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“O talismã subjugador, a Cruz, quebrar-se-á, e então virá rugindo a selvagem ira dos antigos deuses, aquela insana fúria berserker da qual falavam os poetas nórdicos. Tal talismã é frágil, e está por vir o dia em que ele despedaçar-se-á. Os antigos deuses de pedra se levantarão de suas ruínas esquecidas pelo tempo e esfregarão seus olhos retirando a poeira de mil anos; e Thor, despertando para a vida com seu martelo gigantesco, irá esmagar as catedrais góticas!” – Heinrich Heine, 1834
(N. do T.: “Berserkers” eram guerreiros nórdicos de origem desconhecida, entretanto possivelmente germânica. Especula-se que eles fossem inspirados religiosamente. Alguns pesquisadores modernos cogitam a hipótese de que a ferocidade dos berserkers fosse fruto de cogumelos alucinógenos, talvez consumidos como uma “poção mágica” para elevar a força e/ou resistência em combate, assim sendo uma preparação antes das batalhas que iriam travar. Lendas mencionam que os aspirantes a berserker deveriam passar por lutas ritualísticas ou mesmo verdadeiras para serem aceitos em tais grupos. Alguns berserkers tomavam como nomes “björn” ou “biorn” em referência aos ursos.)
O Diabo ocupa um lugar de grande destaque na tradição mágica germânica. Ele, ou sua personificação, sempre triunfam. Não importa o quão metodicamente ele tenha sido relegado à infâmia, ele sempre surge como o favorito popular. Como o inspirador de lobisomens, ele levou os Godos(antigo povo da Germânia que durante os séculos III e V invadiu o Império Romano) e Hunos(povo bárbaro da Ásia Central) às suas vitórias na Europa; como o protagonista na saga dos Nibelungos, ele destruiu Valhalla e fundou seu próprio reino na Terra. Na literatura e dramaturgia ele tornou-se um herói ou, no mínimo, um atencioso e prestativo vilão. Durante toda a era cristã ele se manteve firme e forte e exerceu mais influência do que qualquer outro personagem derivado da Bíblia.
Peças em que o Diabo aparecia em pequenas cenas permitiram-lhe papéis cada vez maiores, e em vários casos ele até acabou tomando conta da peça inteira. Ele quase sempre era derrotado e jogado de volta ao Inferno com grande estardalhaço, mas isto provavelmente – ou com certeza – para satisfazer o senso de justiça do público.
Desde Fausto, Satã não é mais considerado a personificação do mal absoluto. Em Fausto, apesar de ainda haver a busca por almas, ele tem pena do homem – como o Zaratustra de Nietzsche – e lamenta-se por aquelas pobres criaturas nascidas sobre a face da Terra serem tão limitadas e extraírem tão pouco prazer da vida. Shaw retrata o mesmo em “Homem e Super-Homem”, obra em que um deveras cortês Diabo faz de tudo para agradar seus hóspedes no Inferno.
Como o Satã de Shaw, o Diabo germânico é frequentemente retratado como um incentivador de um comportamento gentil e elegante, assim abandonando o papel misantrópico de Mefistófeles em Fausto. A imagem que acabaria por servir de base aos rituais satânicos germânicos atuais pode ser vista no Hino a Satã de Carducci (incluído ao final do presente capítulo), onde Satã é enaltecido como o espírito do progresso, o inspirador de todos os grandes movimentos que contribuem para o desenvolvimento da civilização e avanço da humanidade. Ele é o espírito da revolta que leva à liberdade, o conjunto de todas as heresias que libertam. Ele ganha a admiração unânime do homem, e finalmente sucede Jeová como objeto de adoração.
Dos dois ritos germânicos aqui incluídos, o Tierdrama é o mais antigo. Os ensinamentos de Aesop(alegorista complementar grego) foram os primeiros ensaios a instruir o homem sobre a importância pragmática da psicologia aplicada. As parábolas de Aesop, já escritas em 1500 A.C. no Egito, mais tarde apareceriam numa interpretação germânica. Como resultado, quando Gotthold Lessing(1729-1781, filósofo e dramaturgo alemão) apresentou as parábolas no século XVIII, elas foram prontamente assimiladas à herética filosofia que considera o animal humano como decididamente inferior em muitos aspectos aos seus primos que andam de quatro.
A essência do Tierdrama é a admissão de uma herança quadrúpede. O propósito da cerimônia é de que os participantes regressem voluntariamente a um nível animal, assumindo assim atributos animais de honestidade, pureza e elevada percepção sensorial. O invocador que proclama a Lei mantém a cadência e ordem necessárias para lembrar a cada participante que apesar dele ser um animal, ele continua sendo um homem. É isso que dá ao Tierdrama seu profundo efeito.
O rito foi originalmente realizado pela Ordem dos Illuminati, fundada em 1776 por Adam Weishaupt. Dez anos antes, Gotthold Lessing havia influenciado muitas opiniões germânicas com seu tratado crítico, Laocoon. O clima intelectual na Alemanha havia atingido o ponto de controvérsia que na Inglaterra deu origem ao Hell Fire Club. Desaprovar os Illuminati da Baviera como uma sociedade de base puramente política é uma asneira frequentemente dita por aqueles que ingenuamente pensam que políticos e magia não combinam. Ordens maçônicas tiveram os mais influentes homens em muitos governos, e praticamente toda ordem oculta/ocultista tem raízes maçônicas.
Os ritos dos Illuminati tornaram-se a base do curriculum da Ordo Templi Orientis, fundada mais tarde por Karl Kellner e Adolf Wilbrandt em 1902. Um curriculum similar, com fortes tons Rosa-Cruzes, foi o da Ordem Inglesa da Aurora Dourada em 1887.
Segundo os ensinamentos dos Illuminati tudo é matéria, todas as religiões foram inventadas pela humanidade, Deus é o homem, e o homem é Deus, sendo o mundo seu reino. O Tierdrama reforça esta mensagem. Ele foi realizado pela primeira vez por Dieter Hertel em Munique, a 31 de Julho de 1781; o presente manuscrito data de 1887.
Muitos autores escreveram segmentos da Litania na literatura e no teatro. Aparentemente muitos grandes escritores foram membros da Ordem, ou de grupos que se originaram dela. Grandes exemplos podem ser encontrados nas obras de Arthur Machen, W. B. Yeats, Robert W. Chambers e James Thompson. Obras notáveis por refletirem o Tierdrama incluem o mais satânico trabalho de H. G. Wells, A Ilha do Dr. Moreau, que emprega porções da Litania; Der Heilige und die Tiere de J. V. Widmann, uma dura crítica em defesa dos animais contra o deus cristão; Krieg, ein Tedeum de Carl Hauptmann, em que os animais representam os governantes de várias nações européias e se comportam da mesma forma que os humanos; e, é claro, A Revolução dos Bichos de George Orwell e O Macaco e a Essência de Aldous Huxley. É provável que Aleister Crowley conhecesse a cerimônia, visto que seu Livro da Lei contém uma sutil sugestão ao credo do Tierdrama, a Litania da Lei.
A mensagem do Zaratustra de Nietzsche, que considera a identificação com a besta um pré-requisito para o papel de homem-Deus, é eloquentemente ritualizada na Lei da Selva do Tierdrama. Esta é uma lição geralmente negligenciada pelo homem “civilizado”.
Requisitos para a Realização
Os participantes consistem em um sacerdote que abre a cerimônia, seus três assistentes, um altar, um invocador, e os participantes. O sacerdote atua como mestre da cerimônia e a preside durante todo o rito. Seus assistentes são um iluminador que provê luz para a leitura, um golpeador do gongo e um lictor.
O sacerdote veste um robe negro com o capuz abaixado. Seus assistentes vestem robes negros com capuzes levantados. O lictor segura um grande chicote de couro cru em sua mão direita, a qual é envolvida por uma luva de couro negro. Sua mão esquerda é envolvida por uma luva de veludo ou cetim negro, com um anel de rubi. Numa plataforma contra uma parede e de frente para a reunião, uma mulher-altar despida ajoelha-se e senta-se com a coluna ereta sobre os próprios calcanhares, repousando as mãos sobre os joelhos e assumindo assim a posição de “Bast entronizada”. (Que lembra a posição de um felino quando sentado. Não por acaso: Bast, ou Bastet, é uma deusa egípcia com cabeça de gato ou leão, dependendo de seu humor. Feroz defensora de seus filhos, quando enfurecida transformava-se na terrível Sekhmet – que era, assim como um dragão, capaz de cuspir fogo. Curiosamente, é também exatamente esta a posição da asana chamada “o dragão” em yoga. Deusa da música e da dança, costuma-se representá-la com uma ninhada de pequenos filhotes felinos aos seus pés, assim simbolizando também a fertilidade. Gatos pretos eram especialmente sagrados a Bast, e por isso, exatamente ao contrário da atual crença popular, tê-los em casa traria sorte e não azar. Médicos egípcios utilizavam o símbolo do gato preto como que para representar poder de cura. O Cristianismo tentou “demonizar” todos os deuses de todas as outras culturas e religiões – e obteve razoável sucesso.)
O invocador e os demais participantes vestem robres negros com os capuzes abaixados, com máscaras representando vários animais. “Capacetes” feitos de papel-machê ou outro material no formato de cabeças animais podem elevar a eficácia. Máscaras devem ser o mais realistas possível, a única exceção é o invocador, que retrata uma figura licantrópica: metade-homem, metade-animal. Ele porta uma pesada bengala, com a qual golpeia o solo para enfatizar trechos da Litania.
Robes são obrigatórios: eles representam uma formal transição entre animal e homem.
A cerimônia é realizada em uma câmara de área grande o suficiente para os participantes reunirem-se em semicírculo. O sacerdote e seus três assistentes permanecem cada dois postados aos lados do altar durante a Litania. Este rito pode ser realizado ao ar-livre, numa clareira num bosque ou qualquer lugar em que os participantes possam embrenhar-se e surgir quando invocados. Se realizado ao ar-livre, a mulher que serve de altar deve sentar-se sobre uma alta rocha ou tora, assim demonstrando claramente sua glorificada posição (logicamente, pode-se usar uma almofada ou travesseiro). Tochas podem ser usadas ao ar-livre, embora não sejam obrigatórias. Se durante a cerimônia houver preocupação com risco de incêndio à natureza ou à vida selvagem todo o propósito do rito é perdido, o que faz da segurança obrigatória.
No caso do Tierdrama a música deve acompanhar perfeitamente a intensidade da Litania, ou irá diminuir ao invés de aumentar sua eficácia. Sem dúvida, se corretamente executado o mais apropriado é Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss e Le Sacre du Printemps de Stravinsky. Além do gongo, um tambor de grave tonalidade pode ser acrescentado.
Quando a cerimônia começa, somente o sacerdote, seus assistentes e o altar estão presentes. Um rato em uma gaiola é colocado próximo do altar, de modo que fique à vista dos participantes quando eles entrarem.
Os Rituais Satânicos
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