana.

A entrevista abaixo foi concedida ao projeto Morte Súbita em junho de 2024 onde tivemos o temos o privilégio de conversar com Naamah para descobrir mais sobre sua jornada, suas inspirações e sua visão única sobre o oculto.

Uma primeira pergunta para facilitar a vida dos seus biógrafos no futuro. Como você descobriu seu caminho na bruxaria e o que a inspirou a criar a Manus Gloria Editora?

Primeiro, agradeço a oportunidade de falar um pouco do meu trabalho! O meu caminho na senda obscura se apresentou muito cedo na minha vida, diria que desde que me conheço por gente. Mas só fui reconhecer como caminho de fato e começar a dar meus primeiros passos lá pelos meus 15, 16 anos, quando comecei a estudar de forma mais séria. Antes disso, até tentei negar essa coisa toda e viver como uma “pessoa normal”. Na realidade, era bastante desagradável lidar com situações diárias que ultrapassavam o sentido de normalidade, mas o chamado já estava virando um grito. Percebi que o melhor era abraçar a escuridão, pois quanto mais eu tentava fechar os olhos, mais as coisas vinham. Então, já fui logo abraçar o capeta! A Manus Gloriae Editora na verdade surgiu apenas por causa do meu primeiro livro, “Bruxaria Diabólica”. Eu não tinha intenção no início de criar uma editora de fato, mas como lancei meu livro totalmente por conta, eu precisava de algo para divulgar a obra nas redes que não fosse meu perfil pessoal. Então, desenhei o logo e lancei como se fosse um “selo”. Mas a cada dia a coisa ia tomando proporções maiores. Após o lançamento do Bruxaria Diabólica, alguns meses depois, lancei uma tradução do “Magia e Fetichismo”, na verdade mais como um teste, que deu certo! Depois de um ano e lançando um terceiro título, de fato a Manus Gloriae Editora nasceu de forma oficial como um negócio!

As publicações da editora buscam mais a preservação ou a evolução das práticas tradicionais do ocultismo? Como você vê a questão da inovação nesta área?

Eu diria que as duas coisas. A preservação de tradições é muito importante, mas não podemos ficar só na preservação. O mundo, a vida, a forma de pensar e encarar o mundo evoluem, todos estamos em constante evolução, cada qual à sua maneira e de acordo com o seu caminho. A meu ver, com as práticas mágicas não poderia ser diferente, alguma evolução vai acontecer, até porque nos dias de hoje, muita coisa fica impraticável nos mesmos moldes de centenas de anos atrás. Busco a preservação por sua importância na fundamentação das práticas, e a evolução em prol do aprimoramento, pois ficar estagnado não levará a parte alguma. Porém, uma evolução consistente só é possível quando o praticante estuda as bases tradicionais.

Existem textos ou manuscritos antigos que influenciaram particularmente a sua própria prática mágica? Você pode compartilhar uma experiência onde um livro de bruxaria teve um impacto significativo em sua jornada pessoal ou prática mágica?

Ao longo da minha vida, diversas obras tiveram impacto sobre minha caminhada, cada qual em seu tempo, cada uma em um período diferente da minha vida (comecei os estudos de forma séria no fim dos anos 90, então tenho um tempo até que longo nesse caminho). Tive a fase dos clássicos como Eliphas Levi, Guaita, Blavatsky, mas creio que o primeiro livro que me causou um impacto total tenha sido a Bíblia Satânica de LaVey. Claro que atualmente não é algo que possui tanto impacto assim, mas para uma adolescente no fim dos anos 90 foi um divisor de águas e até uma libertação de certas formas de pensar. Eu não me interessava pela bruxaria propriamente dita, pois nessa época praticamente só tinha material de wicca disponível. Acho que dá para perceber que praticamente comecei pelo satanismo, coisas como deusa mãe e roda do ano só me afastaram da verdadeira bruxaria e feitiçaria. Depois, fui me interessando por materiais numa linha mais tradicional de satanismo, pois a lacuna na parte espiritual tornou a primeira literatura impactante bastante inútil para entender outros aspectos mais essenciais. Nesse meio tempo, tive acesso a obras de bruxaria tradicional, que foram me colocando no meu verdadeiro caminho!

Como é a relação do seu próprio caminho com os livros que publica? São assuntos separados ou algum livro, por exemplo, já teve um grande impacto sobre você?

Até o presente momento, todas as obras que publiquei têm algo a ver com meu caminho e com minhas práticas. Algumas têm totalmente a ver, outras, em algum momento do passado, fiz muito uso dos conteúdos ali apresentados. Cada livro eu trato como se fosse um filho meu, pois, mesmo quando escrito por terceiros, há muito de mim ali, então não há como separar. Acho que o mais impactante foi o Fundamentos de Bruxaria Tradicional e Stregoneria, uma obra gigantesca cujos dois volumes somam mais de mil páginas, a mais completa que já vi em língua portuguesa sobre bruxaria, e que me fez rever alguns conceitos que eu tinha a respeito de certos espíritos!

Qual é o seu critério para escolher autores e obras para publicar, especialmente em um gênero tão cheio de picaretagem e caça-níqueis?

Eu escolho os autores que acho interessante publicar e os abordo. Em geral, já conheço o trabalho da pessoa, sempre são autores que já fico de olho um bom tempo antes, acompanhando os trabalhos, pois realmente hoje há muita picaretagem, muito material vazio e que não apresenta nada de novo, muita coisa mal escrita… Eu só publico material que eu gosto e que tem a ver com a proposta da editora.

Dentre os livros publicados, qual até hoje foi o mais polêmico? Você já chegou a enfrentar algum tipo de problema mais sério graças a eles?

Qualquer um dos livros que publico pode ser considerado polêmico dependendo de quem o ler. O Bruxaria Diabólica mesmo, eu imaginei que poderia causar polêmica e que muitos iriam odiar, pois ali eu desnudei uma forma de bruxaria mais visceral e sem frescuras, mas até hoje parece que o livro só caiu nas mãos certas. Há um outro que poderia ter me dado problemas sérios caso caísse na mão de pessoas de mente fechada, pois sua proposta de trabalho envolve o uso da energia de símbolos que são até proibidos. Até fiz menos divulgação dele. Para essa obra, eu até cogitei colocar algum aviso de isenção de responsabilidade pelo conteúdo, mas senti que seria ridículo fazer isso e não coloquei, até porque quem ler a obra com atenção veria a real proposta. E mesmo que alguma pessoa com algum déficit cognitivo viesse falar algo, eu poderia apontar vários argumentos em defesa da obra. Porém, eu tenho a sorte de ter um público seleto e inteligente que entende o que é o caminho da mão esquerda e tudo o que ele envolve, toda a heresia, sombras e perigos desse caminho. Então, ninguém veio dar um ataque de pelancas por conta de alguma publicação, pelo menos não até hoje!

Existe alguma prática ou tradição dentro da bruxaria que você acha que é frequentemente mal interpretada ou representada erroneamente nos livros de bruxaria?

Eu acho que o fato da bruxaria ter sido apresentada durante tantas décadas como uma coisa fofinha e cor de rosa, como em inúmeras obras que temos em português, traz uma ideia que não corresponde bem à realidade do que é a bruxaria, mas isso é a minha visão. Se a pessoa quer praticar dessa forma, não me afeta em nada, mas colocar só esse lado acaba até afastando muita gente que é bruxa mas não se identifica com essa apresentação amena e fofinha. Eu mesma fui uma dessas pessoas e até hoje muita gente me relata o mesmo, que só encontrou identificação ao ler o meu primeiro livro. Eu penso que a bruxaria engloba tudo, luz e sombras, e as sombras reais a que me refiro também envolvem sangue e morte, e não só chá de florzinha e cirandinha.

Há algum tópico ou área do ocultismo que você acha que é sub-representado na literatura contemporânea de bruxaria e que merece mais atenção?

Eu acho que os temas que publico são todos sub-representados, e é justamente para isso que tenho esse trabalho com a editora: para dar espaço e visibilidade para vertentes mais obscuras! Ao menos no Brasil, a bruxaria tradicional praticamente não tem espaço. Basta ir a qualquer livraria, feiras místicas, ou mesmo em sites como a Amazon, e terá dificuldades em encontrar obras que abordem a bruxaria tradicional. Feitiçaria mais visceral também tem pouco espaço, e o curioso é que é um tema de grande procura, por gente que você nem imagina que tenha esse tipo de interesse. Falta diabolismo na literatura oculta atual, embora nos últimos anos tenha surgido coisas interessantes. Mas é natural também que esse tema não tenha tanta atenção, pois não é um tema para as massas. Embora esse conhecimento esteja todo disponível até gratuitamente na internet, as pessoas em geral preferem evitar. Na realidade, a maioria não entende a essência desse caminho nem desenhando.

Existe algum processo específico ou ritual que você pratica antes de começar a trabalhar em um novo projeto editorial que você acha que os leitores poderiam usar em suas próprias profissões?

Eu sempre consulto meu oráculo para saber detalhes da viabilidade da publicação. Para os autores mortos (as obras de domínio público que adoro publicar também), eu entro em contato com o espírito do autor – sim, rola uma necromancia de verdade: peço permissão, peço a bênção, e eles gostam de ser republicados, adoram ter sua memória, nome e trabalho continuados e faço tudo com muito respeito às suas memórias e ao seu trabalho. Esses são meus processos básicos. Para as minhas obras autorais ocorrem processos ritualísticos de consagração mais elaborados. Até para o momento dos envios tem feitiçaria, afinal sou bruxa e feiticeira além de editora, e funciona porque os pacotes geralmente chegam muito antes do prazo e é muito raro acontecer algum problema. Quando acontece, eu soluciono rapidamente. Para as pessoas em geral, em seus trabalhos, recomendo sempre oráculo para saber da viabilidade e desafios em seus projetos. Para quem trabalha com envios e manja um pouco de feitiçaria, indico experimentar certos familiares ou espíritos para cuidar que os pacotes cheguem aos destinatários com segurança e rapidez. Tem gente que acha bobagem usar magia para coisas do tipo, mas a magia está aí para ser usada para facilitar a nossa vida. Baixa magia não precisa ser só para separar casal, amarrar macho e fazer o desafeto quebrar um pescoço, pode ser usada para pequenas coisas úteis e construtivas também.

Que conselhos você dá para quem está entrando agora no mundo da bruxaria?

O conselho que dou é primeiro se questionar o porquê do interesse nesse caminho. Hoje, com todo o glamour das redes sociais, muita gente se ilude achando que é brincar de Harry Potter. O segundo é ler muito, mas muito mesmo, não só a respeito da bruxaria, mas também conhecer e estudar outros sistemas, e não ter medo de começar a praticar. O terceiro é ficar muito atento a mestres, grupos e covens. Há muita gente séria, mas para cada sério tem 10 picaretas. E o quarto, e talvez o mais importante de todos: aprimore e escute a intuição sempre, pois essa é a lanterna das bruxas, e evita cair em muitas armadilhas!

Por fim, depois de bater as botas, como você gostaria de ser lembrada? Qual espera ser o legado deixado pela Manus Gloria Editora?

Se meus livros continuarem circulando e sendo lidos quando eu não estiver mais aqui, sei que terei cumprido a minha missão! Não faço questão que se lembrem de meu nome ou minha figura, mas sim que minhas ideias permaneçam sendo espalhadas e entendidas por aqueles capazes de enxergar por trás das ilusões. E também este é o legado que pretendo deixar com a Manus Gloriae Editora: ela não ficará em atividade eternamente, é provável que um dia eu me canse e só queira viver longe da internet, cuidando das minhas plantas, mas a vantagem dos livros físicos é essa, eles permanecem, estarão por aí pelo mundo, em prateleiras, em mãos ávidas por conhecimentos proibidos, até se desfazerem e “reencarnarem” em outros “corpos”, sejam físicos, digitais, diretamente por chip implantado no cérebro… Cada livro é uma semente que deve germinar e gerar seus frutos no futuro, esse é o legado que deixarei!

Naamah Acharayim, muito obrigado por seu trabalho como autora e editora e pelo tempo disponibilizado nesta entrevista.

Aos leitores, encerramos este artigo com uma lista de alguns dos livros já publicados pela Manus Gloriæ Editora:

  • Ars Diabolicum et vis Viridatis Serpentum
  • Atanatize -O Caminho dos Mestres Não Mortos
  • Bruxaria Diabólica – Um Grimório de Feitiçaria Antinomiana
  • Codex Putrefactio Nigra – O Livro Cananeu da Morte
  • Cultos da Morte
  • Da Arte de Curar à prisão de um Ocultista – Ocultismo, Magia e Ciência em Aracaju, SE
  • Fundamentos de Bruxaria Tradicional e Stregoneria vols. 1 e 2
    Gnosticismo Diabólico – Mitos e Filosofia
  • Liber Arcana Cainita
  • Magia e Fetichismo
  • Manual Prático de Geomancia
  • Manual da Bruxa D’Arruda – Tratado Completo de Feitiçaria
  • Os Olhos de Lúcifer estão Abertos – Uma Apologia herética e esotérica de Lúcifer
  • Visões da Encruzilhada – A Arte de um Andarilho na Bruxaria Tradicional

Conheça mais sobre estas obras no site oficial da Editora Manus Gloriae


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