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“A velha crença de que um ser supremo criou o homem e seu cérebro pensante será reconhecida como um engano ilógico.”
– Anton LaVey, Introdução de “Os Rituais Satânicos”
“Eu já vivi sob a sombra dos deuses por tempo suficiente… a era dos deuses chegou ao fim!”
– Kratos, God of War
Antes de mais nada, é importante deixar claro que o presente texto não se refere unicamente ao deus do Cristianismo (que é, diga-se de passagem, um deus relativamente novo), mas a qualquer força, inteligência ou ser apontado como “Criador do Universo” e, portanto, “Causa Primeira de Todas as Coisas”.
Nada surge a partir do nada, todo efeito obrigatoriamente deriva de uma causa. Percebendo isso, já na noite dos tempos nossos primitivos antepassados começaram a crer na existência de um arquiteto do Universo, isto é, deus. Este é o principal argumento apresentado pelos teístas para justificar tal crença. Mas este argumento, aparentemente racional à primeira vista, revela-se, na verdade, como um tiro que sai pela culatra. Pois esta lei inescapável leva-nos à pergunta: Se nada pode surgir a partir do nada, então qual foi a causa que deu origem a deus? Se deus é nosso pai, quem é nosso avô?
Talvez pensando nisso, diversos povos retrataram deus como o andrógino[1] auto-gerado, assim sendo o Primeiro e Único, aquele que não precisou de contraparte para engendrar a Criação, pois no princípio nada existia além dele. Parece ser este o significado de Baphomet e imagens similares (mas talvez só pareça…). Por isso deus é também chamado de o não-nascido, não-criado ou “incriado”. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, esta estranha denominação não significa que ele não exista mas, pelo contrário, que existe por si mesmo, ou seja, ninguém nem nada o criou.
Portanto para algo ser chamado de “deus” teria de, obrigatoriamente, existir por si mesmo, ser auto-suficiente, não ter sido gerado por nenhuma causa. Será que esse algo existe? Convido-os a conhecer a única resposta que encontrei a seguir.
Para muitos, deuses andróginos podem parecer estranhos ou mesmo blasfemos, mas se eles parassem para pensar, perceberiam que não faz nenhum sentido acreditar num deus macho ou fêmea e que na verdade isto é uma contradição, pois para gerar algo sozinho é preciso ser ao mesmo tempo macho e fêmea – não há filho apenas com pai ou mãe. Talvez seja este o significado de “eu sou Alpha e Omega, o início e o fim” [2]. Ao contrário de seus fiéis, o Papa João Paulo II parecia entender e concordar com isto, pois declarou – para surpresa dos que nunca esperavam tal admissão – que “deus é pai e mãe”. Parece que Paulo Coelho estava certo, um dia a Igreja Católica há de reconhecer o sagrado feminino, o que lembra-nos também da recente discussão sobre mulheres exercerem o sacerdócio. De modo simples, a verdade é que as velhas instituições precisarão se adaptar ao novo aeon ou não sobreviverão, é como a lei dos mais aptos na natureza. Ainda sobre a androginia, uma coisa irônica é que em certas culturas antigas pessoas com esta característica não eram discriminadas e vistas como uma aberração, pelo contrário, isto era motivo até de certa reverência por esta ser também, como já explicado, uma característica divina. Pois o deus criador seria aquele que é dois num só, o hermafrodita[3] que sozinho gerou o Universo. Percebam que, sob este ponto de vista, Baphomet não é o Diabo, o “causador do mal”, mas o causador do Universo! Uma correlação interessante de se observar é que o Diabo é muitas vezes representado como uma sedutora figura andrógina (um “travesti enganador”), e como se sabe muito bem, o Cristianismo transformou em diabos todos os outros deuses anteriores a ele.
Mas voltemos ao enigma de nossa pergunta inicial, que é:
Se nada pode surgir a partir do nada, então qual foi a causa que deu origem a deus?
Embora a idéia do andrógino auto-gerado cuja causa é si mesmo possa, a princípio, parecer uma boa tentativa de respondê-lo, esta idéia claramente viola a lógica mais básica. Pois nada pode gerar a si mesmo posto que não existia antes. Temos de reconhecer que o deus andrógino (Baphomet, etc.) é um paradoxo, pois seria ao mesmo tempo causa e efeito. Mas este paradoxo ainda pode ser driblado. Como? Podemos dizer que deus sempre existiu, portanto não criou a si mesmo. Mas mesmo que este deus de alguma maneira misteriosa sempre tenha existido, sua existência e permanência “fora do Universo” bem como a criação deste por ele são absurdos ilógicos como demonstrarei a seguir. Então como explicar a criação do Universo? Afinal, tudo possui uma causa, inclusive o Universo, certo? Bem… não exatamente.
Uma coisa que passa despercebida à maioria é que o Universo nem mesmo pode ser considerado um efeito, pois como o tempo é infinito “para trás” também, o Universo sempre existiu, ao invés de ter sido gerado por determinada causa num dado momento. Ou será que, se houvesse uma máquina do tempo, ela teria um limite em direção ao passado? Imagine você confortavelmente instalado no banco de seu DeLorean e no painel a seguinte mensagem sendo exibida: “Acesso Negado: Deste ponto para trás o Universo não existia”. Ora, o Universo não teve um primeiro milhonésimo de segundo que configure seu nascimento/criação. Dizer isso seria negar que o tempo é infinito.
Talvez não haja nada mais aterrador para a mente humana do que o Infinito, pois ele é algo que ela simplemente não consegue conceber. Temos uma necessidade de demarcar as coisas com um início, meio e fim bem definidos para nos orientarmos e não nos perdermos. Mas isto não pode ser feito com o Universo nem o Espaço-Tempo. Assim, estes parecem desafiar e zombar de nossa limitada compreensão. Por estarmos inseridos dentro do Infinito (e como seria diferente, se ele é Infinito?), não podemos observá-lo e entendê-lo. Portanto, o Universo é algo que não pode ser compreendido e explicado. Aliás, não se diz isto de deus? Que não há como definí-lo ou explicá-lo? Também se diz que deus é maior do que tudo. Ora, esta é a exata definição da palavra Universo.
Portanto, talvez “deus” seja apenas outro modo de chamar o Universo, pois ele não pode ser explicado ou compreendido. Talvez o Universo seja o corpo de deus, que é onipresente (está em toda parte) e, por conseguinte, também onisciente (conhecendo total e perfeitamente o passado/presente, conheceria o futuro também, como quem enxerga uma equação por completo e sabe seu resultado). Além disso, como explicado no início, para algo ser chamado de deus é preciso não ter sido criado, isto é, sempre ter existido. E como acabei de dizer, isto não se aplica ao Universo? O Universo não possui marco-zero no tempo, então não foi criado num dado momento, ao contrário do que a maioria ilogicamente crê. Dizer que o Universo possui um Criador é automaticamente dizer que ele foi criado, ou seja, teve um “início”. Mas o que é Infinito não pode ser demarcado. Sendo o tempo infinito “para trás” também, para o bom senso é evidente a impossibilidade total de uma causa primeira de Tudo, ou seja, deus. Ninguém derrubou a primeira peça do dominó, até mesmo porque não há primeira, mas de alguma maneira misteriosa, ele sempre esteve caindo – e sempre estará.
Assim sendo, poderia haver algo mais ilógico, irracional e paradoxal do que a crença numa fonte criadora de tudo, isto é, deus?
Talvez por isso James Thompson tenha se referido ao homem da seguinte forma:
“Eles são os mais racionais e ainda assim insanos
Com uma loucura desvairada, que não é controlada
Possuem um raciocínio perfeito no centro do cérebro
Que não tem poder, mas acomoda-se lívido e frio”
A crença numa causa primeira(deus) na infinita linha do tempo é um claro sinal de renúncia à razão e, por que não dizer, insanidade até. Na verdade, é como acreditar que o Espaço possua paredes intransponíveis que o delimitam! Pois assim como o Espaço, o Tempo também é infinito, não possuindo início nem fim.
Portanto, pode-se dizer que crer em deus, o princípio criador, é loucura no sentido mais literal da palavra. E de fato “religião não se discute” – pois não se pode mesmo discutir com quem abdicou da razão.
Mas se você pensa que o tempo é o único obstáculo à criação do Universo, é melhor pensar de novo. Pois, onde se encontraria deus quando desta ilógica criação do Universo? Fora do Universo? Mas como, se este, por definição, engloba TUDO o que existe? Estaria deus em outro Universo? Ora, só há um Universo e ele é inescapável, pois como dito esta palavra engloba TUDO o que existe e sempre existiu! Portanto, o Universo vem antes de qualquer deus, assim sendo o único deus possível, pois o Universo é a única coisa que sempre existiu, nunca foi gerada. É o verdadeiro “não-criado”.
Para que fique bem claro, quando digo que o Universo engloba TUDO o que existe, isto inclui quaisquer outros planos de existência, dimensões, etc. Pois, se o Universo engloba TUDO o que existe, ele não se restringe ao plano material. Ademais, pode-se dizer que tudo é matéria, mesmo o que não vemos. Há matéria “grosseira” e sutil. Mas erroneamente chamamos de “imaterial” e “incorpóreo” o que nossos limitados sentidos não captam. Então, apresentando a situação de modo bastante simples, claro e objetivo, se existe um Céu onde o suposto deus estava quando “criou o Universo”, este Céu estaria dentro do Universo! Então como dizer que alguém ou algo criou o Universo?
Agora os mais perspicazes (ou insanos) argumentarão que, como deus é Todo-Poderoso, ele poderia inclusive estar fora do Universo. Isto é como dizer, com a máxima seriedade possível, que como deus é Todo-Poderoso ele pode fazer uma bola quadrada. É assumir estar violando as leis da lógica.
Mas as ovelhas (ou papagaios, pois só repetem o que ouvem) repetirão que deus é Todo-Poderoso, e não se pode discutir com quem abdicou da razão. Contra isso, admito que não posso argumentar, apenas rir e me apiedar – ou tentar fazê-lo.
Mas sendo assim, não poderei deixar de oferecer-lhes um pouco do próprio veneno, isto é, a crença num deus literalmente Todo-Poderoso. Se deus tudo pode, poderia ele deixar de existir se quisesse?
Os mais fervorosos e afoitos dirão que sim, sem perceber sua contradição (ou mesmo “blasfêmia”).
Que contradição é esta? Ora, segundo sua própria definição deus não é eterno?
E eterno é aquilo que nunca poderá deixar de existir, mesmo que queira!
Que se deduz disto?
Ora, a verdade é que não pode existir algo eterno e ao mesmo tempo Todo-Poderoso.
Alguns procurarão pela “saída de emergência” dizendo que deus é eterno e Todo-Poderoso porque, embora possa deixar de existir, nunca o fará. Mas eterno é o que não pode, sob NENHUMA circunstância, deixar de existir. Fazendo uma comparação com o homem, se alguém só pode morrer por suicídio, ainda não é imortal/eterno. Porque como o tempo é infinito, tal ente sempre poderá deixar de existir, a possibilidade de extinção sempre o acompanhará como uma incômoda sombra. E o que possui QUALQUER possibilidade de extinção não é eterno, basta poder deixar de existir para não ser eterno, não é necessária a extinção em si.
(E, se você crê num deus que como é Todo-Poderoso pode inclusive deixar de existir, o que lhe garante que já não deixou?)
Entretanto, a fé não conhece a razão. E nem quer conhecer, porque ela corrói seus alicerces. Aliás, essa é uma diferença muito clara entre o Caminho da Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda, o primeiro enaltece a fé, o segundo a razão. Este é um dos simbolismos dos pentagramas opostos. Aqui não há “caminho do meio”, é preciso escolher entre razão e fé, que se mostram irreconciliáveis. Como dizem, “não se pode ter tudo”. Pois tal fé, a fé num princípio criador do Universo e, portanto, exterior a este, é absolutamente infundada.
Mas poderíamos chamar o Universo de eterno e Todo-Poderoso, por durar para sempre e conter em si todas as possibilidades existentes, exceto a de deixar de existir. Nem mesmo o Universo, com sua infinita grandeza, pode ser Todo-Poderoso ao pé da letra, que dirá o soberano fictício inventado pela limitada mente humana. A verdade é que nenhuma coisa pode deixar de existir, apenas existir sob outra forma, transformando-se. Nada desaparece ou escapa do Universo, nenhum pingo de matéria. A água que evapora não deixa de existir, apenas muda de estado, e o mesmo vale para tudo. Como dizem, “não há nada de novo sob o sol”, e nunca haverá. O Universo pode ser comparado a um grande quebra-cabeça onde a disposição das peças pode ser alterada, mas nenhuma peça pode ser retirada ou acrescentada (ele já contém todas, afinal). Poderia também ser comparado a uma massa de modelar que pode tomar infinitas formas.
Portanto, parafraseando Crowley, não há deus senão o Universo.
E os ídolos andróginos auto-gerados são símbolos do Universo, que sempre existiu por si mesmo, não teve um criador. Assim, estamos imersos em Baphomet e somos parte dele, toda partícula, todo “pixel” do Universo é divino e sagrado. Parafraseando Einstein, tudo é um milagre! O Universo por si só é um milagre, pois é algo absolutamente inexplicável, e ouso dizer, para o qual nunca poderá haver explicação. O Mistério Supremo citado por James Thompson. Como ele aconteceu, como surgiu? Sempre existiu, então nunca surgiu! Mas então como existe?!
Impossível de entender? Ora, por isso se chama Mistério Supremo, é algo absolutamente indecifrável, para o qual simplesmente não há resposta.
E nesse milagre sem explicação que é o Universo tudo é igualmente sagrado e divino, ou “todo número é infinito, não há diferença”! O homem é tão sagrado quanto um grão de areia. Deus é onipresente, está em toda parte. Deus é o Universo!
Portanto, se você quer louvar a deus, não precisa ir a nenhuma igreja ou templo, o próprio Universo é ao mesmo tempo a casa e o corpo de deus. Se você quer louvar a deus, apenas admire e reflita sobre a grandeza infinita e incompreensível do Universo.
O astro-rei, o Sol, é um símbolo de deus em muitas culturas. Pois não se pode olhar para o Sol (não se pode contemplar deus devido ao seu ofuscante esplendor). Percebam que o mesmo se aplica ao Universo, como estamos inseridos nele não podemos observá-lo por completo. E mesmo que paradoxalmente fosse possível não estar inserido no Universo, ele ainda seria algo que não pode ser visto totalmente, pois como é Infinito não caberia em nosso limitado campo de visão. Não se diz que deus é maior do que nós? Sim, deus é maior do que tudo, só é uma pena os que fazem tal afirmação não perceberem seu significado: deus é o Universo Infinito, que assim como o sol não pode ser contemplado em sua totalidade.
Portanto, chegamos à seguinte equivalência e conclusão:
Sol = deus = Universo
Há uma parábola oriental em que um mestre moribundo dá a cada discípulo um vaso e a tarefa de quebrá-lo, mas cada um teria de fazer isso escondido, num lugar onde ninguém presencie o ato de quebrá-lo senão si mesmo. Os discípulos estranham por essa parecer uma tarefa simples demais, mas ficam ao mesmo tempo aliviados e alegres por sua facilidade.
No dia seguinte, todos se apresentam com os cacos em mãos exceto um deles, que trouxe seu vaso intacto. O mestre então pergunta:
– Por que não quebrou seu vaso?
– Perdoe-me por não cumprir sua ordem, senhor, mas não me foi possível encontrar um lugar onde ninguém além de mim presencie o ato de quebrá-lo.
– Muito bem, parabéns, você é o escolhido para me suceder.
Os outros discípulos primeiro pensam ter ouvido errado, depois ficam perplexos e revoltados, pois também não sabiam que aquela simples tarefa poderia ser tão importante e definiria isso. “Será que a velhice trouxe-lhe a loucura? Se não queria os vasos quebrados, por que ordenou isto?” Um dos discípulos abre a boca para falar, mas o mestre rapidamente levanta a palma da mão se opondo em sinal de silêncio, e ordena que todos exceto o sucessor permaneçam ali, sentados e imóveis, meditando em silêncio até compreender o ocorrido.
O mestre se retira e também parabeniza a si mesmo, pois pelo menos a um homem conseguiu transmitir a essência de sua filosofia. Agora ele pode morrer em paz consigo mesmo, sua tarefa nesse mundo foi cumprida, sua semente plantada. Ele sorri internamente, feliz por saber que alguém entendeu e lembrou de seu ensinamento mais importante e, ao mesmo tempo, simples: Não há lugar no Universo onde deus não esteja.
(Fim da parábola)
Quem sabe a plena consciência disso não seja a solução para um mundo não utopicamente perfeito mas um pouco melhor, no qual o homem, reconhecendo que tudo é divino, tenha mais respeito pelo seu semelhante, os animais e o próprio planeta Terra. E é claro, mais respeito por si mesmo também, mais amor-próprio. Baphomet é uma representação desse deus que está em toda parte, o próprio Universo e seu equilíbrio de forças complementares – a pilha não tem um pólo “mau”, ambos são necessários, daí a representação andrógina do Universo[4]. Portanto, Baphomet pode ser interpretado como uma versão “assustadora” (para os tolos) do Yin-Yang. Nesse contexto, conhecer e venerar Baphomet seria reconhecer que tudo é divino, talvez por isso um de seus significados seja “O Pai do Templo da Paz de Todos os Homens”. A Igreja Católica acusou os Templários de adoração ao Diabo(Baphomet) e venerá-lo como seu único deus. Mas a explicação disto talvez seja que os Templários enxergassem o Universo como o único e verdadeiro deus a ser louvado, representado pela figura de Baphomet[5]. Assim, esta distorção gerada pela Igreja foi adotada pelos pseudo-satanistas medievais nas iniciações onde juravam reconhecer o Diabo como o único deus a ser adorado. Mas a verdade é que o único deus que existe e é digno de louvor é simplesmente o próprio Universo. O Universo é o Mistério Inefável digno de reverente respeito, perante o qual o homem nada é, perante o qual reconhecemos nossa insignificância e pequenez mas ao mesmo tempo nossa divindade por fazermos parte dele. Saibamos ou não, estamos em comunhão (comum união) com deus o tempo todo. Deus está em vós, vós estais em deus.
Entretanto, infelizmente a humanidade prefere acreditar num deus distante e incognoscível, assentado em seu trono celeste, que atenda suas preces. A humanidade quer acreditar num deus que realize os milagres que deseja quando, cega por sua ignorância, não percebe que o próprio Universo e tudo que ele contém é um milagre por si mesmo, pois não possui explicação alguma. Não há Criador, como o Universo sempre existiu nada pode ser anterior a ele. Isso deus nenhum pode, ser anterior ao infinito, anterior ao que sequer teve início.
E aqui se dá mais um exemplo da hipocrisia religiosa. As religiões alertam que como deus é onipresente ele nos vigia o tempo todo e não há “pecado” que não seja punido (tradução: “se você me desobedecer, mesmo que eu não descubra, vai para o Inferno!”). Essa idéia de que a deus nada escapa reforça que deus nada mais é do que o Universo, pois nada pode escapar ao Universo já que ele é infinito. Isso tanto no sentido literal como metafórico de perceber a tudo. Mas ironicamente, estas mesmas religiões desrespeitam, atacam e mutilam partes do deus que dizem adorar em suas “guerras santas”. Seria possível haver hipocrisia (ou cegueira) maior do que esta?
Portanto, não deixa de ser verdadeiro que deus nos observa o tempo todo e de tudo é testemunha, mas infelizmente isso não significa, como colocou Einstein, que ele seja o juiz supremo que castiga quem mereça e recompensa os virtuosos. Isso seria ótimo, como disse Freud, mas é apenas algo que gostaríamos que fosse verdade. O homem prefere crer no que lhe for mais conveniente e favorável, recusando-se a admitir as duras verdades que lhe são desagradáveis ou mesmo aterradoras.
Por falar em verdade, de fato é verdade que deus é um só, mas os monoteístas ignoram por completo o significado dessa afirmação. E este deus único do qual somos parte – assim como tudo – é simplesmente amoral e indiferente a tudo, como sabiamente ilustrou James Thompsom em “A Cidade da Terrível Noite”. Não poderiam haver palavras mais apropriadas para encerrar este ensaio:
“O Universo gira para sempre como um moinho
Ele tritura e fornece a vida e a morte, o bem e a maldade;
Ele não tem propósito, coração, mente ou vontade.
Enquanto o ar do Espaço e o rio do Tempo fluem
O moinho deve girar cegamente sem descanso
Então, ele pode estar estragado, mas quem pode saber?
O homem poderia aprender uma coisa fosse sua visão menos turva
O moinho não gira de acordo com seus caprichos mesquinhos,
Ele é totalmente indiferente a nós.
(…)
E agora finalmente a palavra verdadeira eu trago,
Testemunhada por toda coisa viva ou morta;
Boas marés de grande deleite para você, para todos
Não há Deus; nenhum espírito com nomes divinos
Que nos tenha criado e nos torture
Se nós devemos sofrer
Não é para os caprichos de nenhum Ser satisfazer.
Nós nos curvamos perante as leis universais,
Que nunca tiveram para o homem cláusulas especiais
Seja de crueldade ou benevolência, amor ou ódio;
Se sapos e abutres são desagradáveis à vista,
Se tigres brilham por sua beleza e força,
É devido a um favor concedido, ou por fúria do destino?
Tudo vive e luta eternamente
Através de incontáveis formas continuando na guerra,
Por inúmeras interações ligando-se;
Se algo nasce um certo dia na Terra,
Todas as eras, forças e elementos conspiraram para tal nascimento,
Nada em todo o Universo poderia mudar ou impedir isto.
Eu não encontrei nenhum indício em todo o Universo
De bem ou mal, de bênção ou maldição;
Eu encontrei apenas infinito Mistério, abismal e obscuro,
Tentando ser iluminado e explicado pela mais débil faísca,
Nós, as passageiras sombras de um sonho.
(…)
Como a lua triunfa do começo ao fim pelas infindáveis noites!
Como as estrelas pulsam e brilham enquanto giram,
Suas abundantes procissões de luzes supernais
Espalhadas pela abóbada azul insensíveis como aço!
E o homem fita-as com grande respeito, temor, anseio e aspiração
Fazendo pedidos e promessas, esperando de seus desejos a realização
A poderosa marcha de fogo dourado ignora o homem permanecendo indiferente,
E este pensa que os ceús reagem aos seus sentimentos.”
Notas:
[1] A palavra “andrógino” é a união das palavras gregas “andros” (homem) e “ginos” (mulher). Sim, qualquer semelhança com “vagina” não é mera coincidência, assim como “andróide”.
[2] Alpha e Omega são os nomes da primeira e última letra do alfabeto grego. Ou seja, mesmo o deus supostamente patriarcal do Cristianismo seria, na verdade, a união de extremos opostos.
[3] Hermes + Afrodite = Hermafrodita
[4] Para uma melhor compreensão destas forças complementares, recomendo a leitura do texto “Você tem medo do escuro?”, de Adriano Camargo Monteiro. O mesmo pode ser lido no seguinte endereço: http://www.deldebbio.com.br/2012/02/27/voce-tem-medo-do-escuro/
[5] A cabeça de três faces, outro suposto ídolo templário, também pode representar o mesmo que Baphomet, simbolizando a união de dois num só. Tal ídolo também lembra-nos, é claro, de Hermes Trimegisto, aquele que é “três vezes grande”. Vale também lembrar que Baphomet é eventualmente retratado por artistas contemporâneos como um ser que possui três faces, masculina, feminina e a união de ambas:
(Autor da imagem desconhecido)
Por Fenix Konstant
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